Capítulo 16: Bruxa do Massacre (6)
“Espera! Você nem tem uma espada!”
“Tenho mais uma.”
Jaehwan puxou uma espada de sua mochila dimensional. Era a Espada do Dragão que ele conseguiu no 88º andar da Torre dos Pesadelos.
Mino gritou, “Isso não vai ser suficiente…!”
A luta eclodiu antes que ela pudesse terminar. Os Adaptadores avançaram juntos de uma só vez. Eram ataques de várias armas em uma sequência contínua. Algumas tinham até habilidades especiais que Mino reconheceu.
‘Golpe Quatorze do Rei do Fogo…!’
Era a habilidade principal do Clã do Rei do Fogo, um dos Dez Clãs do Caos. Se treinada ao extremo, permitia que a arma controlasse fogo e queimasse tudo ao redor.
‘Então, o clã do Rei do Fogo realmente vendia habilidades para os clãs inferiores…!’
A floresta começou a arder. O fogo do Rei do Fogo queimava tudo em seu caminho, e a raposa enlouquecida corria selvagemente por ali. Jaehwan se preparou.
Mino sabia o que ele tentava fazer. Precisava detê-lo.
Um simples [Estocada] não seria suficiente para derrotar o Golpe Quatorze do Rei do Fogo.
Mas Mino não conseguia acreditar no que via. Seus cinco sentidos não acreditavam. A lei do tempo estava sendo distorcida diante de seus olhos.
[Vazio]
Mino, que estava ao lado de Jaehwan, conseguiu ver aquilo por apenas um breve instante. As espadas que se dirigiam a Jaehwan desaceleraram, e ele passou por elas sem esforço.
‘…Estou sonhando?’
Nenhum dos ataques conseguiu atingir o corpo aparentemente frágil de Jaehwan. Era como se ele não existisse.
[Suspeita]
Entre as armas, havia um caminho que só Jaehwan podia ver. Uma linha que só era visível para quem desconfia do mundo. A espada de Jaehwan se moveu.
Foi uma estocada, uma simples estocada.
Não foi nada grandioso, mas com um movimento preciso e ritmado, a lâmina cortou os corpos dos inimigos. Um clarão iluminou a escuridão. Seis membros da Raposa Vermelha viraram pó.
“DROGA! MATEM ELE!”
Os demais entraram em pânico e começaram a atacar em duplas. O Golpe Quatorze do Rei do Fogo veio de todos os quatro lados, formando uma cela de fogo. Era um ataque contra o qual ninguém teria chance.
Mesmo assim, Jaehwan saiu dali ileso.
“…Como?”
Havia mais do que apenas ele sair ileso do fogo.
[Compreensão]
O fogo agora se reunia na ponta da lâmina dele, como se realmente tivesse origem ali. Algo ruim estava para acontecer. Klant, a Raposa Negra, gritou sentindo um ataque se aproximar.
“Todo mundo, se proteja!”
Então Jaehwan avançou com a estocada. Mas não foi uma simples estocada.
O ar foi sugado, e o silêncio cresceu. Naquele breve instante, Klant e os outros Adaptadores sentiram a respiração travar e o peito apertar. Klant já havia sentido isso algumas vezes na vida.
Era quando se estava diante de um Líder dos Dez Clãs, o mais forte do Caos.
Quando o ar explodiu, a chama disparou. Floresta e humanos arderam enquanto eram varridos pela tempestade de fogo. Gritos foram abafados pelas explosões e pelas árvores partidas, e se dispersaram.
O que restou após o fogo foi cinza queimada.
Mino assistiu tudo, do começo ao fim.
Foi quando ela entendeu. Jaehwan tinha dado o corpo do bihorn não porque fosse um tolo. Ele emprestou sua Arma Espiritual não porque fosse um tolo. O motivo de não ter fugido mesmo cercado por tantos Adaptadores não era por tolice.
Ele simplesmente era forte demais.
Klant, que mal conseguiu se esconder atrás das árvores, murmurou:
“…De onde apareceu um homem assim?”
Ele recebera um relatório dizendo que um tolo havia vindo com uma ‘Arma Espiritual’ enquanto ia para a [Caçada à Bruxa]. Mas não era um tolo; era um monstro. Depois de bloquear o Golpe Quatorze do Rei do Fogo, ele desmontou a habilidade e a devolveu com um ataque ainda mais poderoso. Um único golpe destruiu metade de sua equipe.
Defender uma habilidade de nível médio era possível para um Adaptador de 3ª fase, mas desmontar e devolver um ataque assim era algo nunca visto. Klant nem conseguia imaginar o quão forte era aquele homem.
Kanghun gaguejou ao ver Klant olhando para ele.
“I-isso não pode ser verdade!”
“Recuem!”
Kanghun cerrou os dentes.
“Eu tenho a Arma Espiritual! Com ela, provavelmente posso derrotá-lo!”
Klant lançou um olhar para a espada negra que Kanghun alegava ser uma Arma Espiritual e balançou a cabeça.
“Não. Ele é forte demais.”
“Isso não é verdade!”
Kanghun então investiu contra Jaehwan. Ele avançava através do fogo e Kanghun usou sua melhor habilidade para atacar. A arma era poderosa o bastante para matar um bihorn com uma estocada. Com essa arma, ele certamente…
Seu ataque foi facilmente desviado. Só se ouviu o som da arma cortando o vazio. Kanghun sentiu sua energia esvair enquanto Jaehwan segurava a lâmina sem esforço.
“Como?!”
Kanghun não conseguia entender. Afinal, ele tinha passado por muita coisa: depois de se formar na Torre, percorreu as <Grandes Terras> e chegou ao <Caos>, treinou suas habilidades e conquistou seu status… ele suportou muito.
