Índice de Capítulo

    — Jovem mestre, esta é a melhor sala que temos.

    — Parece aceitável.

        O velho conduziu o grupo de Cale até sua estalagem. O exterior da estalagem parecia tão rústico quanto a vila, mas tinha tudo o que era necessário, provavelmente porque os mercadores que visitavam o território Henituse se hospedavam ali em suas viagens.

    — Esta é a primeira vez que recebemos um nobre. Por favor, olhem para nós com bons olhos, mesmo que seja um lugar carente, e considerem-no apenas um lugar onde vivem seres inferiores.

        Cale encarou o velho. Ele parecia mais à vontade do que quando conversava com Venion Stan, mas ainda parecia assustado com o fato de um nobre estar hospedado em sua estalagem.

        Era normal que ele tivesse um pouco de ansiedade, mas muita ansiedade também era desconfortável para Cale.

    — Não adianta nada agir assim.

        Cale deu um tapinha no ombro do velho e tentou acalmá-lo.

    — Velho, relaxa. Eu não gosto de gente que se menospreza desse jeito. Este é o lugar onde as pessoas que vêm e vão do nosso território ficam para descansar. Não tem como faltar um lugar assim.

        As pupilas do velho começaram a tremer. Ele molhou o lábio superior com a língua, antes de finalmente começar a falar após um pouco de hesitação.

    — Jovem mestre, há muitas pessoas boas como você no território Henituse?

    — Do que diabos você está falando?

    — Com licença?

    — Eu sou o maior lixo do nosso território. Quase todo mundo que você encontrar terá uma personalidade melhor que a minha.

    — Ah.

        O velho soltou um suspiro. On e Hong, que havia assumido o controle do sofá na sala, miavam e balançavam a cabeça, mas ninguém parecia notar.

    — Você pode ir fazer o que tem que fazer.

       O velho curvou-se profundamente diante da dispensa de Cale e saiu da sala. Cale achou irritante que o velho ainda parecesse rígido, mas decidiu não se importar.

    *Toc toc toc.*

       Alguém mais estava batendo na porta.

    — Entre.

        A porta se abriu e o mordomo Hans trouxe uma pequena caixa para dentro.

    — Jovem mestre, você pediu apenas esta caixa, certo?

    — Sim. Entregue-a.

        O mordomo assistente Hans demonstrou curiosidade ao entregar a caixa a Cale. Era a única bagagem que Cale trouxera consigo. Ele presumiria que havia álcool ou lanches dentro se fosse uma caixa normal, mas esta caixa não era normal.

        Era a caixa mágica da mais alta qualidade, com uma fechadura mágica. O selo na caixa mágica era o logotipo da Guilda Mercante Flynn, uma das três grandes guildas mercantes e que mantinha uma relação íntima com a família Henituse.

        Cale comentou casualmente enquanto olhava para Hans.

    — Um mordomo não deveria demonstrar emoção no rosto? Principalmente curiosidade?

    — Uma das regras de etiqueta de um mordomo é mostrar todas as suas emoções ao seu mestre.

    — Cara engraçado.

    — Acho que sou um pouco engraçado.

        Para alguém que não queria ir à capital a não ser pelos gatinhos, Hans era um pouco atrevido, mas Cale ainda o achava muito mais simpático do que os outros candidatos a mordomo. Ao ver Hans começando a se acostumar com ele, Cale simplesmente reagiu normalmente.

    — Saia.

    — Sim, senhor.

         Hans saiu imediatamente, como de costume. No entanto, antes de fechar a porta, ele tinha uma pergunta sobre a viagem.

    — Vamos ficar aqui por três dias?

    — Sim. Cuide de tudo.

    — Sim, senhor.

        Hans respondeu enquanto fechava a porta. Além do Vice-Capitão se encarregar da segurança do enviado, Hans era responsável por todo o resto. No entanto, ele não demonstrou nenhuma dificuldade em fazê-lo e cuidou de tudo com eficiência.

    — Ele parece ser um bom mordomo.

        A gatinha prateada, On, disse isso enquanto se aproximava de Cale. Cale assentiu. Então, o gatinho vermelho, Hong, seguiu atrás.

