Hiroshi e Haruki Ignivor deixaram o Palácio Real de Imperion em silêncio, atravessando os portões principais enquanto os guardas os saudavam com reverência. O sol da manhã já estava alto, banhando a cidade com seu calor dourado, mas a mente de ambos estava mergulhada nos preparativos para a missão.

      Hiroshi ajustou a capa rubra que usava sobre os ombros e virou-se para o filho. Seus olhos âmbar, tão marcantes quanto os de Haruki, brilhavam com determinação.

    – Haruki, a missão é urgente, e o tempo está contra nós. Vou até a cidade comprar os suprimentos para a viagem.

    Haruki concordou, com os braços cruzados sobre o peito enquanto ponderava os próximos passos.
    – E quanto a mim?

    – Você deve voltar para casa e organizar as coisas para a viagem – respondeu Hiroshi, seu tom prático. – Reúna uma pequena cavalaria da Casa Ignivor. Não mais do que vinte homens. O grupo precisa ser ágil e discreto, mas forte o suficiente para repelir bandidos.

    Haruki inclinou a cabeça, refletindo sobre as ordens do pai.
    – Hizuke estará esperando pelo senhor em Fiamoria. Ele conhece bem o território e já deve ter reforçado as defesas.

    Hiroshi esboçou um sorriso discreto, mas de leve orgulho.
    – Hizuke é um bom líder, apesar do que certos “idiotas” gostam de insinuar. Ainda assim, não podemos correr riscos. É uma questão de honra e segurança para Imperion.

    Haruki suspirou, passando uma mão pelos cabelos avermelhados que o destacavam como um Ignivor.
    – Certo. Irei agora mesmo. Cuidarei de tudo.

    – E lembre-se – Hiroshi tocou o ombro do filho, seus olhos fixos e firmes – não confie em ninguém além dos nossos homens. Essa missão não se limita apenas à escolta do imperador. Existe algo maior acontecendo, e sinto que a estrada pode nos trazer mais respostas.

      Haruki concordou  novamente, e os dois trocaram um breve aperto de mão antes de se despedirem. Hiroshi virou-se em direção à movimentada rua da capital, enquanto Haruki montava em seu cavalo, já imaginando os preparativos que teria de coordenar.

      No final da tarde, Hiroshi retornou à mansão Ignivor com um pequeno sorriso no rosto. Ele havia conseguido reunir os suprimentos para a missão.

      Ao entrar na sala de estar da mansão, Hiroshi encontrou Haruki designando tarefas a um dos cavaleiros.

    – Tudo está correndo como planejado – Haruki disse ao notar a presença do pai. – E quanto à sua parte?

    – Eu consegui tudo – respondeu Hiroshi, com uma pitada de satisfação. – Comprei poções de cura comida e água pra viagem com isso nossas chances aumentam significativamente.

    Haruki sorriu de canto.

    – Certifique-se de que partiremos ao amanhecer. Não podemos nos atrasar– completou Hiroshi 

      Haruki fez um breve aceno, enquanto Hiroshi se retirava para descansar. A missão estava prestes a começar, e ele sabia que cada decisão que tomava agora poderia determinar o sucesso ou o fracasso na estrada à frente.

      Ao andar pela mansão, Hiroshi encontrou Kaito no salão principal, sentado próximo à lareira, os olhos âmbar brilhando à luz do fogo crepitante. Apesar da serenidade aparente, Hiroshi sabia que o neto estava inquieto. A postura rígida e as mãos inquietas denunciavam sua preocupação.

    – Kaito – chamou Hiroshi, sua voz firme, mas carregada de um tom paternal. – Venha comigo.

      Sem questionar, o jovem levantou-se e seguiu o avô. Eles atravessaram o corredor da mansão, passando por guardas posicionados em pontos estratégicos, um reflexo direto da cautela de Hiroshi após o confronto com Saito. O jardim dos fundos da mansão era extenso, ladeado por altas cercas de ferro e flores que exalavam um perfume suave. O som do vento e o farfalhar das folhas criavam um ambiente tranquilo, mas a tensão pairava entre eles.

      Hiroshi parou próximo a uma fonte ornamentada e virou-se para o neto, seus olhos fixos nos de Kaito.

    – Sabe por que coloquei tantos guardas aqui? – perguntou, com as mãos cruzadas atrás das costas.

    Kaito hesitou por um momento antes de responder.
    – Por causa do Duque Saito. Ele… ele nos ameaçou, não foi?

    Hiroshi concordou lentamente, sua expressão grave.
    – A ameaça de Saito é real, Kaito. Ele é um homem traiçoeiro, disposto a fazer qualquer coisa para atingir seus objetivos. Mas não são apenas as ameaças externas que me preocupam. Há algo maior em jogo.

      Kaito franziu o cenho, tentando compreender as palavras do avô. Hiroshi percebeu a confusão e suspirou, suavizando sua expressão.

    – A responsabilidade, Kaito, é um fardo pesado. Não importa o quão habilidoso você seja, ou quantas vitórias conquiste, sempre haverá desafios que exigirão mais do que força ou magia. – Ele colocou uma mão no ombro do neto, seus olhos suavizando. – Ser líder não é sobre o poder que você possui, mas sobre como usa esse poder para proteger os outros.

    Kaito abaixou os olhos, refletindo sobre as palavras.
    – Mas e quando alguém como Saito ameaça tudo o que você jurou proteger? Como posso respeitar alguém assim?

    Hiroshi respirou fundo, seu tom adquirindo um peso ainda maior.
    – Respeito não é algo que você oferece a todos, Kaito. Mas é algo que deve exigir de si mesmo. Não importa o que Saito faça ou diga, nunca desça ao nível dele. Se agir com impulsividade, você pode acabar sacrificando tudo o que importa.

    O jovem levantou os olhos, encontrando o olhar firme do avô.
    – Eu entendo, avô. Vou me lembrar disso.

      Hiroshi sorriu de leve, sua expressão carregando um orgulho silencioso. Por um momento, ele deixou a postura rígida de lado e passou o braço ao redor do ombro de Kaito, guiando-o pelo jardim.

    – Kaito, você é um Ignivor, e isso significa que carrega tanto as chamas da nossa força quanto a responsabilidade de mantê-las acesas. Mas saiba disto: nunca confie em Saito. Nunca. Ele é uma cobra esperando o momento certo para atacar. Se algum dia precisar enfrentá-lo, faça-o com sabedoria e cautela.

      Kaito concordou, absorvendo cada palavra. Ele sabia que o avô era um homem de poucas advertências, e essa, em particular, carregava um peso incomum.

      Os dois caminharam pelo jardim por mais alguns minutos em silêncio, cada um perdido em seus pensamentos. Quando voltaram para a mansão, Kaito sentia que algo dentro dele havia mudado. A conversa com Hiroshi não apenas o alertara sobre os perigos à sua volta, mas também o fizera enxergar a responsabilidade que vinha com o nome Ignivor.

      E, enquanto o crepúsculo envolvia a mansão em tons de vermelho e dourado, Kaito sabia que estava apenas começando a entender o peso do legado que carregava.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (1 votos)

    Nota