Quando chegamos à sorveteria onde eu havia deixado Arushi, encontrei meu sorvete totalmente derretido. O que restava era apenas um líquido de chocolate que já não tinha mais graça.

    — Nãããão… meu sorveteee! — exclamei dramaticamente, deixando escapar uma expressão melancólica.

    Arushi olhou para mim com um sorriso divertido.

    — Você queria o quê, Yuki? Demorou uma eternidade, e com esse calor não tem sorvete que aguente. — comentou, cruzando os braços.

    Suspirei, olhando para o sorvete derretido com pesar.

    Arushi então me encarou com um olhar curioso e se aproximou de mim.

    — Ei, Yuki… — cochichou em meu ouvido, com um sorriso travesso. — Você disse que ia no banheiro, mas voltou com uma menina. Que banheiro é esse que tu foi???

    Virei-me para Itsuki, que estava observando a cena, e respondi em um tom calmo, tentando não parecer estranho:

    — Ah, ela é minha nova amiga. Se chama Itsuki. Itsuki, esse é meu colega, Arushi Yoshida. Ele é meio esquisito, mas é legal.

    Arushi levantou uma sobrancelha e sorriu de forma irritada.

    — Colega??? Eu te conheço há mais tempo e sou “só” colega? Você conheceu ela agora e já são amigos? — reclamou, incomodado. Mas logo em seguida se acalmou, dizendo em um tom suspeito: — Ahhh, entendi tudo agora… hehe, Yuki, espertinho.

    Itsuki, que havia soltado minha mão quando chegamos, segurou-a fortemente de novo. Senti uma força estranha nesse aperto. O que estava incomodando ela?

    — Hm? O que está dizendo, Arushi? Enfim, vou comprar mais sorvete. Espere aqui.

    Levei Itsuki comigo até o sorveteiro para escolher o sabor, mas aproveitei o momento para perguntar o que a incomodava.

    — Ei, Itsuki, o que foi? Por que segurou minha mão tão forte assim de repente? — questionei, erguendo nossas mãos unidas.

    — Desculpa… É que não me senti confortável com aquele menino… aí, por impulso… por algum motivo, segurei sua mão. — disse ela, cabisbaixa.

    — Hmmm… entendi. Tudo bem, então. Ele não é uma pessoa ruim, mas se você está desconfortável com ele, pode continuar segurando minha mão. Tá bom?

    — Tá bom…

    Ela esboçou um sorriso de alívio, e pude sentir sua tensão se dissipando, por algum motivo.

    Como meu sorvete havia derretido, precisei comprar outro para mim e também um para ela, já que eu a tinha chamado.

    Mas nesse ritmo, Okawara vai acabar ficando nervoso comigo por estar gastando pontos assim. O sorvete não é tão caro, apenas mil pontos, mas aquele homem é perigoso.

    Graças ao tablet, consigo transferir pontos para compras. Como não estava com o meu no momento, usei o método “pagar depois”, que é muito útil.

    Com os sorvetes em mãos, nos sentamos para aproveitar o momento. Arushi, para não ficar de fora, também comprou mais um e se juntou a nós.

    Lembranças estavam sendo criadas.



    Em algum lugar da escola…

    As três meninas que havia enfrentado Yuki, estavam discutindo sobre o que havia acontecido.

    — Não acredito naquilo! Que moleque insolente!

    — Sim, amiga, ele tá achando que é quem? — disse a mais baixa.

    A garota que passava o tempo todo olhando as unhas não opinou, mas murmurou:

    — Estão cada vez mais belas…

    — Kinoshita, Emi, me escutem! Ele vai pagar por isso! Vou fazer de tudo para estragar a vida daquela peste! — disse a do meio, furiosa.

    — Isso mesmo, hehe! Ele nunca mais vai esquecer o nome Abe Hideki! Mas então, amiga, o que vamos fazer com ele?

    — Pensei em algo… já que ele gosta de ficar protegendo alguém, vamos usar isso a nosso favor. Hahaha.

    — Como assim, amiga? Não entendi. — questionou Kinoshita, a baixinha.

    — Ai, deixa de ser burra! — disse Emi, enquanto pintava a unha de preto. — A Hideki tá dizendo que, se ele gosta de proteger alguém, a gente pode usar isso contra ele.

    — Ah, nossa, você que é burra! Fica pintando a unha no meio do nada, vai acabar borrando tudo e pintando a mão! Hahaha!

    — Hã? Você acha que eu sou igual a você? que vive cometendo erros infantis? Só pode estar maluca!

    — Ei?? o que quer dizer com “erros infantis”? — indagou Kinoshita, franzindo a testa, as bochechas ficando rosadas.

    — Nossa, não grita não! Essa sua voz fina dói meus ouvidos! — disse Emi, tampando-os.

