Capítulo 18 - Reunião
***
Em um local distante da escola, dentro de uma sala escura, havia uma mesa longa com uma lâmpada fraca, iluminando apenas os arredores da mesa.
O silêncio tomava conta do ambiente. Duas cadeiras, duas pessoas. Um assunto sério estava em pauta.
Na cadeira à esquerda, havia um homem bastante misterioso, com um estilo sombrio. Seu terno era preto, de uma tonalidade tão intensa que até sua gravata se confundia com a escuridão. Por conta da iluminação fraca, era difícil ver seus traços.
— Esse menino se chama Yuki Hikaru. Pelos registros, só existe uma família com o sobrenome Hikaru. E o mais interessante: nos arquivos da primeira geração da ESA, há uma garota com o mesmo sobrenome. Ela foi prioridade nos experimentos.
Na cadeira à direita havia outra pessoa, com um estilo completamente oposto. Ele vestia um terno roxo chamativo, elegante e luxuoso — estava na cara que era de alta classe. Cruzou os braços e perguntou:
— Hikaru! Esse sobrenome é familiar na nossa indústria. Mas é um sobrenome que carrega lacunas. Qual o nome completo da garota?
O homem misterioso inclinou-se para frente, permitindo que a luz revelasse seu rosto: era o diretor da escola ESA.
— O nome dela é Mizuki Hikaru. Foi a única, até hoje, na escola, a ter 100% das células afetadas pelas partículas Oni. Isso a fez ser considerada a joia da primeira geração. — disse o diretor, com um tom de empolgação na voz.
O homem de terno roxo ouviu atentamente, franzindo a testa. Estava claramente surpreso com a revelação.
— Ah, sim, Mizuki Hikaru! Já ouvi esse nome circulando na minha empresa, mas só em boatos… sabe como é, fofocas de peões!
— Vocês não sabem porque a direção da primeira geração ocultou todas as informações sobre ela. Mas eu tenho os documentos originais daquela época. E, pelo que vejo aqui, há uma grande chance de esse menino ser filho dela.
— Isso é intrigante! Se for confirmado que esse garoto é filho dela, isso significa que Mizuki conseguiu esconder os efeitos colaterais. Isso pode mudar completamente o rumo das nossas pesquisas… e do nosso governo!
O diretor fixou os olhos no homem à sua frente, e havia um brilho arrepiante em seu olhar.
— Sim… se ele for mesmo filho de Mizuki, herdou pelo menos 90% das partículas Oni. O impacto disso é imenso para nossos objetivos.
— Exato! Claro que isso será um grande avanço para o governo, mas o que importa mesmo é o futuro da ESA e das Indústrias Cronwell! O dinheiro que podemos ganhar com esse garoto é inimaginável! HAHAHA! — disse o homem de terno roxo, com um sorriso largo.
O diretor não achava tanta graça. Algo parecia incomodá-lo.
— Tem algo me preocupando… — disse ele, folheando os documentos. — Aqui diz que Mizuki tinha uma habilidade única: ela conseguia esconder as partículas dos detectores! E se ele conseguir fazer o mesmo?
O homem sorriu de forma enigmática, sem qualquer emoção aparente.
— Não se preocupe com isso. Deixe essa parte comigo. Sua única função agora é garantir que ele esteja confortável na escola. Sem chamar atenção demais. Quando as partículas Oni despertarem nele, você me avisa imediatamente.
— Devo avisar sua esposa também? — perguntou o diretor.
— Não é necessário! Nossa única prioridade agora é garantir que ele não descubra nada. Quando chegar o momento certo, realizaremos o experimento primordial sem que ele perceba.
A voz do homem era fria e calculista, como se cada detalhe já tivesse sido pensado.
O diretor, percebendo a seriedade, fez uma reverência e respondeu com firmeza:
— Entendido, Senhor Cronwell. Farei o necessário para mantê-lo seguro. Tenho até algumas… peças para isso.
— O que você está planejando? — perguntou Cronwell, estreitando os olhos.
— Nada fora do normal. Você me conhece, eu adoro testar os limites dos meus alunos. Nada melhor do que ver alunos inteligentes sofrendo com meus testes! — disse o diretor, com orgulho na voz.
— Entendi. Mas agora que terminamos o assunto principal, vamos falar de outro assunto importante.
O homem de terno roxo pegou um papel de dentro do paletó e colocou sobre a mesa.
O diretor pegou o papel com cuidado, sem nem perguntar o que havia nele. Era uma folha A4 dobrada.
Com calma, abriu o papel e começou a ler.
— Não acredito! — murmurou o diretor.
Ele largou o papel sobre a mesa e se levantou da cadeira.
O homem fez o mesmo.
— Então quer dizer que eles começaram a fazer os experimentos? — indagou o diretor.
— Infelizmente, sim! O governo está inquieto e hostil. Depois do Japão anunciar internamente a evolução cinzenta de seus exércitos, nosso Rei ameaçou o presidente e ordenou que os experimentos fossem feitos às pressas!
— Quanta imprudência! Ainda faltavam alguns ajustes nas amostras. Assim os testes vão falhar, e como consequência vamos perder materiais importantes! — disse o diretor, em um tom preocupado.
— Você tem toda razão diretor, falta alguns ajustes sim. Mas você conhece o Rei. Ele é burro e desinformado. Eu, por outro lado, sou mais inteligente. — disse o homem, ajeitando a gravata.
A sala continuava mergulhada na escuridão, mas isso não parecia incomodá-los.
O diretor caminhou até a janela, coberta por uma cortina roxa bordada com listras douradas. Puxou uma pequena parte para observar lá fora, deixando a luz revelar parte de seu rosto.
— Entendi agora… você quer tomar o lugar do Rei, não é? — perguntou o diretor, fitando o exterior.
— Eu? Não sei de nada disso. Sou apenas um trevo escondido em uma grande floresta! — respondeu Cronwell, com sarcasmo e um ar filosófico.
— Hm… entendo! Mas cuidado… até mesmo um trevo de cinco folhas pode ser encontrado e arrancado!
O diretor se retirou da sala, deixando Cronwell sozinho em meio à escuridão.
— O problema… — murmurou Cronwell, com um sorriso frio — é que um trevo de cinco folhas não é encontrado por acaso. Ele é sempre amaldiçoado.
Ele pegou o papel que o diretor havia deixado sobre a mesa e o rasgou em quatro partes, deixando os pedaços caírem lentamente sobre a madeira. Seus olhos, refletindo a luz fraca da lâmpada, brilharam com uma intensidade quase diabólica.
— Yuki Hikaru… — disse, quase como um sussurro, mas com a firmeza de uma promessa. — Você será a chave. Seja para a salvação… ou para o caos.
Um vento súbito balançou a cortina roxa, e a luz vacilou, deixando Cronwell imerso na penumbra. A última coisa que se ouviu naquela sala foi sua risada baixa e contida, ecoando como um presságio de algo que estava prestes a mudar.
Enquanto isso, na rotina escolar, Yuki Hikaru seguia sua vida de forma simples, jogando um jogo de tabuleiro com seus novos vizinhos, sem saber o que o aguardava.
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