Capítulo 67: Estava Tão Assustada!
Invoquei algumas marionetes, que foram correndo ajudar Kaori. Algumas se posicionaram na frente do guarda inimigo, enquanto outras traziam a menina para perto de mim.
— Está machucada? — perguntei, segurando os seus braços.
— Não, não estou — respondeu, virando-se para o soldado mais uma vez. Como se uma voz dissesse em sua cabeça para continuar lutando.
Porém, antes que conseguisse partir para a batalha, a impedi segurando em seu ombro.
— Calma, garota! — gritei. — Se você continuar lutando, vai ser pior pro seu corpo.
Mesmo que afirmasse estar tudo bem, sua condição não demonstrava a mesma coisa. Seu corpo estava cansado, e os sinais estavam mais do que evidentes.
Ela mal conseguia segurar sua espada. Como em sua cabeça poderia pensar em continuar lutando? Apenas nada disso fazia sentido pra mim.
— Mas eu consigo lutar!
Cacete, ela claramente não podia!
Por que os humanos são tão teimosos quanto à sua condição de saúde? Sendo sincero, isso é a pior coisa nessa espécie!
Mas ela só não sabia de um pequeno detalhe…
Um detalhe que mudaria muita coisa nessa sua vontade chula de lutar.
— Vai batalhar contra quem? — disse, abrindo um sorriso de vencedora.
Kaori ficou confusa com a minha pergunta, olhando para trás e virando para mim repetidamente. Seu rosto ficou mais engraçado a cada vez que fazia o processo de novo.
— Oxi?! Cadê o cara que tava alí? — bradou, relaxando o seu corpo.
— Minhas marionetes cuidaram dele.
— Ah… Ufa, eu acho.
Kaori deixou a espada cair no chão, indo em direção a ele logo após. Parecia que todo o cansaço havia chegado após tanto tempo forçando-se ao máximo.
— Eu pensei que fosse morrer… Desgraça! Eu tava muito assustada — murmurou Kaori, olhando para o solo. — Obrigada por essa ajuda, Gaia.
Em resposta, apenas baguncei um pouco o seu cabelo molhado.
— Fique tranquila. Tenho que receber algumas explicações do que está acontecendo aqui — disse, olhando para todos os lados. — Parece uma invasão, mas tudo é tão vazio. São várias coisas estranhas ao mesmo tempo.
— Sei disso. É uma loucura até pra mim estar vivendo nessa situação. Tudo que desejei foi… Ah… Eu só não queria lutar.
O que é toda essa exposição de sentimentos do nada? Que estranho.
Mas não posso deixar de concordar com ela. Talvez tudo que possa te fazer feliz não esteja nos campos de batalha.
— Venha. Eu vejo um local no qual possa descansar — apontei para um estabelecimento que, de alguma forma, mantinha suas portas abertas.
— Não… Tudo bem… Só… — Fazia pausas incoerentes, respirando cada vez mais forte. — Só preciso de um pouco de tempo…
Estava muito cansada.
Não conseguia dizer com quantos soldados lutou apenas para proteger esse lado da cidade. Sua armadura estava muito desgastada, e talvez esse fosse um pequeno indício de que não foram poucos assim.
— Não teve reforços? — falei.
Kaori virou-se para mim, os olhos se enchendo de lágrimas.
— Reforços? Quem dera! — disse em meio a pequenos soluços. — A maioria dos soldados inimigos vieram de dentro. Eles já estavam infiltrados dentro da cidade!
…
O que?
Não… espera…
Isso é bem diferente do que eu pensava.
Não imaginei que essa invasão pudesse ter acontecido por dentro da cidade. Afinal, o que eles queriam com essa cidade?
Era a mais afastada e sem qualquer sinal de interferência no governo ou nas facções dos príncipes.
Kaori tentava aguentar o choro com todas as suas forças, só podia pensar o quão forte ela era apenas por cometer esse ato.
Humanos choram muito mais do que pensam, e segurar suas emoções não é para qualquer um.
— Ok, eu tô melhor agora — falou Kaori, levantando-se do chão com a sua força restante.
Antes mesmo que pudesse oferecer minha ajuda, a garota já havia ficado de pé. Me impressionava cada vez mais com essa força de vontade!
Cada vez mais tinha certeza de que ela era a pessoa certa para ser minha genra… Karina fez um bom trabalho.
Ela foi na frente e a segui momentos após.
— Está gostando de alguém, Kaori? — perguntei, como se fosse só uma pergunta jogada aos ventos, esperando que fosse ignorada.
Seguiu por mais alguns passos, antes de parar por completo.
Pensei que havia sido insensível e logo tentei desfazer minha pergunta.
Ah, mas que droga! Tinha estragado tudo!
— Q-quem s-sabe? — respondeu, fazendo biquinho. Seu rosto corava, mesmo estando todo sujo.
…
Hahaha!
Karina tinha chance, então?!
Esperava que sim!
Seguimos por todo o caminho até chegar ao estabelecimento escuro. Quando demos de cara com a porta entreaberta, decidi impedir que a garota fosse na frente.
— Eu não tô cansada. Deixe-me checar o local antes — sussurrei, pedindo silêncio por meio de gestos.
Empurrei a porta com calma, o ranger ecoando por todo o local. Foi indo e… indo.
Antes que abrisse de uma vez quase em seu final.
— Vazio.
Parecia não haver ninguém naquele local. Um alerta bem grande, mas que só podia agradecer no momento.
Havia uma grande variedade de coisas. Parecia ser aquelas lojas que vendem uma diversidade absurda de inutilidades por preços baratos…
Entrei na frente, ainda mantendo a calma nos meus passos. Olhando cada ponto cego, avancei com mais pressa.
Após garantir um pouco de segurança, invoquei algumas marionetes, que poderiam fazer todo o resto do trabalho por mim.
Esperei por mais algum tempo, antes de mandar Kaori entrar.
— Tá limpo — disse. — Não parece ter tido nenhum sinal humano aqui. Está tudo muito limpo e organizado.
— Foi uma sorte gigante isso estar aberto, então. — Kaori escorava-se nas bancadas e estantes, procurando um local para se sentar.
— Ah… Tem um sofá bem ali — apontei para um canto de leitura da loja.
Pensando um pouco… essa loja não tinha lógica alguma. Por que havia um canto de leitura aqui?
Ajudei Kaori a chegar no sofá, sentando-a com calma. Quando se escorou, pareceu despejar ainda mais cansaço naquele pobre móvel.
— Oh! Eles tem esse livro aqui? — peguei o com capa dura. — “Vou te fazer sorrir!”
— Aquele clássico infantil?
— Pelo o que parece, é sim.
Coloquei o livro de volta na estante, sentando-me ao lado de Kaori.
Antes que pudesse fazer qualquer movimento para dentro da cidade, eu necessitava entender toda a situação por completo.
— Kaori, você consegue me explicar melhor como tudo ocorreu?
Seu rosto demonstrou surpresa, antes de virar uma mistura de medo e desespero.
— Você tem certeza de que quer saber como tudo ocorreu?
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