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    Ormi Noark fazia parte da força expedicionária e acabou preso no ardente Grande Reino dos Demônios após se separar da força principal junto de seus dois aliados.

    E eu sabia como ele morreria.

    — Dia 711. Zephyros e eu concordamos em algo pela primeira vez em muito tempo. Hoje, morreremos.

    No fim, todo esse grupo encontraria a morte em desespero.

    — ⟅Você sabe quem eu sou?⟆

    No momento em que percebi que o autor daquele diário se chamava Ormi Noark, meus pensamentos tomaram outro rumo. E se ele não tivesse morrido naquele dia? E se tivesse escapado daquele lugar, alcançado a cidade de Rafdonia, fundado o Corpo Revolucionário Ormi algum tempo depois e, no fim, conseguido construir a cidade subterrânea de Noark?

    “Será que isso é forçar demais a lógica?”

    Talvez, mas eu também não conseguia ignorar essa teoria. No fim, imaginação era apenas a soma de dados acumulados. A minha tinha criado essa hipótese plausível no instante em que ouvi o nome Ormi Noark e a palavra-chave Rafdonia.

    “Ainda assim, existem algumas inconsistências.”

    O Corpo Revolucionário Ormi e a cidade de Noark não tinham muita história registrada. No máximo, existiam há alguns poucos séculos antes do nosso tempo atual. Havia um enorme abismo temporal entre esta era antiga e o mundo presente.

    — ⟅Não, não sei⟆ — respondi com firmeza. — ⟅Achei que já tinha ouvido falar de você… mas não me lembro.⟆

    No fim, decidi cavar mais fundo. Era evidente que havia alguma conexão entre esse homem, Noark, e o Corpo Revolucionário Ormi.

    — ⟅Hmm, faz sentido se você veio de Rafdonia. Nossa família é uma das mais antigas famílias vassalas de Rafdonia, então pode ter interagido com alguém do meu sangue.⟆

    Eu podia ver o desejo intenso queimando nos olhos de Ormi Noark ao dizer isso, uma vontade inabalável de sobreviver a qualquer custo. Claro, isso não eliminava todas as suas dúvidas persistentes.

    — ⟅Mas… é verdade que Rafdonia sobreviveu? Que ela se tornou a única cidadela capaz de conter a maldição da Bruxa?⟆ — Ele falou como se ainda não conseguisse acreditar nas minhas palavras, mas então continuou rapidamente: — ⟅Leve-nos até lá, rápido! Quero confirmar com meus próprios olhos…⟆

    — ⟅Ainda não terminei meu teste de verificação.⟆

    — ⟅Há necessidade disso? Se aquele homem ainda for o senhor, tenho certeza de que ele me receberá de braços abertos quando eu…!⟆

    — ⟅Essa é a sua opinião⟆ — cortei seco. O homem ficou desconcertado, sem saber como responder. Vendo sua reação, fiz calmamente outra pergunta: — ⟅Qual é o nome do senhor de Rafdonia?⟆

    Para ser sincero, perguntei porque eu mesmo não tinha certeza. Mas ele pareceu interpretar aquilo como uma pergunta de confirmação e deu a resposta que eu queria.

    — ⟅Ravigion Kommelby Rafdonia.⟆

    Ah, então o Imortal ainda era o governante.

    Enquanto riscava mais uma teoria confirmada da minha lista mental, ele continuou: — ⟅Qualquer pergunta serve. Responderei todas. Então, por favor, leve… Não, não… estamos bem. Há uma mãe com seu filho pequeno. Apenas esses dois. Por favor, leve-os para Raf…⟆

    De repente, ele se calou antes de dizer o nome completo. Um desconforto estranho caiu sobre mim com aquele silêncio repentino. Não era apenas um mal-estar, havia algo errado. Sua voz suplicante e expressão de pesar tinham desaparecido por completo, e agora ele apenas me encarava.

    Lancei um olhar para Zephyros, e o mesmo havia acontecido com ele.

    Como se o tempo tivesse parado, os dois homens à minha frente ficaram em silêncio mortal e apenas me fitaram com expressões vazias. Como dois robôs quebrados.

    Ba-dum!

    Em situações inesperadas, meu instinto sempre agia antes da razão. Em vez de analisar a situação, minha mão foi direto para o escudo, pronta para levantá-lo a qualquer instante.

    E então, no momento em que assumi minha postura de combate, ele falou.

    — Pare.

    As palavras não vieram na língua antiga que usávamos até agora, mas sim em rafdoniano.

