Capítulo 28: Conferência (2)
— Você tá com um cheiro diferente hoje, amor… — disse Eight, agarrando-se ao meu braço.
O que? Não, não! Eu não mudei nada! Por favor, não enlouqueça!
— Eu não sei do que você está falando, Eight… — respondi, nervoso. As palavras demoraram para sair de minha boca.
— Espera… — Eight parou a gente no corredor vazio. Meu braço foi apertado com toda a força, uma dor intensa que só crescia a cada segundo. — Isso é cheiro de mulher?
Ela se aproximou de meu rosto, seus olhos arregalados diante de tamanha descoberta.
Eles estavam se avermelhando? O que? Não quero que me machuque!
— Nã–
Antes que respondesse, Eight apertou mais uma vez meu braço.
Isso dói, dói muito!
— Eight, tá doendo! Por favor, para! — disse, suplicando pela longevidade de meu braço. — Eu não estava com nenhuma mulher, eu juro.
Uma voz trêmula, quase chorando diante da dor. Seus olhos voltaram ao normal após ver minha situação, como se tivessem sentido pena.
Me joguei na parede, soltando-me de seu abraço. Arrastei pela parede até chegar ao chão, um lugar seguro.
Estava doendo muito!
Ela se abaixou, igualando a minha altura. Aproximou suas mãos.
O que ela estava fazendo? Vai me machucar mais uma vez?!
Colocou seus belos dedos na máscara, tirando-a de minha face. Eight seria a única pessoa a me ver sem ela, e talvez a última também.
Ela jogou a máscara para o lado.
— Eu te acho muito melhor sem essa máscara boboca — disse Eight, sua mão acariciando minha face.
Então ela ia fazer carinho após tentar me matar? Que hipócrita!
— Você está louca? Por que tirou minha máscara!? — perguntei, pegando-a novamente.
Sentia meu corpo esquentar diante de seu ato, algo que não entendia, e nem quero entender! Ela é louca, só isso que preciso saber.
— Não.
Ela impediu minha mão, não deixando com que eu pegasse meu acessório.
— Me deixa pegar!
— Eu quero ver os olhinhos do meu amor sem essas máscaras bobas.
— Amor? Nós nem namoramos!
Falei no calor do momento.
Aquela era uma frase da qual eu me arrependeria de dizer, levando em conta seu histórico. Agora seria a hora em que ela me mataria com muito motivo.
— É verdade… nós não namoramos… — Eight se entristeceu, seu rosto coberto pela boina que sempre esteve em sua cara. Juntava seus dedos, como se tivesse pensado em algo muito maligno. — A resposta pra isso é só você ser meu, né?
Eu acabei alimentando mais uma paranoia dela!
— Não… — murmurei.
— O que você disse? — A expressão de Eight mudou bruscamente, assustando-me.
— Nada! Eu não disse nada!
— Que bom, meu amor. — Seu rosto se aproximou do meu, fazendo biquinho. Ela segurou na minha cara.
Não!
Alguém me salva! Essa mulher é maluca!
— O que você está fazendo com ele, Eight? — disse uma voz familiar. Feminina e maternal.
Six? Ela estava aqui?
Eight se distraiu, olhando em direção à voz. Quando parou de prestar atenção em mim, peguei minha máscara em um instante, colocando-a em meu rosto.
— Six, o que você faz aqui? — perguntei com uma voz séria, tentando passar uma impressão calma.
Uma mulher alta, vestindo casacos aventureiros. Six, da Aventura. Pelo menos era assim que a chamavam dentro do grupo de heróis.
— Eu que pergunto. Os dois pombinhos estão aí jogados no canto e o incômodo sou eu? — respondeu Six, carregando sua grande arma. Ela olhava para nós com aquele sorriso macabro de sempre.
Como uma pessoa dessas poderia ser mãe? Isso faz algum sentido? Todos aqui são assustadores!
— Eu não pedi a sua opinião, biscate — falou Eight, levantando-se. — Deixe-nos em paz!
Seu modo de falar no plural indicava que suas vontades também eram minhas, mesmo não concordando com nenhum desses termos.
— Ei… eu não disse nada sobre isso.
— Cala a boca, Five! Eu sou a dona da razão aqui. — Eight me interrompeu.
A mulher gigante não respondeu às provocações da detetive, apenas coçou sua nuca. Eu entendia Six nesse ponto, lembro de várias vezes em que Eight acabou a incomodando… Vai ver é só cansaço disso.
— Vocês vão ou não? — perguntou.
