Capítulo 10: Peguei (3)

Combo 08/10

    O mordomo assistente Hans imediatamente ordenou que outro criado chamasse Choi Han.

— Onde ele está agora?

— Ah, ele está com Ron na cozinha do chef Beacrox.

    O coração de Cale disparou ao entrar na sala de estudos. Será que os três estavam se dando como esperado?

— Pelo que me disseram, ele está aprendendo a cozinhar pratos básicos com o chef Beacrox.

— Culinária?

— Sim.

     Um canto dos lábios de Cale se ergueu.

     “Cozinhando minha bunda.”

     Eles chamavam aquilo de “cozinhar”, mas ele provavelmente estava aprendendo sobre tortura, ou Beacrox e Ron estavam admirando a habilidade de Choi Han com a espada. Cale não precisava ver para saber a verdade.

Cale naturalmente se aproximou e sentou-se à sua mesa. Então, casualmente, perguntou a Hans, que estava parado, displicentemente, num canto.

— O que ele pediu?

— Ah.

    Hans pareceu chocado com as palavras repentinas de Cale, antes de rapidamente assumir uma expressão séria e começar a relatar. Era a informação que Cale esperava.

    Hans não conseguiu esconder sua tristeza e decepção ao contar o que aconteceu na Vila Harris e foi até o Conde com Choi Han para entregar a Placa do Chefe da Vila que Choi Han trouxe.

— Meu pai se encontrou com ele?

— Sim. O Conde ordenou imediatamente um funeral e enviará inspetores, cavaleiros e soldados para investigar.

    O Sr. Hans parou por um momento e hesitou antes de continuar a falar.

— No entanto, o hóspede indicou que não voltará conosco.

    Hans lembrou-se de ter conhecido o Conde com Choi Han, enquanto Choi Han explicava a situação ao Conde.

    Choi Han falava normalmente, mas as pontas dos dedos tremiam. Foi então que Hans descobriu que Choi Han tinha 17 anos. Ele conseguiu sobreviver porque, por acaso, estava procurando ervas medicinais por conta própria no momento do massacre, mas ainda teve que assistir à morte de seus vizinhos e amigos tão jovens. Quão chocado ele deve ter ficado?

— Ele vai ficar bem?

    Foi por isso que Hans perguntou a Cale: Será que ele não teria problema em não se despedir?

— É uma decisão dele.

    Cale respondeu à pergunta de Hans e mudou de assunto. Ele já sabia por que Choi Han não queria voltar. Ele já havia se despedido enquanto os enterrava. Tudo o que restava era se vingar daqueles que roubaram o futuro deles.

— Ron tem cuidado dele?

— Sim. Ele garantiu que o hóspede comesse todas as refeições. E também foi muito simpático com ele.

    Os três realmente pareciam estar se dando bem.

— Ah.

    Hans parecia ter se lembrado de algo enquanto continuava a falar.

— O Sr. Ron parece ter se machucado enquanto trabalhava novamente. Ele estava com bandagens no pulso.

— Sério? Não esqueça de dar um remédio para ele.

    “Ele provavelmente matou alguém de novo.”

     Era isso que Cale estava pensando. Ele ouviu a voz de Hans naquele momento.

— …Eu me certificarei de transmitir as palavras e sentimentos do jovem mestre ao Sr. Ron.

— Claro, tanto faz.

     Hans abriu a boca para dizer algo enquanto olhava para a expressão indiferente de Cale, mas um ruído diferente preencheu a sala de estudos.

*Toc Toc Toc*

     Choi Han havia chegado. Hans abriu a porta e Cale viu Choi Han parado do lado de fora. Cale fez um gesto para que Hans fosse embora, e Hans abaixou a cabeça enquanto saía silenciosamente da sala de estudos. Apenas Cale e Choi Han permaneceram no quarto.

     Cale manteve a mesa entre eles enquanto apontava para a cadeira à sua frente.

— Venha sentar-se.

    Choi Han olhou lentamente ao redor da sala enquanto se sentava na cadeira. Cale lhe deu tempo suficiente para olhar ao redor.

     Como um típico herói puro e inteligente, Choi Han gostava de livros. Foi por isso que a primeira coisa que fez depois de sair da Floresta das Trevas e chegar à Vila Harris foi aprender a ler com o Chefe. Depois de olhar ao redor por um longo tempo, o olhar de Choi Han finalmente pousou em Cale.

