Capítulo 8 - Até meus pensamentos são vigiados!?
Despertei do meu sono.
Abri os olhos e encarei o teto esbranquiçado.
Sem o brilho do sol…
Sem o cheiro do vento…
Estava me acostumando com essa nova realidade.
Levantei da cama e me espreguicei.
Depois de tanto tempo dormindo no chão, passar dois dias em uma cama macia foi… impactante.
Meu corpo sentia a diferença.
— Mas espera… — murmurei em voz alta. — Eu… não sonhei desta vez?
Pelo visto foi uma noite direta, infelizmente.
Olhei para o meu bolso e vi o cubo que a Emiko me deu.
— Meu Deus, não tirei do meu bolso e dormi com ele. Será que estragou?
Retirei o cubo do bolso e comecei a examinar se estava intacto. Ainda bem, não havia nenhum defeito.
Se bem que lembrei de uma coisa.
Ontem, quando voltava para o meu quarto, olhei para o quarto que Emiko pediu para eu observar, e a luz sobre ele estava branca.
Isso significa que não há ninguém dormindo lá, ou pelo menos, acho que sim.
Preciso contar a ela agora…
Tentei sair do meu quarto, mas a porta não abria. Como funciona esse mecanismo?
Será que todas as crianças aqui ficam presas nos seus quartos? Não é possível, e os bebês? Como ficam?
Mas o que eu vou fazer nesse tempo? Não tem livros nem cadernos com lápis para estudar. Espera…
Olhei para minha cama e vi uma luz vermelha no travesseiro. Mas, quando me aproximei para ver melhor, ela se apagou.
— O que é isso? Estranho… — murmurei.
De qualquer forma, me sentei na cama e peguei meu cubo mágico para tentar resolver o enigma dele, enquanto a mulher de jaleco não vem.
Virei um lado, virei outro, girei para cima e para baixo, mas as cores não completava, que tipo de bruxaria é essa? pelo menos eu conseguir resolver 3 camadas, espere só Emiko, um dia resolvo tudo hehe.
Enquanto eu estava concentrado com o cubo, uma voz feminina soou pelas paredes.
“G-386, a porta irá se abrir e você poderá sair para escovar seus dentes, assim que terminar, seguir ao refeitório para tomar o seu café.”
G-386 sou eu, pelo menos é o que está na minha blusa. Isso significa que vou poder sair desse lugar, finalmente.
Levantei-me da cama e fui até a porta, que se abriu automaticamente. Mas, ao sair do quarto, não sabia onde ficava o banheiro.
— Alô? Oi? Alguém aí? Moça do jaleco azul, você está aí? Onde fica o banheiro? Eu não sei onde fica! — perguntei enquanto caminhava olhando para todos os lados, tentando ver se alguém aparecia.
“G-386, o banheiro fica no seu andar. Pegando como referência seu quarto, vire à esquerda e siga o corredor até o final. Quando chegar, vire à esquerda, verá uma placa escrita ‘Banheiro’, onde você poderá usar com tranquilidade.”
Essa voz vinda do céu é muito suspeita, mas bem útil.
— OBRIGADO, VOZ DO ALÉM!! — gritei para a voz, agradecendo a ajuda.
“Não precisa gritar. Até se você pensar, eu vou escutar.”
Congelando por um momento, senti um arrepio percorrer meu corpo. Não entendia o que essa voz queria dizer. Só consegui pensar em uma coisa… Como assim, “Até se você pensar eu vou te escutar”?, isso quer dizer que ela ler meus pensamentos?
— Como você… consegue ouvir meus… pensamentos? — perguntei, olhando para cima, todo arrepiado e gaguejando.
A voz não disse mais nada depois disso.
Então, para eu não perder mais tempo neste corredor que já estava começando a ficar com um clima estranho, corri rapidamente para o banheiro.
Entrei e fechei de forma grosseira a porta.
— Uffa…que bizarro isso!
Olhando bem dentro do banheiro, em volta de tudo, e até pelo espelho, percebi que não tinha trazido minha escova de dentes. E agora? Como vou escovar os dentes?
Abri o armário do banheiro, e dentro dele havia várias caixinhas, cada uma com uma breve descrição — que, por coincidência, parecia ser igual ao “nome” que eles me deram.
Então, logicamente, deveria haver uma caixinha com o meu “nome” também. Comecei a procurar para ver se encontrava.
Na minha curta busca, achei a tal caixinha. Dentro dela havia uma escova de dentes cinza e uma pasta de dente também cinza. Que maneiro!
Agora sim, posso escovar os dentes!
Alguns minutos se passaram. Depois de terminar de escovar, abri lentamente a porta do banheiro e coloquei a cabeça para fora, observando o corredor, tentando ver se encontrava alguém.
Depois do que a voz sinistra me disse, eu realmente fiquei arrepiado.
Como não vi ninguém, abri cuidadosamente a porta inteira e olhei novamente para os cantos — até mesmo para o teto, tentando ver se alguma câmera estava me observando. Como realmente não havia sinal de vida nem nada suspeito, corri desesperadamente para o elevador… Nem sequer fechei a porta do banheiro
“G-386, você não fechou a porta do banheiro. Volte agora e feche-a, por favor!”
— DEUS?! — gritei, assustado.
Droga! Foi erro meu não ter fechado a porta.
MAS POR QUE ELA AINDA ESTÁ ME OBSERVANDO?!
