Capítulo 130: Sem medo (1)

Definitivamente vale a pena tentar.

Alberu parecia um pouco animado.

— Você está me contando algo revigorante, embora irritante, pela primeira vez em algum tempo.

Cale assentiu com a cabeça.

— É verdade. Eu não passo só as dores de cabeça para você.

Alberu naturalmente zombou. Nunca viu ninguém com tantos incidentes quanto Cale Henituse. No nível de Cale, era praticamente o destino.

No entanto, Alberu não compartilhou seus pensamentos. Em vez disso, compartilhou as informações que precisava compartilhar com Cale.

— O prisioneiro que você enviou está sendo interrogado pela minha tia agora.

— Está indo bem?

Claro, Cale sabia que Tasha provavelmente estava torturando o prisioneiro e não o interrogando. No entanto, Cale não mencionou isso.

— Presumo que ele possa nos dar alguma informação em breve. Minha tia trouxe um especialista para ajudar.

Cale se perguntou quem seria o especialista que os Elfos Negros haviam trazido. Ele teve uma ideia, mas ainda assim assentiu, fingindo ignorância. Alberu estava falando sozinho para processar seus pensamentos enquanto Cale fazia isso.

— Há muito a fazer. Entrarei em contato com a Rainha da Selva e os Chefes do Reino Whipper. Se fizermos isso, conseguiremos pelo menos dividir o Império e a Aliança do Norte geograficamente.

Alberu parou no meio da frase para olhar para Cale.

— Por que você está me olhando desse jeito?

Cale olhava para Alberu com um sorriso caloroso no rosto. Cale não teve problema em responder à pergunta de Alberu.

— Porque tenho orgulho de chamá-lo de meu príncipe. Tenho muito respeito por você, Vossa Alteza.

Cale pensou que seria uma boa decisão falar com Alberu.

Essa pessoa inteligente também era diligente, disposta a fazer todas as coisas chatas por ele. Era por isso que se orgulhava de Alberu.

— …Haaaaa.

Alberu apenas suspirou em resposta antes de fazer uma pergunta.

— O que você planeja fazer em seguida?

Cale nem piscou enquanto respondia a Alberu.

— Eu vou reunir informações.

Contudo, ele tinha outros planos.

“Reunir informações? Pretendo relaxar até o outono. O que mais posso fazer agora?”

Entretanto, Cale podia ver Alberu sorrindo estranhamente.

— Sim, tenho certeza que você me trará alguma informação útil.

Alberu estava pensando que Cale acabaria se envolvendo em alguma coisa, como sempre, e conseguiria lhe trazer informações.

Cale sozinho era melhor que toda a rede de informações de Alberu.

— …Sim, irei.

Cale ficou desconfiado com o sorriso de Alberu, então decidiu simplesmente desviar o olhar. Ele apenas disse a Alberu para entregar uma mensagem a Mary em seu nome antes de desligar o dispositivo de comunicação.

A despedida se tornou mais amigável a cada conversa.

— Eu sempre tenho pesadelos depois de conversar com você. Seu desgraçado.

— Que você tenha uma vida longa e saudável, Vossa Alteza.

— Seu bastardo engraçado.

*Click*

Alberu então desligou na cara de Cale. Cale sentiu que poderia relaxar um pouco, mas não conseguiu.

*Shhhhhhhhhh-*

Era o som de algo voando pelo ar.

Cale ficou assustado depois de ver a mancha preta voando em sua direção como uma bala.

“Por que ele está agindo assim?”

Raon parou quase bem na frente do rosto de Cale. Os olhos de Raon ardiam de paixão, o que fez Cale começar a se preocupar.

— Humano!

Raon gritou de repente.

— Vamos encontrar o poder da terra!

“Ah, certo. Eu ainda tinha que fazer isso.”

Cale começou a se sentir cansado. Ele empurrou o Raon flutuante para longe antes de soltar um suspiro.

— E suas aulas?

Raon precisava aprender com Eruhaben. As asas de Raon se contraíram por um instante diante da pergunta de Cale, mas Raon respondeu com confiança.

— …Posso pedir para ele me levar em uma viagem para adquirir experiência prática.

“Ei, ei, ei! ele quer que Eruhaben venha conosco para encontrar a Super Rocha? Ele está planejando destruir um continente ou algo assim?”

Cale acenou com a mão e respondeu.

— Fique aqui e concentre-se nas suas aulas. Eu posso ir com o Choi Han.

