Capítulo 9 - O Despertar de Um Novo Caminho
Depois de horas enclausurado naquele carro abafado, com vidros escuros que mal permitiam o brilho do sol, finalmente eu poderia sair. O calor era sufocante, e a sensação de estar preso parecia piorar a cada segundo. A porta do carro se abriu, e a brisa fresca do lado de fora me acolheu. No entanto, não demorou muito para que o ronco da minha barriga e uma dor repentina me lembrassem que eu estava morrendo de fome. Não consegui tomar café da manhã antes de sair, e agora parecia que meu estômago estava em guerra contra mim.
— Finalmente… argh!!
Com um suspiro aliviado, fiz um esforço para sair do carro, mas antes que pudesse dar um passo, minha barriga roncou bem alto, como se estivesse se revoltando.
— Aiii, minha barriga, EU PRECISO COMER, AAAH!
Gritei sem pensar, esperando que o motorista, que ainda estava no banco da frente, pudesse me ajudar.
— Calma, garoto, você vai comer daqui a pouco
Essas palavras não vieram do motorista. Surpreso, olhei para trás, tentando descobrir quem havia falado comigo. Quando me virei, vi um homem alto, com um porte físico imenso, seus músculos pareciam feitos de ferro. Ele era tão grande que, por um momento, senti uma onda de intimidação invadir meu corpo.
— Quem… quem é você? — perguntei, ainda hesitante, me sentindo minúsculo diante dele.
O homem não respondeu de imediato. Em vez disso, ele simplesmente olhou para mim com um ar de desdém e, com uma voz grave, disse:
— Eu me chamo… Não é da sua conta. Apenas me siga em silêncio.
Eu fiquei parado por um momento, tentando entender o que estava acontecendo, mas logo ele se virou e começou a andar em direção a uma porta gigantesca no centro da escola. E, para minha surpresa, a escola não parecia uma escola comum. Não, aquilo mais parecia um castelo, com seus muros altos e uma arquitetura grandiosa que eu nunca imaginara ver em um centro escolar.
Ao olhar para a esquerda, vi árvores imensas com folhas de cores tão vibrantes que eu nunca havia visto antes. Eram diferentes das árvores do livro de ciências da minha mãe, e eu fiquei curioso. Além delas, percebi uma estrutura colossal bem atras das arvores parecendo um outro prédio ou até uma outra escola — talvez o lugar onde os alunos moravam.
À direita, no entanto, só havia mais árvores, e ao fundo, um grande portão dourado, fechado. Mas o que mais me inquietou foi que, ao olhar em volta, percebi que não havia ninguém ali. Onde estavam os outros alunos?
— Vai vir ou vai ficar aí parado, garoto? — gritou, sua voz ressoando pelo ar enquanto ele já estava diante da porta da escola.
— Ah, desculpe, senhor! Já estou indo!
A escola era enorme, e à medida que entrava, o ambiente parecia mudar completamente. Era formal, mas muito colorido, bem diferente daquele lugar neutro e sem vida onde eu estava antes. Nas paredes, havia vários quadros com pessoas que pareciam ser figuras importantes para a instituição, algumas estantes com fotos antigas e, à frente, um grande salão. No centro dele, uma estátua dourada de um homem, de tamanho impressionante, parecia observar todos que entravam.
— Essa estátua é em homenagem a quem? — perguntei, ainda intrigado com o lugar.
O homem parou, olhou para a estátua por um momento, mas não disse nada. Ele apenas voltou a andar, ignorando minha pergunta.
Que sujeito estranho… Sem carisma algum, ele era tão frio que parecia que estava em outro lugar, completamente desconectado da atmosfera ao redor.
Segui-o por um longo corredor, até que ele parou em frente a uma porta dupla.
— Chegamos. Aqui é onde a diretoria fica. Vamos notificar o diretor que você chegou. — disse ele, mantendo os olhos fixos na porta.
— Tudo bem! — murmurei, tentando entender a situação.
Dentro da sala, havia várias pessoas trabalhando, suas atenções fixas em monitores de computador, algumas anotando coisas em cadernos. Conforme passávamos, as pessoas começaram a notar minha presença e me encaravam, mas o homem não se importou. Apenas seguimos até outra porta.
Quando adentramos o novo ambiente, logo percebi que era a sala do diretor. O ambiente era diferente, muito mais imponente. Uma grande cadeira giratória estava virada para uma janela, e pelo reflexo do espelho pude ver que havia um homem sentado nessa cadeira.
— Aqui está ele, senhor.
— Obrigado, Okawara. Pode se retirar. — disse a voz misteriosa, vindo de traz da cadeira giratória.
E o homem, Okawara, se retirou sem dizer mais nada.
A tensão no ar era palpável, e eu não conseguia deixar de pensar como tudo parecia tão… dramático.
— Yuki, certo? Seja bem-vindo à minha escola. Você está bem? — indagou o diretor, enquanto girava sua cadeira com um movimento fluido, até se virar completamente para mim. Sua expressão era enigmática, mas de alguma forma, sua voz parecia reconfortante.
