Índice de Capítulo

    Ba-dum!

    Ignorando as batidas fortes do meu coração, contei o tempo com calma.

    Kuooong…!

    Assim que aquele maldito dragão revelou completamente sua forma por entre as chamas, e nós entramos no raio de ação dele…

    “Sete segundos.”

    Ainda não haviam se passado nem três. Faltavam sete segundos para que o efeito de paralisia acabasse e, ao meu ver, esse tempo seria mais que suficiente. Esse maldito dragão de primeiro nível teria tempo de sobra para reduzir pela metade o clã Anabada que me esforcei tanto para treinar.

    “O que eu faço?”

    Como impedir aquele dragão de carbonizar os meus companheiros? Na encruzilhada da sobrevivência, minha mente girava em velocidade máxima, repetindo essa pergunta sem parar.

    — …Ugh!

    — Meu corpo…!

    Erwen, Misha e todos os membros da expedição estavam paralisados. O que era natural. Ninguém no grupo havia alcançado o nono nível. Mesmo no caso de magos ou paladinos, que não seguem o sistema de níveis, os critérios para resistir eram similares…

    “Já esperava isso da Raven, e parece que o Parav também não recebeu a ‘avaliação de nono nível’…”

    Com todos transformados em estátuas, como diabos impedir aquele dragão? Quando o desespero começava a me sufocar…

    — Yandel…!

    Avisto Amelia vindo na minha direção, me chamando.

    Tap.

    Ela tinha a expressão toda contorcida, dava pra ver que estava bastante desconfortável…

    “…Ela se mexeu?”

    Foi chocante. Amelia ainda estava no oitavo nível, como eu. Claro, eu estava no início do nível e ela já perto do fim…

    “…Ah!”

    Uma ideia me atravessou a cabeça como um raio. E se a barra de EXP dela, que já estava quase cheia, tivesse sido completada com os ganhos desse colapso dimensional? E se ela tivesse subido para o nono nível, mas ainda não tivesse dito nada por estarmos no meio do combate?

    “…É isso.”

    Um fator inesperado, mas que me dava um fio de esperança.

    — Emily…! Batida em retirada! Leve os membros do grupo para fora, agora!

    — …O quê?

    Como assim o quê? Durante colapsos dimensionais, o ideal é manter posição e resistir às ondas, mas se aparecer um inimigo impossível de lidar, a fuga também é uma opção. E eu já havia explicado isso claramente a todos. Só agora ela se lembrou?

    — …Ah! Entendi!

    — Eu fico por último. Comece com os outros!

    Amelia passou a agir com velocidade relâmpago, arrastando os companheiros paralisados para fora do alcance do dragão. Ou melhor…

    Swoosh…!

    Agarrou-os pela nuca e os jogou como sacos de batata. Erwen, Auyen, Misha, Marrone, Raven e até Beleg, todos foram lançados para o mesmo lado. E quando Amelia agarrou o pescoço do Mestre da Guilda…

    Fwoooosh!

    Uma chama intensamente quente atravessou as chamas já existentes, com uma presença inconfundível.

    【Dragão Vermelho lançou Sopro Escarlate.】

    Uma habilidade de área obrigatória para qualquer dragão, praticamente uma execução em massa. Mas, por sorte…

    “Dá pra aguentar.”

    Normalmente seria morte certa, mas agora tínhamos a Orbe de Fogo. Talvez magos ou ladinos não suportassem, mas com 90% de redução de dano, os tanques segurariam.

    Fiuuush…!

    Além disso, o Mestre da Guilda foi arremessado a tempo, e Amelia se escondeu instintivamente bem atrás de mim.

    【Você conjurou Gigantificação.】

    【Você conjurou Fortaleza de Ferro.】

    【Você conjurou Escamas da Ganância.】

    Ativei as habilidades defensivas imediatamente e me preparei. A torrente de chamas me envolveu como um furacão.

    【Todo o dano do tipo fogo dentro de um raio de 15 metros é reduzido em 90%】

    Mesmo assim, a dor era lancinante, como se a pele estivesse derretendo. Mas isso era um bom sinal. Se o corpo tivesse sido derretido de verdade, talvez nem dor eu sentiria.

    Zzzzt…

    Sim, os ossos doíam e as entranhas queimavam.

    【Condições de Garras do Dragão foram atendidas.】

    【Dano físico equivalente ao dano mágico recebido será aplicado.】

    Maldita seja essa combinação de danos híbridos. Ainda bem que foi calculado com base no dano reduzido em 90%.

