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    Combo 09/10

    — Jovem mestre. Soube de tudo pelo vice-mordomo Hans. Esse Ron fará o que puder com minhas habilidades limitadas para garantir que você possa brilhar na capital.

        Os ombros de Cale começaram a tremer enquanto ele saía da propriedade do Conde. Ele estava pensando na conversa que tivera com Ron assim que acordara naquela manhã.

    — Esta será sua primeira vez fora do território Henituse, certo? Eu sou muito bom em caçar coelhos. Vou caçar alguns coelhos para você quando estivermos acampando lá fora.

        A voz calma e benigna de Ron ecoou nos ouvidos de Cale. Ele sentiu como se ainda pudesse ouvir a voz de Ron ecoando como uma alucinação através da névoa lá fora.

        Cale estava com medo do fato de Ron estar explicando a ele como caçar um coelho logo de manhã.

    — Você precisa ter cuidado ao manusear um animal pequeno como um coelho, que se assusta facilmente. Como você não sabe quando ou como ele vai correr, precisa prestar atenção ao redor e matá-lo imediatamente. Ah, você também precisa remover as entranhas depois de pegá-lo. Eu também sou muito bom nisso.

       Cale teve que se virar enquanto Ron imitava o ato de abrir um coelho com as mãos. Ron estava animado. No entanto, o único pensamento que Cale tinha naquele momento era que Ron estava brincando com ele. Cale estava feliz por Ron estar indo para a capital com ele.

       Posso incluir Beacrox como meu chef pessoal.

       Ron, Beacrox. Cale já tinha avisado Hans naquela manhã, para que ele pudesse trazer a dupla pai e filho com ele. É claro que Ron também estava lá.

    — Hans, quero levar Beacrox como meu chef pessoal nesta viagem.

    — Posso perguntar por que Beacrox? Ele está extremamente ocupado cuidando da Cozinha 2.

    — Não sei. Mas não consigo comer nada além da comida do Beacrox. Vou levá-lo, então você resolve o resto.

        Hans ficou ansioso, mas Ron parecia feliz em ir com o filho.

    — Jovem mestre, meu filho ficará muito feliz. Precisávamos ir à capital de qualquer maneira. Vou transmitir suas palavras exatas a ele.

        Cale relaxou ao ouvir as palavras de Ron. Ele estava preocupado que eles dissessem não, mas Beacrox deveria aproveitar a oportunidade para deixar o território Henituse e viajar para a capital também.

        Cale caminhava pela Cidade Ocidental enevoada enquanto pensava nas pessoas que levaria consigo para a capital. A história progredia de forma um pouco diferente da novel, mas não era como se ele pudesse desistir de obter alguns benefícios para si.

    — Jovem mestre, você chegou cedo hoje.

        O padeiro parecia estar bem tranquilo perto de Cale depois de vê-lo algumas vezes. Cale apenas perguntou estoicamente ao padeiro:

    — O pão?

        O padeiro sorriu enquanto entregava a Cale um saco cheio de pão.

    — Claro, já tenho tudo pronto. Mas hoje é mesmo o último dia?

    — Por quê? Querendo mais dinheiro?

    — Sim, definitivamente estou.

        Cale começou a sorrir. Ele gostava de respostas honestas como essa. Cale deu um tapinha no ombro do padeiro, que parecia um pouco mais tranquilo perto dele, e seguiu em direção à favela.

    — Voltarei quando quiser comer de novo.

        O padeiro observou Cale desaparecer na névoa com saudade e então começou a rezar. Ele rezou para que Cale voltasse e gastasse uma fortuna.

       Cale, naturalmente, não sabia da oração do padeiro enquanto caminhava em direção à favela. Então, viu os irmãos esperando por ele.

        “Essas crianças não têm um lar?”

        Cale chegara muito mais cedo do que o habitual. No entanto, os irmãos estavam encolhidos, esperando por ele, como se tivessem esperado no topo da colina a noite toda. O irmão mais novo parecia estar se inclinando para o abraço da irmã mais velha.

        Os irmãos olhavam silenciosamente para Cale. Seus cabelos e roupas pareciam úmidos, provavelmente por terem ficado ali durante a manhã enevoada.

        Claro, Cale fingiu não notar.

    — Aqui, pegue.

        O menino pegou os dois pacotes de Cale. Cale esperou até que o menino os pegasse antes de se virar e ir em direção à árvore devoradora de homens.

