Capítulo 31 - Primeira Reunião.
Após uma longa caminhada cautelosa até meu quarto, tive um bom tempo para pensar a respeito do que tinha acabado de acontecer.
Foi algo assustador, meu coração poderia ter parado a qualquer momento. Uma sensação que não quero passar novamente.
Mas o motivo… eu não consegui entender. O motivo de o homem ter feito aquilo, quais são suas intenções e objetivos.
O que exatamente ele quer comigo? E por qual motivo Okawara não foi me ajudar?
Eu sei que ele me observa pelo relógio e, por esse motivo, por segurança eu o levei. Porém, ele não apareceu.
Isso está muito estranho, sinceramente.
Um som ecoou pelo meu quarto, vindo do meu relógio. Estava na hora de encontrar Fuutaro e Sasori no local que combinamos.
Peguei meu relógio e meu anel, e parti para o encontro.
Assim que cheguei, percebi que era o local perfeito para a reunião. Ficava atrás do dormitório masculino, e dava para chegar se passasse entre o arbusto no caminho.
Havia muitas árvores, o que deixava o local fechado e abafava os sons.
Esperei alguns minutos por eles, sentado em uma raiz de árvore.
Até que escutei galhos sendo quebrados. Alguém estava vindo.
Me levantei rapidamente de onde estava. Não sabia quem poderia ser, mesmo esperando pelos meus amigos.
— Foi mal pela demora, Yuki… Sasori demorou bem mais do que o esperado para sair do banheiro, sabe…
— Cala a boca!! Por que disse isso? — resmungou Sasori, com seu jeito grosseiro.
— Tudo bem, hehe… Mas então, me digam, conseguiram fazer o que pedi?
Fuutaro ajeitou seu cabelo estilo tigela e disse:
— Claro! Eu sou o melhor artista dessa escola, e o Sasori é o melhor matemático de todos. Então claro que conseguimos.
Sasori confirmou com um aceno de cabeça enquanto batia em seu peito.
Eu dei uma risada, achei engraçada a cena.
— Mas o que isso tem a ver com o que eu pedi? — indaguei.
Ambos, que estavam eufóricos, ficaram com cara de taxo para mim.
— Enfim, seu sem graça! Mas conseguimos sim. Sasori, começa a explicar aí desde o início. Somos detalhistas, sabe?
— Sei… tudo bem, vou até me sentar aqui. — comentei.
Sentei no mesmo lugar em que estava, e ambos meus amigos ficaram em minha frente.
Sasori foi o primeiro a começar a falar. Colocou sua mão dentro do bolso, ao seu estilo, e disse:
— Bom, você me pediu para procurar pela Itsuki sem transparecer essa intenção. Procurei pela escola e seus arredores, mas nada dela. Pensei que realmente ela era esse tesouro do bilhete.
— Meu Deus… — murmurei, colocando minha mão na frente da boca.
— Calma… — comentou Fuutaro.
— Ainda não acabei. Eu pensei que isso era verídico, então fui até o Fuutaro para dizer essa informação urgente, que a Itsuki estava em perigo, mas… — comentou Sasori, tirando sua mão direita de dentro do bolso e, apontando para mim, disse: — Na entrada da escola, a mesma entrada onde tem aquele grande portão enorme por onde você passou, eu vi Ayumi com a Itsuki.
Com essa revelação de Sasori, me levantei rapidamente de onde estava. Fiquei elétrico com a informação.
Uma mistura de sentimentos: alívio, preocupação e curiosidade.
— Mas… o que elas estavam fazendo?? — indaguei.
Sasori, com seu jeito calmo, acenou com sua mão direita, pedindo para que eu sentasse.
— Calma… sente e escute. Se não, eu desisto de falar… Você sabe muito bem que não confio em você ainda. Só fiz isso por conta do Fuutaro. — cuspiu Sasori, com seu olhar afiado.
É verdade. Ele ainda não confia em mim. Por conta do que aconteceu com seu amigo, ele não confia em ninguém além do Fuutaro.
— Desculpe… — respondi, sentando.
— Enfim, Ayumi estava mostrando o horizonte para a Itsuki. Da entrada, dá para ver esse país tão desejado por todos.
— Tão sonhado… — comentou Fuutaro.
— Entendi… então isso quer dizer que a Itsuki não era o tal tesouro. Que alívio… — comentei, respirando fundo.
— Exato… Agora é tentar entender o que seria esse tesouro, afinal. Você tem alguma ideia, Yuki? — perguntou Fuutaro, ajeitando seus óculos.
Ambos estavam usando o mesmo uniforme da escola, o mesmo que eu usava.
Mas já era de noite, e não estávamos em horário escolar. Normalmente se usa esse uniforme apenas no período de aulas.
Eles estavam usando com um propósito: não chamar atenção dos vigilantes, já que poderiam se passar por estudantes do turno da noite.
— Ou… não tem tesouro. O que aconteceu enquanto eu procurava foi algo muito assustador. Depois eu conto… Agora fale você, Fuutaro, o que lhe pedi.
Fuutaro tirou os óculos e colocou de novo, ajeitando-os.
Ele se incomodava muito com a posição dos óculos, então sempre os retirava e colocava novamente, ajustando da maneira ideal.
