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    07 de janeiro de 2024, domingo. 

    O céu raiou majestosamente por entre os prédios da capital mineira, exibindo raios dourados e amarelados, iluminando, pouco a pouco, cada canto da cidade. 

    A fresta na cortina do quarto do hotel permitia passar tímidos raios luminosos que atingiram os olhos de Victor. Embora estivessem fechados, foi o suficiente para o despertar. 

    Abriu os olhos lentamente e, de forma preguiçosa, se sentou na cama, após bocejar e, em seguida, espreguiçou. Vestia uma camiseta branca, de um pano leve e macio, e estava de bermuda preta. Ele olhou para o lado e percebeu que Aki ainda dormia profundamente. 

    Os lábios entreaberta denunciava seu sono profundo, completamente indefesa, com seus cabelos negros contrastando com os lençóis branco da cama. Ele esboçou um sorriso, pensando que ela ficaria com muita vergonha se visse ele a observando daquela forma e logo parou. 

    Ele se levantou e realizou toda a sua rotina matinal que conseguiu, faltando alguns pontos. Mas não importava muito naquele ponto, já que estava do outro lado do mundo. 

    Após um banho relaxante e se vestir, ele conferiu as horas e percebeu que já estava quase na hora do café da manhã do hotel.

    “Eu deveria acordar ela?”. Pensou, olhando para ela. 

    Mas não foi necessário. A tela do smartphone de Aki vibrou e ecoou um som pelo quarto quando o alarme finalmente tocou. Ela alcançou o telefone com um movimento lento, desligando-o de forma automática, como se fizesse aquilo todos os dias. 

    — Acho que vou dormir mais cinco minutos… — Ela comentou baixinho, falando consigo mesma, após virar de costas. Devido ao silêncio do quarto, Victor conseguiu ouvi-la. 

    Ele admirou a cena, mas sabia que precisavam se levantar. Hesitou e ponderou por alguns momentos antes de decidir chamá-la. 

    — Bom dia, Aki! — Ele a cumprimentou, depois de se levantar da cama. — Já está quase na hora do café. 

    Aki deu um salto na cama, sentando rapidamente, com um olhar assustado. 

    — Victor! Bom dia! — Ela falou, fazendo um intervalo entre as palavras. — Que susto. Eu me esqueci, por alguns instantes, que estamos dormindo no mesmo quarto. 

    Ela comentou, apoiando uma das mãos sobre o coração, relaxando a expressão e os músculos. E ao se lembrar que acabou de acordar, já ia tapar o rosto, quando Victor começou a caminhar em direção à porta. 

    — Eu vou te esperar aqui do lado de fora. 

    Aki sentiu-se imensamente agradecida pela privacidade que Victor lhe dava, embora, lhe incomodasse de alguma forma. 

    Depois que comeram, Victor explica que hoje eles iriam de táxi para o zoológico. Após chamar um motorista, embarcam no veículo e logo já estavam no destino. 

    Aki está maravilhada por estar num zoológico no Brasil. Apesar de ter ido pouquíssimas vezes quando estava no Japão, gostava bastante da atração. Os dois já estavam dentro do local e caminhavam, lado a lado, até um dos viveiros de aves. 

    Aki sentia-se extremamente encantada com a diversidade de cores das plumagens. Cada um parecia mais bonito que o outro. Victor traduziu para ela as informações que constavam nas placas de cada um — e isso levou um tempo considerável durante todo o passeio, já que a garota, curiosa, queria saber das informações, principalmente de animais que não conhecia muito sobre. 

    Quando visitaram o viveiro de mamíferos africanos, que ficava de frente aos pássaros que estavam, Aki se sentiu ainda mais empolgada. Os elefantes, rinocerontes, girafas… tudo parecia incrível demais. Toda vez que ela visitava esse tipo de lugar, achava lindo — apesar de, certa forma, sentir algum desconforto por vê-los presos ali, longe de seus respectivos habitats naturais. 