        “Estou feliz que esteja nevoeiro.”

        A neblina dificultava a visão. Como aquela colina era o ponto mais alto da Cidade Ocidental, além da propriedade do Conde, a neblina era ainda mais densa ali em cima. Ninguém mais conseguiria ver o que Cale estava fazendo, ou, mais importante, o que Cale recebia da árvore.

    — Mais, me dê mais. Por favor.

       Cale despejou um saco de pão no buraco enquanto ouvia a voz sinistra da alma cheia de rancor, como sempre. A escuridão dentro do buraco estava lentamente mudando de cinza para branco. Cale começou a sorrir, pensando que todos os seus esforços não foram em vão. Foi naquele momento.

    — Mais, mais, mais!

        “O que?”

        Cale estremeceu e deu um passo para trás ao ouvir a voz que agora se transformou num grito.

    — A novel não mencionou algo assim.

    — Mais, mais! Eu te dou um presente se você me trouxer mais. Um presente.

        “Presente.”

       Aquela palavra fez os olhos de Cale brilharem. Embora ele não esperasse que a alma enlouquecesse daquele jeito, o fim estava próximo.

    — Espere só.

        O galho negro começou a balançar, como se estivesse acenando para ele. Parecia uma cena de filme de terror. Cale estremeceu ao começar a se mover de volta pela neblina. Já era meio da manhã, mas o sol ainda não tinha saído, e a neblina continuava a ficar mais espessa.

        Parecia que começaria a chover em breve.

        Os irmãos devem ter ido a algum lugar, pois ele não os viu, mas Cale pensou que eles tinham ido apenas para se proteger da chuva e colou o terceiro saco de pão na frente da árvore carnívora.

        “Este deve ser o último.”

        A luz dentro do buraco agora era tão branca quanto a neblina que cercava Cale.

        “Ele deve ficar transparente depois que eu colocar o último saco de pão.”

         Cale estava cheio de expectativa enquanto despejava o último saco na árvore.

        E finalmente.

    *Oooooooooong*

        Um estrondo completamente diferente dos anteriores irrompeu da árvore em direção a Cale. Esse estrondo, direcionado apenas a Cale, não chamou sua atenção por causa do buraco que começava a ficar transparente. Deveria estar escuro dentro do buraco por causa da sombra da árvore, mas uma situação tão realista não ocorreu.

         Esse era o Poder Antigo.

         No momento em que Cale viu o Poder Antigo, ele pôde ouvir a voz que até então vinha pedindo mais comida.

    — Foi tão, tão bom!

        Aquela voz era… desagradável.

    — Que textura macia de pão! Gostei especialmente do terceiro pacote de pão que você trouxe. Acho que até a comida se desenvolve com o tempo. Não existia pão na minha época! O próprio trigo deve crescer em uma terra realmente fértil! Sim, nem todo trigo é igual.

       …A voz estava avaliando o sabor do pão.

        Uma tempestade causada pela voz começou a avançar em direção a Cale.

        “Isto não estava na novel!”

        O espírito que estava preso à terra por causa de seu rancor estava resolvendo esse rancor avaliando o sabor do pão. Cale começou a franzir ainda mais a testa. Ele estava apenas pensando no Poder Antigo em O Nascimento de um Herói. Este Escudo Indestrutível era o único Poder Antigo mencionado na novel, mas nunca reivindicado por ninguém.

        Não é de se admirar que ninguém tenha assumido o controle. Mas então por que o autor mencionaria algo que poderia ser útil, mas nunca foi realmente assumido por ninguém?

        Esse era o pensamento na cabeça de Cale, porém a voz desagradável continuou a tagarelar, fazendo com que ele não conseguisse se concentrar.

    — …É por isso que estou tão satisfeito! Estava uma delícia!

         Não parava de tagarelar, parecia que o rancor vinha de não conseguir falar, e não de não conseguir comer.

         Depois de ouvir o espírito conversar sem parar por alguns minutos, avaliando todos os diferentes tipos de pães que Cale lhe trouxe, Cale assentiu e tentou cortar a voz.

    — Coisas assim não existiam nos tempos antigos. O povo da Floresta das Trevas alegava ser servo de um deus, mas só me dava coisas sem graça.

        Entretanto, Cale decidiu esperar um pouco mais depois de ouvir o espírito mencionar os tempos antigos.

