Capítulo 7 — A História que os Livros não Contam
Alguns dias se passaram e o sol brilhava intensamente sobre a capital de Pyronia naquela manhã. As ruas estavam agitadas com o movimento dos cidadãos, comerciantes, e nobres, todos ocupados com seus afazeres diários. Edward caminhava entre eles, acompanhado por seu pai, Haruki, e seu avô, Hiroshi. A presença imponente dos três não passava despercebida. Todos os três tinham o inconfundível cabelo vermelho e os olhos âmbar que definiam a linhagem da família Ignivor. As pessoas os reverenciavam com olhares e saudações respeitosas.
Hiroshi, apesar de estar em seus sessenta anos, mantinha uma postura ereta e vigorosa. Seus cabelos, embora tingidos por alguns fios brancos, ainda brilhavam como fogo sob o sol. Seu rosto exibia marcas do tempo e das batalhas, mas seus olhos âmbar tinham o mesmo brilho intenso de quando era jovem. Ele usava um casaco longo de couro, sua típica vestimenta de um aventureiro veterano, e sua espada estava presa firmemente ao cinto, um lembrete constante de sua experiência nas artes da guerra.
Haruki, pai de Kaito, tinha cerca de quarenta anos, e carregava uma aparência similar à de seu pai, embora com uma postura mais calma e controlada. Seus olhos âmbar sempre estavam atentos aos arredores, refletindo a prudência de alguém que havia passado a maior parte de sua vida como diplomata, mas que, nas veias, ainda corria o sangue de um guerreiro.
Edward, por sua vez, sentia-se orgulhoso de estar ali com eles. Seu aniversário de quinze anos estava a apenas dois dias de distância, e a ansiedade por se tornar oficialmente um adulto no reino era palpável. Ele havia crescido ouvindo as histórias gloriosas de seu avô, e agora estava prestes a forjar sua própria lenda.
– Você já ouviu a verdadeira história do continente de Crystalia, Edward? – Hiroshi perguntou de repente, quebrando o silêncio enquanto caminhavam pelas ruas.
– Sim, vovô. – Edward respondeu prontamente.
– Todo mundo sabe. Há cerca de quinhentos anos, o continente foi invadido por um homem misterioso montado em um dragão. Ele trouxe consigo um exército enorme de monstros e quase dominou tudo.
Hiroshi sorriu, balançando a cabeça em concordância.
– Sim, essa é a versão que todos conhecem. Mas há detalhes que poucos conhecem, detalhes que não estão nos livros de história – ele disse, com um tom misterioso na voz. – Deixe-me contar como tudo realmente aconteceu.
Edward olhou para seu avô com curiosidade. Ele já ouvira muitas histórias de batalhas e heróis, mas sempre havia mais por trás do que era contado nas salas de aula da Academia Real.
– Quinhentos anos atrás – Hiroshi começou –, o continente de Crystalia não era dividido em reinos como conhecemos hoje. Não existiam Imperion, Drakmor, Regálius, Aethernia, Luminára ou Zephyrus. O que existiam eram tribos. Tribos que lutavam entre si constantemente, governadas pelos mais fortes, os líderes guerreiros.
– Mas tudo mudou quando esse homem misterioso chegou – Haruki continuou, completando o raciocínio do pai. – Ele veio de além do mar, além do que os olhos podiam ver. Montava um enorme dragão, e com ele trouxe um exército de monstros que ninguém nunca tinha visto antes.
Hiroshi concordou – Esse homem desembarcou primeiro nas águas de Luminára. Em pouco tempo, ele começou a conquistar tribo após tribo, avançando pelo continente. Ninguém sabia de onde ele vinha ou o que realmente queria, mas uma coisa era clara: ele tinha o poder de destruir tudo em seu caminho.
– Esse homem… ele usava magia, certo? – Edward perguntou, com os olhos brilhando de curiosidade.
– Sim. Mas não era uma magia comum
– disse Hiroshi, sua voz mais grave agora. – Ele controlava chamas negras, uma magia rara e devastadora. O segredo de seu poder vinha de uma pedra negra que ele carregava. Essa pedra amplificava sua magia de fogo e a transformava em algo sombrio, destrutivo, como a própria escuridão.
Edward franziu o cenho. – E como ele foi derrotado?