    Enquanto terminavam essa parte, Aki avistou o borboletário e, praticamente, correu para vê-las, e, se aproximando, pensou que parecia estar num sonho ou em algum tipo de poder de algum personagem de mangás, soltando uma risada interna. Era incrível como, apesar de numerosas, cada borboleta ali parecia única. Victor leu algumas informações no quadro de informações, mas logo foram interrompidos quando um grupo de crianças se aproximou.

    — Ela parece uma personagem de anime! — Uma delas exclamou, enquanto outra se aproximou de Aki. 

    — Moça, posso tirar uma foto com você? — A que se aproximou, pediu. 

    Aki não entendeu de imediato, mantendo um sorriso convidativo para com as crianças, até Victor explicá-la o que elas queriam. Ele também explicou aos pequenos que ela não entendia o idioma brasileiro e que ela era japonesa, viajando com ele para o Brasil. 

    — Então vocês são tipo um casal de Dorama? — A que parecia ser a mais velha do grupo, perguntou, entusiasmada. 

    Victor olhou para Aki, que esperava a tradução, enquanto ele sentiu levemente desconfortável em explicar a situação. 

    “Que coisa…” pensou, logo depois, explicando para elas que eles tinham vindo a trabalho. Embora Aki tenha se assustado com a proposta da foto, não negou e logo as crianças a rodearam para a foto. Cada uma fez uma pose e Victor tirou a foto, usando o celular que uma das crianças o emprestou. 

    Uma voz adulta os chamou e eles se despediram, com elas se afastando, satisfeitas com a foto. 

    — Eles têm muita energia, né? — Aki comentou.

    — Sim. E elas gostaram de você. — Victor reslondeu, despretensiosamente.

    — Eu me surpreendi quando pediram uma foto, mas lembrei sobre o que você já me contou a respeito. 

    Eles continuaram caminhando, rindo do ocorrido, quando avistaram o local onde viviam os cágados e tartarugas, que ficava bem próximo ao viveiro de borboletas. 

    Se dirijam até lá e contornaram o local, voltando pela parte de trás do borboletário, seguindo até à “Praça Nacional”, um viveiro de espécies brasileiras. 

    Ali foi o local que Aki mais ficou entusiasmada e o que mais demandou tempo, já que ela não conhecia a maioria dos animais, por serem nativos do Brasil. Victor leu cada informação, detalhadamente, além de explicar sobre o que conhecia sobre cada uma. Como na parte do lobo-guará, e até explicou que ele era estampado nas notas de mais alto valor da moeda brasileira. 

    Ainda nessa parte, Aki também achou muito legal o Tamanduá-bandeira. Ao ouvir todas as informações sobre ele, o admirou. Não foi diferente com a Anta, até mesmo Victor explicando que era uma forma pejorativa de se referir a alguém em algumas regiões. Ela riu e continuaram a caminhar. 

    Foi quando passaram por um espaçodiferente, eram aves, mas maiores. Aki pôde ver um aveztruz, por exemplo, bem como outras aves maiores. Mas sua atenção foi rapidamente roubada quando avistou a área dos felinos. Ela arrastou Victor pelo braço para irem logo, nem ao menos percebendo o toque. 

    Já próximos do recinto, ouviram o rugido feroz do Leão, fazendo todos que estavam assistindo irem à loucura. As crianças gritaram empolgadas, algumas sendo repreendidas pelos pais, pois uma das regras do local era não perturbar os animais. A japonesa soltou o braço do amigo e deu um pique de velocidade para alcançar, podendo registrar a cena do rei da selva, como se exigisse pra multidão. 

    Também visitaram o tigre e a onça-pintada, porém, ao perceber uma das atrações, Aki ficou muito ansiosa, que era o aquário do rio São Francisco. Ela já conhecia aquários do Japão, mas esse provavelmente seria diferente. Ela chamou Victor e os dois caminharam até lá. 

    Os mais diversos peixes nadavam de um lado para o outro nos enormes viveiros d’água. Com Victor ajudando Aki a entender as placas, ela se fascinava. Inclusive, Victor acabou se aproximando perto demais do vídeo em determinado momento e um sorriso se formou nos seus lábios. Aki percebeu. 

    — O que foi? — Perguntou, curiosa.