    Fwooooooosh…!!

    Por fim, a chama, que parecia não ter fim, começou a diminuir.

    — Emily, está bem?

    — …Consigo me mover, por ora.

    Mesmo tendo ficado atrás de mim, ela estava ferida. Se está dizendo isso, então o estado deve ser bem grave.

    【Estado Petrificação foi removido.】

    Mesmo preocupado, corri assim que a paralisia passou. Afinal, alguns dos nossos companheiros estavam realmente à beira da morte. Graças à redução de noventa por cento, eles não morreram mesmo tomando o sopro de frente, mas ficaram em estado crítico.

    — GROOOOAAAAARRRR!!

    Mas o Dragão Vermelho rugiu furiosamente, como se só o fato de ainda estarmos vivos já o enfurecesse. E então…

    Grrrrrr…

    Ele virou suas presas ferozmente para os membros da linha de frente, que mal conseguiam se mover. O primeiro alvo parecia ser Sven Parav.

    Tap-tap…

    Por sorte, não perdi o timing. No momento em que as mandíbulas gigantescas iam abocanhar Sven, meu escudo se cravou entre os dentes do dragão como um freio.

    KWAANG!

    — Grrrk…?

    Ele pareceu confuso, como se não entendesse como um simples pedaço de ferro o impedia de fechar a boca. Hah, desprezou minha habilidade de ‘Indestrutível’, foi?

    — Parav, você tá bem?

    — A-Ah…

    Sven Parav parecia paralisado diante das presas afiadas expostas dentro daquela boca aberta. Enquanto pensava no que fazer, Amelia avançou rapidamente pela retaguarda.

    — Você é pesado, então pare de resistir.

    — R-Raines…?

    — Não ouviu? Pare de resistir.

    Ela arrastou Sven Parav, que não conseguia se mover, em direção à retaguarda, onde havia lançado os demais.

    Crrrk, crack!

    O dragão tentava esmagar meu escudo com força bruta, mas ele não iria se quebrar. Se eu conseguisse aguentar até Ainar e Kaislan recuarem…

    — …Hã?

    — GROOOOOAAAAARRR…!

    O rugido veio de bem na minha frente. De repente, senti meu corpo sendo erguido, desafiando a gravidade. Demorei um segundo pra entender.

    — Ah.

    O dragão, frustrado por não conseguir quebrar o escudo, mordeu e me ergueu com a cabeça.

    — GROOOAAAAARRR!!

    Ser mordido, esmagado e despedaçado por ele não seria problema. O real problema era o ambiente.

    Zzzzt…!

    O campo do colapso dimensional nos cercava com uma barreira invisível. Um simples passo além dessa fronteira fazia os companheiros desaparecerem. Estávamos como bonecos presos em uma caixa de vidro.

    E agora, esse desgraçado me ‘pescou’ pra fora da caixa?

    O resultado era óbvio.

    Flaaash…!

    Com uma piscada brilhante, um novo espaço se revelou diante de mim.


    Quando a luz pura se apagou, o que surgiu diante de mim foi um mar de tons cintilantes. Não, mais precisamente, eu estava a centenas de metros acima daquele mar.

    Fuuuuush…!

    Eu estava em queda livre do alto daquele céu. Algo em torno de quatro segundos de queda.

    Flash!

    Mesmo enquanto caía, minha visão piscava sem parar, com o ambiente mudando ao redor. O céu escurecia, depois se iluminava; penhascos se abriam dos dois lados, depois surgiam vegetações esverdeadas.

    Whoooong…!

    Em certos momentos, até mesmo as leis da física pareciam se inverter e meu corpo era arremessado para cima. Quantas vezes isso se repetiu?

    Kwaaaaang…!

    No fim, acabei aterrissando em um deserto seco, onde soprava um vento quente. Apesar de ter caído de uma altura que não parecia maior que 5 metros, talvez por causa da aceleração acumulada, o impacto deixou uma cratera ao meu redor, como se um meteoro tivesse despencado ali.

    — Haa…

    Pelo menos caí na areia, então foi relativamente macio. Mas os grãos que se infiltraram pela armadura, misturando-se com o suor, traziam uma sensação extremamente desconfortável. Ou será que a real causa desse incômodo era outra?

    — …

    Não consegui dizer nada. Um tipo de irritação difícil de definir em palavras tomou conta de mim, e por um momento, pensei em simplesmente deitar e ficar ali.

