Capítulo 21- Caminho do Parque.
Duas semanas depois
Já se passaram duas semanas desde que cheguei a esta escola. Durante esse tempo, aprendi muito sobre este lugar.
Algumas matérias são novas, mas muitas delas são apenas variações das que eu estudava em casa.
São conceitos básicos, mas com uma perspectiva diferente, que me fazem refletir de forma mais profunda.
Hoje vou ao depósito pegar minhas coisas, que estavam sob fiscalização. Não vejo a hora de finalmente resolver o cubo mágico da Emiko. Fiz uma promessa a ela — e eu não sou do tipo que quebra promessas.
Além disso, espero que meu anel esteja lá também. Se eu perder o anel que minha mãe me deu… não sei se conseguirei olhar nos olhos dela novamente. A vergonha seria demais para suportar.
TOC TOC
— Oi, Yukii! Acorda! Vamos logo pro depósito!
A voz que vinha da porta era, sem dúvida, de Arushi. Hoje, ele vai me acompanhar até o depósito e me mostrar o caminho, já que ainda não conheço muito bem a escola.
— Já estou indo, espera aí! — respondi apressado, me levantando da cama e me arrumando rapidamente.
Antes que eu esquecesse, peguei o presente de Okawara que ele me deu ontem.
— Vamos, Yuki! Não podemos perder tempo! Estamos de férias hoje, e eu tenho um monte de coisas pra fazer! Hahaha! —
Hoje começam as férias dos alunos da escola, e o fim do ano se aproxima. Isso significa que, no ano seguinte, eu começarei a estudar junto com outros alunos em uma sala cheia de gente nova, com novos professores… Confesso que isso me assusta um pouco, mas também me deixa empolgado. Algo dentro de mim anseia por essa mudança.
— Pronto, vamos! — respondi, fechando a porta do meu quarto.
No caminho até o depósito, Arushi me contou sobre alguns dos alunos que eu ainda vou conhecer. Ele parece ser muito popular, já que conhece quase todo mundo.
Agora fico me perguntando: como é que eu o conheci mesmo?
Nos conhecemos há apenas três dias.
Eu estava no mercado central, comprando mais biscoitos proteicos, quando acabei esbarrando nele.
De repente, estávamos conversando e, antes que eu percebesse, já éramos amigos.
— E as meninas aqui são muito bonitas… você gosta de meninas, Yuki? — perguntou ele, com os olhos fixos nos meus, um brilho curioso refletido neles.
Fiquei sem saber o que responder de imediato, então olhei para ele com um pouco de confusão antes de falar:
— Ah… sim? Bem, eu não entendo muito sobre isso. Eu só ficava com meus pais.
— Ahhh, entendi! Você ficou muito tempo com seus pais, né? Não teve muito contato com outras pessoas — disse ele, dando um leve tapa nas minhas costas. — Mas não se preocupa, Yuki! Aqui tem um monte de meninas lindas, e eu vou te ajudar a conhecê-las e lidar com elas! Hahaha!
— É… mas o que isso tem a ver com gostar delas? — perguntei, ainda curioso.
Ele me olhou como se tivesse visto algo estranho.
— Hmmm… você não sabe o que é beijo, né? E amor? Namorar? Ficar de mãos dadas? Abraçar? — perguntou, com uma expressão de surpresa e confusão no rosto.
— Bem, minha mãe beijava e abraçava meu pai, mas… eles são meus pais. E quanto ao amor, meus pais me amavam porque eu sou filho deles, então… é. Namorar? Não sei o que é isso — respondi, coçando a cabeça.
Arushi ficou pensativo por um momento, mas então deu uma risada baixa.
— Eu entendi… deve ser uma situação complicada pra você. Mas não se preocupa, Yuki. Você vai aprender com o tempo! Hahaha!
— Aprender o quê mesmo? — murmurei, olhando pro chão, sem saber muito bem o que pensar sobre tudo isso.
Mas deixando isso de lado, fico impressionado com a paisagem desse lugar. Toda a área é um campo enorme e verde, com várias árvores lindas e plantas por todo lado.
Além disso, há estruturas como prédios e estátuas espalhadas, o que cria uma combinação interessante.
A cada parte do colégio tem estátuas de alguém importante para a história da escola.
Mas será que tem algo mais por trás disso? Porque essas estátuas parecem estar em pontos estratégicos…
Enquanto eu pensava sobre isso, Arushi caminhava com as mãos nos bolsos e um rosto sério.
O que será que tá incomodando ele…?
— Ah, Arushi… você já namorou? — perguntei.
Pensei que, se continuasse com esse assunto, talvez eu conseguisse mudar aquela expressão no rosto dele.
Arushi olhou para o lado, tirou as mãos do bolso e cruzou os braços.
— Bom… nem todo mundo tem sorte na infância. Eu sou um dos que não teve muita sorte — respondeu, com um tom melancólico, antes de tentar mudar de assunto: — Enfim, vamos passar no parque? Quero ver os brinquedos antes de pegarmos suas coisas. O que acha?
— Ah, tá bom! Quero ver como são os brinquedos! Hahaha! — respondi empolgado, completamente ignorante ao fato de que ele claramente estava tentando evitar o assunto.
Chegamos ao parque e, pra nossa surpresa, não havia muitas crianças por lá. Algumas estavam sentadas, lendo livros, outras conversando em pequenos grupos. Os brinquedos, no entanto, estavam vazios.
