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    Meus olhos eram ofuscados pelo sol, acordando-me de um sono não tão profundo. A cama macia era um conforto inexplicável, auxiliando meu sono pesado de se ter.

    Tocava minhas cicatrizes, pensando quem um dia já fui. Meu corpo não era aquele, muito menos aquela era minha vida. Não sou eu, e nunca será…

    Levanto-me, indo em direção ao banheiro do quarto luxuoso. Demorei para atravessar o grande cômodo do palácio dado a mim, palácio esse que só me deu dor de cabeça.

    Abro a porta de madeira, chegando até o espelho do banheiro. Analisava meu rosto, algo coberto por cicatrizes e olhos tão verdes quanto jade.

    Eu odiava esses cabelos pretos.

    Mesmo que esse rosto fosse bonito, não é meu corpo. Não é meu corpo e nunca será aquilo que fui.

    Ter que viver por essa identidade é um inferno. Eu não aguento mais viver como Five, o Mistério. Bato na pia, meu soco quebrando-a no mesmo instante.

    — Isso doeu! — Balançava minha mão, querendo diminuir a dor que sentia. A pulsação de ter meu membro dolorido era constante, inundando toda a região de dor. — Nunca mais bato assim.

    Sentia medo.

    Medo do futuro que me esperava.

    Olhava para a máscara de gás ao lado, da qual ela olhava para mim na mesma intensidade. Não era viva, eu sabia disso, mas ela comandava meu destino.

    Meu destino como um herói de venenos.

    Chego ao box do banheiro, banhando meu rosto com água logo após. Um banho rápido, mas refrescante. Essa sensação me manteve vivo por muito tempo, e espero que continue assim.

    Taco mais um balde d’água. Gelado, meu corpo tremia de frio.

    — Não trocaram o b-balde hoje? — pergunto. Ninguém responde, estava sozinho, afinal. A identidade de Hitomi havia sido perdida há muito tempo.

    Sete anos? Acho que sim…

    Queria voltar para casa.

    Termino de tomar o banho, limpando-me com uma toalha próxima. Era de luxo, suas macias cerdas penetrando cada canto de minha pele.

    Deveria agradecer a Hera por isso, ela tem sido uma ótima guia desde que cheguei aqui. Falando nela… por onde será que anda? 

    Paro, pensando nesse assunto por alguns segundos. Minha mão envolta do queixo, como nos desenhos animados que assisti.

    Acabei me perdendo em risos quando lembrei dessas cenas, talvez eu devesse ter aproveitado um pouco mais esses velhos tempos.

    Dou uma outra olhada para a máscara carregada de sentimentos. Sua aparência escura e lentes esverdeadas ajudavam a passar uma impressão não muito legal, mas necessária para minha benção.

    Fico feliz que aquele velho tenha conseguido replicar exatamente o que eu pedi. Toco na cicatriz de meu peito, pensando em como fui tolo de consegui-la. 

    Talvez se eu fosse um pouco melhor…

    Coloco a máscara em minha cara, sentindo meu mundo mudar novamente. Não estava mais como Hitomi, um garoto alegre, agora eu era Five, o misterioso. Bem… clichê.

    Saio do banheiro, indo em direção ao meu guarda-roupa. 

    Qual será o conjunto de hoje?

    Abro as portas, mostrando um armário cheio de roupas iguais. Eu gostava de fazer essas piadas internas, ajudavam a melhorar a situação em que estava.

    — Eu quero esse conjunto aqui — disse, com a voz abafada pela máscara. Meus olhos cheios de sono impossibilitaram-me de escolher outro, mesmo que fossem quase os mesmos.

    Visto a camisa preta com detalhes em verde. Logo após, visto o manto, colocando o capuz caindo em minha cara.

    Acabo tossindo duas vezes.

    — Droga… tá piorando? — resmungo, ajeitando a máscara para respirar melhor. 

    Vou até a porta, abrindo-a no mesmo instante. Esperava ver aquele corredor do palácio vazio, e ele realmente parecia à primeira vista.

    Ufa… estava agradecido.

    Dou alguns passos para frente, indo em direção à janela que ali se encontrava. Os raios solares não pegavam ali, deixando apenas uma bela visão da vasta floresta.

    — Como você está, Five? — pergunta uma voz que não poderia esquecer. Viro-me no mesmo instante.

    — Eight? — respondo com uma voz trêmula, quase correndo para longe no mesmo instante.

