Capítulo 41: Doutor do Desespero (9)
Depois de ouvir tudo, Jaehwan perguntou: “…Acabar com todo o [Cultivo]?”
“Sim, foi o que ele disse. Ele era único.”
Jaehwan continuou fazendo perguntas. “A expedição… foi bem-sucedida?”
“Pode-se dizer que sim. Eu precisei passar pela entrada das [Profundezas], mas Mulack conseguiu alcançar o topo da Árvore da Imaginação.”
“Como você sabe disso?”
“Porque os [Frutos] começaram a cair dos galhos.”
Chunghuh se lembrou de ter visto os frutos caindo do céu. Os meteoros dourados que certamente dariam esperança de volta ao povo.
“Pode-se dizer que foi sorte. Todos os membros da equipe de expedição retornaram com os braços cheios de frutos.”
“Entendo.”
Mas isso era estranho. Se a expedição tinha sido bem-sucedida e eles adquiriram os [Frutos], por que esse velho ainda estava no <Caos>? Foi então que Claire interveio.
“Não minta, velho. A expedição foi bem-sucedida?”
Chunghuh riu. “Eu estava me perguntando quando você iria interromper.”
“Essa expedição fracassou. Você sabe disso.”
“…O que você sabe, se nem sequer havia nascido ainda?”
Claire franziu a testa e foi servir outras mesas. Chunghuh engoliu mais um copo de cerveja.
“O que você quer dizer?”
“É como ela disse. A expedição fracassou.”
“Você não disse que foi bem-sucedida?”
“Foi bem-sucedida em conseguir o [Fruto].”
Isso significava que algo aconteceu quando eles retornaram ao <Caos>.
“Havia alguns esperando a equipe na entrada do <Caos>.”
Eles eram os mais fortes que residiam nas Grandes Terras por muito tempo, mas nunca haviam ousado se aventurar nas [Profundezas].
“Eram os Lordes e os Anciãos das Famílias Renomadas.”
Chunghuh falou com raiva. Já se passavam centenas de anos, mas ele ainda lembrava com clareza.
“A expedição tinha Mestres de fortalezas e líderes do Clã dos Dez. No entanto, todos juntos não eram páreo para eles. Nem de perto.”
“E os seus [Frutos] foram tomados.”
Chunghuh bebeu de novo.
“Eles ainda usam os [Frutos] até hoje para serem revividos se morrerem. Eles até têm um lugar chamado [Palácio da Ressurreição], onde podem renascer. Todos vão para esse lugar se morrerem e esperam sua vez de serem revividos.”
“…Entendo.”
“O <Caos> é apenas uma parte das Grandes Terras. Os que têm direito a uma vida normal não somos nós.”
Jaehwan olhou novamente pelas ruas. O mundo tinha algo chamado [Fruto], que permitiria que fossem revividos. Mas estava tão distante deles. Por isso todos estavam em desespero, como aquele velho.
“Ah, e o que aconteceu com Mulack?”
Jaehwan havia se esquecido de Mulack durante a conversa, então perguntou. Chunghuh não respondeu, e Jaehwan se voltou para ele.
“Ei, velho.”
Ele havia adormecido sobre a mesa. Não era ele quem dizia que as pessoas aqui podiam ficar bêbadas? Por que tinha apagado?
“Não adianta. O velho realmente fica bêbado.”
Claire falou enquanto limpava os pratos.
“…Fica bêbado?”
“Não sei por quê, mas ele fica bêbado quando bebe.”
Jaehwan olhou atentamente para o rosto de Chunghuh. Era o rosto de um homem que havia vivido milhares de anos. Talvez, em suas mil vidas falsas, ele tivesse encontrado um jeito de falsificar a realidade.
“Você tinha uma pergunta sobre Mulack?”
Jaehwan se surpreendeu com a voz.
“…Você também sabe sobre ele?”
“Todos na Fortaleza de Górgona sabem sobre a [Equipe da Expedição às Profundezas]. É a história que o velho sempre conta quando está bêbado.”
Claire suspirou e continuou.
“Aquele Pesadelo se foi.”
“Se foi?”
“Ninguém o viu depois que a expedição terminou.”
Claire fez uma pausa e continuou: “Acho que o Pesadelo disse algo para o velho antes de desaparecer…”
“O que foi?”
“O que foi mesmo? Hmm…”
Claire pensou enquanto esfregava os pratos por algum tempo e murmurou ao se lembrar.
“Eu falhei.”
O sotaque parecia tão realista que Jaehwan quase pensou que aquela mulher fosse Mulack em pessoa.
