Capítulo 120 — Contrato
Dada sua chegada a um estreito beco, Kevyn piscou e a entrada azul esverdeada estava alí. “O necessário…”, pensou e atravessou a porta, que como sempre, deu naquele bar calmo e tão… Natural.
Jeremy estava lá, entediado enquanto arrumava algumas garrafas. Assim o jovem se aproximou do balcão e aguardou por ele.
Breves segundos, calmos e tão pacientes. Jeremy andou até o atendimento e encarou o garoto, lembrando de quando ele ao menos conseguia ver a superfície de tão baixo.
— O que você decidiu? — perguntou o ruivo.
— Preciso de algumas formalidades. — Cruzou os braços.
— Oh! Claro.
— Se seus olhos podem enxergar a minha alma como eu imagino, você deve saber que eu tenho ferro nela, não é?
— De onde você tirou essa afirmação?
— Da primeira vez que nos encontramos, quando eu comprei a Night com Améli.
Em silêncio, o rosto sério do mais velho acaba por se transformar em um leve sorriso, mas tão sutil que era imperceptível. Ele guiou sua mão até uma das cadeiras altas a frente do balcão e disse:
— Sente-se, teremos uma boa conversa. — Se sentou em seu assento.
Fazendo o mesmo, Kevyn então estendeu suas mãos em cima da bancada e reclamou:
— Emfim. — Suspiro. — Você sabe que não preciso de materiais, mas mesmo assim, eu ainda gostaria de fazer armas de outros metais.
— Claro, aliás, estou de olho naquela espada que está fazendo.
— Shh! Não falaremos sobre isso, ela é um… Negócio especial… Não vou te perguntar como você sabe já que… Meio que isso não vem ao caso.
— Kuku, não se preocupe, não pretendo fazer revelações sobre sua pessoa. Mas voltando ao assunto central, eu vou pagar 100 milhões por remessas de 200 espadas.
Observando bem aquela proposta, Kevyn entendeu o que ele queria fazer e o verdadeiro valor de suas armas. Por algum motivo, mesmo que aquilo não fizesse sentido por ser muito dinheiro, Jeremy estaria arriscando tanto por meras armas de ferro?
“Aceita! Isso É Tipo… MUITO DINHEIRO!!!!”, gritou Night animada com a situação, e ao ver tanto dinheiro em uma proposta.
— Você… Vai usá-las para o que? — perguntou Kevyn.
— É impossível vender suas armas para pessoas comuns, o preço mínimo de cada uma é 900 mil, fora isso, eu fico muito em vantagem com esse preço.
— Sim, eu imaginei essa possibilidade.
— Eu vou vender elas para os impérios, os outros países para eles se fortificarem, vender para a grande guilda, assim, imagino ver uma geração mais forte.
— Geração você diz… Minhas armas serão usadas em guerras e… Mesmo que eu não me importe, como você chamará o ferreiro delas?
Curioso, o homem cruzou seus braços e respondeu: — Black Room, não é óbvio? Um grande assassino é, também, um ótimo ferreiro. Então se preocupe mais com o você de agora e não com o seu… alter ego.
— Entendido.
— Quanto aos materiais, posso fornecer algumas coisas interessantes, sem descontar do pagamento já que… Eu já vou lucrar o suficiente.
Estóico, o príncipe repousou suas mãos sobre seu colo e uma linha de pensamento gerou enquanto as encarava: “S̸e̷ ̷e̵u̸ ̷p̶u̴d̴e̷r̴ ̶c̷u̴i̸d̵a̴r̶ ̴d̸e̴l̴a̵ ̸c̵o̵m̴ ̵e̸s̶s̶e̷ ̸d̷i̵n̴h̷e̸i̵r̸o̶,̷ ̴j̶á̶ ̸v̴a̵i̴ ̴s̶e̴r̷ ̶o̷ ̵s̸u̶f̵i̴c̸i̷e̵n̶t̷e̴ ̴p̸o̵r̵ ̵u̸m̷a̷ ̷v̴i̷d̴a̷ ̷i̷n̸t̶e̷i̶r̸a̵”, suspirou, ergueu a cabeça e então finalmente tomou sua decisão:
— Então é o seguinte: “Você vai comprar essas armas de mim para vender as outras nações e a guilda dos aventureiros para criar pessoas mais fortes nessa geração? E por isso, cada remessa de 200 espadas será dado 100 milhões, já que naturalmente, eu poderia vender cada uma por 1 milhão, mas eu não acharia um comprador à minha disposição?”.
