Capítulo 001 — Contemplem o início... do fim!
Exterior da Estação Espacial Internacional – 2045 d.C.
O silêncio do espaço era absoluto. Apenas o som ritmado da respiração de Marco preenchia o interior do capacete. Ele flutuava acima da estação, movendo-se com precisão enquanto finalizava a inspeção do painel externo. A Terra, distante e azul, parecia quase uma joia pendurada no infinito.
— Isso é incrível — Marco murmurou para si mesmo. — É… realmente incrível estar aqui.
A vista era mais impressionante do que qualquer treinamento ou teoria que tivesse estudado. Um sorriso leve se espalhou por seu rosto enquanto se permitia sentir a satisfação do momento. Ali, no espaço, tudo parecia tão… perfeito. Como se ele fosse a pessoa mais importante do universo, mesmo sabendo que o universo, de fato, não se importava com ele.
“Sistema de suporte operacional. Níveis de oxigênio estáveis.”
A voz sintética da IA Nova, embutida em seu uniforme, soou de forma mecânica e impessoal.
“Temperatura corporal normal. Frequência cardíaca dentro dos parâmetros aceitáveis.”
Marco ajustou sua posição, conferindo os dados no visor. Tudo estava normal.
— Ei, Nova, se eu começar a flutuar por aí sem rumo é porque o espaço está tentando me dar um abraço, né?
“Recomendação: A integração de humor não impacta na eficiência da operação.” Nova não hesitou. Se ele queria piadas, teria que procurar em outro lugar.
— Base, aqui é Marco. Inspeção 95% concluída. Nenhuma anomalia encontrada.
— Confirmado, Marco. — respondeu a voz calma do controle de missão. — Finalize e retorne em cinco minutos. E aproveite — pode ser uma das últimas inspeções externas desse tipo. O Dr. Elian Voss praticamente concluiu o Reator Solaris. Se tudo correr bem, em breve não precisaremos mais dos painéis solares externos.
Marco arqueou uma sobrancelha, flutuando suavemente enquanto ajustava a rotação de seu corpo.
— O Solaris, hein?
— Sim. Equivalente a uma pequena estrela em termos de geração energética, mas cem por cento limpa e estável. Uma revolução em escala orbital.
Ele assentiu, girando lentamente no espaço para observar sua rota de retorno.
Então, algo chamou sua atenção.
A alguns metros de distância, um ponto negro flutuava no vazio. Pequeno, do tamanho de uma bola de tênis, mas pulsante, distorcendo sutilmente a luz ao seu redor. Marco franziu a testa.
— Base, estou vendo… — Ele hesitou. Como descrever aquilo? — … algo estranho.
— Seja específico, Marco. Há algum problema?
Ele piscou, tentando focar melhor. O que diabos era aquilo? Nenhum alerta soou, nenhum sensor da estação parecia ter detectado nada.
— Nova, algum registro de anomalia próxima?
“Nenhuma anomalia detectada. Todos os sistemas operam normalmente.”
Ele manteve os olhos fixos no ponto negro. Por que só eu estou vendo isso?
O buraco negro cresceu. A luz ao redor começou a se dobrar de forma cada vez mais evidente. Um frio estranho percorreu a espinha de Marco, mesmo dentro do traje pressurizado.
— Base, alguma leitura de distorção gravitacional?
— Negativo, Marco. Sensores não indicam nada fora do normal. Repita, qual é o problema?
O ponto se expandiu ainda mais. Era real.
O pânico tomou conta de seus músculos, mas seu treinamento o manteve focado. Isso não faz sentido. Se é um buraco de minhoca, deveria haver…
Um puxão.
Fraco no começo, mas se intensificando rapidamente. Marco tentou ativar os propulsores do traje, mas já era tarde.
— Base, estou sendo puxado por alguma coisa!
— Marco, não há nada aí. O que está acontecendo?
O cabo de segurança se rompeu.
A força gravitacional aumentou em um instante. O corpo de Marco foi sugado com violência para dentro da distorção, sua visão se mesclando em feixes de luz e trevas.
A escuridão o engoliu.
***
do outro lado do universo — dez minutos atrás
A cidade de Aethra estava em ruínas. O solo, uma vastidão de cinzas e pedras quebradas, ecoava o silêncio da destruição. Lou-reen se ajoelha, sentindo o peso da perda. A lâmina da espada em sua mão risca o chão coberto de cinzas, enquanto suas lágrimas se misturavam à poeira.