    — Olha só, hahaha! Você é tão burra que até sujou os ouvidos com a tinta da unha!

    — Ora, sua…!

    Enquanto as duas discutiam, Abe estava vermelha de raiva — tanto pelo que acontecera com Yuki mais cedo quanto pela briga boba das amigas.

    — Chega, vocês duas!!! Meu Deus! — gritou, com os nervos à flor da pele. — Vocês não entendem a gravidade da situação? Em vez de se preocuparem com nossa imagem e posição na escola, ficam brigando entre si por bobagem?!

    As duas ficaram cabisbaixas e responderam num tom leve:

    — Desculpa…

    Abe respirou fundo, tentando recuperar a postura.

    — Enfim… vamos discutir agora o que iremos fazer com aquele menino do cabelo castanho. Tenho uma ideia, mas quero ouvir as de vocês. — disse, cruzando os braços.

    Sua expressão carregava curiosidade e maldade. Estava claro que Abe queria todo o mal possível para Yuki.

    Kinoshita levou o dedo ao queixo, pensativa. Emi, por outro lado, apenas continuava pintando as unhas, indiferente.

    — Deus… — murmurou Abe.

    — Já sei, amiga!! — exclamou Kinoshita.

    — O quê? O que você pensou?

    Emi olhou para ela com surpresa.

    — Você pensou em algo? Estou chocada! — debochou.

    Nervosa, Kinoshita apontou o dedo para Emi e rebateu:

    — O quê??? Como ousa zombar da sua veterana, hein? Eu sou mais velha que você, tá ouvindo??

    Sem paciência, Abe esfregou a testa e falou com voz dura:

    — Parem vocês duas, ou eu acabo com ambas!

    — Mas é ela que começa!

    — Sim, sempre eu, né? Nunca a “baixinha fofinha”…

    — Enfim, fala logo o que você pensou!

    Kinoshita respirou fundo e disse com orgulho:

    — Que tal irmos até o dormitório dos meninos, seguirmos até o quarto do menino bonitinho e o sequestrarmos, escondendo ele no depósito antigo? Ótimo plano, né?

    As duas amigas ficaram em silêncio, com expressão fria e descrente.

    — Que foi, gente? Por que ficaram caladas? Não tô entendendo!

    Abe, já sem paciência, começou a tremer de raiva.

    — Dá vontade de jogar você no lixo e deixar lá… que ódio!

    — Nossa, amiga, machucou… — murmurou Kinoshita, cabisbaixa.

    — Enfim, nem sei por que criei expectativas. Vocês sempre me decepcionam! Me deixaram na mão enquanto aquele moleque zombava de mim ainda, inacreditável!

    — Desculpa, amiga… é que…

    — Deixa quieto, já é passado. — interrompeu Abe, com firmeza. — Eu tenho um plano. E ele vai precisar e muito de uma ajudinha de um garoto.

    — Que garoto, amiga? — questionou Kinoshita.

    Abe começou a rir, uma risada maligna ecoando pelo depósito antigo. Sua expressão estava tão assustadora que até suas amigas se encolheram.

    — Dizem que ele é o filho do diretor. Mas eu sei um segredo dele, e vou usar isso a nosso favor! — disse Abe, ainda rindo.

    — Uau! Entendi. Você vai usar o segredo para chantagear ele a nos ajudar, né? Isso é brilhante! Mas e se ele não ligar pro segredo? — perguntou Kinoshita.

    — Ele vai se importar. Até porque esse segredo é sério o suficiente para acabar com a vida dele aqui na escola… até causar uma expulsão.

    Emi arregalou os olhos.

    — Como assim? Que segredo é esse? E como você sabe algo tão pesado?

    Com um sorriso maroto, Abe respondeu em tom excêntrico:

    — Isso eu não posso contar. Se não, deixaria de ser segredo, né?

    Emi suspirou e apenas acenou com a cabeça.

    — Por isso mesmo, meninas… ele vai ajudar querendo ou não!

    — Então vamos logo encontrar com ele. Preciso pintar minha unha de vermelho, mas minha tinta tá no quarto! Que ódio! — resmungou Emi, cruzando os braços.

    — Você e suas unhas…hehe! Mesmo sendo chatas são minhas amigas, não tem o que fazer!

    — Claro, somos as melhores! — disse Emi, acenando com a cabeça.

    — Cirúrgica como sempre, amiga. Haha. — disse Kinoshita, preparando-se para abraçar a líder.

    Emi descruzou os braços e fez o mesmo.

    Enquanto elas estavam em um momento de amigas, Abe fechou seus olhos, com uma expressão mais tranquila agora.

    — Aquele moleque vai se arrepender de ter mexido com o Trio AKE! — disse Abe, com um sorriso maligno.

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