    — Eu entendo que você não veio até aqui de propósito, mas não zombe mais dessas pessoas do que já zombou.

    Ba-dum!

    Com o baque grave do meu coração soando nos ouvidos, abri lentamente os lábios. Embora eu não fizesse ideia do que acabara de acontecer…

    — Quem é você?

    A personalidade do homem tinha mudado por completo.

    Ele não respondeu de imediato. Apenas me encarou por um longo tempo enquanto organizava os pensamentos. Por fim, revelou: — Se descer até o porão, encontrará o Orbe de Fogo. Com isso, o Orbe de Fogo que você já possui será fortalecido mais um nível.

    “Ah, então havia esse efeito?”

    Enquanto eu ainda me maravilhava com essa informação interessante, o homem continuou friamente: — Depois de obtê-lo, vá embora imediatamente. Essa é a única recompensa que poderá obter por vir até este lugar.

    Para ser sincero, toda a situação era surpreendente. Eu não fazia ideia do que estava acontecendo, mas também não tinha como descobrir quem era esse sujeito à minha frente. No entanto, eu sabia de uma coisa com certeza…

    “Quem diabos ele pensa que é pra me dar ordens?”

    Esse cara claramente não sabia lidar com bárbaros. Do jeito que estava sendo babaca, eu não faria o que ele pedia nem se já tivesse planejado fazer.

    — Está enganado — retruquei. — Recompensas não são só coisas físicas. Agora, sai da minha frente e para de atrapalhar. Preciso terminar minha conversa com o tal Ormi Noark.

    Claro, eu estava morrendo de curiosidade sobre quem era essa entidade, mas me esforcei ao máximo para não demonstrar, por um motivo muito simples: quem desejava menos era quem controlava a conversa.

    — Ele estava praticamente me contando tudo, e aí aparece esse sujeito esquisito no lugar dele — reclamei, bufando para enfatizar meu ponto.

    Vi sua sobrancelha tremer em irritação por um instante. Pela minha experiência, aquilo era sinal de que ele estava começando a se irritar de verdade. Mas, mesmo ofendido, não fez nada.

    “Então falar é tudo o que ele sabe fazer.”

    Como ainda restava uma dúvida em minha mente, decidi fazer um pequeno experimento.

    — Se queria que eu fosse embora, por que não disse isso? ‘Em troca de levar o Orbe de Fogo, por favor, saia deste lugar sem causar confusão…’ Algo assim. — Como ele não respondeu, continuei: — Não sabe dizer isso? Nossa. Não sei como foi criado, mas não tem nenhuma educação. — A entidade ia dizer algo, mas o interrompi rapidamente. — Tanto faz. Traga aquele cara de volta. Não tenho nada a dizer pra você.

    Ele ficou em silêncio por um tempo antes de perguntar:

    — Se eu disser isso, você vai embora?

    Opa, será que ele ia ceder? Sem ter como saber, apenas dei de ombros.

    — Vamos ver. Uma palavra sincera pode mudar tudo.

    — …Em troca de levar o Orbe de Fogo, por favor, saia deste lugar.

    Uau, ele realmente disse.

    Tensionei os músculos do rosto para impedir que os cantos dos meus lábios se curvassem. — Assim está melhor.

    — Então…

    — Mas não é o ‘bom senso’ você se apresentar quando está pedindo algo?

    Tendo caído na armadilha do bom senso bárbaro, a entidade começou a tremer de raiva. Porém, parecia que isso era tudo o que podia fazer, pois logo em seguida, revelou sua identidade para mim.

    — Eu sou Ormi Noark.

    — Ah, então você é o original?

    — Se já sabe isso, essa conversa será rápida. Com quem você estava falando antes era uma entidade que representava uma reencenação do meu eu passado.

    Eu tinha soltado a palavra ‘original’ sem pensar muito, então a resposta imediata que recebi foi impactante o suficiente para quase me fazer gritar. Ainda assim, algo me puxou de volta para a realidade.

    — Já que me apresentei, agora você poderia…

    Heh, ele aproveitava cada oportunidade. — Juntos.

    Ele me lançou um olhar confuso.

    — Agora que você sabe, faça seu pedido e sua apresentação juntos.

    — …Eu sou o Ormi Noark original. Por favor, não manche ainda mais esta memória e vá embora com o Orbe de Fogo. Por favor.

    O pedido estava extremamente mais polido que antes. Mais uma vez, dei um momento sério de reflexão antes de responder. — Hmm… Não quero.