— Ninguém quer brincar por aqui, pelo visto. Mas, olha só! Os brinquedos são tão legais! — exclamei, empolgado, vendo um escorregador enorme.
— Hehehe, você nunca viu um escorregador?
Na floresta onde ficava minha casa, meu pai tentou fazer um escorregador de madeira, mas não deu muito certo.
— Nunca vi! Isso é muito legal! Dá pra escorregar mesmo? — indaguei, eufórico.
Mas antes que eu pudesse me aproximar mais do brinquedo, Arushi colocou a mão no meu peito, me impedindo de correr até ele.
Meus olhos estavam brilhando com o que via na minha frente, mas aquele gesto apagou o brilho na hora.
— Calma aí, Yuki. Não vamos brincar agora. A gente não pode perder tempo — disse, com pressa e um olhar serio.
Visualizei todo o brinquedo agora com um olhar melancólico, eu realmente queria muito passar um tempo nele.
Mas acenei com a cabeça, aceitando o que o Arushi disse.
— Certo, vamos continuar! — disse ele.
Enquanto passávamos pelos brinquedos, algo me incomodava. Por que não havia mais crianças brincando? Era época de férias, e mesmo assim o parque parecia vazio. Não era estranho? Será que as crianças aqui não ligam pra diversão?
A brisa suave da tarde balançava as folhas das árvores enquanto eu observava Arushi naquele pequeno parque, afastado dos outros brinquedos. O lugar estava vazio, só nós dois por perto. Não via mais nenhuma criança, e isso me fez pensar.
— Arushi, você não gosta de brincar aqui, não?
— Gosto, sim. Por quê? — indagou, me olhando com uma expressão séria.
— Nada demais. É que eu tô tentando entender por que não tem mais crianças brincando aqui — disse, levando a mão ao rosto. — Talvez eu seja o único que pensa em diversão desse jeito… isso me faz parecer mais infantil que os outros.
Arushi me encarou com um olhar calmo e, de repente, levantou a mão direita. Com um movimento leve, encostou o dedo indicador na minha testa. O toque foi suave, mas a pergunta que veio depois foi como um choque:
— Você tá com medo de ficar sozinho aqui também, não tá?
Eu olhei pra cima, onde o dedo dele tocava minha testa, e balancei a cabeça.
— Não… não, você entendeu errado, Arushi. Eu sempre fui sozinho. Só tinha meus pais… mas eles mal ficavam comigo, então… eu não me importo com isso, de verdade.
Eu estava tentando me convencer. Ou talvez tentando convencer a mim mesmo.
Arushi me encarou por um momento e, então, soltou uma risada.
— Haha, você é muito engraçado, Yuki.
Fiquei confuso.
— Onde é que está a graça disso? Argh… deixa pra lá. Vamos logo.
— Você é mesmo muito engraçado, Yuki — repetiu ele, ainda rindo.
Enquanto caminhávamos pelo parque, uma sensação estranha tomou conta de mim. Meu subconsciente gritava para que eu ficasse atento a tudo ao redor, como se algo ruim estivesse prestes a acontecer. Mas a lógica, fria e racional, dizia o contrário: “Não há perigo aqui. Estamos em uma escola, cercados de crianças. Não há razão para se preocupar.”
— Yuki, me espera aqui? Vou no banheiro rapidinho e já volto — disse ele, interrompendo meus pensamentos.
— Tá bom. Você tá quase mijando nas calças, tá até vermelho de vergonha! Hahaha!
Arushi saiu correndo, desaparecendo pelo caminho entre as árvores que levava ao banheiro. E eu fiquei ali, sozinho, observando o parque quase vazio.
O clima mudou drasticamente, agora estava carregado de nuvens escuras e o vento começava a se intensificar. Sabia que a chuva não demoraria a cair, mas ainda não havia buscado meus pertences no depósito. Talvez fosse melhor ir logo.
Então, o silêncio foi quebrado por um som estranho: passos.
O chão do parque era coberto por pequenas pedrinhas, e o som das botas batendo sobre elas se aproximava lentamente, como se alguém arrastasse algo pesado atrás de si. Franzi a testa, tentando localizar a origem do barulho, mas as árvores e arbustos altos entre os caminhos dificultavam a visão.
Os passos ficaram mais próximos — e, então, algo esquisito aconteceu: o som se multiplicou. Agora parecia que duas pessoas se aproximavam, lado a lado, ambas arrastando algo.
Meu coração acelerou. Seriam duas crianças? Ou dois adultos?
O som continuava, cada vez mais próximo. E, logo em seguida, vieram as vozes.
— Olha… olha só quem tá aqui, Gintaro… hehe…
A voz era baixa, maliciosa.
— Isso mesmo, irmãozão… hihi… o molequinho… hehe…
Outra voz se somou à primeira.
Congelei. Gyutaro e Gintaro?
Os irmãos. Por que estavam aqui, justamente neste canto afastado do parque? A escola era enorme, e parecia que eles haviam vindo direto até aqui. Será que me viram com Arushi? Será que…
— Ah… e aí, pessoal… tudo bem? Hehe — cumprimentei, forçando um sorriso sem graça, tentando esconder o desconforto que começava a tomar conta de mim.
O que eles queriam agora?
Um silêncio pesado caiu sobre nós. Eu estava encurralado, sem escapatória. A única saída, atrás de mim, agora era bloqueada pelas duas figuras. Gyutaro, com seu olhar frio e desafiador, deu um passo à frente. Sua presença esmagadora me deixou em alerta.
— E agora, hein? Vai correr de novo?
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