O vento cortava os ouvidos de Marco enquanto ele despencava da muralha. Seu corpo girava no ar, e a única coisa que conseguia ouvir além do assobio da queda era a batida frenética de seu coração. 

    “Sabe, estatisticamente falando, cair de uma altura assim geralmente resulta em morte”. 

    — NOVA?! — Marco berrou, ou ao menos tentou, mas o ar sendo arrancado de seus pulmões transformou sua voz em um engasgo. 

    O chão se aproximava rápido demais. Marco não tinha nada para se segurar, nenhuma maneira de amortecer o impacto. Seu cérebro gritava por uma solução, mas só encontrava pânico. 

    “A menos que…” Nova começou, sua voz carregada de malícia. 

    Malrath, alguns anos atrás 

    A estrada escura era iluminada apenas pela luz distante das estrelas. Clyve, um jovem de 18 anos, caminhava com passos firmes, o Cetro novo girando em sua mão esquerda e uma espada curta na cintura. Sua expressão era de determinação fria. 

    De repente, uma voz grave cortou o silêncio. 

    — O que um rato do Império faz andando sozinho por essas terras? 

    Um homem surgia das sombras da estrada, seu corpo marcado por cicatrizes profundas. Seu olhar era afiado, analisando Clyve como um predador avaliando uma presa. 

    — Eu não sou do Império. 

    O homem deu uma risada seca. 

    — Se veste como um, anda como um, fala como um, até cheira como um. Claro que é um rato do Império. 

    Clyve não hesitou. 

    — Eu me libertei. O que o Império se recusou a me ensinar, eu vou aprender por conta própria. Eu quero ir além dos limites da essência. 

    O homem estreitou os olhos. 

    — Primeiro, você deveria se preocupar em sobreviver. 

    Clyve puxou sua espada curta. No instante em que a lâmina deslizou para fora da bainha, chamas douradas a envolveram, dançando e crepitando no ar. 

    O homem sorriu, e então seu braço começou a se distorcer. Essência negra se solidificou ao seu redor, moldando-se como uma armadura viva. 

    — Seus truques do Império não vão te ajudar aqui, rato. — Ele disse, avançando. 

    Minutos depois, Clyve caminhava lentamente, o cetro firme em sua mão, enquanto o homem caído se arrastava para trás, deixando um rastro de sangue na terra seca. Seu olhar, antes cheio de confiança, agora estava tomado pelo terror. 

    — O que… o que você é? — o homem balbuciou, tentando se afastar. 

    O cetro brilhou, e uma onda de escuridão escorreu pelo braço de Clyve como um líquido vivo. A essência se condensou ao redor de seu corpo, envolvendo-o em sombras pulsantes, distorcendo sua silhueta. Seus olhos brilharam em um tom profundo e ameaçador. 

    Marco abriu os olhos. Algo dentro dele havia mudado. 

    A queda terminava. 

    Seu corpo colidiu com o chão, mas ao invés de se despedaçar, ele pousou firme, ajoelhado, absorvendo o impacto com perfeição. 

    Acima, os dois homens olhavam, incrédulos. 

    Antes que pudessem reagir, Marco impulsionou-se para cima. Seu corpo foi envolto por uma escuridão pulsante enquanto disparava como uma flecha, atravessando a noite. 

    Marco pousou no topo da muralha com a leveza de um predador, seu corpo ainda envolto pela essência negra que pulsava ao seu redor como uma chama viva. Os dois homens, que segundos antes o haviam lançado para a morte, deram um passo involuntário para trás. 

    — Boa noite, senhores. — A voz de Marco soou estranha, carregada de um peso que não lhe pertencia. Era fria, controlada, e ressoava com um timbre que trazia ecos de algo… antigo. 

    Os homens não responderam de imediato. Seus olhos estavam fixos na escuridão que se estendia do corpo de Marco até o chão, onde seu braço decepado jazia. Como serpentes obedientes, as trevas se lançaram para a frente, enlaçando o membro perdido e trazendo-o de volta. 

    A carne encontrou o ombro como se nunca tivesse sido arrancada. As sombras dançaram ao redor da junção, costurando o membro de volta, até que, num último pulsar, tudo voltou ao normal. Marco moveu os dedos, fechando e abrindo a mão ao redor do cetro, sentindo o peso familiar retornar. 

    Ele ergueu o olhar para os dois homens e sorriu. 

    — Agora… onde estávamos? 

    Um dos homens, tomado pelo desespero, avançou com a espada em um golpe rápido, mirando o peito de Marco. 

    Mas a escuridão foi mais rápida. 

    Antes que a lâmina sequer se aproximasse, as trevas se estenderam como tentáculos vivos, envolvendo o braço do agressor.  

    — Interessante… — Marco murmurou, flexionando os dedos. As trevas responderam, apertando ainda mais o homem, que caiu de joelhos, arfando. —Muito interessante. 

    Ele apertou a mão ao redor do cetro e o homem gritou de dor.  

    Marco piscou e as sombras ao redor de seu corpo vacilaram por um momento, e um pavor súbito o tomou. A escuridão recuou, desaparecendo, deixando apenas o som das respirações ofegantes dos dois homens. Marco parecia ter voltado ao normal, mas o medo ainda tomava conta de seus olhos. 

    Os dois homens, agora furiosos, não hesitaram. Avançaram com uma velocidade impressionante, seus ataques rápidos e certeiros. Um deles atingiu Marco no peito com um soco forte, jogando-o contra a mureta da muralha. O impacto foi brutal, e Marco, atordoado, caiu de joelhos, sem conseguir se levantar imediatamente. 

    Com os dois homens avançando para terminar o trabalho, suas lâminas brilhando sob a luz da lua, a sensação de morte pairou no ar. Eles ergueram as espadas, prontos para matar, quando uma figura apareceu acima de Marco, interrompendo a cena. 

    — Acho que o meu convite para a festa se perdeu… — A voz soou divertida. 

    Marco olhou para cima: Luminor Mandilyn estava de pé na muralha, sorrindo. Ele observou os dois homens com um olhar calculado, sua mão segurando uma lança por sobre os ombros. 

    — Droga, é um general! — O primeiro homem exclamou, o pânico invadindo sua expressão. Ele começou a olhar freneticamente ao redor, procurando por uma saída. 

    — Bem, agora é lutar ou morrer. — O segundo homem murmurou, seu rosto cheio de resignação. Ele sabia que suas chances eram mínimas, mas não havia escolha. A luta era sua única opção. 

    Os dois se prepararam, suas lâminas prontas para cortar. Mas antes que pudessem agir, Luminor desapareceu da vista de ambos. O primeiro homem nem teve tempo de reagir quando Luminor apareceu à sua frente, usando a parte de trás de sua lança com uma precisão mortal para acertar o homem na barriga. O golpe foi brutal e certeiro, fazendo o ar sair de seus pulmões de maneira violenta. Ele se curvou, incapaz de respirar. 

    Antes que o segundo homem pudesse sequer se virar para ver o que havia acontecido com seu companheiro, Luminor, apareceu por trás dele golpeando sua nuca com a mesma rapidez letal. O homem desabou no chão, caindo inerte antes que qualquer som pudesse escapar de sua boca. 

    Luminor olhou para Marco, com um sorriso calmo e despreocupado. 

    — Lou-reen não tá cumprindo a parte dela de te proteger tão bem, hein? — Ele disse, zombando de uma maneira que parecia não se importar nem um pouco com a luta que acabara de vencer. 

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