— Qual é o pagamento?

— Indo direto ao ponto.

    Cale sorriu ao ver que Choi Han não estava enrolando.

    Pagamento. Choi Han era minucioso quando se tratava de dívidas.

    Cale, Kim Rok Soo, percebeu que havia alterado o conteúdo do início de O Nascimento de um Herói. Ele percebeu que ainda mais coisas mudariam por causa disso. Por isso, ele se esforçava ao máximo para não mudar muita coisa, mas…

    Ele teve que ir para a capital. Então, ainda mais coisas mudarão.

    Cale colocou um pedaço de papel na mesa enquanto olhava para Choi Han.

— Existe uma maneira de você retribuir a refeição, mas primeiro preciso determinar se você será capaz de fazê-lo. Em termos simples, isto é uma entrevista.

— Por favor, vá em frente.

    Choi Han concordou imediatamente com a conversa de Cale sobre verificar suas qualificações. Cale começou a perguntar.

— Você sabe como proteger as pessoas?

— …O que você quer dizer?

    Choi Han estremeceu pela primeira vez e perguntou depois de um instante. O olhar de Cale começou a ficar penetrante. Ele estava olhando para o pedaço de papel sobre a mesa e não para Choi Han.

    Embora tivesse que mudar o plano rapidamente, isso poderia lhe trazer mais ganhos do que antes. Ele poderia impedir que o grupo de Choi Han obtivesse os poderes ancestrais e, ao mesmo tempo, tomar para si os que ele precisava.

    De qualquer forma, esses poderes eram inúteis para eles.

    Cale manteve o olhar no papel enquanto continuava a falar.

— Simples. Você é capaz de proteger as pessoas em vez de matá-las?

    O silêncio tomou conta da sala. Choi Han não tinha resposta. Cale desviou o olhar do papel e olhou para a pessoa sentada na cadeira. Choi Han estava sentado ali, de cabeça baixa, mas acabou respondendo.

— Não tenho certeza.

— Tsk.

    Cale estalou a língua. Era por isso que era perigoso provocar Choi Han naquele momento.

— Mas você pode matar alguém?

    A resposta veio facilmente dessa vez.

— Absolutamente.

— Então você também deve ser capaz de proteger as pessoas.

    Os olhos de Choi Han tremeram por um momento.

— Isso é difícil.

— Mas difícil não significa impossível.

    Não havia muitas coisas no mundo que você pudesse evitar porque era difícil. A vida que Cale tinha vivido era assim. Era por isso que ele estava tão feliz em possuir o corpo de um lixo como Cale, que podia fazer o que quisesse. Mas, infelizmente, agora havia uma montanha que ele precisava escalar primeiro para ter aquele maldito futuro de paz.

     Cale estava procurando alguém para escalar e virar aquela montanha para ele.

     Choi Han tinha um sorriso amargo no rosto.

—   Acho que é verdade.

— Sim, é. Agora a pergunta final da entrevista.

— Sim. Por favor, pergunte.

    Cale olhou firmemente para Choi Han enquanto fazia a última pergunta.

— Qual o seu nome?

— Você não sabe meu nome?

    “Claro que sim. Você é a pessoa que ia me bater.”

— Ouvi de outras pessoas, mas quero ouvir diretamente de você.

— Choi Han.

    Choi Han estendeu a mão.

— Meu nome é Choi Han.

    Cale apertou a mão de Choi Han.

— Ótimo. Eu sou Cale Henituse.

    A breve conversa, chamada de entrevista, terminou rapidamente. Claro, era uma nota de aprovação. Cale empurrou o papel sobre a mesa para Choi Han.

— A maneira como você pode me pagar é simples.

    Havia dois nomes escritos no papel. Também indicava onde ele os encontraria.

— Vá para a capital com essas pessoas.

    Esses eram os membros do grupo que Choi Han encontraria em seu caminho para a capital. Beacrox e essas duas pessoas cresceriam e se fortaleceriam com Choi Han até o volume 5.

     Rosalyn e Lock.

