Capítulo 3: A Estação de Ikebukuro (3)
Seu relógio bateu, sem preceder a nada, e ao tempo certo, como tanto prezava seu dono. Já eram 19h00 bem medidas, que cronometravam o tempo ideal para o início do procedimento.
Ao exigir de um cronômetro essa exatidão, não foi diferente para seus subordinados antes de chegar lá, pois os criminosos, usufruindo da melhor astúcia, entraram, separados por cada saída da estação, por todas as aberturas possíveis, mesmo que não houvesse oposição.
Isso a todo momento, seja pela passagem vinda do metrô, pelas entradas na superfície, e até desembarcando de viagem. De nada adiantou o alerta dos seguranças, pois havia sido tarde. Não havia guarda-chuva para apoiá-los. Até que tomassem consciência dos espinhos nos quais foram jogados, não houve inteligência que os salvasse.
Se minúcia era um lema, outra vez ela se repetiu, porque, através de um ataque cibernético coordenado, não houve falta: todas as catracas de entrada e saída foram bloqueadas.
Aos demais, foram dados tiros de aviso debaixo do andar, que fugiram à procura de socorro; porém, aos de sua custódia, restou-lhes a obediência. Desperdiçaram munição à vontade, sem temer que acabasse por conta da logística veloz que traziam, contando pelo menos vinte disparos, todos em sequência.
O segurança havia sido assassinado sem pleito. Sucumbido, sem nenhuma esperança, enquanto ninguém veio ao seu socorro, e se veio, pediu para que rendessem suas pistolas para os criminosos. Não houve bravura que respondesse a essa crueldade.
Nada entrou ou saiu de lá, muito menos mudou. O encargo dessa crise foi passado à polícia, e com ela, toda a sociedade acompanhou de perto os ocorridos. Mas não era toda ela que estava se empilhando, e apertando a gravata para ser louvada. A sombra os cobriu, mesmo acompanhada de tantos flashes luminosos, para nadar lhes dizer.
“A delegacia está sob cuidados especiais de uma equipe de operações que está protegendo a estrutura local de qualquer atividade ilícita dos perpetradores. Perante o risco de uma enorme infraestrutura armamentista capaz de dar suporte e estrutura aos criminosos em condições de ameaça cair em mãos erradas, foi requisitada de imediato essa medida de proteção!”, explicou, batendo o punho sobre a bancada.
“Até lá, por ordem oficial, ninguém está autorizado a interromper as operações e a ultrapassar a área de isolação. Caso o contrário ocorra, haverá imediata prisão em flagrante por desacato e desobediência às ordens de um órgão público! No aproximar do início da operação, aguardem por atualizações de meu porta-voz”, retrucou gravemente. Debaixo do pedestal, se escrevia o nome ‘Hidetoshi Tanabe, Chefe de Operações.’ A voz da polícia mostrou seu desprezo ao descuidado, e não poupou severidade. O silêncio permaneceu. Ao dar as costas, o chefe acenou, apenas apontando-lhe o dedo, indicando-lhe o contratempo de não usar as armas. A postura era brava e raivosa, como suas intenções quanto à operação a ser montada.
“Senhor Delegado, de que maneira poderia haver comprometimento à delegacia por parte dos criminosos?”, um dos entrevistadores impôs-lhe o microfone para ouvi-lo perante a televisão.
“Na altura do possível, tomaremos todas as medidas de precaução! É o que podemos fazer! Se quiser saber mais, é melhor que passe essa responsabilidade ao departamento de crise do governo!”, respondeu, afastando-se dos demais. Partiu para além da bancada de imprensa, sem olhar para o relógio.
“Sem mais perguntas!”, a porta foi fechada diante dos jornalistas, e os flashes fotográficos se interromperam ali.
