Capítulo 423: Epílogo 2 (1/2)
História Paralela – 11 Epílogo 2
Em outra região do Reino Demoníaco, um mundo muito distante daquele visitado pelos quatro heróis, incluindo Airen Farreira, viviam seres tão horrendos que até os indivíduos mais caóticos do reino humano estremeceriam de nojo. Ainda assim, os diabos dali não eram tão beligerantes a ponto de se atacarem à primeira vista.
Na verdade, tirando alguns detalhes, suas vidas pareciam bastante semelhantes às dos humanos. Isso era evidente até mesmo agora, enquanto a multidão vibrava e aplaudia a trupe de palhaços mais celebrada da vila. Entre eles, um diabo de grandes chifres assistia à esquete de um palhaço por trás de uma máscara estilhaçada, rindo alto. No entanto, seus olhos traíam um medo profundo.
“Que tédio. Lixo.”
Foi assim desde a primeira vez que visitou essa vila. Os palhaços se apresentavam, e os diabos vibravam e batiam palmas entusiasmados, como se realmente estivessem se divertindo. Ele não conseguia entender. Por mais que tentasse encontrar algum mérito naquilo, era simplesmente uma apresentação terrível.
Ele trocou olhares com seus companheiros, puxou um machado da cintura e o lançou contra a figura grotesca cujo rosto carregava fragmentos de uma máscara quebrada.
Thud!
Silêncio. Imobilidade. O mascarado, com a cabeça esmagada, tombou como uma marionete com os fios cortados. Os olhares dos palhaços se fixaram no diabo de chifres. A plateia, como se em uníssono, também voltou sua atenção para ele.
Ele não se importava. Já estava acostumado com as reações hostis dos diabos. Não passavam de insetos que só sabiam encarar. Com um sorriso torto, lançou mais dois machados, esmagando as cabeças de outros dois palhaços.
Não sentia remorso algum, nenhuma emoção. O diabo trocou comentários indiferentes com seus companheiros, voltou para a estalagem para beber licor com sangue e saudou o dia seguinte com uma ressaca. E diante de seus olhos… via a mesma cena do dia anterior. A apresentação dos mesmos seres continuava, sem parar.
Como possuído, o diabo de chifres começou a lançar seus machados nos palhaços todos os dias. E não apenas ele: seus companheiros, como se perseguidos por algo, continuavam o massacre com rostos tomados pelo terror, à beira das lágrimas. O massacre, o massacre, o massacre prosseguia sem fim.
Tudo se repetia. Na manhã seguinte, os palhaços se reuniam na praça como se nada tivesse acontecido, continuando suas apresentações. Os moradores também assistiam ao espetáculo com expressões alegres, como se nenhuma perturbação tivesse ocorrido.
Não havia escapatória. Continuar matando era inútil. Em algum momento, o diabo de chifres e seus companheiros pararam de resistir aos palhaços e passaram a demonstrar obediência, como faziam agora, rindo e aplaudindo suas apresentações.
— Uaaaau!
— Hahaha!
O diabo de chifres batia palmas enquanto observava os palhaços fazerem malabarismos com cabeças decepadas da plateia. Ao perceber que os diabos menos entusiasmados eram os primeiros a ser eliminados, passou a reagir ao espetáculo com mais fervor que qualquer outro, tornando-se pouco a pouco um residente da vila.
E justo quando uma máscara de palhaço começava a se formar em seu rosto… um punho gigante caiu do céu. Esmagou toda a vila como se fosse um inseto. Os escombros da vila subiram alto no céu e depois choveram sobre o solo.
Um vento seco de inverno soprou, afastando a poeira. A paisagem revelada era tão horrenda que causava enjoo só de olhar. Contudo, o ser que destruiu a vila não se importou.
Um mago esquelético com uma joia vermelha cravada na testa caminhou até o centro das ruínas. O líder da trupe de palhaços, aquele com pedaços de máscara encravados no rosto, levantou-se.
— Hmm, não esperava que viesse até aqui.
— Por favor, compreenda que meu mestre está bastante desesperado.
— Acho que é mais que ele perdeu a paciência. Veja, a joia na sua testa está brilhando de forma ameaçadora! Ah, mas você não pode ver isso, né? Já que não tem globos oculares? Mas…
O palhaço arrancou bruscamente um pedaço da máscara próximo ao olho. Sangue escorreu enquanto a carne se rasgava, e acima do palhaço, apenas uma escuridão oca preenchia o espaço.
