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    O elevador rangeu uma última vez antes de parar com um solavanco brutal. As grades se abriram lentamente, deixando escapar vapor quente para o exterior gélido. A claridade natural ali não vinha do sol, mas de tochas de plasma azul presas a estacas fincadas no gelo — tudo era branco, irregular e cheio de fendas. O vento sibilava como uma coisa viva, atravessando frestas nas armaduras e arrepiando a pele.

    Dante foi o primeiro a descer. Os pés afundaram alguns centímetros na neve dura. Ele olhou ao redor, olhos apertados contra o vento. Dinastio logo veio atrás, arma já empunhada. Rosa e Tron cobriram os flancos, atentos. O silêncio do grupo era total, treinado, profissional.

    Mas o que viram diante deles não permitia silêncio por muito tempo.

    Gritos. Rugidos. Explosões curtas.

    A uns duzentos metros, além das estacas de luz, uma batalha se espalhava entre as fendas. Homens da Casa Sesar, em trajes escuros, tentavam manter formação, mas eram rasgados em segundos por criaturas que corriam agachadas, com braços longos demais e mandíbulas alargadas até a clavícula.

    Felroz.

    Criaturas bestiais, humanoides, mas com espinhas ósseas expostas nas costas, olhos negros e sem pálpebras, e garras capazes de cortar titânio. Eles se moviam com a velocidade de predadores soltos após meses de fome. Um deles atravessou o peito de um soldado em um único salto, mordendo o capacete com estalo seco.

    Dante focou sua visão, mas estava distante demais para observar qualquer coisa diferente. Só o que tinha certeza era que os Felroz pareciam muito mais fortes do que qualquer outro que enfrentou, tanto na Capital, quanto em Kappz.

    O que tinha acontecido para eles terem se tornado tão fortes?

    Por meio dos meus módulos de análise, a Energia Cósmica nessas terras são dez vezes mais fortes do que em qualquer lugar que já pisamos. Portanto, a absorção das criaturas possivelmente as fez ficarem maiores e mais fortes.”

    — Que merda — ouviu de Dinastio, mas era a reposta que daria a Vick.

    — É uma infestação — murmurou Rosa, abaixando um pouco ao ouvir os berros vindo de todos os cantos possíveis.

    Dinastio encarou os três, ainda sério. Ele puxou duas adagas de dentro do próprio manto, e deixou seu corpo transparecer por alguns segundos. Dante piscou, ele tinha sentindo essa mesma estranheza quando esteve lá em cima, e agora…

    Qualquer que fosse a habilidade dele, Dante tinha certeza que era algo para se camuflar.

    Não possuo nenhuma informação para lidar com camuflagens, mas tenho algumas maneiras que podem ser úteis em campos: Análise de Habilidade. Se me permitir acessar seu sistema nervoso e central, consigo alterar sua visão, como fiz em Kappz, para que possa observar melhor particularidades.”

    Dante não fazia ideia do que isso aconteceria, mas desde que acordou seu corpo parecia muito mais resistente e ao mesmo tempo fraco. A Conversão Cinética era muito maior, mas a concentração era menor.

    Ele abriu e fechou a mão algumas vezes, e a Energia se dissipou sem que ele quisesse.

    A Maldição de Restrição permanece intocada. Sua habilidade ainda foi reduzida para que seu corpo se ajuste. Entretanto, com a bomba de Energia Cósmica, aparentemente foi enfraquecida. Calculando a porcentagem…”

    Dante ouviu Dinastio dizer que deveriam se juntar aos demais. E começou a segui-lo. Ao mesmo tempo, outros homens e mulheres gritavam de longe, afastados ainda. Um deles saltou com raios enrolados em seus braços, usando um dos grandes Felroz como um poste, e se arremessou para outro.

    Três usavam armas, rifles largos, como Marcus utilizava em Kappz. E num disparo, a bala atravessou o braço, perna e peito, mas sequer fez uma das criaturas cair. No entanto, Dante notou a medida que se aproximava de um Felroz que tinha conseguido agarrar umas das mulheres, a jogando contra o chão atrás de si e criar uma nuvem de neve.

    — Recuperem a Poly agora.

    Dinastio chegou primeiro, saltando para o campo sem clamar por atenção. As duas adagas giravam em suas mãos com precisão assassina, e, num instante, ele cortou os tendões da criatura pelas costas antes de cravar ambas as lâminas na base do crânio do Felroz. Um espasmo percorreu o corpo da criatura e então ela desabou, soltando um urro abafado. A mulher caída, Poly, sangrava pela boca, mas ainda respirava.

