Prólogo

A cada puxão das correntes, um pedaço de esperança era arrancado junto. 

Toda vez que era enjaulada em uma nova cela, um forte odor nojento chamava de absurdo.

Essas correntes não me prendiam, apenas chamavam-me de perdedora. 

Para que, no final de tudo, diante de seus olhos, eu não passasse de uma mera pecadora. 

Escutava apenas o pingo da goteira caindo, pouco a pouco. Ritmo lento, cadenciado. O único som audível de todo o local.

Uma prisão fantasma querendo esconder do resto do mundo uma face de alguém que já perdeu a fé.

Toda vez que alguém abria a cela, era para deixar um prato de comida nada agradável. Não era humano. Eles me consideraram humano alguma vez? Alguém da mesma espécie?

Não podia dizer.

Uma mordaça que me impedia de comer aquela comida podre. A porcaria de vendas que me impediam de ver seus malditos rostos.

Minha raiva se distribuía como raízes, se aprofundando até o mais fundo de meu ser. Eram fortes e nunca seriam quebradas; e eu iria garantir que elas não iriam ser quebradas.

Não adiantava mais puxar as correntes em desespero, se um dia elas só me levaram até ele. 

Não adiantava nem contestar o passado, se um dia você já me deixou. Você…

Eu não quero mais esse arroz aguado e nem esse pão mofado.

Só queria ver seu sorriso uma última vez, uma última e única vez. Por favor, deixe-me sentir seu calor mais uma vez.

Eu não aguento o frio dos banhos gelados e nem a dor dos meus lábios secos.

Você ainda está aí? Quero ouvir sua voz dizendo que me ama.