Capítulo 028 — A floresta de Loryndel
Lou-reen olhou fixamente para a esfera, a surpresa evidente em seu rosto. Marco, ao lado dela, percebeu a mudança instantânea na general.
— Isso é impossível… Eu estive com ele ontem — Lou-reen murmurou, mais para si mesma. Ela parecia incapaz de acreditar nas palavras de Faey. Marco observou o seu desconforto, mas antes que pudesse falar, a voz de Faey continuou.
— Eu sei, Lou-reen. Estamos começando a investigação, e os dois soldados que estavam à porta do quarto de Elucydor confirmam que, antes da chegada do médico, as únicas pessoas que entraram no quarto foram você e Venia.
Faey fez uma leve pausa antes de continuar, sua voz cheia de um tom sombrio.
— O corte é de uma precisão impressionante. Não parece ser algo feito por uma lâmina comum, e definitivamente não foi algo feito sem habilidade. O que é ainda mais estranho é que a perícia não encontrou sinais de luta ou qualquer tentativa de defesa.
Lou-reen parecia processar a informação em silêncio, suas mãos fechadas sobre a mesa.
— E veneno? — Ela perguntou, tentando encontrar uma linha de explicação.
Faey respondeu, mais sombria agora.
— Não, não encontramos vestígios de veneno. Nada que pudesse ter sido usado para sedá-lo antes do golpe. A cena do crime é limpa, sem traços que indicassem outra intervenção. Mas a precisão do golpe… Não há como ignorar isso.
A revelação caiu como um peso pesado no ar. Lou-reen ficou em silêncio por um momento, seus olhos fixos no chão, enquanto as palavras de Faey ressoavam em sua mente. Marco sentiu o ar na cabine ficar mais denso, como se uma sombra tivesse sido lançada sobre eles. Ele olhou para Lou-reen, tentando entender o que ela estava sentindo.
Ela levantou o olhar, agora mais dura, e encarou a esfera com uma expressão sombria.
— Isso significa que há algo muito maior acontecendo aqui do que simplesmente o que parece. Nós sabemos que Elucydor não agiu sozinho. Alguém o estava controlando.
Faey, agora com um tom mais sério, respondeu.
— A investigação continua. Iremos interrogar todos que estavam na área e procurar mais pistas. Assim que tivermos algo novo, entraremos em contato.
A esfera de selenita, com a voz de Faey já se apagando, retornou ao seu brilho suave.
Lou-reen finalmente se virou para Marco, seu olhar agora mais decidido.
— Isso não acabou, Marco. Estamos apenas começando, precisamos descobrir quem está por trás disso e qual é o verdadeiro objetivo. Fique alerta.
***
À medida que a tarde avançava, Marco se aproximava da janela do vagão. O trem, sempre constante em seu ritmo, atravessava uma vastidão de campos de plantação que aos poucos começavam a desaparecer. O cenário tranquilo de amplos campos estava se transformando, dando lugar a uma visão que lhe era completamente nova.
As árvores começaram a surgir ao longe, imponentes e densas, criando um manto verde que parecia se estender por quilômetros. O tamanho das árvores dava a impressão de que ele estava se aproximando de uma montanha, não de uma floresta, suas copas se erguendo em direção ao céu com uma força majestosa. A floresta estava se formando ao seu redor, tomando conta da paisagem de uma maneira que ele nunca imaginara.
— Isso é… incrível. — Marco murmurou, maravilhado com o que via.
Lou-reen, que estava ao seu lado, observou a mudança com um olhar atento e tranquilo. Ela sabia bem o que estava por vir.
— Essa é a Floresta de Loryndel— anunciou Lou-reen, sua voz séria, mas com um tom de respeito. — Uma das florestas mais densas e imponentes de Taeris e é onde está localizada Ayas-Kin, a Cidade-Floresta.
Marco absorveu cada palavra, os olhos fixos na imensidão verde que tomava conta de sua visão. A floresta parecia viva, uma presença silenciosa, mas esmagadora, como se algo primordial e imutável se escondesse entre suas árvores. Ele sentiu um arrepio ao pensar na vastidão daquele lugar e na cidade que se ocultava nela.
— Ayas-Kin… é tão imersiva quanto parece, não? — Marco perguntou, a mente cheia de imagens e suposições sobre a cidade escondida entre as árvores.
Lou-reen assentiu com leveza, mas a gravidade de sua expressão não se perdeu.
— Ayas-Kin é única. Foi construída no coração da floresta, com os elfos utilizando tanto magia quanto tecnologia para se integrar com a natureza ao invés de dominá-la. Não há ruas convencionais, mas sim trilhas que se entrelaçam pelas árvores, ligando as várias plataformas suspensas. A cidade é viva, em harmonia com o ambiente. Cada árvore ali tem um propósito, cada planta tem um significado.
Marco franziu a testa, absorvendo as palavras de Lou-reen. Ele ficou em silêncio por um momento, os olhos fixos nas árvores, como se tentando entender a magnitude daquele lugar.
— Cidade-Floresta é um bom nome então — Marco repetiu, com um tom de curiosidade crescente. Então, algo que Lou-reen disse o chamou ainda mais a atenção. — Espera… elfos?
Lou-reen arqueou a sobrancelha, percebendo a surpresa na voz dele.
— Sim. Ayas-Kin é habitada principalmente pelos elfos, uma das raças mais antigas de Taeris. Eles têm uma relação única com a natureza. Eles vivem em harmonia com as árvores, com os animais, com todo o ecossistema.
— Você está falando… de elfos? Como… de verdade? — Ele perguntou, sua voz carregando uma incredulidade difícil de esconder.
Lou-reen franziu a testa.
— Sim, de verdade. Por que essa surpresa toda?
Ele passou a mão pelos cabelos, tentando organizar seus pensamentos.
— Na minha terra… — começou hesitante — elfos não existem. Eles são apenas mitos. Algo que as pessoas inventaram para contar histórias.
Lou-reen o observou por um instante, então riu de leve. Ele se voltou para Lou-reen novamente.
— E eles são como nos contos? Orelhas pontudas, ar misterioso, um monte de conhecimento oculto?
Lou-reen riu outra vez, mas desta vez com um toque de diversão genuína.
— Eles têm orelhas pontudas, sim. E são incrivelmente inteligentes, embora alguns possam ser bem arrogantes. São práticos, focados, e muitos têm uma habilidade excepcional tanto com magia quanto com engenharia.
Marco piscou, tentando processar aquilo. Sentiu um nó se formar em seu estômago. Por um momento, olhou de novo para a floresta, como se esperasse ver uma figura esguia de orelhas pontudas emergindo entre as árvores a qualquer instante.
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