— Sim…
Segurava meu braço, ainda dolorido, por todo o trajeto. Six acabou se metendo em nosso meio, impedindo Eight de fazer qualquer uma de suas loucuras.
Ela estava realmente se segurando para não fazer nenhuma bizarrice, tanto que até mordia seu jaleco.
Ainda bem que ela nunca ultrapassou as ordens de Six, então, estava tudo certo naquele ponto. Me sentia livre…
Os corredores iam aumentando cada vez mais, porém eu sabia que estávamos perto. Não era a primeira vez que essa conferência iria ocorrer, e nem seria a última.
Chato…
— Quais são os motivos dessa conferência mesmo? — perguntei, olhando para a matriarca.
Six, confusa com minha pergunta, olhou para mim.
— Você realmente não lembra?
— Tenho uma certa ideia sobre…
— Por que você tá falando com ela, Five? — Eight mordia seu casaco cada vez mais, tremendo de raiva. Seu ódio estava crescendo, e era visível.
— Ignorando a irritadinha ali… É sobre aquela tal de Scarlett — Six ajeitou seu casaco, mostrando mais seus ombros.
Estava calor, eu entendia ela.
— A anomalia? Eu sei sobre ela.
— Sabe? E desconhece a última informação vinda dela?
Última informação?
Mas ela não havia sido presa? A última informação foi sobre aquela assassina com seu sangue.
Ten fez um ótimo trabalho, mas ter deixado ela fugir assim é de matar qualquer um.
— O que aconteceu? — perguntei. — Ela não fugiu, né?
Nine sorriu. Seus dentes grandes como coelhos deixaram bem evidente qual era a resposta para minha pergunta.
— É sério?! — gritei. Não sabia dessa informação.
Isso muda tudo! Mas tudo mesmo!
Se Scarlett fugiu, significa que tudo pode ir conforme a rota principal… Isso é bom, né? Isso é muito bom!
Estamos caminhando para a rota!
Bem… fico triste que apenas eu saiba disso.
Chegamos em frente à grande porta do salão. Estava nervoso? Óbvio! Ninguém faz ideia do quanto eu odeio lugares cheios de gente.
— Está se sentindo bem para entrar, garanhão? — perguntou Six, segurando a maçaneta da porta.
Eight não gostou nada disso.
Seu rosto irritado avançava para cima de mim, quebrando as ordens de Six. Era a primeira vez que ela fazia isso, mas a matriarca não havia se importado nenhum pouco.
Sendo contrária à minha reação, Six apenas sorriu.
Eight abraçou meu braço, mais uma vez. Seu rosto emburrado não estava mais cheio de raiva, e sim de ciúmes.
— Não me abandona… — murmurava para si mesma. — Desculpa, não queria ser tão mal.
Mesmo com todas essas loucuras… eu conseguia aguentar, afinal, ela foi a primeira pessoa a estar ao meu lado nesse mundo.
— Tá tudo bem — respondi.
Six revirou os olhos, abrindo a maçaneta. Foi na frente, garantindo seu lugar nas cadeiras que sobraram.
Pelo visto… éramos os últimos a chegar. Todos os outros estavam ali, esperando aquele que atrasou tudo.
— É o Five! É sempre ele que atrasa tudo isso! — disse Three, gargalhando de minha cara.
— Deixe-o em paz, irmão. Todos nós temos problemas, vai ver ele estava tentando se matar — respondeu Two, puxando a camisa do irmão.
As máscaras gêmeas estavam em cima de um armário, vendo toda a sala em um ângulo muito melhor do que o nosso.
Esses dois me enchem o saco, e muito!
Sentia inveja desses pirralhos, sempre se divertindo por aí.
— Eu sinto o cheirinho do amor no ar — disse Eleven, enquanto passava batom em seus lábios. Deitava no sofá da sala de uma forma sedutora, mas nenhum homem ousaria chegar perto.
Ela era muito pior que Eight.
— Tudo isso pra continuar sendo virgem! Hehehe — falou Four, escondido nas sombras. Apenas seus olhos eram vistos, e agradecia por isso.
— Façam silêncio. Deixe o garoto em paz. — Apenas a voz da matriarca foi suficiente para calar toda a sala. Ela andou de forma lenta, chegando até a cadeira central.
Sentou-se em uma posição de respeito, abrindo as pernas de forma desleixada. Admirava sua força de vontade.
— Vamos começar essa reunião. Não esperaremos Zachery dessa vez — disse Six, entrelaçando os dedos da mão.

Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.