Capítulo 56: Sentimento sufocante
05 de janeiro de 2024, sexta-feira.
Matheus segue adiante, se despedindo brevemente de alguns funcionários, enquanto Victor foi abordado por outros.
— Você está bem? — Indagou Ana, uma mulher baixa e de cabelos castanhos claros.
— E quem é essa moça bonita? — Perguntou Isaque, um homem de corpo forte.
— Estou bem, obrigado. E essa é a Aki Yamada. Trabalhamos juntos na Elegance Affairs. — Respondeu em português.
Aki entendeu quando ele disse seu nome e da Elegance Affairs.
Victor tentou manter a conversa em um tom agradável e tinha certa liberdade com aqueles funcionários, e, em alguns momentos, ele conseguiu se afastar deles.
Não antes de ser interrogado por outros funcionários mais próximos. Inclusive, uma mulher mais velha o abraçou, com Victor sorrindo sem graça.
…
— Finalmente! — Exclamou, quando, enfim, estavam dentro do carro. — Não sabia que iam fazer todo esse alvoroço…
Victor se surpreendeu com a quantidade de funcionários que o cercaram, embora, não estivesse com raiva ou chateado. Foi apenas surpresa.
Aki continua conversando com Victor, perguntando coisas sobre a Pacca Consortium. Mas em sua mente, não conseguia se acalmar.
“O Victor parece tão bem aqui…” Pensava, mesmo que tentasse não o fazer. “Todos o acolhem e até o abraçam”
Diversos pensamentos se misturavam e ela tentava se controlar. Talvez pelo estresse de tantas informações recentes e a longa viagem, tivessem lhe deixando mais insegura.
Após finalmente chegarem ao hotel, eles ficam em suas respectivas camas.
…
Algum tempo se passa, quando Aki, enfim, quebra o silêncio:
— Aonde vamos hoje à noite exatamente? — Apesar de ter concordado, não sabia exatamente o que era, além de um bar.
— É um bar muito famoso aqui na cidade. Eu e o Matheus íamos muito lá antigamente… — Victor faz uma breve pausa, talvez lembrando-se de algo que não queria.
— Você gosta desse lugar? — Aki perguntou, com certa hesitação.
Victor se surpreendeu com a pergunta.
— Sim, eu gosto. É uma versão “grande” do bar “Flor-da-noite”. — Ele explica.
Aki fica empolgada, enquanto Victor falava mais sobre o lugar. Apesar das palavras de Victor, havia algo em seu tom que ela desconfiava.
Logo, vários pensamentos e suposições passaram por sua cabeça. “Talvez seja um local que ele frequentava com sua esposa”. Aki sentiu-se incomodada com isso, mas preferiu não falar sobre.
…
Aki estava sentada numa cadeira, junto de outras pessoas, numa mesa que cabiam todos confortavelmente.
Ela vestia um vestido azul-escuro de cetim, simples. Seu cabelo estava solto e usava um par de brincos dourados. Ao seu lado estava Victor, usando uma camisa branca e calça escura, além das pulseiras que sempre estava com ele.
Na mesa ainda estavam Matheus e Carla. Matheus estava com uma camisa preta e calça jeans, com um relógio no seu pulso. Carla estava com um vestido preto, com uma fenda discreta mais à direita. Seus cabelos loiros estavam soltos.
Além deles, estavam também João Baptista e Breno, também irmãos, e amigos de infância de Victor e Matheus.
João era magro e alto, trajando uma camisa azul-escuro e calça jeans clara e tinha um relógio em seu braço. Seu rosto era destacado pelo seu óculos e sua barba aparada.
Breno, seu irmão, era um homem não tão alto quanto o irmão, mas tinha mais corpo. Era mais novo e seu rosto se destacava pelos seus olhos verdes e bigode e cavanhaque aparados. Trajava uma camisa verde e bermuda de um tom claro.
A namorada de Breno também estava na mesa. Seu nome era Débora. Uma mulher de cabelos ruivos, olhos castanhos, trajando um vestido curto preto. Seu cabelo era cacheado, de tamanho médio e estava solto.
Ao chegarem, fizeram pedidos de bebidas. Breno, Débora e Matheus pediram uma torre de chopp. João Baptista pediu apenas refrigerante, não estava bebendo naquela semana. E Victor, Aki e Carla pediram vinho.
Além disso, foi servido uma porção de aperitivos. A conversa se prolongou em sua maior parte em português, mas Carla, Matheus e João conversavam com Aki em inglês, em conversas paralelas às que rolavam na mesa. Victor conversava com ela em japonês, agindo como um tradutor, quando Bruno ou a Débora queriam perguntar algo ou contar.
Apesar de todo esforço, Aki sentia-se deslocada. Todos estavam sendo gentis e atenciosos com ela, mas era como se não pertencesse a aquele lugar. Talvez pela diferença cultural, pelo clima completamente diferente daquela mesa com o que ela estava acostumada…
Ninguém ali parecia incomodado com ela. Todos riam, conversavam e contavam histórias. Perguntas sobre o cotidiano dela foram comuns no começo e depois começaram a fazer perguntas sobre como era o Japão.
Eram muitas novidades para todos ali. Tanto a presença de Aki quanto a presença dos outros para ela. A japonesa, em especial, queria saber várias coisas, embora não falasse tudo que queria. Ela se segurava em muitas perguntas.