Assim, se é para contar o tempo, então quatro longas horas ficaram para trás, marteladas sobre a memória. Todos se viraram tristes, dizem alguns que não podiam mesmo coçar alguma parte do corpo sem perder a lógica. A quem estivesse sob e com as armas, a meia-noite corria para assustar, e chegava sem atraso.
É na penumbra que os questionamentos e as acusações apitavam com força sobre todos, delineando o estresse num fio, para capturar os olhos distraídos a se conformar nas garantias da vida social.
Os preparativos, logo tiveram início, havendo a troca de sintonização do sistema de comunicações. Os radiocomunicadores se viraram à frente, lendo códigos de manuais das várias companhias de trem, listando números e os inserindo no painel ao som de testes e incontáveis ajustes. Diversas vezes proferiram suas intenções, apresentando-lhes a diplomacia que, no mais, foram recebidas somente por um ruído estático.
A Força-Tarefa Especial da Polícia havia preparado meios para se comunicar com os criminosos, e não obtiveram sucesso. A hora então chegou, e todo o esforço foi imposto lhes foi colocado para vencerem num ritmo veloz: uma invasão era iminente.
Por alto, foi tudo que podia se imaginar dentro do usual: com a pressa ofuscando os desesperados, e a razão incendiando a indignação.
As peças foram dispostas, porém em um tabuleiro somente. Embora fosse permitido gravar a operação da polícia na estação, o contrário foi imposto às emissoras: nada de transmissão. Rapidamente o aceitaram, à luz daqueles que prezavam a transparência, para que as lentes transparecessem ao que somente importava.
“Senhor, alguns policiais não estão constando aqui, qual é o canal de transmissão para a operação dentro da delegacia?”, uma mulher de cabelos curtos retirou o fone de sua orelha e acenou para um dos oficiais que caminhava na sala de comando.
“Não há, é o departamento de operações especiais que toma conta deles”, respondeu-lhe.
“Como?! O senhor não percebe riscos?! Nada disso consta lá”, ao mesmo instante que deu a resposta, o oficial estalou o dedo.
“Eu chequei os canais. Mas, eles não permitem que eu faça uma vistoria no canal de Operações Especiais. Fiz meu melhor, mas há vezes que eles sabem cuidar de si.”
O homem a observou com atenção, levantando o olhar em direção aos equipamentos. Para aquele momento, ele se contraiu, embora estivesse vistoriando melhor o que estava sendo feito. Depois olhava para a televisão, apertando seus lábios entre si.
“O canal de aguardo precisa ser nessa sintonia”, ele se aproximou do rádio, corrigindo-o com leveza. A moça se revoltou, entortando a cabeça em sua direção.
“Senhor Koibuchi, esses números constam no antigo manual!”
“É necessário que todos os canais estejam inutilizados para não haver interferência. É conduta somente”, respondeu-lhe.
“Não me deram essa instrução, senhor.”
“Bons hábitos sempre serão bons hábitos. Pode confiar em mim, Senhorita Ichiko, não vai perder tempo para voltar para casa”, saiu da sala, balançando os ombros dela até partir.
A moça se virou para um dos colegas que instalava alguns fios na central de rádio. Tornou os olhos raivosos, segurando os punhos indecisa.
“Desde quando que estão deixando a imprensa entrar de qualquer jeito, Yurimoto?”, perguntou-lhe. O homem, então, balançou o rosto, tirando o suor da testa. “Perder o emprego pela besteira de alguém é desanimador.”
“Nem gostaria de lhe contar. Sabia que está tendo uma alta no cinema para ver como é uma desgraça acontecendo?”, respondeu. A moça, no entanto, puxou-o pelo ombro.
“Não brinque com isso, idiota! É coisa séria. Onde está sua empatia, seu estúpido?!”, repreendeu, ao passo de sussurrar com severidade. Quase foi engolido pela enormidade daquela reação.
