Capítulo 111 - Três Promessas (4)

O Deus do Vinho e do Êxtase. A única pessoa que usaria tal modificador era Dionísio, um dos 12 deuses do Olimpo.

Eu não conseguia ouvir a música, mas podia ver as gotas de álcool dançando ao som de uma melodia desconhecida. As bolhas se moviam como se tivessem vida, formando várias notas no chão. As notas se moviam repetidamente entre mim e Yoo Sangah.

Yoo Sangah olhou atentamente para as anotações e abriu a boca. 

— É a valsa minuto¹.

— Você sabe ler notas musicais?

— Um pouco.

Yoo Sangah inclinou a cabeça e continuou falando. 

— Por que Chopin apareceu de repente?

Eu não tinha a menor ideia. Em primeiro lugar, era estranho que Dionísio soubesse sobre Chopin. Não. De acordo com a história original, ele era alguém com grande interesse na cultura musical das gerações posteriores. Não era estranho.

As notas formaram um círculo e, em seguida, setas que apontavam para as garrafas de soju restantes. Yoo Sangah se perguntou: 

— … Ele está nos dizendo para beber mais?

— Vamos beber. — Não havia outra maneira de interpretar isso. — Yoo Sangah- ssi, beba só um pouquinho. Pelo menos, uma pessoa deve estar sã.

Eu precisava de alguém para proteger meus companheiros se eu ficasse bêbado. Eu poderia acordar Lee Gilyoung e Shin Yoosung, que só beberam refrigerante, mas queria deixá-los dormir.

— Dokja-ssi, não consegue beber muito?

— Eu sou meio fraco para bebida.

Bati levemente meu copo no dela e bebi o soju. O álcool entrou em meu corpo e me fez sentir quente. No entanto, as notas não pararam.

— …Acho que devo beber mais.

Bebi alguns copos seguidos. O calor subiu de dentro de mim e pude sentir a vermelhidão em meu rosto. Os movimentos das notas musicais se tornaram mais ativos. Não, pareciam mais ativos porque eu estava bêbado? Yoo Sangah sorriu. 

— É bom beber com você. Eu estava um pouco solitária.

Por isso, bebi mais alguns copos. Senti-me um pouco melhor enquanto um cheiro suave se desprendia. De repente, me virei e descobri que estava bem perto de Yoo Sangah. Obviamente, eu estava muito longe antes…

Eu estava enganado. O som da respiração era forte. Eu não sabia se era a minha respiração ou a de Yoo Sangah. O ombro de Yoo Sangah tocou levemente o meu.

— Dokja-ssi.

— Sim.

Era claramente um rosto sem maquiagem, mas era difícil encontrar alguma mancha. Yoo Sangah se inclinou lentamente em minha direção. Seu rosto estava cada vez mais próximo.

Um par de semínimas e colcheias dançou intensamente ao nosso redor. Meu coração começou a bater mais rápido com o toque em meus ombros.

…Espere, algo estava estranho.

A mensagem apareceu e minha mente clareou. Sim, isso não poderia acontecer na realidade. Yoo Sangah não era uma pessoa assim. Isso só era possível porque se tratava do ‘Maneiras de Sobreviver’. Segurei firmemente o ombro de Yoo Sangah e a incentivei: 

— Yoo Sangah-ssi, fique alerta.

— Hã? Ah… ah? — A assustada Yoo Sangah piscou os olhos. Seu rosto ficou vermelho pela primeira vez. — E-eu, o que eu…?

Como esperado, não era a vontade de Yoo Sangah. Eu estava com um pouco infeliz quando abri a boca e falei para as notas que estavam pairando no chão. 

— Parem de tocar e vão direto ao ponto.

Todas as notas pararam ao mesmo tempo. Foi um silêncio sereno, como se o festival da meia-noite tivesse parado de repente. As bolhas de álcool caíram no chão e faíscas voaram. Em seguida, as bolhas formaram uma sequência de palavras.