Sem escolha, voltei lentamente, cabisbaixo, como se estivesse carregando pesos nas pernas.
Fechei a porta do banheiro de qualquer jeito, meio emburrado.
— Pronto! Satisfeita?! — perguntei, indignado.
Não sei por que esse sentimento apareceu. Fui eu quem errou, mas… ainda assim, senti uma leve indignação.
Ou talvez nem seja isso. Talvez eu só esteja confuso. Sem a minha mãe para me apoiar, fico sem rumo.
A voz misteriosa não respondeu depois disso, então pude seguir meu caminho até o elevador, finalmente.
Chegando lá, apertei o botão, mas nada acontecia. Fiquei coçando a cabeça, sem entender como ele se abria, até que…
“G-386, para abrir o elevador é necessário o cartão. Mas como você está liberado para o café, a porta será aberta agora.”
— CREDO, ESSA VOZ DE NOVO!
Me arrepiei inteiro, e assim que a porta se abriu, entrei como um cachorro feroz atrás de um gatinho.
A música que tocava dentro do elevador me tranquilizou um pouco. O ambiente era refrigerado, limpo… uma sensação ótima de paz.
Assim que a porta se abriu novamente, dei de cara com mais corredores. Pelo menos, havia sinalizações nas paredes indicando o destino de cada um.
— Pra que isso tudo? — murmurei para mim mesmo, em voz alta.
Seguindo pelo corredor indicado como “REFEITÓRIO”, passei por uma porta múltipla bem suspeita. Em cima dela havia uma placa com os dizeres: “ÁREA RESTRITA”.
Isso significa que eu não posso passar. Mas… o que será que tem dentro dessa sala?
Não, Yuki. Não pensa nisso.
Vou continuar andando. Meu caminho é o refeitório.
Além disso, tem câmeras por todo lado. A voz estranha provavelmente está me observando, então… melhor não vacilar.
Depois de alguns minutos, finalmente cheguei ao refeitório.
Olhei em volta, tentando encontrar a Emiko. Ela foi a única criança com quem fiz amizade. Mas, após procurar por um tempo, não a encontrei. Talvez ela não tome café… ou talvez ainda esteja dormindo.
— Aqui!
Ouvi uma voz fraca vindo de trás. Era comigo? Me virei e vi a mulher de jaleco vindo em minha direção.
— Yuki, vem comigo. Você passou nos testes e já vai para a ESA.
Eu, surpreso com o que ela acabara de dizer, fiz uma careta, olhei para ela e perguntei, confuso:
— Como assim? E os dois testes? — Acenei a mão, confuso.
Ela pegou minha mão e começou a me levar para algum lugar.
— Não se preocupe com os testes, já fizemos. Agora você só precisa se preocupar com as normas da escola. Quando estiver no carro, você terá acesso a um livro com todas as normas, o que deve fazer e o que não deve, além de informações extras de total importância. Entendeu? — indagou, me levando até o elevador.
— Sim, entendi, mas a gente vai direto ou vamos voltar para o quarto? — perguntei, curioso, pois precisava pegar a carta que encontrei no quarto anterior.
— Não, vamos direto para o carro! — disse ela, enquanto me segurava pelo braço. — Existe uma janela de tempo disponível para que vocês se encaminhem à escola sem que ninguém perceba.
— Como assim? As pessoas não podem ver que estamos indo para a escola? Por quê?
Entrando no elevador, a mulher se abaixou para que seus olhos ficassem alinhados com os meus e começou a me tranquilizar.
— Olha, você tem muitas perguntas, mas eu não posso responder agora. Vai descobrir tudo o que precisa com o tempo. — disse ela, segurando meu rosto com carinho, como se fosse minha mãe.
Senti o calor de seu toque, a textura suave da sua mão, a delicadeza dos seus dedos. Naquele exato momento, compreendi que o que ela estava prestes a dizer era importante… talvez mais do que eu imaginava.
Ela então ajeitou minha franja, que começava a cobrir meu olho esquerdo, e inspirou fundo, preparando-se para falar:
— Me escute com atenção. Agora não é o momento certo para isso. Fica tranquilo e respira. Você vai para a escola, vai aprender muitas coisas e fazer muitos amigos. Quando chegar o dia de saber a verdade, aí sim… você pode voltar até mim e me perguntar o que quiser.
E não — em hipótese alguma — fale para ninguém sobre você e sua família. Nem sobre as regras da escola. Entendeu?
— Acho que…sim… — respondi cabisbaixo, com um tom dramático em minha voz.
— Bom garoto — disse ela se levantando.
Não entendi o motivo de ela dizer essas coisas para mim. Ela me conhece há dois dias e está agindo como se eu fosse importante para ela. Na verdade, tanto ela quanto a Emiko, me trataram como se eu fosse alguém importante. Isso é muito estranho. Mas, de qualquer forma, entendi o recado dela, e serei cauteloso a partir de hoje.
Pelo que aconteceu até agora, só mostra que há algo errado acontecendo com este lugar e com a escola. Toda essa preocupação com os testes, com um lugar onde as crianças ficam longe dos pais, e até mesmo com a preocupação de me levar secretamente para a escola, me deixa com um olhar torto e atento a tudo que acontecerá daqui em diante. Principalmente com a escola. Não vou esquecer o que o policial fez com minha mãe naquele dia em casa. Isso mostra que não são do bem…
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