Capítulo 12: Peguei (5)

Combo 10/10

 *Tap* *tap*

    Mesmo com os tapinhas bruscos, os gatinhos só conseguiam olhar fixamente para Cale. Cale pensou no momento em que conheceu Choi Han. O gatinho prateado ferido rosnava enquanto o gatinho vermelho chorava ao lado dele.

   “O gatinho prateado deve ser a irmã mais velha com cabelos grisalhos e o irmão mais novo deve ser o gatinho vermelho.”

   Cale tinha um sorriso radiante no rosto. Olhou para os gatinhos e começou a falar.

— Conversaremos mais tarde.

   Os irmãos, que pareciam ser pessoas-fera, evitaram seu olhar e Hans respondeu confusamente.

— …Você está falando comigo?

— Você não.

    Hans olhou para Cale e os dois gatinhos com uma expressão ainda mais confusa, antes de abraçá-los com ainda mais força. Era um movimento que parecia indicar que ele estava tentando evitar uma pessoa perigosa. No entanto, logo teve que se aproximar de Cale novamente.

— Você está saindo de novo?

— Sim.

    Foi porque Cale trocou de casaco e estava se preparando para sair novamente.

— Para onde você vai?

— Tenho uma promessa a cumprir e alguém para conhecer.

— …Jovem mestre, você vai cumprir uma promessa?

    Hans pareceu chocado novamente enquanto questionava Cale.

— Você parece estar ficando mais rude.

— Me desculpe.

    O pedido de desculpas do mordomo assistente foi muito rápido.

— Ele é mesmo o melhor dos candidatos a mordomo? Ele pareceu decente pela forma como lidou com a questão de Choi Han.

   Cale sentiu que Hans, que acariciava os gatinhos com um sorriso largo no rosto, não era muito confiável.

— Vou levá-los para a capital também.

    Cale estava pensando sobre isso, algo que Hans jamais esperaria nem em sonhos, não, algo que Hans lamentaria mesmo se descobrisse em sonho, antes de Cale perguntar sobre a pessoa que ele não via há algum tempo.

— Onde está o Ron?

    Hans tinha um sorriso satisfeito no rosto ao ouvir essa pergunta.

— Ouvi dizer que Choi Han-nim irá com você como um dos seus guardas no início da sua jornada até a capital. É verdade?

    Hans estava pensando em Choi Han, que havia derrotado todos os membros da Brigada de Cavaleiros do Conde naquele dia. Ele era mais habilidoso do que o esperado, o que lhe facilitava a tarefa de ser o guarda de Cale, como este desejava.

    É claro que nem Hans nem os cavaleiros sabiam que Choi Han havia escondido seu verdadeiro poder.

— O Sr. Ron descobriu que Choi Han-nim irá com você e saiu com ele para comprar algumas roupas e outros itens necessários para a viagem. Ah, o Chef Beacrox também foi com eles.

— Entendo. Estou aliviado.

— Eles parecem estar se dando bem.

    Havia um sorriso raro e extremamente brilhante no rosto de Cale. O sorriso combinava perfeitamente com seu lindo cabelo ruivo. Hans começou a falar, feliz com o sorriso radiante de Cale.

— O Sr. Ron, Choi Han-nim e até Beacrox parecem estar animados em atendê-lo.

    Ele percebeu uma mudança instantânea no rosto de Cale ao dizer isso. Por que Cale de repente parecia ter perdido o apetite? Hans não conseguia entender.

    Os dois indivíduos saíram novamente para fora dos portões principais. Ao entrar na carruagem, Cale perguntou a Hans quem o observava partir.

— Ah, Hans. Os mordomos não aprendem artes marciais básicas?

— Claro.

— E você é o melhor candidato a Mordomo Chefe?

    Os cantos dos lábios de Hans começaram a se mover para cima e para baixo. O Conde Deruth estimava Hans porque ele cuidava bem das coisas e também tinha a melhor personalidade.

— Sim, senhor. Conheço o básico de três estilos diferentes: artes marciais, artes da adaga e artes da lança.

    Um bom mordomo precisava aprender alguns estilos básicos de luta, caso algo acontecesse e os membros da família precisassem fugir.

— Incrível.

— Acho que sou um pouco incrível.

    Cale não conseguiu conter o sorriso ao ver Hans dar de ombros, enquanto seus lábios continuavam a tremer. Os dois gatinhos só conseguiam balançar a cabeça enquanto observavam Hans e o sorriso malicioso no rosto de Cale.

— Estou indo embora agora.

    Cale decidiu levar Hans à capital para resolver todos os problemas irritantes com os quais não queria lidar e então fechou a porta da carruagem. A carruagem seguiu em direção ao seu destino, em meio à neblina e à chuva, agora mais forte.

[A Fragrância do Chá com Poesia]

    Cale olhou para a placa antes de abrir a porta.

*Ring*

    O toque claro do sino e uma loja deserta deram as boas-vindas a Cale.

— Acho que não tem ninguém aqui por causa da chuva.

— Bem-vindo, jovem mestre.