Carla chama Aki e Débora para darem uma volta, para deixarem os homens sozinhos, e elas a seguem. As garotas vão em direção ao banheiro primeiro.
Enquanto isso, os homens continuaram na mesa.
— Victor, a Aki é muito bonita. Pode me apresentar ela? — João brincou, soltando uma risada.
— Não seja idiota. — Victor respondeu com falso desdém.
— Você até agora não entendeu a situação? — Breno comentou, dando um gole na sua caneca de chopp.
— O Victor jura que não tem nada. — Insistiu João, fingindo ser inocente.
— O João nem bebeu, mas parece ser o mais bêbado aqui. — Matheus implica, cutucando o amigo. — É óbvio que o Victor gosta da Aki, não reparou?
Victor foi atingido pelas palavras, sentindo seu coração saltando. Talvez pela surpresa em ouvir aquelas palavras… Ou por elas serem verdadeiras.
— Para com isso! — Victor respondeu, quase engasgando com o gole do vinho que bebia. — Já está completamente bêbado? — Perguntou, revirando os olhos.
Todos riem, após um instante de silêncio.
— Mas fala a verdade… Você vai mentir pra gente? — João se inclinou em direção a ele, como se o pressionasse a dizer.
Victor desvia o olhar para o outro lado do bar, fingindo não ouvir, enquanto bebeu mais um pouco da bebida.
— Deixa isso de lado, João. Ele sabe o que faz, né, Victor? — Breno indaga.
“Se eu sei o que estou fazendo? Sinceramente… Nem eu sei, Breno”, Victor respondeu em pensamentos, divagando ligeiramente.
Foi quando se iniciou um assunto sobre futebol e Victor agradeceu a Matheus por ter mudado o foco.
…
As garotas caminharam pelo bar lotado, hora ou outra, inevitavelmente, esbarrando em alguém ao passar por entre as mesas. Aquele bar era grande. Os banheiros ficavam mais ao fundo e era para lá que elas caminhavam.
O banheiro tinha o acabamento em porcelanato branco, com grandes espelhos nas paredes, logo acima dos lavatórios. Haviam várias cabines, cada uma com um sanitário. Era um banheiro limpo e organizado.
Carla e Débora conversavam sobre como era divertido estar naquele bar. Já fazia um bom tempo desde que tinham saído juntas. Carla servia de “ponte” na conversa, para deixar Aki dentro do assunto.
“Elas são tão gentis comigo”, Aki pensava, sentindo-se feliz pela recepção, embora tivesse com um receio no peito.
De frente aos espelhos, as duas brasileiras retocavam a maquiagem, enquanto Aki apenas passou mais uma camada de um batom discreto e depois ajeitava seu cabelo.
— Você não usa muita maquiagem, né? — Carla pergunta, despretensiosamente, enquanto conferia o rímel dos seus cílios.
— Eu prefiro, na maioria das vezes, só um batom mais suave e uma base. — Aki respondeu, ajeitando uma mecha de cabelo.
— E você gosta do Victor? — Débora perguntou, fingindo naturalidade. Quando Carla foi traduzir, riu, enquanto dava um cutucão na amiga.
Aki sente seu rosto queimar, não tendo para onde fugir ou olhar. Sentiu um frio na barriga, e ela tapou parte do rosto, envergonhada.
Carla se aproximou dela, passando um dos braços por cima de seu ombro.
— Não precisa ficar assim. Quero dizer, você viajou até o outro lado do mundo, em férias, com o Victor, certo? Acho difícil alguém fazer isso se não, no mínimo, ter muita consideração pela pessoa.
A japonesa continuava envergonhada, ainda pensativa.
“Posso confiar nelas?” Indagou, ainda pensativa, se poderia realmente desabafar com elas.
Esse sentimento, embora agradável, era como se a sufocasse. Ela não podia contar para ninguém que conversava, nem para Sayuri ou Yumi.
Vendo a cena que se desenrolou, Débora dá um tapinha nas costas de Aki.
— Tá tudo bem. Vamos apenas nos divertir por hoje. Vamos, vou te mostrar uma coisa legal. — Débora comentou, enquanto Carla ajudava na interpretação.
Aki confirma e as três saem juntas. O contraste nítido, ao passarem pela porta, dificultava os olhos a se acostumarem com a pouca luz, diferente do banheiro bem iluminado.
Carla segue na frente, com as três andando quase em fila, devido ao ambiente cheio.
Aki sentia como se estivesse vivendo, de alguma forma, um filme, ou um sonho. A sensação de estar andando naquele local completamente desconhecido, sendo guiada por duas pessoas que conheceu há pouco, embora fossem companheiras de pessoas de confiança de Victor, que ela também confiava muito.
Talvez pelo efeito de luzes piscantes em um determinado local do bar, que ela via pela visão periférica, ajudava a ter essa sensação. Sentia seu coração acelerado, mas de certa forma, era uma felicidade por estar acompanhada delas.
Aki sentiu seus sentimentos como se fossem conflitantes. Era desconfiança, medo ou alegria? Talvez um pouco de cada.
Mas seus pensamentos são interrompidos quando um homem, relativamente baixo, segura seu braço, fazendo uma sensação gélida atravessar seu corpo.
— Ei, gata, você não é daqui, né? — Perguntou, com um olhar firme, parando nos seios dela.
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