Capítulo 418: Rainha Ignet (2/3)
História Paralela – 9 Rainha Ignet
— Coloquem mais força nisso!
— Ugh… Que barulheira é essa…?
O rei Elijah Meyers de Makan acordou com uma carranca profunda. Os sons de treinamento vindos dos campos próximos perturbavam seu descanso. Embora a área de treinamento ficasse a uma certa distância do quarto, os ruídos o alcançavam todas as manhãs nos últimos dias. Como resultado, ele não conseguia mais desfrutar de suas manhãs preguiçosas.
— O que está acontecendo?! O exército particular do Conde Cezar não pode ser tão grande assim…
O Conde Cezar possuía o maior território entre a facção pró-monarquista, mas mesmo assim, era consideravelmente menor se comparado às sete grandes famílias nobres, que expandiam seus domínios ativamente por meio de conquistas. Este lugar só havia sobrevivido até agora porque os nobres não davam muita atenção. Se houvesse aqui algum recurso atrativo, como minas, já teriam conquistado há muito tempo.
Mas então, sons tão intensos vinham do território do Conde Cezar?
“Será coisa da rainha? Não… impossível. Eu disse especificamente para ela não fazer nada que provocasse os nobres”, pensou Elijah. “Sim, ela provavelmente está apenas observando o treinamento. Como é ex-cavaleira, os soldados tendem a ser mais disciplinados com ela por perto. Deve ser só isso…”
Mesmo tentando se convencer disso, o rei, sem perceber, já havia terminado de se arrumar e saído do quarto. Sentia-se inquieto e não conseguiu esconder sua expressão ansiosa enquanto caminhava até o campo de treinamento. Estreitou os olhos ao notar que parecia haver mais soldados do que o normal.
“Soldados? Não… são todos cavaleiros!”
Ele não entendia muito sobre espadas, mas conseguia reconhecer pelo clima do local. Todos no campo de treinamento eram cavaleiros, e de nível bastante elevado. O problema era que havia muito mais do que ele conhecia. Olhando mais de perto, a maioria tinha rostos desconhecidos.
— Rainha, rainha! — Elijah chamou Ignet em voz urgente, mas contida.
Felizmente, a rainha tinha boa audição e logo se aproximou do rei.
— O que houve, Vossa Majestade?
— Isso… O que é tudo isso? Quem são essas pessoas?
— São cavaleiros leais que irão proteger Vossa Majestade e a mim.
— Quem te deu permissão…? Eu nunca autorizei isso! De onde vieram tantas pessoas de origem desconhecida? E… eu não te avisei? Não é bom provocá-los!
— Vossa Majestade.
Ela esperou ele terminar de falar. O rei estremeceu. Algo estava diferente. Essa não era a atitude gentil que ela sempre mostrava. Essa Ignet era rígida, um tanto intimidadora, e usava um sorriso frio. Ele engoliu em seco ao ver a expressão da rainha, que parecia mascarada.
Uma voz suave veio logo em seguida, como se tentasse dissipar a impressão equivocada:
— Vossa Majestade conhece o grande cavaleiro de Arvilius? Sir Quincy Meyers?
— Quincy Meyers? Ele tem o mesmo sobrenome que eu… Ah!
Ele lembrava de um filho ilegítimo da linhagem real que, sem suportar a discriminação, foi embora para Arvilius. Esse filho chegou à posição de Capitão dos Cavaleiros Vermelhos. Era uma história que deixava o povo de Makan amargurado, então, mesmo que antiga, permanecia viva na memória de Elijah.
Ele assentiu.
Como se já tivesse tudo preparado, a rainha continuou:
— Sir Quincy Meyers faleceu sem conseguir retornar à sua terra natal, mas desejou o Reino de Makan por toda a vida. Inspirados por sua devoção, alguns cavaleiros abriram mão do status que conquistaram no Reino Sagrado e vieram até aqui. Eles querem contribuir para a força do nosso reino.
Elijah ficou sem palavras.
— Como poderíamos rejeitar pessoas tão leais? Vossa Majestade, sei que não podemos ignorar as tramas dos cinco duques e dois condes, mas peço que considere o sentimento que os trouxe até aqui.
Todos os cavaleiros eram imponentes e tinham olhares intensos. Eles ecoaram as palavras da rainha em uníssono:
— Por favor, considere!
Intimidado, Elijah assentiu com relutância e disse:
— Ah, tudo bem. Entendi as intenções de vocês, então continuem com o que estavam fazendo. E-eu… vou voltar para dentro.
— Que Vossa Majestade vá em paz! — disseram todos ao mesmo tempo novamente.
“Minhas orelhas vão sangrar”, pensou o rei enquanto se virava. “Será que isso vai dar certo?”
Parecia que sim. Se realmente haviam vindo de tão longe e renunciado à cidadania em Arvilius, inspirados pelo antigo sangue real, expulsá-los poderia causar um problema diplomático ainda maior. Os cinco duques e dois condes provavelmente não fariam tanto alarde, embora pudessem se sentir desconfortáveis.