    Uma era a princesa de um reino vizinho que estava retornando ao seu reino após sobreviver a uma tentativa de assassinato, e a outra era uma criança ferida. Claro, essa criança era a herdeira do Rei Lobo. Era possível que ele se transformasse em um lobo.

    A Princesa Rosalyn era forte e fria. Ela tinha a força mais explosiva depois de Choi Han e usava sua força com lógica.

    Ela não estava interessada em assumir o controle do trono. Em vez disso, seu objetivo era criar a maior Torre Mágica do continente, e ela se tornaria uma heroína à medida que se aproximasse de seu objetivo.

    “O arquiduque do reino, que tentou assassinar Rosalyn, será torturado por Beacrox no futuro.”

    O coração de Cale começou a tremer ao se lembrar de quão clara e descritiva aquela cena de tortura havia sido na novel. Seu coração parecia estar tremendo bastante ultimamente.

— Rosalyn. Lock.

    Cale assentiu com a cabeça ao ouvir a voz de Choi Han.

— Sim. Essas duas pessoas. Fico feliz que você saiba ler.

     Choi Han continuou a encarar os dois nomes. O olhar de Cale pousou no nome Lock.

     Lock. Este mundo tinha outras raças, como Elfos, Anões e o Povo-fera. No entanto, a mais reservada de todas as raças eram o Povo-fera.

    Pessoas-feras. Isso incluía feras, pássaros, peixes e até insetos. As Pessoas-fera eram diferentes dos monstros por causa da existência de uma consciência.

    “Lock tem o sangue mais puro do povo lobo.”

     Lock havia recebido a linhagem para dominar os lobos. O Povo Bestial com a linhagem mais pura tende a parecer fraco e comum quando está em sua forma animal ou humana. No entanto, uma vez em estado de frenesi, torna-se mais cruel e violento do que qualquer outro. E Lock era o único sobrevivente de toda a tribo dos Lobos Azuis.

    Cale tirou um mapa de uma gaveta e o abriu sobre a mesa.

— Você começará a jornada comigo.

    Ele então apontou para um local no mapa.

— Vamos nos separar aqui. Basta seguir o que escrevi no papel.

    Choi Han não fez perguntas e apenas ouviu em silêncio. Cale observou Choi Han por um instante. Havia um motivo para Choi Han ter que ir com ele até aquele momento específico.

    “Preciso evitar o dragão louco.”

    O início de O Nascimento de um Herói. Como em qualquer outra novel, novos vilões tiveram que surgir depois de Cale. No entanto, esses vilões não foram fáceis de encontrar como Cale.

    O próximo vilão envolveu um Marquês que liderava uma das facções nobres. Ao longo do início da novel ele atrapalha o príncipe herdeiro e Choi Han. Ele acaba sendo arruinado por volta do volume 2, mas Choi Han encontra o Marquês pela primeira vez nesta viagem à capital.

    “Aquele bastardo criou o dragão louco.”

     Definitivamente era um dragão louco.

     Ainda era apenas um bebê dragão. Aquele dragão negro estava sendo torturado em segredo pelo futuro sucessor do Marquês. Eles o estavam treinando para obedecer aos comandos do Marquês.

    “Eles também são loucos. Dragões são os seres mais fortes do mundo. Como eles acham que vão conseguir domar um dragão?”

     Realmente faz sentido.

     O Marquês conseguiu um ovo de dragão por meio da organização secreta e o acorrentou com correntes que restringiam sua mana assim que eclodiu. Cale não conseguia compreender a extensão da força daquela organização secreta.

    Mas será que os dragões seriam chamados de seres mais fortes do mundo sem motivo?

    Este dragão negro, que tinha menos de 5 anos, ainda era um dragão. No final, o dragão enlouquece e fica furioso.

    Pode ser jovem, mas na novel, ele explodiu com mana suficiente para remover as correntes que o restringiam. Como sua mana estava restrita, a mana que ele explodiu era, na verdade, sua própria força vital.

    Depois de viver em uma caverna e ser torturado todos os dias sem nunca poder ver a luz do sol, o jovem dragão solta sua própria força vital para encontrar a liberdade.

    Após conseguir escapar, o dragão acaba perdendo a racionalidade e fica furioso.

    A vila onde Choi Han está hospedado no momento quase acaba em perigo por causa do dragão furioso, e Choi Han acaba lutando contra o dragão negro.