— O que você tinha me pedido, sobre tentar ver se a letra do bilhete batia com a de algum aluno… eu particularmente fiz o possível para olhar a letra de todos, e consegui…
— Wow… Como? — perguntei.
— Eu conversei com o representante de turma e convenci ele a fazer uma reunião com todos os outros representantes das outras salas, para organizar um evento. — disse ele, ajeitando novamente os óculos. — Evento esse que, com certeza, todos irão participar.
— Eu achei interessante esse evento. — comentou Sasori.
Animado com isso, não consegui segurar a energia.
— Que evento é esse, Fuutaro? Fala logo. — disse, batendo os pés no chão.
Fuutaro retirou os óculos do rosto, limpou a lente com cuidado utilizando um paninho específico, e logo depois os colocou novamente, com um jeito delicado.
— Esse evento, meu caro amigo, consiste em fazer com que todos os alunos escrevam em um bilhete a pessoa de quem não gostam, e a pessoa de quem gostam, e o motivo de ambos.
Eu encarei Fuutaro com um olhar vazio, esperando que ele esboçasse um sorriso e dissesse que era uma piada o que acabara de dizer.
Mas isso não aconteceu. Ele realmente estava dizendo a verdade.
— Espera… é isso mesmo? — indaguei.
— Sim. Isso mesmo. Genial, não é? — disse Fuutaro, cruzando os braços enquanto esboçava um sorriso confiante.
— Bom… não sei se isso vai dar certo. Mas fizeram isso? Já têm todos os bilhetes prontos? — perguntei.
Sasori balançou a cabeça, negando.
— Ainda não. Esse evento vai acontecer amanhã, e nenhum professor sabe disso, só os alunos.
— E os representantes irão ficar com os bilhetes de sua turma, e no final do dia entregar para a líder do conselho. — complementou Sasori.
— Aí depois é só a gente pegar os bilhetes com essa líder?
— Sim. No início seria só eu e o Fuutaro ajudando a líder do conselho a olhar os nomes dos bilhetes e fazer um levantamento de quem é mais odiado e mais amado da sala e no geral. — explicou Fuutaro, encostando em uma árvore.
Sasori pegou uma pedrinha no chão enquanto Fuutaro explicava e, assim que ele terminou, Sasori lançou a pedra para longe e complementou:
— Porém… obviamente com outro objetivo oculto: descobrir qual letra bate com a do bilhete.
Levantei de onde estava sentado, tirando a sujeira da minha calça, e perguntei:
— Mas essa líder sabe o verdadeiro objetivo por trás dessa brincadeira?
Fuutaro e Sasori negaram juntos, balançando a cabeça sincronizados, como se fosse um show de dança.
— Ela não sabe. Mas o estranho é que parece que ela te conhece, pois pediu que você ajudasse também. — comentou Fuutaro.
Ela me conhece? Será que é a Itsuki??
— Ah, que bom que ela quer minha ajuda. Assim posso olhar com meus próprios olhos. E eu não tenho nada para fazer mesmo.
— É assim que se fala, Yuki. Agora está na hora de irmos embora, senão vai dar um problema enorme para a gente. — disse Fuutaro.
— Sim…
— Obrigado meninos, vocês são incríveis mesmo.
Ambos acenaram com a cabeça, mas apenas o Fuutaro estava dando um enorme sorriso em seu rosto.
Nós nos cumprimentamos e saímos do local, indo direto para o dormitório.
A reunião estava terminada.
Foi produtivo. Talvez nós pudéssemos fazer mais vezes isso. Seria bem importante para mim.
Agora finalmente irei deitar para dormir, esse dia foi bastante longo e cansativo, assustador também.
Ou tentar dormir… Escutei uns sons vindo lá de fora, no corredor. Eram duas vozes de garotos. Não consegui entender direito o que estavam conversando, mas estava me incomodando.
Levantei da cama e fui até a porta tentar escutar a conversa.
— Estou falando que tem essa possibilidade sim. Mesmo que pequena, ele tem que ser o filho daquela mulher.
— Não sei não, viu. Pode ter o mesmo sobrenome, mas ser filho dela? Impossível.
O que eles estão falando? E de quem?
Escuto o som das duas vozes, mas não sei quem são. Não é o Fuutaro e nem o Sasori.
Mas que chato. Eu quero dormir. Tem vários lugares para eles conversarem e vão ficar logo na frente do meu quarto.
— Podemos confirmar com o professor. Talvez ele saiba.
— Acho difícil. Mesmo que ele souber, ele não vai contar.
— Temos que tentar, não concorda?
— Mas e se ele não contar e ainda disser isso para o diretor? Podem mandar a gente para aquele lugar.
— Verdade… eu não pensei nisso. Aquele lugar é sem volta. Os meninos que vão para lá nunca mais voltam.
— Não à toa são expulsos, né? Para não voltar mais mesmo.
— Enfim, podemos ver isso amanhã. Agora temos que ir, senão aquela mulher aparece aqui de novo.
— Sim… até amanhã.
Que papo de maluco foi esse?
De quem eles estão falando? E que lugar é esse que ninguém volta? Que professor é esse?
São muitas perguntas sem respostas, e não posso simplesmente abrir a porta e gritar para eles me responderem.
Essa vai ter que ficar só na curiosidade mesmo.
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