Capítulo 32 — Mudança de Planos
No topo de um edifício, Coruja estendeu o braço esquerdo para que sua Manifestação lhe mostrasse tudo o que havia acontecido. Ao ver as imagens, ele se surpreendeu e partiu imediatamente em direção ao esconderijo da Ordem. Precisava relatar com urgência todas as informações que havia reunido.
Assim que chegou ao local, exigiu uma reunião com todos os membros. O pedido foi aceito prontamente. Coruja estava inquieto em sua cadeira enquanto os demais se organizavam em seus lugares. Falcão foi o último a entrar. Sem dizer uma palavra, sentou-se na ponta da mesa e fez um sinal com a cabeça para que Coruja começasse.
— Queiram me desculpar por essa reunião de última hora, mas as coisas estão saindo de controle. — Começou ele, com a voz firme — Ao que parece, Coiote não matou o Kamito, e agora todos estão retaliando alguns Carniceiros e coletando informações sobre nossa movimentação. Dois deles foram vistos pelo distrito norte e os mais perigosos deles estavam aqui perto. Ao que parece, eles já sabem de tudo.
Coruja então projetou várias cenas com imagens de Raishi, Ruby, Ryruka e Yujiro enquanto prosseguia com suas explicações. Todas as operações estavam comprometidas por causa da atitude precipitada do Coiote. Ele lançou um olhar furioso em sua direção, enquanto o próprio Coiote parecia surpreso.
— Isso poderia ter sido evitado se o Coiote não fosse impaciente e tivesse me escutado! Agora estamos comprometidos graças ao seu erro!
— O que?! Vivo?! Isso é impossível! Eu o deixei para morrer! Não tem como ele ter sobrevivido! — gritou Coiote, socando a mesa e se levantando bruscamente — Era impossível ter sobrevivido, não com aqueles ferimentos!
A cadeira caiu para trás, enquanto ele encarava incrédulo as imagens de Kamito no hospital.
— Isso não ficará assim! — rugiu com ódio — Eu acabarei com ele agora! Nem tudo está perdido. Por favor, Falcão, eu prometo que vou consertar tudo. Me dê uma chance.
— Você já teve sua chance, e falhou. — Falcão respondeu com frieza na voz — Agora estamos comprometidos. Agir por impulso só prejudicará mais ainda nossos planos. O Coelho foi esperto… Ele sabia que, se nos confrontasse, nos encurralaria. Esperaremos seu movimento. Até lá, não faça mais nada, Coiote.
Falcão estava visivelmente irritado. Seus planos haviam sido prejudicados, e ele precisava tomar uma medida urgente antes que a estratégia de Raishi desse certo. Seu olhar se voltou para a jovem Camaleão, que o observava em silêncio. Então, finalmente, ele se decidiu.
— Mas não ficaremos apenas esperando que se movam. Camaleão, sua Manifestação é perfeita para isso. Eu quero que você lide com os dois que estão causando problemas no distrito norte. Se você os derrotar, estaremos com a vantagem, então não falhe.
— Pode deixar! Irei imediatamente! Não se preocupe, acabarei com eles! — exclamou a garota, levantando-se de um salto e batendo continência com entusiasmo.
Ela não conseguia esconder sua empolgação. Afinal, finalmente tinha recebido uma missão.
— Eu não sei se gosto dessa ideia. Dois contra um é muito arriscado até para ela. Não deveria mandar mais alguém com ela?! Eu sei do potencial da Camaleão, mas contra dois Manifestadores experientes?!
Rinoceronte questionou a decisão de Falcão, pois foi ele quem a treinou. Mesmo que a garota fosse forte e dedicada, era bem inexperiente em batalhas reais.
— Saiba que eu dou conta sim! Não sou fraca! Vou provar para você acabando com esses vilões!
Rebateu Camaleão, fazendo um leve bico e balançando os braços de forma dramática.
— Confie na minha escolha, Rinoceronte. — disse Falcão com firmeza — A Manifestação dela será a chave de nossa vitória, se ela conseguir lidar com os dois.
O mesmo realmente queria atrasar os planos de Raishi o máximo possível, e para isso poderia usar a Camaleão por um breve momento.
— E quanto ao Coiote?! — interveio Cascavel, com os olhos cravados em seu colega — Não podemos deixá-lo sair impune, até porque ele falhou na missão. Isso tudo é culpa dele. Ele precisa de uma punição.
