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    27 de janeiro de 2024, sábado.

    A luz era dourada, quase etérea. Um campo de lavandas se estendia a perder de vista, com um céu em tons alaranjados anunciando o fim de tarde. A brisa suave dançava entre as flores e acariciava seus cabelos negros. Aki usava um vestido leve e azul-claro, de alças finas, que se movia como se o vento o guiasse. Ela olhou ao redor, sentindo o aroma doce das lavandas, até ouvir uma voz familiar, atrás de si.

    — Aki…

    Ela se virou. Lá estava ele. Victor. Vestindo uma camisa azul clara com as mangas dobradas, e um olhar tão calmo quanto o horizonte. Seus olhos quase negros refletiam o céu.

    Ele caminhou até ela e segurou suas mãos. O mundo pareceu silenciar, como se tudo estivesse em pausa, esperando aquele momento.

    — Eu sei que talvez isso pareça inesperado, mas… — ele riu nervoso. — Já faz um tempo que percebi o quanto você se tornou essencial na minha vida. Você trouxe luz para um lugar que estava escuro por dentro. Aki, você quer namorar comigo?

    Ela ficou sem reação por um segundo, então sorriu como nunca antes. Seus olhos brilharam com uma emoção indescritível.

    — Eu… eu quero. Quero sim!

    Victor sorriu e a abraçou, envolvendo-a como se temesse que ela desaparecesse. E ali, no meio do campo de lavandas, o som do vento se misturou à batida dos corações. Aki encostou o rosto em seu ombro e fechou os olhos, sentindo-se protegida, completa.

    A cena mudou, como num corte suave de filme. Como se fosse uma transação trêmula e lenta. Agora, os dois estavam em uma ponte antiga, em Kyoto, cercados por árvores tingidas de vermelho e dourado pelo outono. Victor segurava a mão dela com firmeza, enquanto andavam devagar, observando os pequenos barcos que cruzavam o rio.

    — Não parece real, né? — ele comentou, sorrindo de lado.

    — Parece sim. Porque é com você. — respondeu Aki, com um sorriso tímido.

    Ele parou de andar, olhando para o chão por um instante. Depois, virou-se para ela.

    — Eu me lembro de quando te conheci… — começou. — Nunca imaginei que uma pessoa pudesse causar tanto impacto em mim. Você me mostrou que o mundo ainda tinha cor, mesmo quando eu só enxergava cinza. E eu… — ele a puxou mais para perto. — Eu quero continuar descobrindo o mundo com você. Aki, você me permite isso?

    Ela assentiu, sem conseguir conter as lágrimas. O vento soprava folhas secas ao redor deles, como uma coreografia perfeita para aquele momento. Victor tocou o rosto dela com delicadeza, secando uma lágrima com o polegar.

    — Eu te amo. — ele disse.

    Aki sorriu. — Eu também te amo, Victor.

    A cena novamente mudou. Agora, era de noite.

    Um céu estrelado se espalhava acima de um desfiladeiro à beira-mar. Ondas quebravam lá embaixo, com um som constante e reconfortante. Um grande convés de madeira havia sido montado ali, iluminado por pequenos pontos de luz pendurados em cordas, como vaga-lumes voando livremente.

    Aki usava um vestido longo azul-escuro, como a noite. Victor, vestindo terno, estava de frente para ela, nervoso, mas com os olhos fixos nela. Havia uma pequena mesa ao lado, com uma vela tremeluzente, e um buquê de flores silvestres descansando sobre ela.

    — Aki… — ele começou, a voz mais baixa, carregada de emoção. — Eu pensei muito em como dizer isso, em como tornar esse momento perfeito. Mas acho que a perfeição está em você estar aqui comigo.

    Ele se ajoelhou.

    — Você é a minha melhor amiga, minha companheira, e a razão de eu sorrir todos os dias. Você me mostrou que eu podia amar de novo… que podia confiar, que podia sonhar. Por isso…

    Ele abriu a caixinha, revelando um anel delicado com uma pedra âmbar no centro — a mesma cor dos olhos dela.

    — Você aceita se casar comigo?