    Choi Han olhou para o pequeno dragão com menos de 1 metro de comprimento. Ele conseguiu explodir uma montanha com aquele corpo pequeno e colocar os aldeões em perigo significativo. No entanto, Choi Han não conseguiu atacar o dragão facilmente.

    Os olhos deste dragão que havia perdido a razão estavam cheios de dor e tristeza. No entanto, a boca do dragão negro sorria. Choi Han achou isso extremamente triste.

    Choi Han acaba matando o dragão negro e lhe dando a liberdade chamada morte.

    Cale teve que ir até aquela vila.

    “Ou Choi Han cuida dele ou eu evito que ele enlouqueça e encontro uma maneira de libertá-lo.”

    Não havia outra escolha, pois ficava a caminho da capital. Ele precisaria fazer um desvio extremamente longo para evitar aquela vila, o que levaria muito tempo e mudaria o rumo da história. Ele também se atrasaria para chegar à capital se fizesse esse desvio.

     “Pode ser um dragão louco, mas ele é descrito como um dragão muito fofo.”

     A novel o descrevia como um dragão negro fofo com pernas curtas. Mencionava que era ainda mais assustador que uma existência tão fofa tivesse enlouquecido e causado o caos. Cale decidiu parar de pensar no dragão por enquanto e, em vez disso, deu o restante do pedido a Choi Han.

— Venha para a capital com os donos desses dois nomes. Essa é a sua maneira de me retribuir.

    Choi Han fez uma pergunta.

— …Eu só preciso proteger essas duas pessoas?

— Se você quiser.

    Essas duas pessoas deveriam ser fortes o suficiente para não precisar da proteção de Choi Han. Principalmente a princesa Rosalyn, que não se moveria nem um centímetro, mesmo que um caminhão cheio de Cales com o Escudo Indestrutível a atacasse ao mesmo tempo.

— Faça como quiser. No entanto, você precisa vir à capital. Você também precisa me encontrar lá sem se machucar. Pelo menos pode se manter em segurança, certo?

    Cale e Choi Han não devem ter motivos para se encontrarem novamente depois disso. Choi Han tem outro encontro negativo com a organização secreta após se envolver com Lock. O encontro com Lock deve permitir que Choi Han detenha o perigo na capital, como na novel.

— Por que você não está respondendo? Você consegue?

    O olhar de Choi Han ficou um pouco mais claro.

— Sim. Eu consigo fazer isso.

    Ele parecia estar falando num tom mais respeitoso do que antes, mas Cale simplesmente deixou passar. Relaxou um pouco depois de ver Choi Han guardar o papel no bolso do peito.

— Eu deveria estar bebendo enquanto fazia isso.

    Foi muito cansativo conversar com Choi Han com o corpo de Cale.

— Você pode ir embora agora.

    Cale acenou para Choi Han. Choi Han começou a caminhar em direção à porta após ver o gesto de Cale. Cale recostou-se na cadeira e observou Choi Han estender a mão para a porta antes de começar a falar novamente.

— Além disso, tudo o que discutimos aqui é segredo. Tenho certeza de que não preciso te contar isso?

    Choi Han não olhou para trás e respondeu enquanto abria a porta.

— Claro.

    A voz de Choi Han parecia indicar que ele estava sorrindo, mas Cale não se importou. Assim que ficou sozinho, Cale pegou um pedaço de papel e uma caneta e começou a escrever em coreano. Depois de escrever por um tempo, saiu da sala e foi para o escritório do pai.

— Pai.

— Sim?

— Preciso de dinheiro.

— Certo. Vou pedir ao Hans para te dar um pouco.

    Cale precisava de muito dinheiro. Assim que Cale se deitou na cama com outro cheque de 10 milhões de galeões no bolso do peito, Ron se aproximou dele e colocou uma garrafa no criado-mudo enquanto começava a falar.

— É um chá morno de limão e mel. Meu filho fez especialmente para você, jovem mestre. Tenha uma boa noite. Estou sempre ao seu lado.

    A sonolência de Cale desapareceu num instante.

    Não importava o que acontecesse, ele precisava ter certeza de que os dois iriam embora com Choi Han.

   No dia seguinte, Cale Henituse foi para a favela assim que acordou.