    — Fui, naturalmente, banida daquele lugar. Disseram que eu era uma glutão. Uma glutão, o caramba. Claro, fui embora com meus amigos. Estávamos planejando colocar o mundo de volta nos trilhos.

        Para alguém como ele, que precisava de Poderes Antigos, era importante ouvir histórias sobre os tempos antigos. No entanto, a história logo terminou, e o espírito voltou a falar sobre comida e outras coisas inúteis. Cale a interrompeu rapidamente.

    — Acho que não conseguiria abrir mão desse sabor mesmo engordando. É tão injusto que eu tenha que comer terra e ter morrido!

         “Sim, foi uma avaliação incrível e profissional. Você é um pouco lou-”

         O espírito interrompeu Cale.

    — Você entendeu a minha avaliação. Você é um cara muito legal! Obrigada!

        …Cale não conseguia dizer se realmente conseguia se comunicar com o espírito ou não.

         Cale realmente não conseguia entender a situação. Pelo menos a voz parou depois de agradecer. Cale olhou para a árvore à sua frente.

        “Que interessante.”

         A árvore devoradora de homens, originalmente negra, estava começando a ficar branca. Então, lentamente, começaram a crescer algumas folhas verdes. A cena parecia ainda mais mística porque ele estava cercado pela neblina.

    *Oooooooong*

         O barulho era um pouco mais pesado do que antes. Cale ajoelhou-se de lado e sentou-se sob o tronco da árvore. Uma luz branca e brilhante saía do buraco.

         Cale colocou a mão na luz. Então fechou os olhos.

        “Deve ser isso.”

        Um poder quente e forte envolveu sua mão. Ele começou a sorrir antes de ouvir a voz mais uma vez. Era uma voz pura e cálida.

    — Ela irá proteger você.

         Por um breve momento, uma luz brilhante envolveu Cale. A luz era prateada e começou a ser absorvida por seu corpo. A luz absorvida concentrou-se no coração de Cale.

        “Huuuuuuuuh.”

         Cale soltou um longo suspiro ao abrir os olhos. Não doeu. Era quente, e o poder puro o fazia sentir-se feliz.

         Cale rapidamente levantou a camisa que estava vestindo.

         “Eu fiz isso.”

         Havia um pequeno escudo prateado inscrito sobre seu coração. Era diferente de uma tatuagem. Um escudo tão bonito e sofisticado deixou sua marca sobre o coração de Cale.

         O escudo priorizará a segurança de seu dono acima de tudo. A localização dessa promessa estava no coração. Este escudo estará com Cale até que seu coração pare de bater.

         “Que legal.

         Cale sentia a força envolvendo seu coração. Não estava causando nenhum problema. Na verdade, parecia que o escudo o cercava e fazia o possível para protegê-lo.

          Poderes antigos como esse deixam sua marca única quando são ativados.

         Cale rapidamente usou o método descrito na novel para ativar o Poder Antigo.

    *Paat*

        O Escudo Indestrutível apareceu diante dos olhos de Cale.

        Era um escudo prateado, grande o suficiente para cobrir a parte superior do corpo de Cale. Havia duas asas prateadas em ambos os lados do escudo, o que permitia que ele se movesse dentro de um certo raio de Cale. O tamanho do escudo também era controlável.

        Cale começou a controlar o tamanho do escudo que já parecia parte do seu corpo. Essa familiaridade imediata era uma das características especiais dos Poderes Antigos. Era por isso que os heróis o usavam, mesmo que fosse apenas como suporte.

        Cale começou a sorrir.

       “No máximo duas vezes.”

        Cale estava pensando em Choi Han, a pessoa mais forte ao seu redor naquele momento. O escudo deveria ser capaz de bloquear dois ataques de Choi Han.

        “A força deste escudo é maior do que eu esperava. Por que os heróis não o usariam o tempo todo?”

        O Escudo Indestrutível, ao contrário do nome, é capaz de quebrar. No entanto, ele não desaparece ao se quebrar. Se o escudo receber um ataque mais forte que suas habilidades, ele armazenará o máximo de sua força possível para proteger o coração do dono antes de se quebrar. Depois de um tempo, o escudo recuperará sua força e poderá ser usado novamente. A força do escudo vem do coração do dono.

        O coração pulsante. Esse coração se torna a força do escudo. O coração fortalece o escudo, enquanto o escudo protege o coração. Então, o que aconteceria se o coração ficasse mais forte?

    — Ficará ainda mais forte.

