Capítulo 35 — A Promessa de Akane
No campo de treinamento, Raishi observava Kamito com atenção. Parabenizou-o por ter conseguido encontrar sua Relíquia em apenas dois dias, o que o deixou surpreso. Para ele, pareciam ter se passado apenas algumas horas naquele lugar.
Rapidamente, Kamito olhou para a direita e viu que Akane ainda estava imóvel. Antes que pudesse pensar em se mover, Raishi o impediu, dizendo para não interferir, pois ela logo despertaria.
Dentro de sua mente, Akane caminhava por uma projeção da cidade onde moravam, seguindo até o mesmo parque onde ela e Kamito se conheceram. Ela não compreendia bem o motivo, mas sabia que aquilo fazia parte do treinamento. Continuou andando até avistar sua versão do passado sentada sozinha em um banco, chorando.
— Ei, vejam só quem está ali! É a esquisita, vamos lá zoar ela. Vai ser divertido. — Dizia um dos garotos que se aproximavam.
Quatro garotos se aproximam dela, fazendo a pequena Akane se encolher assustada. Um deles puxou seu cabelo, fazendo-a tentar escapar, mas estava cercada.
— Você é aquela garota esquisita. Cadê a sua irmã?! Por que tá sozinha?! Nem ela te atura! — Zombou outro, entre risadas cruéis.
Akane começou a chorar. Não podia fazer nada. Com um olhar triste, pensou que, naquele momento, só queria desaparecer. Foi então que ele apareceu, a luz que lhe deu um propósito. O garoto que viria a se tornar o grande amor de sua vida: Kamito Takeda.
— Ei! Por que vocês não a deixam em paz?! Arrumem algo melhor para fazer! — Gritou o menino de olhos avermelhados e cabelo azul ao se aproximar, decidido a protegê-la.
Os quatro valentões se viraram, surpresos com a interrupção, e logo voltaram suas atenções para ele.
— Olha só quem apareceu, um “herói” dos indefesos. Outro esquisito! Que aparência é essa?! Você é de algum circo?! — zombou um deles, rindo — Você é uma aberração. Pessoas normais não são assim. Ainda acha que tem o direito de dizer algo? Está bancando o herói para impressionar a esquisita?! Você acaba de se dar mal.
Os garotos correram em direção ao garoto. Um deles acertou um soco em seu estômago, derrubando-o no chão. Os outros riram, o ergueram e o seguraram pelos braços para que ele não pudesse se mover. Um dos valentões foi até Akane, puxou-a bruscamente e a forçou a assistir à cena, obrigando-a a vê-los baterem em Kamito até se cansarem.
— Olha bem para ele, esquisita. — Começou a dizer um dos garotos, com um sorriso cruel no rosto — É isso que pessoas como vocês merecem! A partir de hoje, faremos a vida dele um inferno. Esteja grata por isso!
A Akane mais velha mordeu os lábios e desviou o olhar. Sentia-se péssima. Pensava que, se Kamito não tivesse tentado ajudá-la, talvez jamais tivesse sofrido daquela forma. Mas, ao mesmo tempo, era grata. Grata por alguém ter tentado defendê-la, mesmo sem a conhecer.
Voltou os olhos para as crianças que agora estavam sentadas no banco da praça. A pequena Akane chorava, a voz tremida e cheia de culpa.
— M-Me d-desculpa… V-Você se machucou por minha causa! Por favor, me desculpa!
Os olhos da garotinha transbordavam lágrimas. Ela não queria que ninguém tivesse se machucado por sua causa. Repetia os pedidos de desculpas sem parar, enquanto olhava para o menino à sua frente. Mas ele apenas a observava com um sorriso tranquilo, contente por vê-la bem e sem nenhum arranhão.
— Não precisa se desculpar. O importante é que você está bem! Eu não me importo de ter mais alguns valentões pegando no meu pé! — disse ele, ainda sorrindo — Prazer em te conhecer, eu sou Kamito!
O garoto de cabelos azuis se apresentou com um sorriso contagiante e sincero. Aquilo fez a menina parar de chorar. Olhou para ele com curiosidade antes de falar:
— Eu sou Akane! Você é novo por aqui? Eu nunca te vi antes. Você é de outro mundo?
A pergunta veio carregada de inocência, e sua expressão curiosa evidenciava o quanto a aparência dele chamava sua atenção. Kamito soltou uma risada com a pergunta inesperada. Akane o acompanhou, rindo também. Aquilo era impossível, claro.
— Eu sou novo aqui, me mudei para cá há pouco tempo… V-Você quer ser minha amiga?! Podemos brincar sempre que quiser… — disse ele, envergonhado e nervoso, temendo que ela recusasse ou tivesse medo dele.
Para sua surpresa, Akane aceitou com um sorriso no rosto. Logo depois, os dois já corriam e brincavam pelo parquinho como se nada tivesse acontecido.
A Akane mais velha observava a cena com os olhos marejados.
— Kamito… Naquele dia você foi como uma luz para mim. As outras crianças não gostavam de mim por eu ser muito apegada a minha irmã mais velha, mas, quando você apareceu, as coisas mudaram. Você se tornou alguém especial e eu havia decidido que sempre estaria ao seu lado. Você sofreu por tudo aquilo sozinho por minha causa. Eu jamais saberei como foi essa dor. Você sempre me protegeu…, mas agora… Agora é a minha vez de te proteger!
Ela estava determinada com o que dizia. Seu olhar estava sério e focado, como se estivesse diante de um inimigo. As duas crianças se aproximaram dela e estenderam as mãos. Assim que Akane tocou as mãos delas, um imenso clarão envolveu os três. Quando toda aquela luz se dissipou, Akane apareceu segurando um arco dourado.
Virou-se de costas para o parquinho e, à medida que caminhava, tudo atrás de si começou a se desfazer, até que foi finalmente levada de volta ao campo de treinamento.
— Bem-vinda de volta, Akane. Você também conseguiu? Eu fiquei preocupado. — disse Kamito ao vê-la.
Ao perceber que havia retornado, ela desceu rapidamente do tronco onde estava e correu em sua direção, envolvendo-o num abraço apertado. Kamito ficou confuso no início, mas logo retribuiu o abraço, acariciando os cabelos dela. Akane não parava de apertá-lo.
— Eu… Eu vivenciei o dia que nos conhecemos. Eu não fazia ideia de quanto aquele momento foi especial para mim! Kamito, me desculpa por tudo que você passou. Eu não fazia ideia.
Ela se afastou um pouco, olhando diretamente nos olhos dele. Seu olhar era angustiado, mas cheio de sinceridade. Kamito sorriu, levando a mão direita até a bochecha dela, tocando-a com carinho enquanto a observava com atenção.
— Eu também. Foi graças a você que eu pude resistir a tudo aquilo. Se eu te conhecesse em outra vida, eu passaria por tudo aquilo de novo só para te ter mais uma vez ao meu lado.
Ele acariciou o rosto dela lentamente, e Akane fechou os olhos, apenas sentindo o carinho. Kamito sorriu diante da reação dela e, com delicadeza, depositou um beijo em sua testa.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.