“Ei! Eu não estou brincando. É exatamente isso! Estão colocando câmeras em todo lugar e há pessoas lá na imprensa furando fila para oferecer as gravações. Gravações, Ichiko. Não é nem para investigar os responsáveis, porque pelo que vi, só fizeram questão de mostrar a porradaria para o jornal mostrar e ganhar na audiência.”, quando respondeu, ele balançou a cabeça desapontado e fez força para conectar um último fio. As televisões de toda a sala estavam ligadas, ao passo de chegar alguns homens ligando cada aparelho com um controle remoto.
“Eles já foram menos sisudos assim…?”, perguntou-se ela.
Não tão longe da sala de crise, as emissoras, e os demais civis, viravam câmeras para a grande operação que tinha hora marcada. Para os envolvidos, e os acostumados, foi bem diferente do que se viu no sequestro à Embaixada Iraniana de Londres em 1980, na qual transmitiu-se apenas a execução da operação, não o seu planejamento.
O país, destemido no balanço internacional, desbravaria novamente os limites de sua reputação, ainda mais pelas calorosas discussões sobre respeito ao ‘contraterrorismo’ internacional.
Mas quaisquer palavras que o Japão tenha jogado, não estavam mais mascaradas que os civis salteados entre os trens, deitados de queixo. Consigo, o tempo lhes levava embora a razão, e a imaginação de turbantes e barbas do oriente, arrepiantes ao ocidente.
A situação havia permanecido a mesma desde então, mas, no tocante ao silêncio, parecia que não haveria fim para as encaradas e maus olhares dos perpetradores, que ansiavam para compreender melhor os passos do que estava para ser conduzido.
“Senhor, estão batendo na porta. Devemos proceder?”, perguntou um subordinado ao capitão, apontando-lhe atrás à cabine do trem. Ele ergueu a mão para que viesse mais perto.
“Fique de olho para quando o protocolo for acionado antes de dar uma de tolo por aí!”, assim lhe ordenou. Mas logo abaixou o tom de voz para que não fosse ouvido. “O governo é um rato com uma bomba-relógio. Tem que pegar e levar o mais rápido. Traga todos aqui.”, assim lhe sussurrou. “No seu sinal, estarão prontos.”
“Sim, senhor”, partiu, de volta ao trem. Deu três tapas sobre a carcaça e logo se agachou. Todos saíram do primeiro vagão, vestindo a mesma braçadeira.
Não eram poucos os entornos defendidos a dentes e unhas: nenhuma escada rolante estava livre, se é que pudesse, àqueles que ousavam assaltá-la subindo do andar subterrâneo, como a entrada oeste, para a qual nenhuma brecha foi cedida. Do outro lado, na entrada leste, o mesmo, mas por ser mais baixa, alguns atiradores foram colocados de forma que tivessem visão de todo o andar debaixo.
Firmou-se todo o esquema de defesa, para atender aos mínimos da legislação. Logo, a pedido da Força-Tarefa, prontificada para realizar o cerco no âmbito de controlar e suprimir à bruta força os sequestradores, um franco-atirador foi posicionado a sudeste da estação.
Nesse entremeio, via-se toda a região da ferrovia exposta, com algumas aberturas que se davam de frente às luzes da estação. Mas, para piorar o desespero, os trens, que dariam margem para os atiradores, barraram o campo de visão de qualquer um que estivesse ao alto da estação, não importando a altura.
Sua posição, logo, não se avantajava tanto, mesmo estando sobre o edifício capital de uma rede comercial comum à metrópole. Procurou localizar-se com segurança sobre a cobertura do edifício. Não havia espaço ou ângulo. O atirador suava para não ser obrigado a ouvir e atender a expectativa de um comando dado por rádio.
De lá, ele se acomodou melhor, arrastando as pernas para que lhe dessem mais aderência e firmeza ao chão. Mesmo que se cansasse para garantir sua precisão e conduta, incomodou-se com a falta de clareza e informação.