    Aki levou as mãos à boca, sentindo o coração explodir. Lágrimas escorreram sem ela perceber, e sua voz saiu baixa, trêmula:

    — Sim… sim! Eu aceito!

    Victor sorriu aliviado, se levantando e a envolvendo num abraço apertado. O mundo girava ao redor deles, e Aki sentia como se estivesse flutuando. Eles se beijaram sob o céu noturno, com as ondas como testemunhas e as estrelas como bençãos silenciosas.

    Aki respirou fundo e abriu os olhos.

    As luzes brancas do teto do hospital pareceram estranhamente frias depois do calor daquele sonho. Ela ainda sentia o coração acelerado, como se tivesse realmente vivido cada segundo.

    Levantou o olhar e viu a cadeira ao lado da cama, agora vazia. O casaco de Victor ainda estava ali, deixado como se ele voltasse a qualquer momento. Ela levou a mão ao peito, tentando organizar os pensamentos.

    — Foi um sonho, né? — murmurou baixinho, sentindo o calor nas bochechas. — Dessa vez, tenho certeza que foi um sonho… infelizmente… — Balbuciou, no final.

    Mas, mesmo se fosse… ela sabia. Aquilo não era apenas um delírio causado pelos remédios. E talvez…, talvez não fosse apenas um sonho. Talvez, fosse um vislumbre do que o futuro ainda reservava. Poderia ser apenas um espelho de seus sentimentos, difíceis de compreender.

    Estava divagando, imaginando, pensando, várias cenas passando em sua cabeça se misturando ao perfeito sonho que tivera. Quando, de repente, foi arrebentada de seus pensamentos pelo bater na porta do quarto. 

    Ela se abriu lentamente, com uma voz muito familiar chamando seu nome. 

    — Aki, querida… — Hana apontou o rosto, quando quase foi atropelada por Haru, que passou correndo.

    — Irmãzona! — Ela se jogou, parcialmente, no corpo de Aki, apertando-a.

    — Calma, Haru. Desse jeito, vai machucar ela. — Hana repreendeu, percebendo o entusiasmo da pequena.

    — E aí, maninha! — Natsu e Fuyu falaram quase juntos, adentrando. 

    Por último, Shouto entrou, fechando a porta. Ele se aproximou e cumprimentou a filha, dando-lhe um abraço lateral e um beijo em sua cabeça: — Como você está se sentindo?

    Aki sentiu suas bochechas arderem levemente. Era constrangedor o pai lhe tratar daquela forma na frente dos irmãos. 

    — Estou bem, pai. Obrigada. — Respondeu, ajeitando o corpo e sentando-se. — Como vocês estão?

    — O importante é como você está, querida. — Hana disse, se aproximando, fazendo um carinho na cabeça de Aki. — Mas estamos bem. 

    Aki sorriu, mesmo sentindo que seu rosto estava vermelho, e não era por causa de uma febre.

    — Esse casaco é do Victor? — Natsu perguntou, cutucando a roupa, que estava na poltrona. 

    Ela apenas acenou com a cabeça e logo desviou o assunto, perguntando algumas coisas para seus pais e para Haru. 

    Natsu fez uma expressão de desdém, mas logo entrou na conversa. Alguns minutos já haviam se passado, quando a porta abriu, lentamente, após uma batida suave. 

    Victor apareceu, se surpreendendo ao ver a família de Aki reunida ali. Ele não sabia que eles estariam a visitando. Assim que fechou a porta, Natsu e Fuyu já estavam um de cada lado, como se o intimidasse.

    — E aí, cunhado! Quanto tempo! Como vão as coisas? — Natsu falou, sem esconder seu tom de provocação. 

    Victor olhou rapidamente para Aki, que desviava o olhar. 

    — É bom te ver também, Natsu. — Comentou, ignorando a brincadeira, para evitar de deixar Aki envergonhada. Ele até pensou numa resposta para continuar a brincadeira, mas, também pelo fato dos pais dela estarem ali, desistiu. 

    “Eles podem entender errado se eu levar a brincadeira do Natsu adiante.” — Raciocinou. 