    — Também não parece tão difícil para ele.

         Cale também concordou com essa afirmação. Ron era uma coisa, mas, além dele, Hans era quem tinha menos dificuldade em lidar com Cale. Ele tinha medo de Cale, mas não o achava difícil.

    — Ele é um mordomo muito decente.

        Cale afastou os gatinhos que vinham em sua direção e abriu a caixa. O método para abrir uma caixa com fechadura mágica era simples. A impressão digital de Cale. Essa era a única chave que poderia abrir aquela caixa em particular. Cale colocou o dedo indicador no centro do lacre mágico.

    *Bip. Clique.*

        A caixa fez um pequeno barulho antes de abrir.

        Dentro da caixa estavam os itens que Cale havia preparado durante os quatro dias anteriores à partida para a capital.

    — Estou realmente curiosa sobre o que é isso.

    — Muito curioso.

        Cale ignorou os dois pares de pupilas douradas que o olhavam e apenas respondeu vagamente.

    — Coisas que vão ajudar a resgatar uma pobre alma, enganar alguns idiotas e evitar que eu me machuque.

        On e Hong olharam para ele com curiosidade, mas Cale apenas acariciou os itens dentro da caixa com satisfação. Ele se lembrou da conversa que tivera com Billos, o bastardo da Guilda Mercante Flynn, antes de partir.

    Jovem mestre, onde você planeja usar essas coisas?

    Não vejo por que tenho que explicar isso a você.

    …Entendo. Mas vai custar caro comprar todos esses itens.

    …É possível alugá-los?

    Para você, é claro que é possível.

        A maioria dos itens dentro da caixa eram ferramentas mágicas. Cale esperava que fossem caras, mas era realmente caro demais. Cale teve que usar toda a mesada que ganhara do pai. Ele também teve que devolver tudo para Billos quando chegasse à capital.

    — Irritante. Eu não queria me envolver com ele na capital, mas não tenho outra escolha.

     — Dois dos itens não podem ser alugados para forasteiros. Eu os aluguei em meu nome, para você. Então, você deve devolvê-los para mim na capital. Pessoalmente.

    Claro.

        Cale pegou um dos itens da caixa. Era uma esfera redonda e preta com vários símbolos gravados. O gatinho ruivo Hong pôs as patas no joelho de Cale para perguntar.

    — Estou muito curioso sobre isso.

    — Uma Ferramenta de Perturbação de Mana. Vale quase um bilhão de galeões.

         On e Hong soltaram um suspiro.

    — Só para alugá-lo, custou 20 milhões de galeões.

        Hong abaixou lentamente as patas que estavam sobre o joelho de Cale, antes de ir em direção ao canto da cama com sua irmã, On. Eles tentavam manter a maior distância possível do orbe negro.

        Cale se lembrou das informações sobre o orbe. Billos havia encontrado exatamente o item que Cale procurava.

    Causa uma perturbação no fluxo de mana dentro de um certo alcance, fazendo com que todas as ferramentas mágicas parem de funcionar. Também é resistente o suficiente para que, mesmo que algo como uma montanha explodindo aconteça, não se quebre.

    Algo como uma ferramenta de vigilância vai quebrar imediatamente então?

    Claro. No entanto, você precisa instalar isso com 27 horas de antecedência. Ele foi criado para infundir lentamente uma força que interromperá o fluxo de mana, de forma que não seja notado pelos magos.

    Quanto tempo isso vai durar?

    40 minutos. Não é ótimo? Claro, se houver magos por perto, eles conseguirão resolver o problema em 5 a 10 minutos.

    Vou manter isso em mente.

         Os cantos dos lábios de Cale começaram a se erguer. Era o item mais caro que ele havia alugado de Billos, mas ele teria muitas utilidades para ele nesta viagem.

    — Eu realmente gosto de como ele é durável.

        A Guilda dos Mercadores Flynn era um lugar muito útil. Cale sorriu satisfeito, antes de lançar a esfera negra, menor que o punho de uma criança, em direção aos gatinhos agachados no canto.