— Como você pôde fazer isso? — ela sussurra, a voz quebrada, cheia de dor. Sua mão treme enquanto a raiva começa a crescer dentro dela.
— Elas eram fracas. — A voz ecoa de cima, fria e desdenhosa. — Se fossem fortes como nós dois, estariam vivas agora.
Clyve flutua acima dela, com um sorriso cruel nos lábios. Ele segura o Cetro, uma peça imponente de poder, cujo topo era adornado por uma caveira macabra. Seus olhos brilham com uma satisfação imensa, um prazer doentio diante da devastação que causou.
Lou-reen ergue os olhos, fixando-se no homem que ela uma vez chamou de amigo.
— Mais de um milhão de vidas… todas elas apagadas por sua mão. — Ela se ergue, a determinação brilhando em seus olhos. — E para quê?
Clyve gargalha, sua risada fria e arrogante.
— Eu não precisei pedir permissão a ninguém, Lou-reen. — Ele sorri, deixando o cetro brilhar com uma energia destrutiva. — Passei tempo demais seguindo ordens e sendo apenas uma peça. Agora, não sou mais um soldado. Sou o comandante. E este mundo? Será moldado à minha vontade, onde os fracos serão apagados sem piedade.
Dois soldados surgem ao lado de Lou-reen. A tenente Faey Tyrson, de postura rígida e olhar feroz, reporta:
— Não há nenhum sobrevivente. Tudo e todos na cidade foram completamente aniquilados. Eu nunca vi nada igual.
— É quase impossível imaginar que uma única pessoa possa ter feito tal estrago.
Faey apertou o punho ao redor do cabo de sua espada. O sorriso de Clyve parece aumentar.
— A morte deles não será em vão. Guardei toda a essência deles aqui —ele aponta para o cetro— e a usarei para reduzir este mundo a pó. Com as cinzas, criarei um mundo onde todos serão fortes, e não esses insetos que caem tão facilmente diante da verdadeira força…
— COMO PÔDE? — Lou-reen o interrompe. — Como pôde? Nós crescemos aqui! Nós éramos felizes aqui… — sua voz falha.
— VOCÊ foi feliz aqui, Lou-reen. Sempre foi feliz. Desde criança, considerada a mais forte e nobre guerreira deste mundo. Enquanto eu… eu tive que esconder minha força, forçado a me conter porque os fracos não conseguiam sequer suportar minha presença. Só você, Lou-reen, era capaz de treinar comigo. Levei anos para entender que o erro não estava em mim. O problema sempre foi deles, esses fracos. Por isso, os destruí. Agora, vou criar um mundo onde os fortes não precisarão mais se esconder, onde não haverá mais necessidade de conter o poder para não ferir aqueles que não são capazes de suportá-lo.
— Não posso permitir que faça isso.
— Você é forte, Lou-reen. Mas nós não somos mais crianças. Eu desenvolvi poderes que esse mundo jamais se quer imaginou. Nem você pode me derrotar agora.
Lou-reen aperta o punho ao redor do cabo da espada, e chamas surgem em sua lâmina, ardendo intensamente. Ela avança, desaparecendo em um borrão de velocidade, atacando com um corte direto, sua lâmina em chamas indo em direção a Clyve.
— Solidificação de Trevas. — Ele sussurra.
Com um movimento preguiçoso, Clyve levanta seu braço esquerdo, que agora está envolto por uma espessa camada de trevas que solidificam instantaneamente. A espada de Lou-reen colide contra a escuridão, mas ele apenas sorri, como se estivesse entediado.
As chamas os envolvem por um instante e Lou-reen ataca novamente, mudando a direção da lâmina; Clyve apenas move o braço para interceptar. Lou-reen ataca repetidas vezes, mas Clyve segue apenas se defendendo até que Lou-reen retorne ao chão.
— Você não pode me derrotar, Lou-reen. O poder que desenvolvi agora vai além da sua compreensão. — Clyve fala com desprezo. Seu tom calmo como se fosse óbvio para ele que Lou-reen nunca teria chance.
Lou-reen se afasta, dando uma rápida olhada para os dois soldados ao seu lado. Eles se preparam, avançando junto com ela. O soldado a sua direita empunha uma espada carregada com raios, enquanto Faey ataca com cortes de vento à distância.
Os três atacam com precisão, movimentos sincronizados, buscando quebrar a defesa impenetrável de Clyve. Mas ele apenas se esquiva, movendo-se de maneira desdenhosa, seus olhos fixos em Lou-reen. Ele bloqueia todos os ataques com facilidade, seus olhos brilhando de malícia.