“Está tudo bem. Na verdade, precisávamos reforçar nossa defesa. Só não tínhamos uma justificativa adequada… Isso é bom. Muito bom. Agora, eles não vão mais tratar a família real com leviandade. Sim, é isso.”
O rei assentiu, voltou para seu quarto, tapou os ouvidos e deitou-se. Mesmo tendo bloqueado o barulho, não conseguiu dormir bem, mas forçou-se a adormecer.
E, alguns meses depois, o rei percebeu que algo estava indo muito mal.
“O número de cavaleiros aumentou de novo?”
Era verdade. Quando chegou ao território do Conde Cezar, o número de cavaleiros não passava de dez. Mas agora, eram mais de cinquenta. Cada um exalava uma aura extraordinária.
E isso não era tudo. Havia uma semana que até mesmo o maior ferreiro do continente, não, da história, o anão Vulcanus, havia chegado. Ele martelava sem parar, fabricando armas. Sempre que Elijah perguntava à rainha sobre isso, ela inventava desculpas como:
— Não é uma bênção para o reino que tantas pessoas tenham se impressionado com a virtude de Sir Quincy Meyers?
“Estou ficando apreensivo!” pensou Elijah. “Isso não pode continuar.”
Por mais justificativas que houvesse, aumentar a força militar assim tão rápido era o mesmo que provocar os nobres. As sete famílias poderiam até formar uma aliança temporária para pressionar a realeza. Elijah se lembrou do rosto do Duque Koffland e da maneira diabólica como ele o manipulou após a morte de seu pai.
Ele estremeceu sem querer.
“Não posso deixar isso acontecer. Mesmo sendo um casamento por contrato… eu tenho que dizer algo.”
Ele iria impedir. Não ficaria mais apenas assistindo. Pela paz de Makan, pela paz da família real, era necessário conter as intenções questionáveis da Rainha Ignet.
E foi nesse momento que alguém o interrompeu.
— Vossa Majestade, o Duque Koffland chegou…
— Koffland?
— N-não só ele… Todos os sete grandes nobres, com seus soldados…
O rei levou a mão à testa. Cambaleando, quase caiu no chão, mas o Conde Cezar se apressou para apoiá-lo.
— Parece que a rainha os convocou… em nome de Vossa Majestade — disse o conde. — De qualquer forma, precisamos nos preparar para recebê-los.
A expressão de Elijah se fechou.
“Que horror!”
Só de imaginar-se sendo desajeitado diante dos sete grandes nobres, o jovem rei sentia suas forças sumirem e seu espírito encolher.
“Ou assim eu pensava?”
Os sete grandes nobres, o rei e a rainha estavam reunidos na câmara de audiência temporária. Sentados ao redor de uma longa mesa, os cavaleiros de escolta de cada um deles permaneciam atrás como estátuas de pedra imponentes. Todos lançavam olhares intensos para a rainha. Como toda a atenção estava voltada para um lado só, o rei sentia menos pressão do que havia imaginado.
Claro, o clima ainda era constrangedor. O fato de terem ficado se encarando em silêncio por cinco minutos era prova disso. Felizmente, não durou muito mais.
O primeiro a ceder foi o Duque Koffland, o mais poderoso entre os sete nobres. Ele falou com uma voz levemente irritada:
— A Rainha anda muito ocupada com assuntos oficiais e pessoais? Vi muitos cavaleiros desconhecidos nas redondezas. Parece que houve bastante esforço para trazê-los de todos os cantos.
— É graças à boa graça de Sir Quincy Meyers, não porque eu esteja ocupada — respondeu Ignet.
— O que quer dizer com isso?
— O que quero dizer com o quê?
O Duque Koffland balançou a cabeça.
— O que quero dizer com o quê? — Ignet repetiu.
O duque soltou um breve suspiro.
— Não, não importa.
Sim, essa era Ignet. Ela havia sido capitã dos cavaleiros no Reino Sagrado, uma superpotência, ocupando uma posição que não era inferior à do próprio duque, nem em poder, nem em força militar. Embora agora tivesse abandonado todos os cargos para se tornar rainha de um reino arruinado, ninguém ali era ingênuo o bastante para acreditar nisso.
Havia alguma ligação com o Reino Sagrado, algum tipo de esquema. As informações que chegavam constantemente soavam como sinais de perigo. Claro, Arvilius não podia interferir abertamente nos assuntos de Makan. Isso violaria o direito internacional e causaria um caos ainda maior.
Eventualmente, se fizessem algumas concessões, ela se daria por satisfeita e aceitaria negociar.
“Claro que sim…”
Eles precisavam mostrar que não seriam tratados com leviandade. O Duque Koffland falou com firmeza:
— Falo em nome dos nobres. Reconheceremos a autonomia dos territórios reais. Mas a Rainha não deve ir além… Deve se limitar a manter a sobrevivência e o bem-estar da família real. Não interfira em outros assuntos.