“Sim, foi isso. ‘Eu falhei’. Foi o que ele disse.”
Eu falhei… Jaehwan conseguiu imaginar o que isso significava. Mulack havia alcançado o fim das <Profundezas> e adquirido os [Frutos], mas falhou em deter o [Cultivo].
“É só isso?”
“Hm… havia mais uma coisa…”
Claire parecia não se lembrar, até que alguém desabou na cadeira ao lado deles. Era um dos homens bêbados que haviam brigado há pouco.
“Ha, esse velho está bêbado de novo.”
Jaehwan achou o rosto familiar. Ao olhar mais de perto, percebeu que era o guarda com quem tinha se desentendido no portão alguns dias atrás.
‘Era James?’
Claire falou: “Ei, bêbado.”
“O quê?”
“Você sabe o que o Pesadelo Mulack disse antes de desaparecer?”
“Mulack? O Pesadelo maluco que dizia que iria parar o [Cultivo]?”
“Sim.”
“Não era uma história inventada pelo velho? Não existe tal Pesadelo.”
James então foi atingido com uma frigideira e resmungou o que sabia.
“‘Eu falhei, mas não completamente’… era disso que você estava falando?”
“É isso.”
“Maldição, isso dói. Então, por que você perguntou?”
“A pessoa ao seu lado estava curiosa sobre isso.”
James então lançou um olhar para Jaehwan.
“Oh. Já nos vimos.”
“…”
“Eu estava procurando você. Pensar em todo o problema que passei por sua causa…”
James resmungava cerrando os dentes. Parecia que Jaehwan se envolveria em outro problema irritante, mas James disse algo inesperado.
“Obrigado pelo que fez hoje.”
James não olhou para Jaehwan ao falar.
“É sobre o capitão. Ele teria morrido se não fosse por você.”
Um momento constrangedor passou e James pegou o copo que Chunghuh estava bebendo e engoliu tudo de uma vez.
“Senhora, eu pago por ele. Quanto é?”
“Cai fora. Eu nem estava pensando em cobrar dele mesmo.”
“Oh, você também queria agradecer?”
“Cai fora.”
James se levantou resmungando.
“Ei, seja o que for, passe pelo Portão Norte quando entrar em Górgona da próxima vez. Não vou pedir certificação a partir de agora.”
Ele virou-se de costas e acrescentou em voz baixa: “Ah, mas não deixe o Capitão saber.”
James foi embora. Claire começou a cortar ingredientes e Chunghuh começou a roncar alto. O som de comida sendo feita para satisfazer fome inexistente e o som de cerveja sem gosto preenchiam o lugar.
Um mundo sem esperança. Um mundo sem coisas reais, cheio de pessoas que fingem ser reais.
‘Que sensação é essa?’
Jaehwan não conseguia entender o que sentia. Era muito estranho. Então, viu alguém correndo em sua direção.
‘O comandante?’
Ele varria a rua com seus homens como um louco.
“Doutor! Onde você está! Doutor!”
O comandante encontrou Jaehwan e Chunghuh e correu até eles, ofegante.
“…Você também estava com ele?”
O comandante se curvou e lançou um olhar a Chunghuh.
“Maldição, é por isso que ele não respondeu. Doutor, acorde!”
O doutor não acordava, e Jaehwan perguntou: “O que houve?”
“O Mestre enlouqueceu de repente. Ele só faz isso uma vez por semana, mas…”
Parecia que algo havia acontecido com o Mestre da fortaleza que apenas Chunghuh poderia resolver. Então, uma explosão foi ouvida dentro do castelo, e o rosto do comandante empalideceu.
“Não…!”
A poderosa e ominosa fonte de energia era mais forte que a de Janya. Era mais forte do que qualquer força que Jaehwan havia enfrentado até então. Ele estreitou os olhos.
‘Então o mestre estava nesse estado.’
Ele já havia suspeitado disso quando ouviu Euren pedindo para salvar seu “Mestre”.
‘Abaixo do castelo… é subterrâneo?’
Jaehwan olhou para dentro do castelo com sua [Suspeita]. Parecia estranho. Era como se o castelo tivesse o formato de um estômago gigante de um monstro. Bem no fundo jazia algo sombrio. Uma figura obscura que sua [Suspeita] não conseguia ler. Um monstro com tentáculos e uma boca gigantesca. Jaehwan soube imediatamente o que era.
‘…Homem-Morto.’
O Mestre da Fortaleza de Gorgon estava se transformando em um Homem-Morto.
Algo terrível estava prestes a nascer.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.