“Eu avisei que não teria lógica ocupar um lugar tão distante da estação. Qual seria a desculpa?!”, disse, concentrado sobre suas ordens. Mas insistiu, atormentado de irritação pela falta de esclarecimento. virado por lá. Arrumaram a casa também com essa manutenção. O especialista mirou atentamente com seus binóculos. Pensou transmitir sua voz, embora percebesse que não haveria resposta, perante a delegacia, toda vazia e lesada por todos.
“Está uma bagunça feita um caos.”
No entanto, como se fosse um sinaleiro, viu-a piscar pelas janelas. Tornou a arrastar o fuzil para frente, e enxergar debaixo do apoio do gatilho, por entre uma longa distância que o separava dos desesperados lampejos. Bastou pouco, talvez nada. A pressa da sirene de uma viatura, bradando num zunido altíssimo, atacou seus ouvidos na medida de provocar-lhe a confusão. Correu a mão até o rádio acoplado ao ombro.
“Central de Comando, vejo luzes piscando da delegacia descendo desde o oitavo andar. Peço permissão para averiguar, câmbio!”, pôs o dedo indicador sobre sua orelha, gerando um breve ruído.
“Negativo”, a Central respondeu, brevemente. “Haverá comprometimento ao procedimento da operação se houver prosseguimento.”
“Qual então é a razão de piscar e balançar luzes de fora da janela, câmbio?”, ao perguntar, apenas ouviu outra vez o ruído estático. Sem resposta, voltou-se à sua função, pensativo, sentindo-se na responsabilidade de se passar por essa função.
“Central de Comando, o que está escrito no procedimento que me proíba de ajudar, câmbio?!”, impaciente, ele subiu seu tom com leveza, para que não deixasse escapar sua raiva.
“O primeiro Batalhão de Operações Especiais proíbe comunicação direta até o encerramento das operações”, informou o ruído estático. “Por favor, mantenha o silêncio de rádio até segunda ordem a menos que seja para uma comunicação relevante à missão, câmbio desligo.”
Porém, mesmo recebendo uma resposta que lhe fazia ter luz sobre os motivos para essa hesitação, o atirador não se conformou. Por um momento ele se conteve para não se irritar demais, mantendo a compostura para a qual foi treinado, embora seu sentimento fosse nem um pouco alegre e comovente. Ele se coçava, impossibilitado de terminar o que ansiava cumprir.
“Não entendo esses caras! O que tem demais em saber?”, resmungou, levantando a cabeça em desapontamento. Mas, um olhar mais erguido o conduziu a pensar mais alto, e então, sentiu-se confirmado. Posteriormente, olhou para baixo, leu o que havia deixado anotado, e mais uma vez se sentiu negado.
“Dane-se tudo!”, suspirou rápido, para que sua compostura se recuperasse de modo a não se atrapalhar.
Voltou-se então, até a estação cercada, enquanto tentava superar a hesitação de seus olhos, que não sabiam como correr da experiência. De imediato, alertando-o como nunca, três tiros então vieram à sua atenção com nenhum atraso na rispidez. Seus sensos se alertaram ao absurdo, fazendo-o enrugar o olhar desesperadamente.
“Central de Comando, de quem são os disparos?!”, outra vez, ficou irritado após perceber que esses disparos se tornavam intermitentes. Mas enquanto observava a estação, seus ouvidos se alertaram por ouvir que a comunicação se mantinha estática. Seu ângulo estava coberto, um ponto cego que impunha prédios por entre sua luneta e a estação.
Rebuscou o olhar para a delegacia, temendo uma distração, mas o silêncio o incomodou. De imediato, quando o atirador mirou sobre a janela do trem, viu a cortina se mexer impacientemente.
Porém, não recebeu nenhum aviso e foi ofuscado, pela mesma luz que viu anteriormente, e ele se virou incomodado. Ao arrastar-se com o peito para trás, uma porta se abriu apressada; o homem se virou aterrorizado.
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