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    O silêncio da madrugada ainda reinava no dormitório do Fighters World, a lua espalhando sua luz fria pela janela semiaberta, desenhando sombras longas no chão. Tudo estava quieto, menos o despertador que, com uma voz seca e ríspida, quebrou o silêncio cortante.

    — Acorda, porra! Treino não espera! — disse Tsubasa, na gravação do alarme, como um grito de guerra prestes a explodir.

    Ryuji Arata se mexeu no beliche de cima, seus cabelos negros revirados parecendo um ninho de corvo selvagem, como se a própria noite tivesse conspirado pra deixá-lo assim. Seus olhos ainda meio embaçados pelo sono tentavam se abrir diante da luz da manhã que invadia o quarto.

    Ele estendeu a mão, mas tropeçou numa luva de treino jogada no chão — um objeto tão simples, mas que carregava o peso das batalhas por vir. O corpo desequilibrou por um instante, quase fazendo-o despencar da cama.

    Com um suspiro frustrado, Ryuji apoiou as mãos na beirada do beliche, sentindo o peso daquele despertar: a rotina era uma luta diária, até pra sair da cama.

    Ao lado, Renji Asakura já estava de pé, imóvel e firme, fazendo flexões com uma mão só enquanto escutava música no fone. Seu suor escorria pela testa, acompanhado pela batida intensa da trilha sonora que só ele ouvia.

    Renji não disse nada. Era a personificação da disciplina e foco, o oposto perfeito do caos sonolento de Ryuji.

    Aquele instante congelado no tempo era o começo de mais um dia onde suor, força e vontade começariam a moldar o futuro desses lutadores.

    Ryuji caminha pelo corredor do dormitório, ainda de chinelo gasto, com aquele jeito meio desengonçado de quem acabou de acordar e tá tentando se lembrar onde deixou a vontade de viver. Seus olhos esfregam o sono, piscando como se tentassem se ajustar ao brilho artificial da cozinha, que não tem luxo nenhum — é um self-service básico, com prateleiras metálicas, um fogão industrial enferrujado e uma fila pequena mas barulhenta.

    A atmosfera é uma mistura de cheiro de café, ovo frito queimado e suor fresco dos treinamentos que já começaram na base. O burburinho das conversas e risadas ecoa nas paredes.

    Ele se aproxima da bancada, tentando montar o café da manhã perfeito — ou pelo menos, com o mínimo de dignidade possível. Pega uma frigideira velha, joga um pouco de óleo, e estala um ovo na borda, mas o cansaço ainda pesa no corpo.

    Naquele instante, sem querer, o Sen de Ryuji desperta — uma aura invisível que cresce rápido e intensamente, como um trovão contido. A frigideira treme, levanta do fogão e voa no ar, girando descontrolada como um disco voador desgovernado.

    O barulho do metal caindo e quebrando no chão para o burburinho da cozinha por um segundo.

    De repente, Kaede Shizuma surge calmamente, com uma xícara de chá na mão, os olhos serenos como se aquilo fosse rotina. Ela observa a cena com um sorriso quase imperceptível, mas cheio de julgamento.

    — Você precisa aprender a controlar esse poder até nas coisas mais simples, Ryuji — disse Kaede, como se fosse dar a lição mais importante do dia.

    Antes que Ryuji pudesse se sentir pior, Renji aparece logo atrás, tirando a camiseta encharcada de suor e secando o rosto com ela. Ele encara o ovo voador caído no chão, arqueia uma sobrancelha e solta com aquela voz meio zombeteira, meio brother:

    — Ainda tentando virar guerreiro e nem sabe fritar ovo direito, hein?

    Ryuji rebola os olhos, meio sem jeito, mas antes que pudesse responder, o estômago dele ronca tão alto que faz alguns na cozinha olharem pra ele — um ronco que parecia uma sirene de alerta, como se a fome fosse um poder que também exigisse respeito.

    Kaede solta uma risada suave, Renji dá um sorriso malicioso, e até o ambiente pesado do treino por um instante se dissolve naquele caos familiar.

    Ryuji ainda tava naquele mico do ovo voador, querendo achar uma desculpa, quando um som inesperado rasga o ar do refeitório: um ronco monstruoso, grave, que parece não só sair do estômago dele, mas reverberar nas paredes, fazer o teto vibrar, e até o pessoal na cozinha levantar as sobrancelhas.

    O silêncio meio constrangedor toma conta por dois segundos, tipo “eita, foi tu mesmo?”. O ronco tem força, é quase uma explosão interna, tipo um dragão despertando.

    Naquele exato momento, Tsubasa aparece atravessando a porta do refeitório, meio na correria, com um pão grande e fofo enfiado na boca — sem nem desacelerar pra mastigar direito. A cara dele é aquele mix de “já acordei no modo guerra” com um sorrisinho sacana.

    — Se essa é a intensidade do seu Sen, imagina quando estiver com fome de verdade — disse Tsubasa, a voz abafada pelo pão, jogando a zoeira direto no ar.

    O grupo inteiro não aguenta e cai numa risada alta, aquela gargalhada de irmão que não economiza zoeira, mas que também carrega a parceria e a vontade de ver o outro crescer.

    Renji solta um sorriso de canto, Kaede levanta a sobrancelha com um meio sorriso que diz “vocês são um bando de criança”, e até Ryuji começa a rir, meio sem jeito, mas aliviado por estar entre esses malucos.

    No meio daquela zoeira, o refeitório volta a ganhar vida, as conversas retomam, o cheiro do café fresco invade o ar, e o dia de treino promete ser daqueles que vão marcar.

    Sentados lado a lado numa mesa de ferro gasta, com marcas de batalha de anos e rabiscos de nomes e desenhos que ninguém mais lembra, eles dividem aquele café da manhã nada glamuroso. O pão, meio queimado nas bordas, tem cheiro forte de tostado demais, crocante na medida errada, mas ninguém liga. Cada mordida é uma pequena vitória.

    Kaede segura a xícara de chá, que hoje tá com um gosto azedo, provavelmente porque alguém esqueceu de trocar a água ontem à noite, mas o calor reconfortante da bebida aquece as mãos e a alma, quebrando a monotonia da rotina cansada.

    Ryuji, com a cara ainda marcada pelo sono, mastiga lentamente um pouco de arroz reesquentado do dia anterior — aqueles grãos grudados e secos, que lembram mais pedra do que comida, mas que viram combustível pra batalha que está por vir.

    Renji, do lado, come com a tranquilidade de quem já passou por muito pior, como se cada garfada fosse parte de um ritual que fortalece corpo e espírito. O suor da luta passada ainda escorre no pescoço, misturando-se com o cheiro da comida, criando uma aura crua e real.

    No ar, não existe luxo, não existe comida gourmet, só existe a realidade de quem sabe que o verdadeiro banquete é a amizade, o treino, a jornada.

    Eles trocam olhares, risadas contidas, e naquele momento silencioso, todos entendem: antes do combate, antes do sangue, da glória e da dor, vem o pão queimado com ovo, o chá duvidoso e o arroz do dia anterior.

    Esse ritual humilde, repetido todos os dias, é o verdadeiro coração do Fighters World: Day.

    Ali, naquele simples refeitório, nasce a chama que vai incendiar ringues, arenas, e até o próprio destino.

    E mesmo que o mundo lá fora não entenda, eles sabem: é ali, na luta do cotidiano, que o verdadeiro guerreiro é forjado.

    (E Genjiro dormindo até agora)

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