    Ela se mantinha parada em um ponto cego da porta, o que me levou a acreditar em minha solidão no momento.

    — Eu vim ver como está o meu chuchuzinho. — Se aproximava mais rápido do que poderia prever. Olhos fixos nos meus, mesmo que estivessem escondidos atrás da máscara.

    Me assustei, fiquei nervoso e com medo. Corri para a porta do meu quarto, da qual Eight impediu-me de continuar até ela. Logo fui envolvido com seu abraço, quente e confortável.

    Não eram essas suas intenções! Eu sabia!

    Essa mulher é muito perigosa…

    Um abraço unilateral, do qual nem tive reação de retribuir. Sentia minhas costelas quebrando, pois, a cada segundo, Eight apertava cada vez mais.

    — Oh! Como eu te amo, Five! — Suas palavras não significavam nada, essa menina não tinha nenhum filtro. Me causava medo, queria fugir. — Você não vai escapar de mim, viu!

    — Eight… Será que pode me soltar? — pergunto. Minha voz já estava rouca.

    Sentia o ar se despedindo de mim.

    Os olhos dela rapidamente escureceram, como se ela não tivesse gostado da sugestão.

    — Você está me traindo? É isso? Para você não querer mais meu abraço, só pode significar isso… — disse Eight. 

    Uma paranoia criada na sua cabeça! É como eu falei, essa mulher é maluca!

    — Não é isso! Eu nunca te trairia, juro! Mas é que… — Dava leves tapas em seu braço, como se pedisse rendição naquele momento.

    Eight parecia ter entendido meus sinais, soltando-me logo após. Ela abriu um sorriso gentil em seu rosto, mesmo que fosse o próprio capeta.

    — Desculpe! Hehehe!

    Caí ao chão, minhas pernas haviam perdido suas forças diante dessa situação perigosa.

    Dou um grande respiro, voltando todo o fôlego de volta para o corpo. Muito perigosa!

    Mesmo com atitudes gentis, ela era muito perigosa mesmo!

    — Então… — Puxo mais uma vez o ar, soltando um grande suspiro. — O que você veio fazer aqui hoje?

    — O que eu vim fazer? — Ela colocou os braços para trás, aproximando seu rosto do meu. — Eu não posso ver a pessoa que eu amo, não? 

    Agradeceria por estar de máscara naquele momento. Senti meu rosto corar de vergonha, e ao mesmo tempo a sensação dele esvair esse constrangimento.

    Eu não posso deixar essa mulher me enganar! Só está brincando com meu coração.

    — Brincadeirinha! — disse Eight, mostrando a língua. Seus óculos meia-lua deixavam os olhos azuis mais bonitos. Era como um grande mar. — Hoje tem a reunião de heróis, e eu vim te buscar.

    — Ah… é mesmo.

    Tinha esquecido completamente disso. Aquela maldita confraternização comandada pelo Ten…

    Esse velho só me traz dor de cabeça, quem dera ele não fosse a ficção.

    — Venha, pegue minha mão, amor — falou Eight, estendendo sua mão. 

    O vento soprou suas grandes mechas de cabelo, mesmo que na parte de trás fosse curto. Os cabelos loiros contrastam com a parede.

    Era lindo… mas não podia ser enganado. Não hoje!

    — Vamos.

    Recuso sua ajuda, levantando-me do chão. Eight não demonstrou nenhum sinal de tristeza, o que já era esperado.

    É… ela só está fingindo.

    Dou mais alguns passos, caminhando em direção ao local do evento. Só precisava ser lembrado que eu iria no mesmo instante.

    Eight não parecia ter seguido sua ideia de vir comigo…

    Olhei para trás, procurando-a. Acabo achando sua figura estática, parada na mesma posição de anteriormente.

    — Eight! Não vai vir não? — pergunto. Um sinal de gentileza, do qual eu não poderia esquecer de fazer.

    Pelo menos um no dia, foi assim que prometi.

    Ela olhou para mim, seus olhos brilhando de emoção. Correu junto ao vento, chegando onde estava em instantes.

    Sem que pedisse, abraçou meu braço. Era afetuoso, e eu sentia isso.

    Os assuntos… Pelo que eu me lembre, era sobre o próximo herói a ser divulgado e aquela tal anomalia

    Por que meu rosto está ficando vermelho? Isso é ruim… muito ruim.


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