— Exato. — O ruivo sorriu.
— Hm… ok, então tudo bem, eu aceito o contrato.
Com um movimento calmo, quase ensaiado, o homem se levantou de trás do balcão. Sem dizer nada, inclinou-se e puxou um massivo maço de dinheiro debaixo da madeira tão leve. A quantia, envolta por um elástico feito de couro, foi colocada sobre a superfície da mesa com um baque seco, pesado o suficiente para falar por si.
Então, ele aguardou.
Kevyn, que até então permaneceu sentado, ergueu-se lentamente. Estalou os dedos com leveza, e ao som do ambiente silencioso, a chave para o que veio a seguir.
Atrás dele, como sombras de aço rasgando o céu, duzentas armas surgiram, suspensas no espaço como se estivessem congeladas para admirá-las.
Por um instante, os olhos dos dois se encontraram. Nenhuma palavra foi feita. Nenhuma precisava ser…
Kevyn então estendeu a mão, pegou o dinheiro e, no mesmo segundo, as armas desapareceram, como se nunca sequer tivessem existido.
— Jeremy, foi ótimo fazer negócio com você. — Ergueu sua mão para cumprimentá-lo.
Apertando a palma dele, o homem respondeu: — Eu digo o mesmo, meu ferreiro.
❍ ≫ ──── ≪ • ◦ ❍ ◦ • ≫ ──── ≪ ❍
Ao chegar em casa, Kevyn fechou a porta atrás de si com um leve suspiro, não de cansaço, mas de um silêncio que se prepara para ser quebrado. Seus olhos repousaram sobre o anel em seu dedo, e ali, envolta em um brilho púrpura, ela começou a emergir.
Night.
Sua forma humana desabrochou lentamente como uma flor, uma rosa. Um corpo,¹nethérico, moldado em delicadeza e desejo, que se materializou consigo em seus braços como se sempre lhe pertencesse, apenas a ela. Um abraço que não era físico, mas muito além. Um véu astral se ergueu ao redor dela, envolvendo-o e selando os dois em um instante fora do tempo.
“Tic”, seus lábios famintos encontraram os dele num toque que misturava adoração e necessidade. Os seios dela pressionaram-se num impulso inevitável, e com um gesto suave, ela guiou até que suas costas tocassem a porta recém-fechada.
Assim, o mundo cessou.
“Tac”, o toque da carne prometeu o aprisionamento. A alma cedeu. O desejo falava a língua, e assim a pegou.
“Tic”, Ela queria tudo dele. Só dele. Como se a existência do príncipe fosse o sol em sua eternidade sombria. Como se, ao tocá-lo, ela pudesse provar que era real.
“Tac”, Night então recuou, apenas o suficiente para beijar o canto de sua boca. — Obrigada. Mas você não matou… — Um intervalo breve antes de retornar ao centro, ao coração, ao âmago de um beijo que pedia mais do que o corpo… a alma.
O tempo voltou.
Porque esse era o único amor que ela conhecia. Carnal. Instintivo e quase auto-destrutivo. E mesmo assim… havia ternura, mas era imperceptível a olho nu.
Porque a beleza de Kevyn não estava apenas em sua pele, mas no simples fato de existir. Ela estava alí para ser seu sol… mas tudo inverte e, na verdade, ela é a única a ser ajudada.
E para cama ela levou.
❍ ≫ ──── ≪ • ◦ ❍ ◦ • ≫ ──── ≪ ❍
¹Nethérico — Remete ao Nether, elemento primordial da morte.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.