— Eu também não tenho! Hahaha!
O silêncio se estendeu por um momento.
— Ria.
— Faz tanto tempo que esqueci como se ri… Peço desculpas, Diabo Bufão.
— Tsc, não sou uma entidade grandiosa como um diabo. Sou apenas uma réplica, afinal.
O Diabo Bufão, ou melhor, a réplica do Diabo Bufão, falou com sinceridade.
O verdadeiro Diabo Bufão morreu pelas mãos de Ignet no espaço em fenda. Sua alma, até mesmo sua vontade remanescente, foi completamente reduzida a cinzas, tornando impossível qualquer ressurreição. Portanto, a entidade atualmente ativa era, no máximo, uma réplica do diabo. Um Palhaço das Sombras, criado quando o Diabo Bufão implantou suas memórias em um manequim para enganar oponentes poderosos.
Ironia do destino, esse ser parecido com um brinquedo escapou das mãos de Ignet no lugar de seu mestre e agora levava uma vida independente.
— Não me importa se é uma réplica ou não, Palhaço.
Mas isso não tinha importância para o mago esquelético. Provavelmente, o mesmo valia para os demais diabos.
No Reino Demoníaco, onde o poder era mais valorizado do que tudo, o poder do Palhaço era tão grande que superava o da maioria dos diabos de alto escalão. Mesmo ele, o 7º Comandante das Legiões do exército do Rei Demônio que unificou o Reino Demoníaco, não tinha certeza de que conseguiria derrotar o Palhaço em um combate direto. Ele possuía um poder digno de respeito.
É claro que o mago esquelético não havia procurado desesperadamente pelo ser à sua frente apenas porque o Palhaço possuía grande poder.
— Vamos direto ao ponto. A passagem para o reino humano. Diga-me.
O Palhaço das Sombras permaneceu em silêncio.
— Esta é uma mensagem do Rei Demônio. Ele promete a você a posição de governante de todos os diabos, se nos guiar com sucesso.
— E-Eu… não estou interessado.
O Palhaço respondeu, batendo o fragmento da máscara arrancada de volta ao rosto. Era uma expressão muito diferente da anterior.
Esse era o Palhaço que nunca perdia o sorriso, mesmo nas situações mais desfavoráveis, também conhecido como o Demônio do Sorriso Tolo. Ele mantinha a compostura mesmo diante do 7º Comandante das Legiões do exército do Rei Demônio. O comandante estava no meio de admirar a coragem extraordinária do Palhaço quando percebeu.
Onde foi parar aquela postura relaxada? Por que ele tremia como um animal pequeno diante de um tigre?
O mago esquelético zombou por dentro.
“Um diabos com medo de humanos?”
A relação entre humanos e demônios era de presa e caçador. Por isso, era ainda mais absurdo que o Palhaço os temesse. O respeito que sentia se transformou completamente em desprezo, a ponto de causar irritação.
Mesmo reconhecendo que o ser à sua frente possuía imenso poder, o mago esquelético não conseguiu evitar baixar a guarda. Sentiu a tensão afrouxar, como se estivesse diante de um demônio comum de baixo nível no Reino Demoníaco.
Não demorou para perceber que isso foi um erro.
— Haha!
Foi apenas um lapso momentâneo, mas o Palhaço não desperdiçou aquela pequena abertura. E não apenas isso, ele a explorou completamente.
O Palhaço afundou instantaneamente na escuridão e surgiu atrás do mago esquelético, vindo de sua sombra. Com um movimento ágil, golpeou com a adaga o núcleo de escuridão localizado entre as costelas do inimigo, causando danos sérios. O mago tentou conjurar uma magia às pressas, mas uma sensação de fracasso o invadiu.
Felizmente, havia outro ser poderoso cobrindo suas costas. Um diabo de armadura negra surgiu instantaneamente e desferiu um golpe com um enorme martelo.
O Palhaço não tentou desviar. Pelo contrário, olhou diretamente em seus olhos e sorriu de forma sinistra.
Esse foi o seu fim.