Ele não era louco o suficiente para levar dois dragões consigo para encontrar a Super Rocha. Cale suspirou diante dessa sugestão inacreditável. Então, sentiu que algo estava errado.

Raon ficou quieto.

Cale virou a cabeça para olhar para Raon.

— …Humano.

Raon baixou a voz e estufou o peito.

— Ouça as palavras do grande e poderoso Raon. O humano fraco precisa de mim.

O menino de cinco anos tentava parecer majestoso. No entanto, isso não mudava o fato de que ele era um menino de cinco anos que Cale via desde os quatro.

“Eruhaben não está lhe ensinando sobre o ar majestoso dos Dragões?”

Cale simplesmente concordou, pois seria muito chato discutir.

— …Tanto faz.

Raon começou a sorrir.

— Ótimo! Humano! Você tomou a decisão certa! Vou contar para Eruhaben!

Raon saiu da sala que brilhava com ouro e joias e voou em direção a Eruhaben. Cale observou Raon voando para longe e começou a pensar.

“Não deveria ser ‘perguntar’ a Eruhaben ao invés de ‘contar’ a ele?”

Ele se sentiu desconfiado novamente com a escolha de palavras de Raon, mas pegou o livro que recebeu dos Elfos, pois não havia nada que pudesse fazer sobre Raon.

Era um livro antigo, mas parecia estar imbuído de magia, pois as páginas ainda estavam em boas condições.

*Fshh* *Fshh*

Cale abriu o livro na primeira página, que continha apenas uma frase.

< Alguém disse que um humano estúpido é como uma rocha. Mostrarei a essa pessoa o poder de uma pequena rocha. >¹

*Pa!*

Cale fechou o livro. Este livro também era estranho.

No entanto, Cale abriu o livro novamente para poder viver sua vida sem uma bomba-relógio dentro de seu corpo. Ele pensou consigo mesmo que precisava fazer todo tipo de coisa para viver uma vida segura e começou a franzir a testa.

Ele virou a página.

< A terra que está sob meus pés é mais resistente do que qualquer outra coisa. >

< A terra sacrifica seu corpo para fornecer um lugar para todas as formas de vida viverem. >

< A forma mais forte da Terra é uma rocha. >

Essa parte parecia normal.

*Fshh* *Fshh*

Cale virou as páginas lentamente enquanto lia. Sua carranca começou a desaparecer aos poucos. Havia frases que chamavam sua atenção de vez em quando.

< Ele era chamado de Guardião. A primeira vez que ele foi chamado de Guardião foi provavelmente quando ele parou um ogro que estava indo para sua aldeia. >

< Ele era o guardião oculto do Reino dos Pedregulhos. Ele sempre aparecia onde havia problemas e se defendia com confiança contra tudo e qualquer coisa. >

< As pessoas respeitavam o espírito nobre do Guardião. >

Cale lembrou da antiga lenda que Taylor havia compartilhado com ele no passado.

Era sobre o Guardião que salvou o Reino dos Pedregulhos.

Era uma lenda sobre um herói que salvou o território nordeste do continente quando ele estava coberto pela escuridão.

— Está relacionado com aquela lenda?

Cale relembrou essa lenda enquanto continuava a ler. Ele começou a sorrir lentamente.

< O Guardião tinha outro herói que era amigo e inimigo. Este herói foi quem libertou o Norte do frio congelante. Aquele herói era um pão-duro cujo hobby era pegar moedas. >

O Fogo da Destruição.

O dinheiro que o dono do Fogo da Destruição havia coletado foi levado pelo herói deste livro.

< O Guardião disse o seguinte depois de ver o dinheiro economizado por aquele herói. >

< — Bastardo maluco, você economizou e economizou sem gastar e acumulou tanto! >

Cale ficou feliz depois de ler as palavras “acumulou tanto”.

Entretanto, sua expressão ficou estranha enquanto ele continuava lendo.

< O Guardião era talentoso tanto no ataque quanto na defesa. Até uma pequena pedra teria um poder devastador quando ele a jogasse. >

O poder ancestral descrito neste livro parecia pertencer ao Assustador Pedregulho Gigante.

Contudo, esse não era o problema.

< Pouco antes de ir salvar o mundo da escuridão, ele deixou todos os seus pertences, bem como os pertences de seus amigos, em sua cidade natal. >

Cale começou a virar as páginas mais rápido.

*Fshh*

Cale virou o livro depois de ler até a última página.

— Haaaa.

