Capítulo 23 | Os Deuses Desceram do Pódio
O sol caía pesado no centro de treinamento, queimando as costas do time de Ryuji. O ar vibrava com o som dos socos, chutes e respirações pesadas, cada músculo esticado até o limite, suor pingando como chuva tropical. Ryuji Arata, no meio do grupo, batia o punho no saco de areia, sentindo a energia pulsar pelo corpo — não era só treino, era preparação para algo maior, uma guerra que já dava para sentir no ar.
Tsubasa Hayashi, Kaede Shizuma e Genjiro Okabe trocavam olhares cansados, mas firmes. A conversa era baixa, quase abafada pelos golpes que ecoavam na arena, mas a tensão pairava. — E aí, vocês acham que a próxima fase vai ser qual tipo de batalha? Time contra time, ou alguma parada mais sinistra?, Kaede soltou, jogando o suor de lado.
— Se for time contra time, o grau vai subir demais, respondeu Genjiro, engolindo a respiração antes de desferir um chute rápido no ar. — Não tem como errar. Um vacilo e já era.
Tsubasa, sempre mais analítico, coçou o queixo suado e falou com voz baixa, como se não quisesse que os outros ouvissem demais: — Ouvi uns boatos de que vão misturar estilos, talvez lutas 1v1 dentro da fase, para testar a individualidade, mas ainda não confirmaram nada.
Ryuji parou um segundo, encarando o horizonte pela janela da arena, sentindo seu Sen pulsar em leve agitação. — Qualquer que seja o formato, a gente precisa estar pronto para tudo. Não dá para vacilar. Cada round pode ser o fim.
A equipe assentiu, o clima era pesado. Ali não tinham mais moleza. O suor e a dor do treino começavam a virar combustível para a batalha que se aproximava. Cada respiração carregava aquela mistura de medo e fogo, aquele frio na barriga que só quem luta sabe o que é.
No silêncio entre as batidas dos socos, a dúvida dominava a mente de cada um. O que esperar? Quem vai estar do outro lado? Tudo era um mistério, mas uma coisa era certa: o jogo ia virar, e eles precisavam ser muito mais que lutadores. Precisavam ser lendas.
O som do treinamento ainda ecoava na arena, mas a energia começou a mudar com a chegada dele — Daizen Takatora. O cara entrou com aquele passo firme, olhar de quem carrega uma tempestade na alma. Não precisava falar muito, só a presença já fazia o chão parecer menor, o ar ficar mais denso.
Ele parou bem no meio do time de Ryuji, que ainda se recuperava do último round, e jogou a notícia na mesa como um soco no estômago: — Próxima fase? Vai ser time 15 contra time 1.
O silêncio caiu pesado, cortante como uma lâmina. Os olhares se cruzaram, alguns cheios de dúvida, outros já tateando o medo que começou a apertar o peito. O que parecia distante, agora estava na cara deles — um desafio monstruoso, tipo jogar no meio de uma tempestade sem guarda-chuva.
Kaede foi o primeiro a quebrar o silêncio, a voz quase falhando: — Time 1? Mas… eles são os melhores, né? Isso significa que a gente vai ter que enfrentar os melhores do projeto logo de cara?
Ryuji sentiu o coração acelerar, não de medo, mas da adrenalina que já começava a arder. — Não tem espaço para erro, galera. Se vacilar, a gente cai. Mas a gente não vai deixar barato.
Genjiro bateu a mão no chão, firme, quase como se quisesse cravar aquela determinação no solo. — Eles são foda, mas a gente não é qualquer time. A gente treinou para isso.
Tsubasa, normalmente o mais calmo, franziu a testa. — A pressão vai ser surreal. Mas a gente tem o Sen, e o que aprendemos até agora. A próxima fase vai exigir mais que força, vai exigir cabeça.
Daizen não disse mais nada, só lançou aquele olhar que parecia que podia ver através da alma de cada um ali. Ele virou para sair, mas antes de sumir no corredor, deixou um aviso final: — Se preparem. Isso vai definir quem realmente merece o nome de lutador.