Pelo menos, foi o que o mago esquelético pensou. Mas o Comandante da Primeira Legião tinha outra opinião.
— Ele escapou de novo.
— Escapou?
— Esse aí também não era o corpo principal. Impressionante… Um demônio que é só uma réplica ter esse nível de poder? Me faz imaginar o quão forte era o original. Se for possível, depois de conquistarmos o reino humano, quero visitar a parte do Reino Demoníaco onde esse cara vivia.
O mago esquelético ficou sem palavras. Era como o Primeiro Comandante dissera. O Palhaço atual era meramente uma réplica feita à imagem do diabo original. Além disso, o que haviam enfrentado ali era apenas um brinquedo feito por aquela réplica, uma réplica da réplica.
“E mesmo assim tem esse poder todo?”
Se tivesse pele, estaria coberto de arrepios diante do choque avassalador. O que surpreendia ainda mais era que esse Palhaço tinha tanto medo do reino humano que evitava até mencioná-lo.
— Não duvide.
A voz do cavaleiro de armadura negra saiu suave.
E, curiosamente, isso bastou para acalmar seu coração agitado. O mago esquelético tentou engolir em seco, um hábito de quando ainda possuía um corpo. Um senso de alívio, misturado a uma imensa tensão e pressão, caiu sobre ele.
“Sim, o Comandante da Primeira Legião, que possui poder superior ao de qualquer comandante anterior, está bem diante de mim! E… o Rei Demônio, ainda mais poderoso, o primeiro da história a unificar o Reino Demoníaco, está nos observando.”
Esse era o detalhe que garantia a vitória. Não havia como eles, acompanhados pelo ser mais forte da história e um comandante de força comparável, serem derrotados por meros humanos.
Tendo recuperado a compostura, o mago esquelético pegou e examinou os fragmentos dos restos do boneco do Palhaço.
— B-bem, por ora… parece que não precisamos mais perseguir o Palhaço. Analisando esses restos e interpretando as informações do espaço em fenda, podemos rastrear o mundo em que ele estava. Não apenas o reino humano, mas também o outro inferno onde ele nasceu e cresceu…
— Devemos persegui-lo.
— O quê?
— O rei ordenou. Ele prometeu uma recompensa mais generosa que qualquer tesouro, se a proposta fosse aceita, mas se não…
Ele disse que mastigaria cada parte do corpo do Palhaço, exceto a cabeça.
— A cabeça…?
— Vamos empalá-la na bandeira do exército do Rei Demônio e fazê-lo ver claramente. Mostraremos a ele o glorioso momento da conquista do reino humano pela primeira vez na história do Reino Demoníaco e faremos com que se arrependa para sempre de sua escolha tola.
Foi o que disse o Comandante da Primeira Legião, com sua voz profunda carregada de lealdade inabalável ao Rei Demônio.
Ele trouxe de volta o corpo principal do Palhaço, como havia prometido, e o Rei Demônio empalou alegremente sua cabeça em uma haste de bandeira. Mesmo assim, o Palhaço não abriu a boca. Além disso, demonstrava reações como convulsões sempre que alguém dizia as palavras ‘humano’ e ‘herói’, o que deixava os diabos desconcertados.
Mas isso não importava. Após cinco anos de esforço árduo do 7º Comandante, o mago esquelético, o caminho pelo espaço em fenda finalmente foi aberto. Enfim, eles tinham uma forma de invadir o reino humano por um meio direto, sem depender de pactos indiretos com humanos.
O Rei Demônio olhou para seu exército.
— Hmm.
Quinhentos diabos, liderados pelos confiáveis comandantes das dez legiões do Reino Demoníaco, espalhavam-se diante dele. Eram poucos em número, mas cada um era um soldado de elite com imenso poder. Eram seres dignos de serem chamados de verdadeiros diabos, cuidadosamente selecionados, e incomparáveis a Mestres Espadachims ou Arquimagos comuns.
O Rei Demônio os observou com um olhar orgulhoso, abriu seus seis pares de asas negras e bradou:
— Todas as tropas! Avancem!
— Uoooooh!
— Uoooooooh!
Enquanto todos entravam no espaço em fenda aos gritos, a réplica do Diabo Bufão os observava do ponto mais alto.
Ele sorriu de canto e sussurrou:
— Bando de idiotas…
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