Capítulo 75: "Você me prometeu, lembra?"
30 de janeiro de 2024, terça-feira.
Aki acordou com o barulho do seu celular tocando. Estava recebendo uma chamada, era sua mãe. Ela atendeu, com sua voz ainda embargada e rouca.
— Aki, querida, como você está? — Hana perguntou. Mesmo que Aki não tivesse vendo seu rosto, conseguiu imaginar sua expressão naquele momento.
— Estou bem, mãe. — Respondeu, enquanto se espreguiçava, esticando seus braços para o alto e bocejando. — Eu estava dormindo ainda.
— Até essa hora? — A mãe expressou, surpresa. Foi então que Aki conferiu as horas e se assustou.
— Caramba! Já são quase uma da tarde. — Ela pulou da cama, rapidamente, seu telefone caindo sobre os lençóis. Enquanto isso, Hana ficou falando algo que ela não podia ouvir.
A japonesa abriu a cortina e olhou para fora, vendo um céu, relativamente limpo, mas ainda estava um clima frio. Foi somente agora que ela começou a sentir os efeitos da temperatura baixa e como um estalo, todas as informações vieram a sua mente de uma vez.
Ela rapidamente voltou para a cama, se jogando nela e pegando o celular. Sua mãe a chamava repetidamente, buscando uma resposta.
— Estou aqui, mãe. Desculpa. Eu me assustei com o horário e fui correndo ver pela janela. — Murmurou, a voz saiu abafada no meio das cobertas.
Hana conversou com ela por mais algum tempo, onde pediu para ela se cuidar, tomar os remédios na hora certa e também tomar alguns chás e bastante água, além de se alimentar bem. Aki ouviu tudo, quase divagando, pois o colchão praticamente a convidava a fechar os olhos e dormir mais.
O médico havia alertado que os medicamentos para tomar em casa deixavam o paciente mais sonolento e, juntando isso ao fato de finalmente dormir em sua própria cama em dias, fez com que ela acabasse dormindo até aquele horário avançado.
Após desligar a chamada, ela percebeu algumas mensagens de Victor e foi lhe responder. Victor riu de suas respostas atrapalhadas tentando contar sobre sua mãe.
“Não esqueça do seu remédio às 14:00.”
Victor enviou numa mensagem, fazendo ela franzir a testa:
“Não sou uma criança.”
Ela respondeu, seguido com um emoji que representava desdém. Victor riu e trocaram mais algumas mensagens. Ele precisou se ausentar e ela foi preparar algo para comer.
Enquanto cozinhava, seus pensamentos estavam uma bagunça: lembrando-se do que ouviu nos últimos dias da boca de Victor, ainda tentando entender se era um sonho ou não — e depois a sua declaração para ela de como se sentia.
Seu coração acelerava só de pensar nisso e tentava se controlar. Lembrou-se ainda do domingo, que tiveram uma conversa bastante agradável sobre o que fariam nos próximos dias e Victor falou sobre uma reunião importante que teria, em Tóquio mesmo, sobre parcerias internacionais da Elegance Affairs, em alguns dias.
“Provavelmente eu vou conseguir participar!” — Pensava, sorrindo, ao olhar que ainda faltava um tempo e até lá, provavelmente, já estaria recuperada e saudável.
Enquanto mexia algum molho numa panela, que borbulhava graças ao calor do fogão, divagou, fazendo o movimento de forma automática: “O Victor prometeu que não recusaria meu próximo convite, não é?”
O sorriso continuava em seu rosto, quando foi arrebatada da viagem. Espirrou um pouco do líquido nela, depois de estourar uma bolha que se formou dentro da panela.
— Aí! — Ela exclamou, balançando a mão. — Viajei demais.
Ao mesmo tempo em que montava seu prato, continuou pensando no que poderia fazer no próximo sábado, de almoço, além de planejar chamar o Victor e usar sua “carta secreta” da promessa que ele havia feito.
Assim que terminou de preparar, ela tirou uma foto e mandou para Victor, com a seguinte legenda: “Está uma delícia!”
Victor respondeu, rindo: “Queria um pouquinho. Estou com fome. Haha.”
Aki sentiu suas bochechas arderem, mas criou coragem, ao mandar: “Posso fazer para você. Topa vir comer?”
O rapaz, surpreso, enviou, como resposta: “Claro! Posso ir agora?”.
“Ele quer me matar… Ah!!” — Ela exclamou internamente, contudo, sua expressão caiu, ao ver a próxima mensagem:
“Estou brincando. Você precisa descansar. Vamos marcar para um próximo dia.”
“Que tal no sábado?” — Ela enviou, na expectativa.
“Claro! Eu te prometi que não ia negar um próximo convite para comer.” — Sua resposta deixou Aki feliz.
Então, continuaram conversando, com algumas mensagens sendo respondidas com um pouco de demora, por parte de Victor e combinando o dia e o horário.
…
03 de fevereiro de 2024, sábado.