O time de Ryuji ficou parado, processando. A adrenalina bateu, misturada com o peso da responsabilidade. Sabiam que dali para frente, o caminho seria uma escalada no inferno.
Aquelas palavras ecoaram na cabeça deles enquanto se preparavam para o que viria. Não era só luta, era sobrevivência, era mostrar para todo mundo que eles tinham nascido para ser mais que campeões.
O suor ainda escorria como chuva quente pelos rostos. As mãos tremiam, não de fraqueza, mas de um tipo diferente de força: aquela que nasce quando o impossível te encara e você encara de volta. A notícia de Daizen ainda reverberava no peito de cada um como um trovão que se recusa a sumir.
Renji jogou o último soco no saco de treino com tanta força que a corrente estalou. O impacto reverberou nos ossos, mas ele não parou. A mente fervia. — Time 1, mano… logo de cara.
Kaede se aproximou, limpando o rosto com a toalha pendurada no ombro. — Eles acham que isso vai quebrar a gente. Mas talvez seja a chance de mostrar quem somos de verdade. A voz dele tinha aquele tom de convicção silenciosa, quase filosófica, mas com os olhos brilhando como um fósforo prestes a acender.
Genjiro estalou os dedos e deu um giro no pulso. — Eu não vim aqui para ser só mais um. Se é para cair, vai ser lutando como um animal. Mas eu não vou cair. A frase saiu seca, cravada como espada na pedra.
Tsubasa, mais calmo, terminou o alongamento em silêncio, observando cada um com atenção. Ele era o tipo que falava pouco, mas sempre no momento certo. — Time 1 ou time 100. Não importa. Somos o time 15. Isso já diz tudo
Ryuji observava todos eles em volta, de pé, exaustos, mas com o olhar firme. Era isso. Era essa a energia. Aquela centelha invisível que une pessoas diferentes num só ritmo, numa só vibração. Ele respirou fundo, sentindo o próprio Sen pulsar baixinho, como um coração chamando por guerra.
—Galera…, ele começou, se aproximando, com os punhos cerrados. — A gente já passou por merda demais junto. Já perdeu, já caiu, já teve que se levantar com tudo contra. Agora não é hora de duvidar. A gente vai lá, vai mostrar que não tá aqui para compor tabela. Tamo aqui para mudar a porra da história.
O silêncio que veio depois foi quase espiritual. Um tipo de respeito. Aquele silêncio que antecede o estouro, como o suspiro antes de um rugido.
Kaede sorriu, sacando a vibe. — Se a gente vai para arena… então vamos com tudo.
Renji jogou a toalha pro alto e gritou: — VAMOS COMER ESSE MUNDO!
Eles se alinharam, um a um, pegando seus uniformes. O pano marcado pelo número e cor do seu nível de poder. Cada um vestiu o traje como se fosse uma armadura espiritual. Não era só tecido, era símbolo. Era o que eles se tornaram até aqui.
O caminho até a arena era um túnel estreito, revestido de concreto escuro e luzes amareladas. Os passos ecoavam juntos, cadenciados como tambores de guerra. Ryuji ia na frente, como sempre. Não por ego, mas por instinto. Era ele que carregava o sonho mais pesado, a alma mais faminta. Atrás dele, seus irmãos — não de sangue, mas de luta.
Quando saíram do túnel, a luz da arena os engoliu. Lá fora, a plateia já gritava, mas por um segundo, só se ouvia o som dos corações batendo em uníssono. O mundo inteiro parecia olhar para eles. Mas eles não olhavam de volta — olhavam para frente.
A batalha já estava escrita nas linhas do destino. Eles só estavam ali para assinar com sangue.
O ar da arena ainda vibrava com o som do público, mas ali no centro, sob as luzes brancas e cruas, reinava um silêncio quase sagrado. Os membros do Time 15 estavam enfileirados, os rostos sérios, atentos. Os olhos brilhavam com a mesma mistura de medo e sede de sangue.
No centro do espaço, Daizen Takatora entrou. Seu passo era firme, sem pressa, mas cada passada parecia ecoar como martelo em ferro. Vestia o casaco preto com detalhes em prata — o uniforme dos treinadores de elite — e carregava nas costas a presença de um lobo que já venceu muitas guerras.