        Havia muitas maneiras de fortalecer os Poderes Antigos. Cale fortalecerá este escudo a caminho da capital.

         Quando isso acontecer, ele deverá ser capaz de fazer um escudo que dure 10, não, pelo menos 5 minutos quando alguém do calibre de Choi Han tentar matá-lo com todas as suas forças.

        Poderes Antigos, como os vistos nesta árvore devoradora de homens, são difíceis de obter, a menos que você “os encontre por acaso”. A pessoa que mais sabe sobre essas “coincidências” nos primeiros cinco volumes é provavelmente Cale Henituse, bem, o atual Cale Henituse.

        Cale começou a sorrir. Ele estendeu a mão e tocou o escudo. Era agradável. No entanto, havia uma coisa que ele não gostava.

    — …Parece divino demais.

        Em plena força, parecia um Escudo Sagrado que os Cavaleiros de Deus carregam com suas espadas nos mitos.

        Claro, a antiga dona deste escudo era uma sacerdotisa que estava cansada do termo deus, e o atual dono, Cale, simplesmente não gostava de deuses.

    — Não há muitos motivos para eu usar isso.

        Ele planejava deixar a luta para os outros. O ataque terrorista na capital. Ele pode ter que usá-lo se algo perigoso acontecer lá. Mas ele vai garantir que seja pequeno e discreto para que outras pessoas não percebam.

        Cale recolocou o escudo no coração e deu um tapinha na árvore, agora branca, enquanto se afastava. A chuva fina dentro da névoa começou a molhar os ombros de Cale.

        Cale gostava da neblina, mas não gostava da chuva. Começou a andar mais rápido em direção a casa. Precisava de uma carruagem.

        Foi naquele momento.

    — Miauuuuu.

    — Miau.

        Cale sentiu um arrepio na nuca. Era o beco em frente à propriedade do Conde. Ele viu dois pares de olhos redondos e dourados. Cale começou a franzir a testa.

       Havia dois gatinhos que pareciam extremamente lamentáveis ​​e encharcados pela chuva. Eles continuaram a miar enquanto se aproximavam de Cale. Então, começaram a esfregar as bochechas nas pernas dele.

    *Suspiro…*

        Cale suspirou e começou a andar. Os dois gatinhos os seguiram. Os bichinhos, de alguma forma, conseguiram acompanhar Cale, mesmo com as perninhas curtas.

    — Jovem mestre, o que está acontecendo?

        Quem recebeu Cale em casa foi o mordomo assistente Hans. Hans tinha uma expressão confusa e arregalou os olhos. Parecia estar chocado. Cale estalou a língua e entregou a Hans os objetos que tinha nas mãos.

    — Não faça perguntas idiotas e simplesmente aceite-os.

         Os olhos de Hans começaram a tremer.

    — Quê gatinhos fofos e adoráveis!

         Este mordomo-adjunto realmente parecia ter talento para tal. Cale colocou cuidadosamente os dois gatinhos nas mãos do extremamente animado Hans.

        Os dois gatinhos, que estavam pendurados nas mãos de Hans, continuaram a olhar para Cale, mesmo quando estavam nos braços de Hans.

    — Jovem mestre, posso cuidar desses dois lindos gatinhos?

    — O que você quiser.

        Hans começou a sorrir de alegria. Cale começou a passar pelo animado Hans enquanto ele continuava.

    — Ah, para sua informação, eles ficam quietos se você der comida. Os dois também são irmãos.

        Os dois gatinhos se encolheram e começaram a tremer. Seus olhos dourados se arregalaram enquanto olhavam para Cale.

    — Com licença?

        No momento em que Hans perguntou, confuso, Cale voltou para perto dele. Ele então abaixou a cabeça e acariciou os dois gatinhos.

        Ele se perguntou sobre isso nos últimos dias, mas como poderia não saber agora?

        O gatinho prateado exalava um leve cheiro das ervas medicinais que dera à menina. Quando pegou os dois gatinhos mais cedo, também sentiu o cheiro do bife e do macarrão com creme de bacon que ele deu naquela manhã.

       Isso deu a Cale a certeza. Os eventos dos últimos dias finalmente se resolveram na cabeça dele.

    — Você achou que eu não saberia?

       Os olhos dourados dos dois gatinhos continuaram a tremer. Cale olhou para os irmãos que vinha alimentando nos últimos dias e começou a sorrir.

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