    — O quê?

    — Eu não vou sair.

    — Isso não foi o que você prometeu…!

    — Que promessa? Eu disse ‘vamos ver’.

    — Eu… estou implorando de verdade.

    — E eu levei um momento de verdade pra pensar, e não vou sair.

    — Você planejou me ridicularizar desde o começo…

    — Ridicularizar você? Do que está falando? Você fez um pedido sincero, eu levei um tempo sincero pra pensar antes de recusar. Tem algum problema na sua cabeça?

    — Saiba o seu lugar!

    Hmm, partindo para insultos agora…

    Já que esse sujeito sem vergonha não tinha a menor intenção de aprender boas maneiras, apesar das minhas lições, e ainda por cima interpretou mal a minha resposta genuína, não vi mais motivo para continuar pegando leve com ele.

    Mesmo enquanto gritava, não recuei. Pelo contrário, dei um passo largo à frente, usando minha postura de bárbaro para me impor e encará-lo de cima. — E o que vai fazer quanto a isso?

    Tamanho e força de combate não tinham muita correlação no nosso nível…

    — Pelo que estou vendo, você não pode fazer nada com a minha presença aqui, pode?

    …mas nossa conversa até agora já tinha provado que ele não representava ameaça alguma.

    — Porque, se pudesse, já teria me expulsado. Estou errado?

    Como esperado, ele ficou em silêncio. Porém, parecia que não era um completo idiota, pois pulou todos os rodeios desnecessários e foi direto ao ponto. — O que você quer?

    — Informação, ou recompensas físicas equivalentes a isso.

    — Esse orbe é toda a recompensa física que você pode levar daqui!

    — Isso seria verdade, originalmente. Mas não estamos numa situação normal, estamos?

    As coisas tinham avançado a tal ponto que uma entidade dizendo ser sua versão original havia aparecido. Estava claro que ele cederia alguma coisa se eu continuasse pressionando. Aparentemente, porém, ele já tinha percebido minhas intenções escancaradas.

    Ele mordeu o lábio de raiva. — Bastardo sem vergonha.

    — Aos meus ouvidos, isso soa como um elogio.

    — Não existe nenhuma recompensa física que eu possa lhe dar. Eu sequer tenho essa autoridade.

    — Então vai ter que me dar informação. Já conheci alguns como você que se chamam de ‘originais’. O que vocês são, afinal…? Hã. Vai usar seu direito de permanecer em silêncio?

    Ele sorriu de canto. — E se eu usar? O que você vai fazer a respeito?

    Uau, então esse era o caminho que ele ia tomar?

    — Bem, ainda não sei — admiti. — Mas se continuar calado, vou descer e pegar o Orbe de Fogo no seu porão.

    Ele deu um risinho com desdém. Mas essa atitude não durou muito.

    — Depois disso, vou destruir tudo. Destruir a casa, destruir Zephyros, destruir seu corpo e até destruir aquela mãe.

    — Até… até a mãe? — ele murmurou, aparentemente chocado.

    Então esse sujeito não entendia o que era igualdade de verdade.

    — Você não perguntou o que eu faria? Só estou dizendo a resposta que queria ouvir. E se eu realmente cumprir o que disse… o que você pode fazer? — provoquei.

    — Eu vou recriar tudo. O Orbe de Fogo, esta casa, as vidas deles… Eu posso recriar tudo de novo. Isso tudo é só uma peça criada por aquela criança, desde o início.

    Fiquei em silêncio, esperando que ele terminasse. Logo, ele revelou: — No entanto, mesmo que eu consiga restaurar tudo, não suporto ver você espancar Tarvian até a morte.

    — Oh?

    — Tudo bem. Você venceu, bárbaro. Pergunte outra coisa. Responderei tudo o que puder.

    — Então…

    — Mas não posso lhe contar sobre minha origem. Isso é algo que não posso revelar, mesmo que quisesse. Então, não se engane.

    — Oh…

    — Ainda assim, minhas respostas certamente serão melhores que as que meu eu passado estava te dando. Eu sei muito mais agora do que ele sabia naquela época.

    “Hmm, acho que é verdade…”

    Mesmo assim, não pude evitar sentir certa insatisfação com o que obtive.

    — Agora, escolha. Apresentei todas as opções possíveis.

    Aquelas palavras foram sua declaração final.

    Depois de pensar por um momento, acenei com a cabeça. — Certo.

    Era hora de ter uma conversa inteligente.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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