    Porém, antes que pudesse continuar, Haru se aproximou:

    — E aí, irmãozão! — Ela esticou o punho, para que ele tocasse, como forma de cumprimento. 

    Victor rapidamente entendeu o gesto e retribuiu, dando um “soquinho” nos punhos cerrados da pequena, sorrindo. Haru, nesse momento, percebeu a pulseira que ela tinha dado para ele e se surpreendeu. 

    — Você ainda está usando a pulseira! — Exclamou, surpresa. 

    — É claro. Por que eu não usaria? — Victor indagou, abaixando para conversar com ela. Haru tinha um corpo mais miudinho, aparentando ser ter menos do que doze anos, mesmo que essa fosse a sua idade. 

    — Bom, quando eu te dei ela, a gente mal se conhecia. Eu só sabia que você era importante para a irmãzona. E gostei de você também. 

    Victor sorriu, afagando os cabelos dela. 

    — É claro que eu usaria. Isso nos torna “irmãos”, certo? Tipo, uma conexão… — Ele ergueu o punho, com orgulho. Haru ri. Ele então se levanta e caminha até os pais de Aki, os cumprimentando.

    Hana e Shouto agradecem a Victor por cuidar de Aki. Visivelmente, a filha mais velha do casal fica envergonhada, tapando o rosto, erguendo a coberta. 

    — Pai! Mãe! — Ela protestou, com a voz rouca e tossindo em seguida. Natsu, Fuyu e Haru riram. O brasileiro respondeu que não precisavam agradecer, que ele simplesmente cuidava de quem era importante para ele. 

    Aki mantém o rosto coberto, enquanto pensamentos variados bombardearam sua mente. “O que o Victor tá falando na frente deles?” — Seu coração parecia que iria explodir e sabia que seu rosto estava vermelho. 

    “Não quero dar a ideia errada, mas não quero ocultar a importância de Aki para mim. Não mais, não a partir de agora.” — Victor ponderou. 

    — Ficamos felizes em saber que nossa filha encontrou um amigo tão gentil. — Shouto comentou, mas foi interrompido por Natsu. 

    — “Amigo”, né papai? — Natsu provocou, cutucando Victor no ombro, chegando ao seu lado. 

    — Não seja inconveniente, Natsu! — Shouto o repreendeu. 

    — O Natsu sempre é assim. — Hana revirou os olhos. 

    — O Irmão Natsu e o Irmão Fuyu são dois bobões. — Haru provocou, nesse momento, estando entre Hana e Aki, como se sentisse segura em provocá-los estando ali. 

    — Pestinha! — Natsu respondeu, com falso desdém, na verdade, estando rindo. 

    Eles continuaram conversando por mais algum tempo, com Shouto perguntando sobre a viagema ao Brasil e, tanto Aki quanto Victor, contando detalhes dos passeios que fizeram. Aki não contou da parte da cachaça mineira, que seria um presente e não estava ali no momento. 

    E, próximo ao horário de almoço, a família de Aki se retirou, informando que, aproveitariam a visita para passar em alguns lugares que queriam, em Tóquio e depois voltariam para Nagano. Dessa forma, se despediram e saíram. 

    Quando ficaram a sós novamente, Victor suspirou, quando sentou na cadeira: — O Natsu é muito enérgico. — Rindo em seguida. 

    Aki também riu, respondendo com zombaria: — Ele é um idiota… de uma forma amorosa. — Então, um breve silêncio se instaurou e ela olhou para Victor: — Sobre o que você disse com a Haru… o meu presente também te faz pensar algo especial? 

    Sua voz saiu trêmula, hesitante. Reuniu coragem e força, não sabendo se conseguiria dizer, contudo, no fim, conseguiu. 

    Victor arqueou a sobrancelha, surpreso pela pergunta repentina. Não imaginou que ela se prenderia a esse detalhe, a esse comentário que fez para com a pequena irmã dela. Pensou por alguns instantes antes de responder, apesar de ter parecido uma eternidade para a japonesa. 

    — Bom, o presente da Haru nos torna irmãos… e o seu nos torna… — Ele hesita, pensando nas palavras que diria a seguir. 

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