– Depois de anos de guerras e incontáveis perdas, as sete maiores tribos se uniram para enfrentá-lo – Hiroshi explicou. – Juntas, formaram um exército de dois milhões de guerreiros. Mas mesmo com números tão grandes, não teriam vencido sem a ajuda de oito heróis. Homens e mulheres que dominavam a antiga magia com perfeição. Eles lutaram por dias e noites sem cessar contra esse inimigo e, finalmente, o derrotaram.
Edward estava fascinado. Ele conhecia a lenda dos oito heróis, mas nunca ouvira a história dessa maneira. No entanto, algo ainda o intrigava.
– E a pedra negra? O que aconteceu com ela? – ele perguntou.
Hiroshi olhou para o neto com um sorriso enigmático.
– Ah, isso é o maior mistério. Um dos heróis, um poderoso mago das chamas, sabia da existência da pedra. Ele a tomou para si, escondendo-a dos outros. Ninguém sabe por quê. Desde então, a pedra desapareceu, e sua existência não é mencionada nos livros de história. Mas quem conhece as histórias antigas, sabe que ela ainda está em algum lugar.
Edward sentiu uma onda de perguntas surgirem em sua mente, mas antes que pudesse verbalizá-las, Haruki o interrompeu.
– Não se preocupe com essas lendas agora, Edward. Você tem um aniversário para se preparar.
Eles riram, e o trio continuou a caminhada pela cidade, mas a história contada por seu avô permaneceu em sua mente, como uma sombra que se recusava a se dissipar.
Enquanto isso, na mansão Ignivor, a atmosfera era completamente diferente. O grande salão estava em pleno alvoroço, com criados entrando e saindo, carregando decorações e arranjos florais, enquanto as mulheres da família se reuniam para discutir os últimos detalhes da festa de Edward.
Lianna estava ao lado de Eiko, a avó de Edward, e Akari, sua futura sogra. Ela adorava passar tempo com as duas, que a tratavam com carinho desde que ela era pequena. Junto com elas estavam Sofia e Mirya, suas melhores amigas. As três estavam animadas com os preparativos, enquanto Akari coordenava com os criados e Eiko verificava os detalhes com uma precisão impressionante, apesar de sua idade.
– Esta festa vai ser incrível, Lianna!
– exclamou Sofia, sorrindo enquanto segurava um buquê de flores. – Não acredito que Edward já vai fazer quinze anos. Vocês dois cresceram juntos, né? Quando foi que começaram a namorar?
Lianna riu, suas bochechas ficando levemente coradas. – Bom, nós sempre fomos próximos, mas acho que só percebemos que gostávamos um do outro há uns dois anos. Foi algo natural, eu acho.
Mirya, que até então estava distraída com uma bandeja de doces, levantou os olhos com interesse. – Ah, fala sério, Lianna. Sempre soubemos que vocês iam acabar juntos. Kaito sempre foi muito protetor com você.
– É verdade! – concordou Sofia, sorrindo maliciosamente. – Eu lembro dele te defendendo de alguns garotos quando éramos mais novas. Ele era tão sério.
Akari e Eiko riram com a lembrança, enquanto Lianna tentava esconder o embaraço.
– O Ed sempre foi teimoso e protetor
– admitiu Akari, com um sorriso carinhoso. – Ele tem o coração no lugar certo, mesmo que às vezes seja um pouco cabeça-dura.
– Ah, eu sei bem como ele pode ser teimoso – brincou Lianna, sorrindo.
– Mas é por isso que eu gosto dele. Ele pode ser difícil, mas também é muito gentil quando quer.
– Parece que a festa vai ser não apenas um marco na vida de Edward, mas também na vida de vocês dois – comentou Eiko, dando um olhar significativo para Lianna. – Já estão praticamente noivos.
– Exatamente! – Sofia piscou, claramente adorando provocar Lianna. – E quem sabe… depois da festa, ele pode fazer o pedido oficial?
Lianna tentou disfarçar o sorriso que surgiu em seus lábios com a ideia. A verdade era que ela já imaginava esse momento há algum tempo, e, embora não quisesse apressar as coisas, a ideia de um futuro com Edward era algo que a enchia de felicidade.
Enquanto a conversa continuava, o salão da mansão Ignivor tornava-se cada vez mais cheio de vida, refletindo a expectativa e a alegria que envolviam a chegada do grande dia.
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