Cale soltou um suspiro e começou a pensar no que tinha acabado de ler.

< A localização das rochas mais fortes do Reino dos Pedregulhos. >

A rocha mais forte referia-se ao granito.

< Sua cidade natal era um lugar perigoso onde todos os tipos de monstros vagavam selvagens, um lugar que permitia que as pessoas se movessem entre os continentes. >

< Foi aí que ele deixou tudo. >

— Puta merda.

Cale começou a franzir a testa novamente.

— Parece o meu quintal…

Definitivamente parecia estar descrevendo o território Henituse, especificamente, a Floresta das Trevas.

Cale tinha uma boa ideia sobre o que precisava fazer para ganhar a “Super Rocha“.

< Diz-se que o Guardião, cheio de justiça e verdade, deixou uma marca em sua casa para que os herdeiros de seus amigos pudessem levar o que ele havia deixado para trás. >

O Fogo da Destruição mostraria o caminho a Cale.

Embora soubesse a localização aproximada e como chegar lá, Cale sentia-se estranhamente desconfortável. 

Foi naquele momento.

— Humano, humano!

Raon voou de volta pela porta aberta.

— O quê- hmm?

A expressão de Cale ficou estranha quando ele levantou a cabeça.

— Humano! Você não come frutas quando lê? Eu trouxe algumas para você! Frutas frescas!

Raon voou em sua direção carregando uma bandeja de frutas nas patas dianteiras curtas. Ele então a colocou sobre a mesa, na frente de Cale. Raon começou a falar enquanto Cale o encarava em silêncio.

— Humano, ouvi dizer que você ficou encharcado pela chuva enquanto ia para a caverna. Você sofreu bastante. Precisa comer comida deliciosa para poder crescer forte.

Naquele momento, Cale pôde ouvir outra voz atrás de Raon.

— Nossa, nunca vi um Dragão servir um humano em meus mil anos de existência. Já vi de tudo até agora.

O Dragão de Ouro Eruhaben, que caminhava atrás de Raon, estalou a língua e balançou a cabeça. Raon parecia finalmente ter pensado em Eruhaben, apontando para ele.

— Eu trouxe o Vovô Ourinho também! Trouxe ele para a gente conversar sobre a experiência prática!

Eruhaben olhou para Raon com descrença.

“Quando Eruhaben se tornou Vovô Ourinho?”

Cale ficou curioso sobre isso, mas apenas apontou para uma cadeira para Eruhaben.

— Eruhaben-nim, por favor, sente-se.

— Ahhhh.

O Dragão de Ouro soltou um suspiro que não condizia com sua aparência e se jogou no sofá em frente a Cale.

— Por que deixei entrar uma criança tão problemática na minha velhice?

— Ourinho, eu não sou problemático!

*Plop* *Plop*

Cale comia uvas uma de cada vez enquanto observava os dois dragões conversando. Eruhaben zombou da resposta de Raon.

— Não é problemático? Você já está pensando em largar as aulas.

— Não! Estou tentando ajudar o humano fraco a se tornar forte! E não estou tentando abandonar, só quero ter uma experiência real com você, Ourinho!

*Bam* *Bam*

Raon bateu na mesa dourada.

— Ourinho! Quero ir com você!

Cale não deixou de notar a breve contração no canto dos lábios de Eruhaben.

O Dragão Ancião, que viveu sozinho por quase 1.000 anos, respondeu ao Dragão de cinco anos com indiferença.

— Não estou com vontade de ir com você.

— Não! Eu quero ir com você, Ourinho!

Raon balançou a cabeça vigorosamente e deixou sua posição clara. O canto dos lábios de Eruhaben se contraiu mais uma vez.

Cale não perdeu nada disso.

O Dragão de Ouro falou com indiferença mais uma vez.

— Criança, a decisão de ir ou não com você é minha.

Ele então falou friamente com Cale.

— Cale Henituse, não é fácil encontrar o poder da Terra. Será muito diferente sair por aí procurando por ele sem nenhuma informação.

Cale começou a achar que esse Dragão Ancião era um molenga.

O Dragão de Ouro não sabia dos pensamentos de Cale enquanto continuava a falar.

— Primeiro, precisaremos procurar livros que possam discutir o poder.

*Bum*

Eruhaben olhou para a mesa depois de ouvir o barulho.

Ele podia ver um livro antigo que parecia conter informações sobre lendas antigas.

Eruhaben parou por um momento antes de começar a falar novamente.