Cascavel mantinha um olhar firme e desafiador. Coiote, por sua vez, não recuou. Retribuiu o olhar, com os punhos cerrados e o orgulho ferido. O clima na sala ficou tenso, quase sufocante. O atrito entre os membros da Ordem crescia a cada instante.
— Coiote pagará pelo seu erro. — Decretou Falcão — Caberá ao Coruja aplicar a pena. Enquanto isso, tenho outros planos para você, Cascavel. Para você também, Leopardo. Vocês irão ao Extra-Mundo.
Falcão se levantou, caminhou até a porta, deu a reunião por encerrada e chamou Cascavel e Leopardo para explicá-los a tarefa no Extra-Mundo. Os outros membros também saíram da sala, restando apenas Coruja e Coiote. Os dois se olharam sem dizer nada.
— Escuta, Coruja. Eu não vou repetir o mesmo erro. Se ele se recuperar, vou mandá-lo de uma vez para o inferno. Eu garanto. Dessa vez ele não escapará!
Coiote estava bastante irritado. Era a primeira vez que um alvo seu sobrevivia.
— Não, você não fará nada. Eu disse que me encarregaria de você se você nos prejudicasse. Você falhou, comprometeu os meus planos e quer me fazer acreditar que foi um engano?! Não, não, Coiote. Seus erros acabam aqui.
Coruja o encarava seriamente enquanto várias de suas corujas surgiam ao redor. Não desviava o olhar de Coiote por um segundo. Isso fez o jovem recuar lentamente até ficar encurralado contra a parede.
— Então é assim que as coisas serão?! Não tenho medo de você! Isso não será o bastante para me vencer! Eu estava mesmo doido para acabar com você! Prepare-se, Coruja!!!
Ele avançou contra Coruja, mas as corujas rapidamente tentaram impedi-lo. Coiote desviava facilmente de todas enquanto avançava, mas foi surpreendido por um ataque pelas costas, que o fez cair sobre a mesa e destruí-la.
— D-Desgraçado! Atacando pelas costas?! Que golpe baixo… até para você.
— Cale-se, Solum! — Coruja vociferou enquanto suas aves erguiam Coiote — Eu deixei claro que, se você nos prejudicasse, eu mesmo o mataria. Para a sua sorte eu não irei matá-lo, não agora. Você ainda é útil e eu pretendo que você corrija seu erro. Não ouse falhar de novo, me entendeu?
Como suspeitado, Coiote não era seu nome verdadeiro. Ao ser chamado de Solum, desviou o olhar enquanto tentava se soltar das corujas. Algumas delas formaram lâminas nos braços e começaram a cortá-lo. Gritos angustiantes de dor ecoaram por todo o esconderijo. Coiote tentava resistir, mas era impossível sair ileso daquela tortura.
Os gritos assustavam a jovem Camaleão, que tampava os ouvidos enquanto Rinoceronte tentava instrui-la sobre sua missão. Logo os gritos cessaram. Coiote estava desacordado no chão, enquanto Coruja o observava sem demonstrar nada. Apenas virou de costas e caminhou para fora da sala, o deixando ali largado. Mesmo sendo aliados, realmente não se importavam uns com os outros.
Em outra sala no prédio, Camaleão acabava de receber sua missão. Deveria se aproximar e neutralizar Yujiro sem que ninguém a notasse. Um trabalho teoricamente fácil para ela, já que sua Manifestação era a invisibilidade. Era necessário apenas esperar o momento certo para atacar, pois assim que ela saísse, todo o plano principal começaria.
Quatro dias haviam se passado e ambos os lados estavam se mobilizando por baixo dos panos. Era o sétimo dia de coma. Akane estava quase desmaiando na cadeira e o observava com os olhos quase fechando. Era uma manhã bela e ensolarada, o clima estava agradável, e a brisa que entrava pela janela a fez se entregar ao sono e finalmente dormir de cansaço. Ela dormia profundamente enquanto segurava a mão esquerda dele. Mesmo adormecida, não queria se afastar.
O tempo passava lentamente, como se nada estivesse acontecendo. Kamito podia sentir os raios de sol tocarem seu rosto, podia ver a luz em meio à escuridão. Seus olhos estavam pesados, mas ele se forçou a abri-los. Várias luzes e cores surgiram, a claridade o fez fechá-los e abri-los mais uma vez. Finalmente voltou a enxergar. Não conseguia identificar onde estava e, ao se mover, sentiu seu corpo inteiro doer.