Victor e Aki mantiveram bastante contato por mensagens e ligações, desde que ela ganhou alta, na segunda-feira, dia vinte e nove. Mais contato do que normalmente mantinham, já que se viam bastante na Elegance Affairs. Agora, como ela estava em casa, usaram esse método.
O brasileiro foi até a casa dela dois dias, nesse período, para levar coisas do mercado para que ela pudesse cozinhar e não precisasse sair, embora, ela insistisse que não precisasse, achou que seria uma boa ideia, como desculpa para que se vissem.
Os dois combinaram de comer nesse dia, sábado, três de fevereiro. Aki arrumava as coisas, já no entardecer, para que ele pudesse jantar lá. Victor teve que participar de um evento, como representante, e foi sozinho, já que a garota ainda não tinha sido liberada, clinicamente, para trabalhar, voltando à ativa somente na segunda-feira, cinco de fevereiro.
Após organizar algumas coisas na casa, ela se jogou no sofá, sentindo-se cansada do trabalho.
— Ufa, até que enfim acabou. — Murmurou, soltando um suspiro.
Começou a viajar em seus próprios pensamentos, imaginando o que poderia acontecer nesse dia, nesse jantar. Eles até pensaram em fazer a noite dos drinks, mas Victor recusou, pelo fato dela estar tomando medicamentos ainda. Então, seria apenas comida.
Aki tinha planejado um cardápio simples, mas gostoso, com direito a sobremesa. Estava ansiosa, já que Victor tinha bastante experiência na área. Estava com receio de não ficar bom o suficiente para agradá-lo, de não ser chamativo do jeito que ela queria.
Perdida em sua imaginação, vendo possíveis cenas do desenrolar da noite, criando fantasias, como a cena em que Victor, após um diálogo bonito, se aproximou repentinamente e a beijou. Seu coração disparou e ela balançou a cabeça em negação, tentando não nutrir essa ideia.
Mas como se estivesse sendo trollada por seus próprios pensamentos, ela não conseguia pensar em muitas coisas diferentes dessa. Sempre acabava num cenário onde eles se beijavam e até outros mais íntimos — e que ela forçava a não criar expectativas.
Ela não sabia ao certo, mas no fundo, esses desejos eram bons de se ter. Algo dentro dela ansiava por aquilo, era como se sua razão e suas emoções estivessem em conflito. Seu coração não negava aqueles pensamentos ousados, apenas seu raciocínio lógico.
“Não podemos fazer isso…” Pensava uma hora, mas logo tinha uma resposta interna: “Mas por que não podemos? Talvez devêssemos…”.
Tudo parecia mais confuso do que antes. Quando Aki pensava já ter entendido seus sentimentos e estar em pleno controle, percebeu que ainda faltava um caminho a trilhar, para que ela realmente pudesse entender.
Por sempre ser muito reservada, nunca teve contatos tão próximos a alguém, principalmente do sexo oposto. E agora não sabia definir o tamanho do seu “gostar”. Fato era que o via como um homem de valor, importante para ela, e isso a garota entendia. Mas talvez faltasse um pouco de confiança para aceitar completamente o que sentia.
Sua imaginação sempre trazendo sensações diferentes para seu corpo, que não tinha experimentado antes, quando pensava nele. Porém, por sempre gostar de analisar as situações, também acabava se contendo quando analisava tudo de outro ponto de vista.
Por mais que a viagem ao Brasil tenha trazido várias descobertas e realçado seus sentimentos, principalmente por ver como Victor era uma pessoa gentil e atenciosa, e descobrindo um lado completamente diferente dele, mais aberto e fácil de comunicar.
No Japão, antes de viajarem, via o olhar dele diferente, como se algo bloqueasse suas expressões. Porém, durante a viagem, conseguiu perceber um novo olhar e, principalmente, quando ele a olhava, seus olhos pareciam ter um brilho diferente.
Pensar nisso fazia tudo parecer ainda mais confuso e difícil de entender. O que teria mudado apenas nessa viagem? Foi o fato dele ter visto amigos e seu irmão? Ou talvez outra coisa… Aki não queria pensar muito sobre o que seria.
…
Aki abriu a porta, após ouvir a campainha tocar. Então, se deparou com Victor, que trazia uma sacola consigo, que sorriu ao vê-la.
— Boa noite, Aki!
— Boa noite, Victor! — Ela respondeu, animada. — Vamos, entre. Está frio aí fora.
Victor entrou e logo já percebeu a mudança de temperatura. Aki o chamou, indicando para se sentarem no sofá e assim fizeram. Victor usava uma blusa de frio preta e calça, enquanto Aki estava com um vestido midi de um tom verde escuro.
— Como você está? — Victor perguntou, enquanto se sentava.
— Estou ótima. Estava muito ansiosa para esse jantar.
— Algum motivo em especial para estar tão ansiosa?
— Porque você me prometeu, lembra? — Respondeu, com um sorriso. — Você disse que iria aceitar o convite na próxima vez.
— Claro que eu lembro. E aqui estou, cumprindo o acordo.
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