    — É que esse peixe me trouxe uma boa lembrança. 

    — Qual deles? — Ela olhava cada uma das espécies que nadavam ali. 

    — Aquele dourado de manchas pretas. — Victor apontou para um tucunaré que nadava ao longe. Aki se espantou com o tamanho dele. 

    — Desse tamanho?! — Sua surpresa foi nítida em seu rosto.

    Victor riu da expressão dela e continuou:

    — Eu era moleque… Foi a primeira vez que fui acampar com meu pai, somente nós dois. Tínhamos programado de viajar, mas Matheus insistiu que queria ir em um show de um ídolo dele que teria na cidade e minha mãe concordou em levá-lo, então apenas eu e meu pai fomos. 

    Aki estava olhando atenciosamente para ele, absorvendo cada detalhe da história. 

    — Montamos barraca, fizemos fogueira, só nós dois, no meio do mato. Foi um dia muito especial para mim. Ele me ensinou a pescar, mas no início eu apenas conseguia pescar galhos. — Ele riu, lembrando de alguma cena. — Mas meu pai era uma pessoa incrível, e pacientemente foi me orientando, até que eu finalmente consegui puxar um peixe. 

    Ele gesticulava, enquanto lembrava-se nitidamente da cena.

    — Quando tirei da água, pensando ser só mais um galho, era um desse. Claro, ele não era adulto, se não, acho que nem teria conseguido puxar. Era um filhote, e eu acabei devolvendo ele pras águas. Mas foi muito emocionante, meu primeiro peixe. Depois disso, conseguimos pescar outros peixes menores e no fim, assamos na fogueira e comemos. 

    Victor continuou encarando o aquário por mais alguns momentos. 

    — Eu acabei voltando no tempo e foi uma boa lembrança. Acho que tenho que te agradecer por isso, Aki… 

    Ele a olhou fixamente nos olhos e ela sentiu seu peito acelerar. “Me agradecer? Pelo quê, exatamente?” Pensava, mas não queria dizer. Apenas viver aquele momento já havia valido a pena ter viajado, embora tenha se divertindo bastante até o momento. 

    Estar conhecendo tanto sobre o passado de Victor e o que ele é, fez com que ela sentisse algo que não sabia explicar. Se sentia ainda mais confusa do que antes após descobrir tantas coisas, mas não era algo negativo. 

    Próximo ao horário de almoço, eles decidiram parar numa das lanchonetes e comer algo. Foi quando Victor viu a oportunidade perfeita de comprar um tropeiro para ela experimentar. 

    Ele a explicou brevemente e a serviu. Ao experimentar, ficou surpresa. Era uma sensação diferente de pratos que costumava comer. A textura, o sabor, a mistura de ingredientes era única e marcante. 

    — Esse prato é incrível! — Ela elogiou. 

    — Você ainda vai experimentar muitos pratos deliciosos essa semana. — Ele riu, brevemente. — Estou ansioso para te apresentar o “Pão de queijo”. 

    — Sério?! Quando vamos experimentar?! — Seus olhos brilharam com a notícia. Ela sabia que, em parte, foi graças ao “pão de queijo” que ela e Victor se aproximaram tanto. Se ela não tivesse feito ele rir naquele dia, ao confundir com mochi, talvez não teriam se tornado tão amigos. 

    Então, no fundo, estava muito ansiosa para finalmente poder provar. Ela esperava que Victor fosse lhe apresentar logo quando chegaram e, por um momento, pensou que ele nem se lembrasse disso. 

    — Isso é surpresa! Nossa semana vai ser muito divertida. 

    Então, continuaram o passeio. Durante o trajeto de volta para a saída, passaram pelos primatas e Aki riu das brincadeiras dos gorilas e macacos. Também passaram pela casa de répteis e ela ficou com medo das serpentes e cobras. 

    Depois, visitaram alguns lugares que ainda não tinha ido e depois se dirigiram para casa, com muitas fotos e memórias inesquecíveis daquele dia. Principalmente para Aki, que pôde conhecer um pouco mais sobre o passado de Victor. 

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