Ele parou diante deles e ficou alguns segundos apenas observando. Ninguém ousou interromper. O tempo parecia esticar só para ele respirar. Então, com uma voz cortante e profunda, ele falou:
— Escutem bem… A próxima fase não será um jogo. Vai ser a linha tênue entre ser lembrado… ou esquecido.
O time inteiro permaneceu em silêncio. Os olhos cravados em cada palavra que caía da boca de Daizen como pedra em lago calmo.
— Vocês enfrentarão o Time 1. — Ele fez uma pausa, como se a frase precisasse afundar na alma de cada um. — San Ryoshi, Sander Shimo, Naki Senrou, Mura Kamito e Saka Senrou. Os cinco melhores. Os cinco que carregam o sangue do topo.
Um arrepio percorreu a espinha de Renji. Tsubasa cerrou os punhos discretamente. Genjiro resmungou algo inaudível, os olhos semicerrados. Kaede não mudou a expressão, mas por dentro, o cérebro disparava como uma metralhadora de cálculos. Ryuji encarava Daizen sem piscar.
Daizen então deu um passo à frente.
— As lutas serão no estilo Senai tradicional. Combates 1 contra 1. Sem interferências. Sem segunda chance. Quem cair, cai. — Sua voz tinha a firmeza de uma sentença. — O foco aqui não será o time. Vai ser você. O que você tem. O que você é.
Um silêncio sepulcral caiu. Aquele tipo de silêncio que não vem da boca, mas da alma tentando entender o peso do que acabou de ouvir.
— Não vai ter sincronia, não vai ter estratégia em grupo. Aqui, cada um vai ter que lutar contra si mesmo, antes de lutar contra o outro. — Ele encarou Genjiro. — Vai ter que lutar contra tua raiva. — Depois Kaede. — Contra tuas dúvidas. — Olhou para Renji. — Contra teu monstro interno.
E então, seus olhos encontraram os de Ryuji.
— E você… vai ter que lutar contra o peso do teu próprio nome.
Ryuji segurou o olhar. Era como olhar para uma fogueira viva. Não desafiava. Aceitava.
Daizen então puxou um controle remoto e apontou para o telão acima. Com um clique seco, as imagens dos dois times apareceram.
— A ordem será definida por sorteio. Mas fiquem sabendo… o primeiro nome já está decidido.
Um burburinho surgiu entre os lutadores. Olhares cruzando. Tensão crescendo. Quem seria?
— San Ryoshi será o primeiro representante do Time 1.
O nome caiu como uma bomba atômica.
A respiração de Renji travou. Genjiro fechou os olhos como se buscasse o centro da própria alma. Kaede soltou um “tsk” baixo, quase imperceptível. Tsubasa manteve a calma, mas seu Sen quase brilhou por instinto. Ryuji apertou os punhos. Era inevitável. O rei do projeto aparecia na frente… e com ele, a pressão da lenda viva que ele já era.
Daizen deu as costas e começou a andar, mas parou antes de sair da arena.
— Entendam… essa fase não é só sobre vencer. É sobre provar que vocês têm o que é preciso para seguir. Muitos vão cair. Alguns vão sumir. E outros… vão despertar algo que nem sabiam que tinham.
Ele virou levemente o rosto, e uma sombra de sorriso escapou nos lábios.
— Boa sorte.
E saiu.
Ficou só o time. Sozinhos no meio do mundo, mas juntos como nunca.
Ryuji soltou o ar preso no peito.
— Então é isso. Individual. Porrada pura.
— Senai raiz. — murmurou Genjiro, quase como se fosse uma prece.
Kaede olhou para os outros e falou, firme:
— Hora de mostrar quem a gente realmente é.
Renji, ainda um pouco tenso, encarou o chão e murmurou:
— Se eu tiver que morrer ali, que seja gritando meu nome.
Tsubasa respondeu seco:
— Mas a gente não vai morrer. A gente vai marcar esse campo com nossa alma.
Eles se entreolharam, olhos nos olhos. Nada mais precisava ser dito.
A guerra começava agora.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.