— Assim que encontrarmos o livro, precisaremos descobrir a localização do poder ancestral, bem como o método para obtê-lo.

— Eu já encontrei.

— …Tudo?

— Sim senhor.

O Dragão de Ouro observou o humano sentado confiantemente à sua frente. Este humano já possuía seis poderes ancestrais. Eruhaben não teve escolha a não ser aceitar.

— Você deve ser muito sortudo.

Cale começou a sorrir. Eruhaben bufou em resposta. Naquele momento, ouviu-se uma pata curta batendo no braço de Eruhaben.

— Ourinho, vamos lá!

Um Raon animado era o dono da pata. Eruhaben olhou de um lado para o outro, entre Raon e Cale. Raon lhe explicou tudo, incluindo os quatro anos de inferno e como conheceu Cale.

Eruhaben respondeu friamente ao humano e ao Dragão Negro.

— Farei o que eu quiser. É isso que um Dragão faz.

***

Poucos dias depois, Cale retornou à Vila Harris para seguir para a Floresta das Trevas e ganhar a Super Rocha.

Um cavaleiro de guarda cumprimentou Cale.

— Jovem mestre-nim, bem-vindo de volta.

— Obrigado.

— As pessoas que sempre estão com você não estão aqui hoje. Parece que só algumas pessoas estão com você desta vez.

O cavaleiro perguntou depois de ver as pessoas que Cale trouxe consigo. Cale assentiu casualmente e respondeu.

— Bem, estamos só descansando aqui por alguns dias. Certo, Hilsman?

Hilsman, uma das pessoas que veio com Cale, ficou parado ali com uma expressão vazia antes de ficar chocado ao ouvir Cale chamando seu nome.

— Sim-sim! I-isso mesmo!

O cavaleiro olhou para Hilsman com preocupação ao vê-lo responder com uma expressão pálida. A voz severa, porém calorosa, de Cale chegou aos ouvidos do cavaleiro.

— O Vice-Capitão parece ter enjoo de movimento. Pensei que ele só tivesse enjoo de mar, mas parece que ele também tem enjoo de carruagem.

— Ah, entendi. Vice-Capitão-nim, você está bem?

Hilsman assentiu com a cabeça.

— Estou bem! T-tá tudo bom!

Hilsman continuou a falar depois que Cale deu um tapinha em seu ombro.

— E eu estarei protegendo o jovem mestre-nim com isto-isto-isto-

Hilsman não conseguiu continuar falando. Seu olhar se voltou para a única pessoa que os acompanhava. Era um homem bonito, de cabelos loiros.

Hilsman apontou para o homem loiro com as duas mãos depois de ver aquele homem bonito olhando para ele.

— Este senhor e eu ficaremos de guarda para o jovem mestre-nim. Vamos nos movimentar livremente, então não há necessidade de nos seguir.

— Sim senhor!

O cavaleiro respondeu energicamente antes de espiar a pessoa ao lado de Cale. Todos que Cale trouxera tinham um temperamento assustador, mas essa pessoa parecia ainda mais difícil de abordar.

— Então continue com o bom trabalho.

— Sim, jovem mestre-nim.

O cavaleiro e os soldados saudaram Cale antes de observarem as três pessoas entrando na aldeia. Eram Cale, o Vice-Capitão Hilsman e o novato.

Cale estalou a língua e começou a falar com Hilsman.

— Por que você está tão nervoso? Né, Eruhaben-nim?

— De fato.

Eruhaben olhou para Hilsman e continuou a falar.

— Humano, viva a vida em paz.

Hilsman assentiu vigorosamente. Cale explicou naturalmente a Hilsman sobre Eruhaben. A maioria do grupo de Cale estava no covil de Eruhaben, com apenas três homens do grupo o seguindo para a Floresta das Trevas.

Um era Hilsman, que cuidaria de todas as tarefas e necessidades, enquanto os outros dois eram os Dragões.

— O mundo humano não mudou.

As palavras do Dragão Ancião fizeram Hilsman agarrar as roupas de Cale como fez quando ficou enjoado. Cale naturalmente empurrou a mão de Hilsman quando Raon começou a falar em sua mente.

{Super Rocha! Não tenho medo deste supostamente assustador pedregulho gigante! Temos dois dragões!}

De fato. Cale não estava com medo algum.

Não havia como ele ficar com medo.

1. <> Será usado a partir de agora lara demarcar trechos de livros ou coisas do tipo[↩]