    Dante não hesitou. Correu até ela, erguendo o corpo da soldado nos braços. Ela tinha ferimentos profundos na lateral das costelas e o capacete rachado, olhos semicerrados.

    — Você vai aguentar — disse ele, voz baixa, tentando mantê-la consciente.

    Rosa e Tron cobriam o avanço. Tron lançou um pequeno drone para reconhecimento, enquanto Rosa disparava rajadas precisas contra dois Felroz que tentavam cortar o flanco esquerdo. O cano azulado e a vermelho das balas perfurava o ar frio, mas as criaturas desviavam com movimentos quase animalescos.

    Saltavam de um lado para o outro, observando ao redor com mais atenção. Dante também penetrou seus olhos neles.

    — Há algo errado — murmurou Tron. — Estão… coordenados.

    Dante apertou os olhos, observando o campo. De fato, os Felroz não agiam como feras famintas. Seus ataques vinham em ondas. Sempre em pares, às vezes em trio. Eles protegiam os flancos uns dos outros. A inteligência ali era antinatural para aquela espécie.

    Se fosse… como na Capital ou em Kappz, eles não deveriam…

    A não ser que… realmente estivessem mais inteligentes ou aprimorados. Em Kappz, lutou contra um deles que tinha capacidade de usar eletricidade, de usar a água, e também um que absorveu a Pedra Lunar.

    Os Felroz Mutantes. Se lembrava de como precisou dar mais de si para duelar.

    — Poly — Dinastio a chamou ainda perto da criatura, mas ela cuspiu sangue, não conseguindo responder de imediato.

    — Precisa de cuidados médicos imediatamente.

    Um dos caçadores caiu bem ao lado de Dante, arfando. Ainda havia estática ao seu redor, os raios de antes pulsavam até a roupa de Dante, causando certo desconforto. Não por ser ruim, mas porque sua Conversão Cinética aumentou rapidamente.

    Ele precisou virar o corpo para o rapaz.

    — Domma — Dinastiou agora já estava mais perto, extremamente irritado. — Por que deixou ela sozinha? Seu pai não te ensinou sobre a permanência? E vocês três? — Seu olhar recaiu sobre os outros que tinham parado ao serem vítimas de irritação. — Como deixaram ela desprotegida desse jeito, seus idiotas?

    — Gritar não vai ajudar em nada, tio. — Domma abaixou mais um pouco e pegou Poly pelos braços cuidadosamente. — Vou levar ela de volta.

    — Tron e Rosa, podem ir com ele. Façam a escolta. Eu vou lidar com esses infestados.

    A habilidade de um dos colegas de Domma foi ter criado um tipo de trenó, e na frente, era puxado por uma estranha força de sucção. Eles subiram na carruagem pequena. Dante viu Tron acenando para ele, com um rosto um pouco triste.

    Não sabia se era por estar indo embora ou por Poly estar naquele estado.

    Ao ficar de pé, observou novamente o campo de neve com o frio açoitando a bosque. E mais à direita, mais grupo de pessoas batalhando. O último Feroz que eles enfrentavam parecia ter deixado um rastro para o fundo entre as árvores, e Dinastio começou a fazer o caminho para lá.

    — Hassini, venha.

    Ao ficar de pé, o ar o acertou com mais força, e o som dos disparos ficou maior. Dinastio ignorou completamente os outros grupos, se dirigindo diretamente para o bosque fechado. Ao mesmo tempo, os três que ficaram foram se juntar aos colegas.

    Apenas eles dois caminhavam para lá.

    Porcentagem Calculada: 4%. Ajustando novos sensores. Dante, estou conectada ao que observa. De agora em diante, minhas observações serão constantes. Caso queira desabilitar, fique à vontade”.

    Não, respondeu mentalmente. Eu quero que me diga tudo o que você observa. Não faço ideia de quem são essas pessoas. E pior ainda, estou indo pra um lugar isolado com alguém que sabe quem eu sou.

    Por que acredita nisso?”

    Por alguma razão, o movimento corporal de Dinastio era sempre defensivo quando estava perto dele. Além daquela mesma sensação quando estava com Tron e Rosa na parte de cima. Dante não tinha reparado, até aquele momento. A sensação de ser observado não vinha por acaso.

    Era a habilidade de Dinastio.

    Ele sabe quem eu sou… ou acha que sabe. Ele é realmente um homem estranho.

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