Olhou na direção da janela e viu Akane dormindo ao seu lado. Ao vê-la, lembrou-se de tudo que havia acontecido e apenas a observou dormir. Seu estado era a prova de que não havia saído do lado dele em nenhum momento. Sem saber o que fazer ou dizer, sentou-se com dificuldades e cutucou sua bochecha delicadamente. Isso a fez começar a abrir os olhos.
— Bom dia, Akane — começou a dizer com a voz levemente arrastada devido ao coma — Acho que já estava na hora de acordar, não é? Desculpe por te preocupar. — disse, com um sorriso sem jeito. Não sabia qual seria a reação dela, ou se aquilo era apenas um sonho.
Ela o olhou sem acreditar, esboçando espanto e surpresa.
— K-Kamito?! V-Você acordou?! É real?! Ou eu estou sonhando?!
Ela se levantou assustada, sem saber o que fazer. Então tocou a mão estendida dele e, ao sentir sua pele, rapidamente avançou e o abraçou com força, começando a chorar. Ele retribuiu o abraço, tentando acalmá-la.
— Eu senti tanto a sua falta! Eu fiquei tão preocupada com você… Eu pensei que você nunca mais iria acordar… Você prometeu que nunca morreria, por favor não me deixe nunca mais!
— Me perdoe, Akane. Isso nunca mais irá acontecer. Eu nunca mais irei te abandonar. Eu não quero mais te ver chorar. Por favor, me perdoe. Eu prometo nunca mais te deixar.
Ele sorriu enquanto cuidadosamente a afastava um pouco e enxugava suas lágrimas. Ela estava bastante envergonhada e corada, mas mesmo assim não parava de olhá-lo, sem acreditar. Ele acariciou seu rosto lentamente, fazendo-a sorrir.
— Kamito, eu te amo… Eu não suportaria viver sem você. Eu te amo!
Akane o olhava completamente corada. Seu rosto estava incrivelmente lindo e ela sorria por finalmente conseguir dizer o que sentia. Ela o olhava de forma totalmente diferente.
— Não importa o que aconteça, eu sempre te amarei e estarei ao seu lado. Mesmo que o mundo nos odeie e mesmo que fiquemos sozinhos, eu sempre estarei ao seu lado! — disse a garota, que embora ansiosa, tinha firmeza na voz.
— Eu também te amo, Akane… — Kamito começou dizendo devagar, um pouco surpreso com a confissão dela, mas não menos feliz — Eu pude perceber o quanto te amava quando eu estava beirando a morte. Não importa o que aconteça, eu sempre te protegerei e estarei ao seu lado. Eu te amo!
Kamito sorriu envergonhado enquanto voltava a acariciar o rosto dela. Akane então fechou os olhos e repousou a cabeça em sua mão. Lentamente, ele deslizou a mão até o queixo dela e aproximou o rosto. Queria beijá-la. Era o que mais desejava naquele momento: sentir seus lábios.
— Oh, você acordou, Kamito! Que bom que finalmente acordou e que já estão se dando bem de novo. Bom, agora que você acordou, temos assuntos importantes a tratar.
No último momento, Raishi os interrompeu. Parecia que estivera ali o tempo todo, esperando a hora certa para estragar o momento especial.
— Acho que você vai querer dar o troco num certo alguém que te mandou para o hospital. Ou quer deixar isso de lado e tentar ter uma vida normal? Vou entender se essa for a sua escolha.
Por mais que estivessem envergonhados por quase se beijarem, as palavras dele chamaram a atenção de Kamito. Havia acabado de acordar, mas tinha um assunto inacabado, e pretendia dar o troco em dobro. Olhou Raishi seriamente, enquanto o outro apenas sorria.
Akane o olhou, já entendendo o que estava prestes a acontecer. Sem dizer nada, apertou a mão direita dele e assentiu com a cabeça, confirmando que tudo que dissera era verdade. Kamito a olhou sorrindo. Sabia que ela não tentaria impedi-lo de pôr um fim naquilo. Retribuiu o aperto, voltou a encarar Raishi e, sem dizer nada, apenas concordou com a cabeça, dando o sinal para ele começar a falar. Agora era a vez deles revidarem. Uma grande batalha estava prestes a começar.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.