    — Huk!

    — Miau!

        Um deles engasgou, enquanto o outro miou e evitou o orbe negro, mas no final, eles tiveram que se sentar em silêncio na frente de Cale com o orbe negro diante de seus olhos.

    — Você sabe ler um mapa, certo?

        On bateu o rabo no chão em resposta.

    — Claro. Fomos sucessores em potencial da Tribo dos Gatos da Neblina em certo momento.

    — Certo. Minha irmã tem razão.

        Cale tirou outro item importante da caixa, um mapa. Não era muito detalhado, contendo apenas os pontos de referência gerais do território Henituse. A maioria dos comerciantes que iam e vinham do território Henituse usava esse mapa.

    — Estamos nesta aldeia agora mesmo.

        Cale apontou para a montanha à direita da vila.

    — Você vê esta montanha?

    — Eu vejo.

    — Muito fácil de ver.

        Foi isso que Billos disse:

    Ah. O alcance é semelhante à durabilidade.

        Uma montanha.

    — Se você for em direção a esta montanha, verá uma vila ao longe. Atrás dela, há uma caverna.

        Não havia magos perto do Dragão Negro naquele momento. O povo da Torre Mágica respeitava os dragões como a maior raça mágica e não queria que humanos torturassem e domesticassem um dragão. Consideravam isso uma grande vergonha para a magia.

        As pessoas ao redor da caverna e da vila eram cavaleiros e soldados em quem o Marquês confiava, assim como as pessoas que faziam o trabalho sujo para eles.

    — Não chegue perto de lá. Você não pode ser pego.

        Cale tinha ouvido falar da situação das duas crianças. Por isso, estava confiante de que conseguiriam fazer aquilo, mas ainda assim queria avisá-las. Seria ruim se a curiosidade delas os levasse a dar uma volta pela caverna.

    — Tem algo sendo torturado aí dentro. Vamos resgatá-lo, então você tem que ter cuidado.

    — Algo?

    — Sim. É ainda mais novo que você, Hong.

    — …Ainda mais jovem que eu?

    — Sim. 4 anos de idade.

        É claro que aquele garoto de 4 anos era forte o suficiente para mandar On ou Hong voando quando as correntes de restrição de mana foram removidas.

    — Nós vamos salvá-lo?

        Os olhos de On e Hong brilharam enquanto eles pressionavam a cama com as patas.

    — Salvar? Claro. Só fique na sua forma felina e vá enterrar este orbe na montanha sem ser pego.

        Não deveria haver quase nenhuma chance de ser pego em suas formas felinas. Cale colocou o orbe negro em uma pequena bolsa antes de colocá-lo no pescoço de On como um colar.

    — Onde devemos enterrá-lo?

    — Em qualquer lugar da montanha.

    — Sério? em qualquer lugar?

    — Sim.

        Os irmãos olharam um para o outro antes de concordarem com a cabeça.

    — Fácil.

    — Nós até conseguimos passar pelos anciões da nossa Tribo dos Gatos para escapar.

        Cale concordou com eles.

    — Deve ser fácil para vocês dois. Vocês dois têm habilidade suficiente para isso. Eu não pediria para alguém inútil fazer algo assim, em primeiro lugar.

       Os dois gatinhos olharam para Cale com suas pupilas douradas novamente. Os dois irmãos, que quase foram mortos pela própria tribo por não terem habilidades, mesmo sem nunca terem tido a chance de aprender, estavam começando a se emocionar. Seus rabos abanavam e eles estalavam o focinho para conter as lágrimas.

        Cale entendeu o que os dois estavam pensando e continuou severamente.

    — Eu lhe darei toda a carne que você quiser quando retornar com sucesso.

        Os dois irmãos imediatamente pularam pela janela e se dirigiram furtivamente para a montanha.

        Naturalmente, os irmãos fizeram o que Cale esperava e ganharam sua recompensa. Puderam comer um bife de 10 camadas só para eles. No dia seguinte, Cale bebeu a limonada que já estava acostumado a beber e perguntou a Choi Han:

    — Você já viu um dragão?

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