    Mas…

    — Maldito dragão…

    Seria essa a sensação dos que eram arrastados pelas habilidades Olho da Tempestade e Transcendência no passado? Nunca imaginei que acabaria me separando dos meus companheiros assim.

    Swip.

    Reprimi os pensamentos fracos e me levantei, encarando o céu.

    — …

    Consegui conter o suspiro, mas isso não significava que me sentia melhor. Afinal, eu não fazia ideia de como reencontrar meus companheiros.

    O Labirinto, durante o colapso, se assemelha às ‘formações ilusórias’ das novels de artes marciais. Aquelas em que, apesar da ilusão, é possível sair se seguir os passos certos. Foi por isso que conseguimos executar a estratégia de retirada anteriormente. Se alguém entra no mesmo lugar, há uma boa chance de sair no mesmo campo.

    Mas…

    “E nesse caso? Como volto?”

    Evitei pensar muito nessa dúvida. Refletir sobre algo impossível não tornaria a coisa possível. Então…

    Swip.

    Rezei para que meus companheiros estivessem bem e comecei a observar calmamente os arredores. Um deserto vasto, sem fim à vista. E então, surgindo das areias ao sentir um intruso, apareceu uma criatura mecânica.

    “Golem Canhoneiro.”

    Sétimo nível. Ao menos me ajudou a identificar onde eu estava.

    【Você entrou numa área especial.】

    【Efeito de campo – Deserto das Armas de Fogo ativado.】

    【A penetração de todas as armas de longo alcance aumenta em 1.000%】

    Deserto das Armas de Fogo. Uma das fendas do segundo andar acessível a partir do Deserto Rochoso.

    BOOM!

    O Golem Canhoneiro disparou um projétil mágico como se fosse uma salva de abertura, e, com isso, outros monstros também apareceram. Kobolds, Homens de Areia, entre outros. Criaturas típicas do Deserto Rochoso.

    Mas havia uma diferença marcante entre eles: Estavam todos empunhando pistolas rudimentares, claramente improvisadas.

    Ainda assim, eram apenas monstros de sétimo nível.

    【Você derrotou um Golem Canhoneiro. EXP +3】

    【Você derrotou um Kobold Pistoleiro. EXP +2】

    【Você derrotou um Homem de Areia do Oeste…】

    【……】

    Não levei muito tempo para exterminá-los. Na fenda solo do Primeiro Subsolo, onde só aparecia o guardião, não tive chance de acumular experiência.

    — Haa…

    Assim que limpei a área, pensamentos começaram a me invadir novamente. Será que os companheiros que recuaram antes do sopro sobreviveram? Será que entraram no mesmo mapa e conseguiram se reencontrar? E Amelia, Ainar, que ficaram por último? Estarão bem? Mesmo que tenham conseguido escapar… será que todos vão aguentar até o fim do evento e se reunir na cidade?

    — Haa…

    Os pensamentos vinham em ondas, intermináveis.

    — AAAAAAAAHHH!!!

    De repente, um grito desesperado ecoou atrás de mim. Virei rapidamente e vi um homem desconhecido caindo do nada no ar, fazendo uma queda amortecida como se soubesse cair.

    Rolando.

    O homem rolou pela areia, apressadamente pegou sua arma e entrou em posição de combate…

    — Hiiik!!

    Mas ao me ver ainda sob o efeito de Gigantificação, deu um salto para trás, completamente apavorado.

    Mesmo sem trocar uma palavra, entendi a situação.

    “Foi separado do grupo, né…”

    Não senti pena. Pelo contrário, me fez cair na real.

    “Eu também fui.”

    — …E-ei, Barão Yandel?

    Parece que ele me reconheceu um pouco tarde. Olhei bem para ele e fiz apenas uma pergunta.

    — Seu nome?

    — M-Maze Reiner!

    Ok. Não é um Hans. Primeira triagem, aprovada.

    — O que sabe fazer?

    Mesmo separado do grupo, ele era um explorador, afinal. Apesar da pergunta solta, o homem logo entendeu a situação e respondeu com entusiasmo.

    — Tirando combate, sou bom em tudo!

    — …Hã?

    — Pode até pensar que minhas habilidades de luta são fracas, talvez quinto nível! Mas nunca deixei de cumprir meu papel! A partir de agora, farei tudo que o senhor mandar sem reclamar! Por favor, me leve com você!

    Hmm. Pelo menos é ágil nas respostas…

    — É Visconde Yandel.

    Algumas coisas precisam ser corrigidas, afinal.

    Um pequeno gesto, um grande impacto!

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