     Billos. O bastardo da Guilda Mercante Flynn. Ele recebeu Cale como se se conhecessem há muito tempo. Cale sentou-se em frente ao balcão e fez contato visual com Billos.

— Prometi voltar. Precisava cumprir minha promessa.

— Claro. Promessas precisam ser cumpridas. Devo preparar o livro e o chá da última vez?

— Sim. 3 xícaras de chá, por favor.

— Quais chás devo fazer?

    Cale pediu três tipos de chá e marcou um horário para Billos trazer os chás antes de se virar e subir para o terceiro andar.

*pinga* *pinga*

    A chuva estava piorando ainda mais.

— Tsk

   Cale estalou a língua e voltou a sentar-se no mesmo lugar, perto da janela do terceiro andar, e olhou para fora.

— A chuva está bem forte, não é?

    Billos aproximou-se, sentou-se à sua frente e serviu-lhe uma xícara de chá. Cale observava Billos atentamente.

    Choi Han, Beacrox, Ron. E finalmente, Billos.

     Esses eram os nomes dos indivíduos que continuaram a aparecer na novel após o volume 1. É claro que Billos só tem cerca de duas frases escritas sobre ele no volume 1, como o dono da casa de chá onde Choi Han passa para descansar. Ele retorna no volume 3 para jurar lealdade a Choi Han e revelar suas ambições.

    ‘Revelar’. Essa palavra era importante.

    “Ele sempre foi uma pessoa gananciosa.”

     Billos era diferente de Hong Gil-dong.¹

     Ele não estava triste por não poder chamar seu pai de “pai”, ou seu irmão de “irmão”. Na verdade, ele só estava tentando vencê-los.

     Ele queria que eles não tivessem escolha a não ser aceitá-lo. Queria criar uma situação em que não tivessem escolha a não ser apresentá-lo como filho, apresentá-lo como irmão mais novo.

     “Ele deve estar exausto.”

     Cale achava que Billos vivia uma vida exaustiva. No entanto, ele não odiava isso. Na verdade, ter esse tipo de ganância o fazia parecer mais humano.

     Ele não gostava das pessoas que tinham habilidades e força, mas dizia coisas como: ‘Hoho, vou desistir. Não tenho escolha.’ Por que desistir de algo que poderia ser seu? Você deve sempre pegar o que é seu.

    De qualquer forma, essa pessoa teve que se encontrar com Choi Han pelo menos uma vez durante o período do volume 1. Tinha que ser apenas um encontro curto.

    Cale podia ouvir a voz de Billos interrompendo sua linha de pensamento.

— Jovem mestre, ouvi dizer que você está indo para a capital.

— Você vai continuar sentado aí? Não tem trabalho para fazer?

    Ver Cale fingindo estar irritado fez Billos sorrir. Ele nem tentou disfarçar. Este era realmente um jovem mestre muito, muito interessante. No entanto, Billos percebeu que ele tinha uma mente bastante afiada.

— Eu também vou para a capital. Acho que vou atrás de você.

— E?

    Cale já sabia disso. Para que Billos e Choi Han tivessem um encontro no volume 3, Billos precisava ir para a capital logo também.

     Billos tinha uma expressão estoica enquanto fazia uma pergunta a Cale, que tomava seu chá e olhava pela janela.

— Jovem mestre, parece que você mudou.

    Ao ver Cale se virar para encará-lo, Billos começou a sorrir. Cale fez um gesto com o queixo para que Billos continuasse.

— Você parece diferente do seu apelido.

— Qual deles? Lixo?

    Billos podia ver os cantos dos lábios de Cale começando a se erguer. Ele definitivamente era diferente. Este Cale não era o lixo que ele conhecia. Aquele lixo não sabia como fazer tal expressão. Era um sorriso levemente amargo.

    “…Eu deveria ter ficado um pouco bêbado e quebrado uma cadeira ou algo assim?”

    Billos não sabia o que Cale estava pensando.

— Sim. Você tem razão. Lixo. Você não sempre foi um jovem mestre lixo?

    Será que ele não tinha medo? Cale não pôde deixar de se perguntar, enquanto Billos dizia tal coisa ao filho do Conde, o primogênito do governante do território. Seria Billos quem tinha algo para beber?

    Mas Cale não queria brigar com Billos. Billos era alguém que iria assumir o controle de uma grande guilda de mercadores. E Billos estava sendo sincero. Ele não estava sorrindo, na verdade, estava fazendo a pergunta com sinceridade.

— Você não sempre foi um jovem mestre desprezível?

    Cale decidiu responder à pergunta. De qualquer forma, não era uma pergunta difícil de responder. Era mais fácil do que descobrir como ganhar dinheiro quando não se tem dinheiro.

— Billos.

    Cale tinha um sorriso no rosto, mas não riu enquanto chamava Billos.

— Você não pode chamar seu pai de ‘pai’. Você não pode chamar seu irmão de ‘irmão’.