Kanghun lembrou do Poder Espiritual de Jaehwan.
“[Poder Espiritual: 154]”
A média dos Adaptados de 1ª fase era cerca de 1000, então era quase nada.
“Como você conseguiu com tais status…”
Os olhos de Jaehwan se estreitaram.
Já fazia um tempo desde que ele ouvira isso. Houve uma época em que se esforçava para aumentar seus status e subir de nível. Esses tempos eram seus dias na Torre. Ele trabalhou duro para melhorar seus status e reunir equipamentos melhores. Jaehwan entendia Kanghun, por isso podia falar com ele.
“Por isso você é fraco.”
“…O quê?”
Jaehwan se aproximou. Ao se aproximar, Kanghun recuou assustado. Não conseguia entender a profundidade nos olhos de Jaehwan. Não era algo compreendido por números ou status. Quando Kanghun voltou a si, estava ajoelhado. Jaehwan estendeu a mão e pegou a espada de Kanghun, apontando-a para os membros fugitivos da Raposa Vermelha.
Estocada. Mas era algo muito mais sério. Era como se ele estivesse demonstrando o que era usar a habilidade.
Kanghun tremeu, sabendo o que iria acontecer.
“…Q-quem é você?”
Quando seus olhos se encheram de desespero, uma luz disparou da lâmina, uma energia poderosa e feroz, como se fosse contra o próprio mundo. Klant, que corria distante, olhou para trás chocado, mas já era tarde demais.
“Eu não acredito…”
Klant caiu no chão, com um buraco no peito. Sons semelhantes ecoaram pela floresta.
Essa foi a última coisa que Kanghun viu.
Durante a noite escura, uma fogueira foi acesa. Mino olhou para o céu escuro e relembrou os velhos tempos.
‘Mino, você não serve para ser assassina.’
Foi o que ouviu do líder após sua primeira falha. Não, era o que sempre ouvia toda vez que falhava. O líder sempre dizia que seu ponto fraco seria sua ruína.
Ela queria negar.
Por isso, aceitou pedidos pessoais mesmo quando era proibido. Intencionalmente pegava trabalhos difíceis, como eliminar bandidos e criminosos, esperando aprender a ser fria com isso. Depois de meio ano caçando vários criminosos, conquistou até o título “Bruxa do Massacre”. Mas hoje queria perguntar,
“Ei líder, você sabe que eu estou viva porque não ajo como uma assassina?”
Ela então se voltou para Jaehwan, que alimentava sua arma com o equipamento recolhido. Ele era misterioso.
“Quem é ele?”
A luta ainda pairava em seus olhos. Nunca tinha visto uma luta assim antes. Era uma vergonha ter oferecido deixá-lo fugir.
“Ei.”
Mino hesitou, mas logo decidiu chamar Jaehwan.
“O que você realmente é?”
Jaehwan olhou para ela e voltou a olhar para sua espada.
“Você pode me dizer? Por favor?”
“Sobre mim? Hmph.”
Jaehwan olhou para Mino e sorriu. Começou a falar.
“Você já sabe sobre mim.”
“…O quê?”
“Esqueceu?”
Parecia decepcionado, e Mino ficou confusa. Não lembrava dele ter falado sobre si mesmo. Enquanto pensava nisso, Jaehwan balançou a cabeça.
“Infelizmente, parece que você também perdeu a memória.”
“Hã?”
“Pelo menos não sou o único que perdeu a memória.”
Mino percebeu algo e respondeu atônita.
“Uau… você… você realmente…”
Ela não imaginava que ele devolveria o que ela fez hoje, naquele momento. Mino riu.
“Que vergonha.”
Jaehwan não respondeu.
“Me devolva minha pedra.”
“Eu não tenho.”
“Hã? Por quê?”
“Porque eu perdi.”
“O quê? É cara! Como perdeu?”
Jaehwan não respondeu enquanto Mino continuava falando. O som da espada consumindo o equipamento e a voz de Mino ao lado dele eram, de alguma forma, muito pacíficos. Parecia que Jaehwan havia viajado para o tempo que ele perdeu. Uma brisa fresca balançava seus cabelos e Jaehwan olhou para o céu.
Era interessante. Havia céus e estrelas. Jaehwan pensou que o que ele buscava talvez fosse como o céu noturno. Algo que pudesse provar que ele era humano neste mundo irreal.
“Você realmente quer saber sobre mim?”
Mino parou de falar de repente.
“Então escute com atenção.”
Mino assentiu ansiosa, e Jaehwan falou:
“Eu sou humano.”
“…Está brincando?”
Mino tentou gritar, mas Jaehwan perguntou:
“E VOCÊ é humana?”
“Claro que sou! Quero dizer…”
Jaehwan sorriu.
“Então isso é suficiente.”
“O quê?”
“É suficiente.”
“Como assim…”
Mino tentou perguntar mais, mas esqueceu o que iria dizer ao olhar para Jaehwan. Nunca tinha visto um homem que parecesse tão solitário. Ao observá-lo por um momento, entendeu. Talvez ele estivesse certo. Talvez isso bastasse.
Jaehwan colocou a mão no bolso. Havia uma pequena pedra entre seus dedos. Era pequena, mas bem trabalhada. Fria, mas com realismo denso. A pedra que só te leva ao presente, a pedra que diz que o lugar para onde você deve voltar é apenas o presente.
Jaehwan então sonhou com os velhos tempos, antes da Torre dos Pesadelos aparecer. Antes de ninguém tentar voltar ao passado. Era duro e às vezes cheio de desespero, mas ninguém voltava ao passado.
Um mês após escapar da Torre.
Jaehwan encontrou um humano pela primeira vez.
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