— Chega. — Clyve diz com uma voz calma e implacável. — Explosão!
Uma runa aparece aos seus pés, sua magia liberando uma explosão devastadora. O chão treme, Lou-reen e seus guerreiros são lançados para trás, atingidos pela onda de choque. Lou-reen, porém, se levanta rapidamente, os olhos fixos em Clyve, sem hesitar.
— Vocês não podem mais me impedir. Escudo de Diamante. — Um hexágono brilhante surge aos seus pés. — Esfera.
Vários hexágonos surgem lado a lado do primeiro, cercando Clyve e formando um escudo completo ao seu redor. Ele flutua sorridente em seu refúgio.
— Agora posso me concentrar na próxima fase do meu plano. — Ele ergue o cetro acima de sua cabeça, fechando os olhos. — Solidificação de Essência: Runa da Destruição.
Os olhos da caveira no cetro brilham, em um tom vermelho, uma pequena runa hexagonal surge logo acima da esfera em que está Clyve. O soldado ao lado de Lou-reen se levanta do chão e debocha:
— Ele espera destruir o reino com apenas essa runa minúscula?
— Espere. — Lou-reen está cautelosa. — Eu nunca vi essa runa antes. Não sabemos do que ela é capaz.
— Sempre perspicaz, Lou-reen, a Brilho do Amanhecer. Essa runa que eu desenhei é poderosa, mas sozinha, não é capaz de nada. Porém…
O brilho nos olhos da caveira no cetro se intensifica. Dezenas de runas começam a surgir ao lado da primeira.
— Contemplem, o início do fim! — Clyve gargalha.
Lou-reen respira fundo e pula para a esfera de Clyve. Ela tenta fincar sua espada entre os espaços de diamante, liberando chamas da lâmina. Clyve ri, seguro de si dentro da esfera.
— Me dê a outra espada! — Lou-reen grita. O soldado joga a espada com precisão, e ela a pega com maestria com a mão esquerda. Tenta fincá-la também, liberando raios da lâmina.
Lou-reen grita de frustração, aumentando a intensidade dos ataques, mas por mais que tente, nada parece afetar a esfera. Ela joga as espadas fora e se concentra. Todo seu corpo brilha e ela dá um soco com toda sua força. Todos olham em expectativa, mas nada acontece. Lou-reen respira fundo outra vez e pula para o céu, sua mão estendida à frente:
— Solidificação de Essência.
Conforme sobe no ar, uma enorme espada de energia surge da palma de sua mão, até alcançar trinta metros de altura. No punho, ela desenha uma runa e a lâmina gigante se energiza. Com uma expressão de fúria, Lou-reen desce a espada contra a esfera que nem saí do lugar. A espada se desfaz em milhares de pontos brilhantes.
— Uou. Realmente impressionante, Lou-reen. — Clyve se mostra admirado. — Se fosse possível eu te usar, teria essência suficiente para destruir o mundo inteiro de uma vez só.
Ela cai no chão, derrotada.
— Está quase pronto. Em instantes, todos vocês e esse reino inteiro serão reduzidos ao pó. Simplesmente não há ninguém nesse mundo que possa me parar agora.
As runas de Clyve preenchem todo o céu até sumirem no horizonte. Ele levanta o cetro acima de sua cabeça. Faz uma pausa dramática, respira fundo e se prepara para falar:
— Des…
Uma enorme esfera negra surge logo acima de Clyve e Marco cai de dentro dela, bem em cima do cetro. Os dois se chocam contra o lado de dentro da esfera de diamante. Clyve olha sem acreditar para a pessoa desconhecida usando uma armadura estranha que está sobre ele. Marco se levanta. Clyve olha para o próprio peito, onde o centro está fincado em seu coração. Ele aponta para o céu, em direção às runas.
— Des…
A esfera de diamante se desfaz e os dois caem os poucos metros até o chão. Marco cai em pé enquanto Clyve se estala, cuspindo sangue.
Clyve olha mais uma vez para o céu, estende a mão mas não tem forças para sustentá-la. O brilho em seu olhar some enquanto seu braço cai ao lado do corpo. As runas no céu se quebram todas de uma vez, e uma chuva de brilho vermelho cai sobre todos os presentes. O Cetro voa do peito de Clyve até́ a mão de Marco.
Marco olha ao redor, completamente perdido. Lou-reen se levanta e cambaleia até́ ele, perplexa.
— Quem é você?
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