    O olhar de Billos tornou-se frio. Ele começou a notar o jovem mestre à sua frente, que não tinha problema em tocar em seu ponto sensível. Assim como havia tocado no ponto sensível de Cale, ele retribuía o favor tocando em seu ponto sensível mais doloroso. Cale apenas fez contato visual com Billos em silêncio por um instante.

    A chuva começou a cair ainda mais forte lá fora. Cale quebrou o silêncio e começou a sorrir enquanto perguntava.

— Você vai continuar sendo o canalha? Está satisfeito com isso?

    Billos podia sentir o olhar penetrante de Cale sobre ele.

— Eu sei que não.

    Cale recostou-se na cadeira e continuou com uma expressão que parecia refletir sobre o passado.

— Eu tenho agido como um lixo por cerca de dez anos, desde que comecei quando tinha 8 anos.

      “Nossa. Pensando bem, Cale Henituse faz coisas ruins desde os 8 anos. Começou a beber aos 15. Que cara.”

    Cale pensou no passado do Cale original que estava presente em sua mente e começou a sorrir. Aquele sorriso pareceu assustador para Billos.

    Naquele momento, um pequeno ruído cortou a chuva e chegou até Cale e Billos.

*Rangido* *Rangido*

    Era o som de alguém subindo as escadas.

    Cale olhou por cima do ombro de Billos para a entrada do terceiro andar. Viu a cabeça de alguém. Cabelo preto. Era Choi Han. Atrás dele estava Ron. Cale havia pedido a um criado para avisar Choi Han para vir àquela casa de chá mais tarde.

    Cale desviou o olhar dos dois e começou a falar para terminar a conversa com Billos. Choi Han e Ron terminaram de subir as escadas e olharam para Cale quando ele começou a falar.

— Billos.

    O rosto estoico de Billos parecia bem frio.

— Não tem problema jogar fora algo que você vem fazendo há cerca de dez anos.

    Os olhos de Cale começaram a parecer mais vivos enquanto ele continuava.

— Não posso viver como lixo para sempre.

    Claro, Cale ainda gastaria todo o dinheiro que quisesse e faria o que lhe desse na telha, mesmo que não fosse um lixo. Ele viveria em paz e aproveitaria a vida como filho de um nobre rico. Embora isso fosse diferente do rumo da vida de Billos, o que importava era que ambos não continuariam vivendo do jeito que viviam.

— Você não é o mesmo?

     O canto dos lábios de Billos começou a se mover lentamente para cima. Ele então se curvou e começou a rir baixinho.

     Depois de rir silenciosamente por um momento, Billos levantou a cabeça e olhou para Cale.

— Estou realmente cansado disso.

    Billos estava rindo enquanto dizia que estava cansado disso.

— Viu? Eu te avisei.

    Cale deu de ombros e fez sinal para que Choi Han e Ron se aproximassem. Naquele momento, Billos se levantou e começou a falar.

— Jovem mestre.

— O que?

— Vejo você na capital.

    Cale começou a franzir a testa. Seria complicado se eles se encontrassem na capital imediatamente.

— Por que se preocupar?

    Cale fez um gesto para Billos ir embora, e Billos se curvou respeitosamente antes de sair. Ron, Choi Han e os Billos que desciam fizeram contato visual, mas todos se ignoraram.

    ‘Bom.’

     Cale ficou feliz com a cena. Choi Han e Billos quase se esbarraram. Era exatamente como no livro. Cale começou a sorrir para as outras duas pessoas, satisfeito.

— Ron, eu sabia que você viria com ele. Segundo Hans, Beacrox também foi com você, mas presumo que ele tenha voltado para a cozinha. Ele tem um forte senso de responsabilidade por aquela cozinha.

— Jovem mestre, você é próximo dessa pessoa?

     Cale deu de ombros diante da pergunta inesperada de Ron.

— Não

— …Eu vejo.

    Cale ignorou o comentário, como se não fosse nada importante, mas Ron definitivamente ouviu. Ele ouviu Cale dizer que não podia continuar vivendo como um lixo. Cale parou de olhar para Ron, cuja resposta se perdeu, e fez contato visual com Choi Han.

— Acho que não se pode confiar nos boatos.

     “Que diabos ele está dizendo?”

    Cale ignorou as palavras de Choi Han. Naquele momento, Billos trouxe as outras duas xícaras de chá que Cale havia pedido antes.

— Devo dar estas xícaras a estes dois cavalheiros?”

— Sim.

    Cale começou a sorrir novamente.

— Eu os encomendei com antecedência.

     Cale pegou pessoalmente as xícaras de chá e colocou uma na frente de cada pessoa. Na frente de Choi Han estava o chá que ele tinha pedido aleatoriamente do cardápio. Quanto a Ron…

— Encomendei isso especialmente para você, pois parece que você gostou bastante. Por que mais você me traria isso todos os dias?

     Era um chá quente de limão. Cale percebeu que Ron estava com uma expressão estranha e sentiu a maior satisfação que já sentira o dia todo.

1. Hong Gil-dong foi um fora da lei coreano durante a Dinastia Joseon que teve uma história semelhante de ser um filho ilegítimo[↩]