Fiquei um pouco surpreso com as letras escritas no chão. Algumas palavras escritas em bolhas no chão podem não parecer grandes coisas, mas era extremamente difícil para as constelações se comunicarem com as encarnações em ‘Maneiras de Sobreviver’. Era por isso que as constelações usavam os canais dokkaebi para transmitir “mensagens indiretas”.

Em primeiro lugar, espalhar mensagens para a Terra sem a ajuda dos dokkaebis só era possível entre as constelações de classe mais alta, e o consumo de probabilidade era enorme. A probabilidade do mundo era sensível à “linguagem”.

Ouvi um grito fraco vindo do Grande Buraco no céu. O deus deste mundo havia notado a existência de Dionísio. O fato de ele ter entregue uma mensagem diretamente, sem passar por uma encarnação, significava que ele tinha confiança em seu apoiador… Como esperado, os 12 deuses do Olimpo eram diferentes.

Abri minha boca em uma provocação deliberada. 

— Se você está tão confiante, então venha e fale comigo pessoalmente.

Em seguida, a sequência de palavras se moveu.

Na verdade, eu não esperava nada. Seul seria transformada em pó se os 12 deuses do Olimpo realmente descessem.

Yoo Sangah viu essa frase e sussurrou para mim. 

— …O que isso significa?

— Talvez ele esteja falando sobre o mito de seu nascimento.

Até onde eu sabia, os pais de Dionísio eram Zeus e a princesa Semele de Tebas. Hera tinha ciúmes de Zeus e Semele e se disfarçou de enfermeira de Semele, incentivando-a com as seguintes palavras: “Zeus pode ser uma farsa. Peça a ele que lhe mostre como ele realmente é quando está no Olimpo”.

Sêmele foi enganada e exigiu que Zeus fizesse isso. Em seguida, ela morreu por causa do brilho de Zeus.

Yoo Sangah ouviu a história e inclinou a cabeça. 

— Hã… não é um pouco diferente da história que eu conheço? Até onde eu sei, a mãe dele não é a princesa de Tebas…

Fiquei um pouco surpreso com o conhecimento de Yoo Sangah. Eu me perguntava se ela tinha um diploma universitário em mitos, não apenas em história coreana. É claro que eu não tinha esse diploma.

A sequência de palavras mudou como se estivesse se divertindo.

Como disse Yoo Sangah, o mito do nascimento de Dionísio tinha duas versões. Uma era a versão em que a princesa Semele de Tebas era sua mãe. A outra versão tinha a esposa de Hades, Perséfone, como sua mãe.

Perguntei a Dionísio: 

— Estou curioso. Qual das duas versões é real?

— É importante. Há uma razão para eu precisar que seja a última.

De fato, a sugestão de Jung Heewon para beber foi uma tentativa de atrair Dionísio.

Dionísio era filho de Perséfone. Se esse mito estivesse correto, Dionísio provavelmente poderia entrar em contato com Perséfone, a esposa de Hades.

O fio tremeu.

Na verdade, eu já sabia de qual mito se tratava. A história de Dionísio foi mencionada em ‘Maneiras de Sobreviver’.

— Eu serei diferente.

— Está tudo bem.

Fiquei nervoso devido à excelente atmosfera. Dionísio era uma constelação cujos pensamentos eu nunca poderia prever.

Fiquei tonto e, de repente, senti-me sonolento. Percebi o que estava para acontecer. Droga, era por isso que ele me obrigava a beber.

Falei apressadamente. 

— Yoo Sangah-ssi, acorde as crianças.

Talvez essas tenham sido minhas últimas palavras.

No momento em que fechei os olhos, as gotas de álcool pareciam estar rindo.

Muitas cores passaram por minha mente e parecia que eu estava sob o efeito de drogas. Senti uma dor aguda na testa e, em seguida, ouvi uma voz fraca.

—「 Quem é? 」

—「 …Interessante. 」

—「 A alma de uma encarnação está caminhando no mundo das constelações? 」

—「 Você vai se arrepender. 」

A voz dizia palavras negativas. Talvez fosse alguém do Olimpo.