O rei, Elijah Meyers, soltou um leve gemido.
— Ugh…
O Duque Koffland era um gênio da espada que se tornou Mestre Espadachim aos trinta e três anos. Agora, com mais de cinquenta, dizia-se que era o segundo espadachim mais forte do continente sulista. Diante da aura de alguém cujo único rival era Inasio Karahan, não era de se espantar que Elijah gemesse.
A maior parte da aura do duque estava direcionada à rainha. O rei olhou preocupado para o lado. Mas então, algo espantoso aconteceu. Com um simples gesto da rainha, a pressão que parecia sólida como uma rocha desapareceu num instante.
Os nobres, inclusive Koffland, e os cavaleiros de escolta atrás deles, ficaram todos surpresos.
“Ela não sentiu nenhuma pressão?”
“Ela neutralizou a aura?”
— Quando eu era jovem, havia algo que eu não conseguia entender — disse Ignet, mudando seu tom de voz. Agora soava como alguém dos becos, talvez uma mercenária.
Eles poderiam querer zombar disso, mas nenhum dos nobres conseguiu abrir a boca. A aura da rainha dominava a câmara de audiência.
“Mesmo tendo sobrevivido à maldição do Rei Demônio… Ela chegou a esse nível?”
“A propaganda do Reino Sagrado não era exagero, afinal? Mas…”
“Calma. Está tudo bem. Temos cinco Mestres nesta sala. Se for necessário, podemos contê-la com um ataque conjunto.”
As mentes dos nobres fervilhavam. Ignet sorriu de canto e reduziu intencionalmente sua aura. Queria conversar, não fazer um sermão unilateral, mas os nobres interpretaram isso como um sinal de fraqueza. Sorrisos sutis e vitoriosos surgiram em seus rostos.
Um deles perguntou:
— E o que era que você não conseguia entender?
— Um nobre esquelético espancando um sujeito grande de um beco com uma bengala, dizendo que ele fedia a suor. Isso aconteceu mais de uma ou duas vezes, e eu achava aquilo estranho.
— O que há de estranho em um nobre bater num plebeu?
— O plebeu poderia ter se irritado e matado o nobre — disse Ignet. — Não é como se o corpo de um nobre fosse imune a lâminas. Se alguém perde a cabeça e age sem pensar nas consequências, seja nobre ou real, sua vida acaba ali, não é?
— Isso é…
— Com o tempo eu entendi. Ah… Quando se vive imerso no poder por tempo demais, para de se pensar nessas coisas. Elas se tornam algo completamente alheio à própria vida. Aos poucos, aos poucos… — Ignet fez uma pausa antes de continuar. — Aos poucos, perde-se o bom senso.
Os nobres ficaram em silêncio.
— Então acham que sou alguém que se preocupa com as consequências? — perguntou ela, num tom baixo, carregado de ameaça.
Era absurdo, deveria ser absurdo. Não importava o quão forte Ignet fosse, mesmo tendo sobrevivido à batalha contra o Rei Demônio, ela estava sozinha. Além disso, deveria estar mais fraca por causa da maldição. Mesmo que não fosse o caso, não havia como ela derrotar cinco Mestres Espadachins, especialmente com alguém como Koffland ali.
Então por quê?
“Por que… meu corpo está tão pesado?”
Os cinco Mestres se entreolharam. Ninguém conseguia dar o primeiro passo. A aura dela os sobrepujava.
Percebendo isso, Koffland suspirou. “Tudo bem. Eu vou primeiro.”
O mais forte da aliança nobre, o Duque Koffland, tomou uma decisão e rapidamente levou a mão à espada. Só então os outros quatro Mestres sentiram alívio e fizeram o mesmo. Para atacar Ignet, para matar o rei, para acabar com a família real Meyers, que governava Makan havia quinhentos anos, eles tentaram sacar suas espadas com todas as forças.
Foi inútil. Não conseguiram.
Ignet manifestou sua aura. Sete fagulhas, como sóis em chamas, explodiram ao seu redor, e a força repulsiva lançou fragmentos de aura escaldante numa única direção.
— K-khak, gueh!
O salão ficou em silêncio. Todos olharam para ver onde estava o Duque Koffland. Sozinho, o duque gemia, esmagado como um inseto, com os membros arrancados.
A rainha Ignet olhou para ele com olhos vazios. Ergueu levemente o canto da boca e disse:
— Nenhum de vocês… parece ter assistido ao Torneio dos Heróis, realizado há 25 anos.
Ninguém respondeu.
— Bem, tudo bem. Ainda dá tempo de aprender. Claro — disse lentamente — também não tem problema se não aprenderem.
Tendo dito isso, a rainha Ignet de Makan, a governante de fato de Makan, levantou-se de seu assento.
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