Capítulo 117 — Eu morri.
Despertar por mais um dia, era quase uma rotina interminável. “Sonhei com aquilo de novo…”, de maneira calma, Kevyn se levantou de sua cama e foi até o banheiro.
Após escovar seus dentes e lavar seu rosto, desceu para o andar debaixo e caminhou para a forja, onde ficou até o sol iluminar as frestas e o rastro de poeira ser visível.
“Preciso de alguns materiais para a espada dela, comprar comida e… TUDO bem”, sair de casa tão cedo, era um pouco cansativo, mas natural.
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Por tanto, sozinho ele acabou passando por uma banca de jornais, quadrinhos e etc. Curioso, ele viu o último jornal publicado logo nessa manhã. “George Amjek?”, nele dizia que um dos assentos mais importantes da máfia Ride morreu por alguém “desconhecido”.
Nada de corpo, mas sim sangue encontrado em um beco, quem se importaria com uma poça de sangue? “A dona não parece muito feliz com a morte… Encontrar o assassino e fazer ele pegar? Quem será que publica esses jornais?”.
— Ei! Você tem algum jornal de um ano atrás sobre Lycky? — perguntou Kevyn.
O dono da banca olhou para ele e começou a procurar. — Um segundo.
Momento se passa, enquanto o rapaz procurava, o garoto olhou para o céu nublado e pensou: “Vai chover daqui a alguns dias… Será que a Night já acordou?”
— Achei! Você quer ficar? Tenho tido problemas com espaço aqui, eu agradeceria se pudesse me livrar dessas coisas! — reclamou e entregou o que o jovem pediu.
O príncipe pegou o jornal e respondeu: — Hoje eu não tô com nada, mas eu posso ficar com esse, talvez amanhã eu venha de novo.
— Tudo bem, só não fique tempo demais, seus olhos assustam meus clientes. — Voltou para dentro do pequeno trailer que chamava de banca.
— Obrigado…
O homem não ouviu, ainda assim, Kevyn leu o jornal e lá estava…
[ … ] O país de Lycky, sem mais rei, sem mais princesa, teve sua capital completamente destruída. Astéria Calamith, junto a seu filho, estão mortos. Entretanto, alguns sobreviventes ainda persistiram… [ … ]
A informação que ele mais queria, a sua própria morte. “Isso é vantajoso, mas a… Mind, ela não sabe que eu morri, e se isso tá aqui, significa que a Aycity também acha, mas ela não é do tipo que lê jornais, mas no que mais isso me afeta? Seyfu sabe que o príncipe morreu, mas o que isso significa?”, confuso, o garoto coçou a cabeça e suspirou. “Não importa mais… Eu morri, e somente isso importa agora”.
Colocando o jornal dentro de sua bolsa dimensional, o príncipe cerrou seus dentes por lembrar de sua mãe por um instante e começou a caminhar. “Esqueça, esqueça! Todas as vezes que treinamos, não importam mais, não posso deixar me levar assim. Agora… Preciso mandar uma carta para a Mind, preciso de um nome novo, uma identidade, Klei ainda está me caçando, então não facilitar para que ele me encontre”, carregado, o garoto viu um pequeno anúncio em uma padaria e, parado na calçada, ele encarou o chão por um momento.
“Não dá pra voltar agora… Não vou poder aproveitar mais daquela infância… Mesmo que ainda seja uma criança”, ele voltou a olhar para a placa da loja. “Pãezinhos de mel… A Night deve gostar”, em leve sofrimento, ele deu um passo para entrar na loja, depois outro para continuar seu caminho.
“Eu estou pensando demais, ainda tenho ela aqui… A coisa mais especial para mim”, mais calmo, mas ainda em devaneio, Kevyn caminhou olhando para seus próprios pés, de maneira lenta ele se aproximou pouco a pouco do caixa, mas esbarrou em alguém antes que pudesse perceber com seus olhos tão ágeis.
Sensação fria.
Tão familiar, aquele toque. Um gesto leve, mas cheio de peso, como se os dedos tivessem dançado sobre a pele de propósito, não por acidente, mas por destino.
Um arrepio silencioso percorreu-lhe a espinha, e, sem perceber, os olhos começaram a lacrimejar. As lágrimas não caíam por dor, mas porque não poderiam mesmo se quisessem…
Seus corpos giraram suavemente pelo chão frio da padaria, como peças soltas num compasso desajustado.
Algo inconstante como se o tempo parasse por um segundo, mas um motivo capaz de transmitir razão, apenas para permitir que aquilo aconteça.
Seus olhos, fracos, turvos pelo instante de emoção, conseguiram apenas captar uma silhueta vazia. O cabelo da figura que esbarrou nele era de um azul escuro, quase noite, salpicado por mechas verdes que lembravam esmeraldas.
Esmeraldas sobre uma imensidão oceânica.
Aquela imagem difusa, incompleta o atingiu como uma promessa mal resolvida. Uma sensação decadente e ao mesmo tempo viva, tão antiga quanto um sonho que se repete.
Sensação inconstante, e mesmo quando ambos se viraram, prontos para se desculparem… Seus olhos ainda não conseguiam focar.
Como se o passado estivesse ali, diante dele mas insistisse em se esconder.
— A-ah! Eu sinto muito…
Uma sensação fria percorreu-lhe a espinha, como se o próprio ar ao redor tivesse parado de respirar.
No mesmo instante os cabelos de Kevyn perderam toda a cor, tingindo-se de um branco pálido, quase espectral, como neve em noite de lua cheia.
A franja que antes escondia seu olho azul deslizou para o lado, revelando não apenas o brilho gélido de sua íris, mas algo mais profundo… Algo que havia sido escondido que só uma pessoa poderia decifrar.
Era como se, naquele momento, sua verdadeira natureza tivesse sido exposta ao mundo, seu verdadeiro eu tivesse voltado, nu para a realidade.
Mas seus olhos… Seus olhos recusaram-se a enxergar. Não só a si mesmo, morto, mas a imagem diante dele permanecia indistinta. Um espelho embaçado, não só fraqueza, mas negação. Porque ver o reflexo, significaria se aceitar. E aceitar doía tanto quanto esconder a si mesmo.
Porque te faria lembrar do passado?
Do outro lado, em silêncio, alguém o observou. Imóvel. Quase como uma estátua cravada no tempo. Mas nem mesmo a ausência de palavras puderam esconder o que se via em seus olhos; espanto… E pena.
Ver Kevyn naquela condição… Frágil, quebrado, quase irreconhecível, era como testemunhar um herói cair em ruínas diante da própria sombra.
Patético.
Quando sua visão finalmente retomou, o mundo voltou a se desenhar diante de seus olhos, e nele, apenas ela pareceu ganhar foco. Os olhos da garota eram de um verde profundo, mas frios como um tempo após a chuva, tão vivos quanto um lapso de memória.
Os fios, da mesma tonalidade, caíam suaves sobre os ombros, dançando levemente com a brisa que atravessara a padaria.
Havia uma delicadeza quase etérea nela, uma presença singela que não pedia atenção, mas inevitavelmente o atraía.
Suas roupas eram simples, modestas, típicas de alguém que não desejava ser notada. Ainda assim, as mangas compridas e um pouco largas demais para seu corpo delatavam um cuidado intencional…
O príncipe notou. Feridas, talvez antigas, talvez recentes, mas visíveis o suficiente para quem também passou a esconder machucados além da superfície do tecido.
Tão natural, invisíveis lágrimas surgiram nos olhos dela, impossível de não reconhecer, aquela menina.. Era Aycity…
— Ay-
Interrompido.

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