As vozes barulhentas desapareceram como se tivessem sido silenciadas.

Assim que ouvi a última mensagem, inúmeros rastros desapareceram do meu entorno. O mundo girou rapidamente e meu corpo afundou pesadamente. Depois de um tempo, senti que havia chegado a algum lugar. Era difícil me mover, mas eu podia adivinhar o que veria quando abrisse os olhos.

O ar do Submundo era pegajoso. A areia na ponta de meus dedos estava fria. Talvez eu estivesse no rio do Submundo que Hades governava. Havia o rio Aqueronte que corria em direção ao palácio de Hades e o barqueiro do submundo, Caronte, estaria me esperando. E…

— Ei! Acorde! O que está fazendo aqui?

Algo bateu em minha cabeça e parecia que óleo estava sendo derramado sobre mim. Respirei fundo e me sentei. Alguém tateou meu corpo, agarrou meu pescoço e me levantou.

— Um novato? Eu nunca vi esse rosto antes.

Eu também nunca tinha visto esse rosto antes. Era um homem com um rosto duro e músculos grandes. As pessoas ao redor estavam olhando para nós.

— Ele parece bem? Verifique seu corpo. Ele pode ter trazido algo com ele.

— Ei, não toque. Se ele caiu aqui, então ele deve estar uma bagunça. Você se esqueceu do louco que veio há pouco?

— Aquele maluco era um pouco especial. Pessoas como ele são comuns?

Deixei que as pessoas conversassem entre si e olhei ao redor. Era um lugar espaçoso onde se podia sentir um calor escaldante. A julgar pela infestação de fantasmas, parecia ser o Submundo.

As estruturas feitas de metal do Submundo estavam por toda parte e também havia fornos para fundir metais. Era uma atmosfera semelhante à de uma fábrica. Os espíritos mortos estavam escravizados no Submundo e produzindo algo. À primeira vista, parecia um robô gigante…

Que lugar era esse?

— Ei, você está me ignorando?

Ignorei suas palavras e torci lentamente o braço que me segurava.

— O-O quê? Essa força…!

Eu não podia perder tempo lidando com essas pequenas coisas. Decidi verificar o cenário oculto que eu havia recebido.

O cenário foi confirmado. A hora que Dionísio disse era exata. Então, por que eu estava aqui? Eu deveria ter caído no rio Aqueronte.

— E-esse desgraçado! Ousando nos menosprezar…!

O grandalhão estava prestes a me dar um soco na cabeça quando ouvi uma voz atrás de mim.

— Ali, o que está ? Aconteceu alguma coisa? 

— U-Uaaah!

— Haha, deixe-me participar também. Hein? Estou morrendo de tédio porque tenho trabalhado no robô todos os dias”.

— Fujam! Fujam!

As pessoas ao meu redor começaram a se retrair. Era como se os herbívoros encontrassem um predador. Olhei para o lado de onde vinha a voz. Era um jovem com corpo esguio e franja cobrindo a testa. O jovem me viu e veio em minha direção.

Ele me olhou atentamente e murmurou com uma expressão de espanto. 

— …Por que você está aqui?

Por um momento, não consegui entender suas palavras. Essa pessoa me conhecia?

— O quê? Você não me reconhece? Você realmente se esqueceu? — O jovem levantou a franja e eu o reconheci.

…Droga. Pensando bem, o Submundo era um lugar para onde os mortos vinham. Eu nem tinha pensado nisso. É claro que as pessoas que eu matava vinham para cá depois de morrer.

— Ah, não seja tão vigilante. Nós dois não estamos mortos?

Os olhos do jovem curioso se aproximaram. Havia um olhar cruel e maldoso neles. Eu o vi por pouco tempo, mas foi uma impressão inesquecível. O homem sorriu. 

— Sim, quem diabos o matou? Por favor, abra sua boca. Hein?

A pessoa que morreu no primeiro cenário, o demônio da ilusão, Kim Namwoon, estava no domínio de Hades.

1. Também conhecida como valsa dos cachorrinhos, ou ‘valse du petit chien’.[↩]