— Sim…senhor! Estou bem, obrigado! — respondi um pouco tímido, enquanto me curvava em respeito, como me ensinaram em casa.
— Ótimo. Vamos direto ao ponto, pois não estou tendo tempo de sobra para perder. — disse ele, dando uma pausa enquanto olhava para as árvores pela janela antes de continuar o que tinha a dizer. — Você chegou já no final do ano escolar, e pela sua idade, perdeu três anos escolares, o que significa que você está muito atrasado nos estudos. Por conta disso, terá que fazer um estudo intensivo com um professor específico para ajudá-lo. Entendeu até aqui?
— Sim, entendi! — respondi, mexendo a cabeça afirmativamente.
— Certo. Como você chegou tarde, não irá para as aulas neste ano, e não será necessário frequentar a sala de aula pois as aulas serão diferentes. Você ficará no prédio dedicado a alunos que chegam no meio do ano, onde irá estudar das seis horas da manhã até as quatro horas da tarde. — explicou, acariciando uma flor em um vaso sobre sua mesa.— No entanto, se quiser conhecer os alunos, fazer amizades, poderá fazer isso apenas aos domingos, que é o único dia livre. Está claro?
O diretor estava com um terno bem elegante, uma cor que destacava até meio a escuridão da noite, com esse brilho e cor tão intensa, me pergunto quanto seria o valor desse terno? barato não seria nem um pouco.
Mas não foi o terno que me chamou atenção, foram os detalhes presente nele!
O broche que está preso no lado esquerdo de seu peitoral é o mesmo símbolo que está presente nos livros que minha mãe tinha, isso está ficando cada vez mais esquisito.
— Algum problema? Não conseguiu entender o que eu disse? Quer que eu explique novamente? — perguntou o diretor, ajeitando seu óculos para ficar certo em seus olhos.
— Ham, não…não! Não tem nenhum problema senhor…eu entendi tudo perfeitamente, mas é que eu gostaria de perguntar uma coisa…posso? — indaguei, encarando-o nos olhos.
— Pode perguntar, mas apenas uma. O resto o Okawara vai responder, já que ele será seu professor particular.
O quê? Ele vai ser meu professor? Não, não, eu não posso! Esse homem vai ficar comigo por dois meses?!
— Ah… ele… mas, tudo bem. Minha dúvida, senhor, é sobre minha mãe. Eu… Eu vi que um policial pulou em cima dela, e não sei se ela está bem. O senhor poderia…
Eu mal terminei a pergunta, e ele me interrompeu colocando a mão em meu ombro esquerdo.
— Sim… Ela está bem. Não se preocupe com isso. Foque agora nos seus estudos e nos seus sonhos. Acorde o dom que está adormecido dentro de você e, quando isso acontecer, você estará no caminho certo para encontrá-los novamente. — disse ele, olhando diretamente em meus olhos.
— Que bom! — sussurrei, enquanto lágrimas desciam pelo meu rosto.
O tom de voz dele, de antes era calmo, agora, após essa frase, foi um tom de esperança, de fé, de ajuda, eu senti tudo isso escutando essas palavras. Senti algo forte dentro do meu peito, que me fazia acreditar mais em mim e nessa escola, e acreditar que posso sim me formar e encontrar meus pais novamente um dia.
Aliviado e sentindo uma leveza em meu corpo, respondi o diretor:
— Agora estou aliviado em saber que ela está bem, muito obrigado, senhor. Eu tenho muitas dúvidas, mas sei que posso contar com o Okawara para esclarecer tudo.
— Sim, para isso que ele serve também. Não se incomode com a grosseria dele, você vai se acostumar. E depois, quem sabe, até passe a gostar dele. — disse o diretor, ajeitando seus óculos.
Ele se virou e foi em direção para a janela, com a intenção de observar as árvores novamente.
Pelo que me lembro, ele disse que não podia perder tempo, mas quando cheguei aqui, ele estava olhando as arvores sentado em sua cadeira, e agora se sentou para fazer a mesma coisa. O que tem nessas arvores que faz ele ficar tão concentrado e dedicado a observá-las?
De repente, Okawara apareceu atrás de mim, como se estivesse esperando o momento exato para fazer sua entrada.
— Okawara, leve o Yuki e faça um tour pela escola para que ele possa se habituar. O resto você já sabe o que fazer. — disse o diretor sentado em sua cadeira.
Okawara fez um sinal com a cabeça e, sem mais delongas, saiu da sala, me chamando para segui-lo.
— Vamos, garoto. Me siga.
— Certo! Obrigado, diretor! Até logo! — disse em voz alta, me curvando para o diretor, mesmo que ele não estivesse me vendo.
Assim que me despedi do diretor, sai da sala dele e fui seguindo o Okawara.
*
Após Yuki e Okawara saírem da sala, o diretor ficou sozinho, murmurando para si mesmo:
“Yuki Hikaru, não é? Agora as coisas vão ficar interessantes para nossos experimentos… Finalmente, a herança da família Hikaru estará em minhas mãos…”
O diretor soltou uma risada baixa, que foi se intensificando, até preencher toda a sala:
“Heh… heh heh… hahahaha… HAAHAHAHAHAHA!”
*
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