Capítulo 68: Choro E Sangue
Não devia ter corrido tanto!
Que droga… fui tão azarada de encontrar justo o exército que estava atacando a nós! Afinal, por que eles estavam atacando? Não parecia ser somente por mim!
Agora fui segurada por uma pessoa que me lembra tanto…
— Hã? Cacete, você é bom nisso. Deveria considerar virar vidente! — gritou a voz da mulher até então desconhecida.
Seus dentes afiados e o sentimento de familiaridade dominavam o meu peito. Não lembrava de já ter a visto um dia, mas sabia que ela era alguém importante.
Mas… como isso é possível?
Um portal se abriu debaixo de nós em alta velocidade, levando-me a outro local. O gelo na barriga foi insuportável! Como diabos ela conseguia não sentir essa sensação cada vez que passava por seus portais? Eram tão rápidos!
Do outro lado, apenas uma cidade coberta de sangue se mostrava presente.
— Isso é… Aguaforte? — murmurei, os lábios secos, mesmo chovendo tanto.
Aquela figura não falou nada, apenas me largou na frente de uma loja. Uma loja que já havia ido uma vez para ver itens de decoração.
Muito boa, por sinal!
Estava muito confusa pelo que estava acontecendo, mas o choque era uma sensação que prevalecia.
Antes mesmo que pudesse agradecer, dizer um “obrigada”, aquela mulher apenas desapareceu entre seus portais.
Um sentimento ruim entrou em meu coração. Afinal, quem era ela? E por que era tão… parecida com Gaia?
Não poderia pensar tanto nisso.
Sentada naquela calçada, tossi um pouco de sangue.
— Por que tudo está indo nesse caminho?
Havia uma poça do mesmo líquido na minha frente, que havia se formado por conta da chuva.
Meu reflexo naquele sangue era tão… patético.
Cabelos desarrumados e uma cara horrenda de se ver. Minha expressão parecia estar paralisada na sensação de medo constante.
Eu só…
Eu só queria ver ela de novo.
No final de tudo, eu só queria ficar tranquila no meu canto. Sem mexer com ninguém e aproveitar uma vida tranquila.
Não queria ser envolvida nesses assuntos! Eu não canso de pensar nisso!
É tudo culpa…
Culpa…
Eu não sabia de quem era a culpa, e era capaz de nunca descobrir quem seria o causador disso tudo.
Seriam as…
Divindades?
Lembro-me de algo assim.
— S-Seven? — perguntou uma voz, abraçando-me quase no mesmo instante.
Meu corpo dolorido piorou bastante após aquele inesperado gesto! Queria gritar tanto, mas não tinha voz o suficiente.
Os braços de marionete me informaram com quem eu estava lidando antes mesmo de fazer a minha pergunta.
— Gaia… — murmurei, minhas forças se esvaindo de meu corpo. — É você mesmo?
Uma pequena lágrima caiu de meu rosto. Uma lágrima misturada com sangue e sentimentos!
Parecia bastante ferida… talvez deva ajudá-la com os reparos de seu corpo mais tarde.
— Você tá horrível! — Ela riu um pouco, enquanto me abraçava cada vez mais. — O que fizeram com você?
Gaia me abraçava por trás naquele instante. Então, eu tirei seu braço do meu pescoço, virando um pouco para ela.
— Estou bem — disse, coçando meu rosto. — Quero dizer… Estou bem melhor só de te ver.
A abracei dessa vez.
Ficamos um tempo aproveitando aquele precioso momento. Apenas escutando o som da chuva que, por mais macabra que fosse, não era necessário lembrar dessa realidade.
— Quero ir embora disso tudo — murmurei em seu ouvido. — Não aguento mais esses problemas, Gaia! Eu só queria…
Parecia que iria desabar ali mesmo. As lágrimas eram um destino quase inevitável.
Sempre que me achava fraca, me encontrava na exata mesma situação… Apenas chorando. De novo e de novo.
De novo e de novo…
Antes que pudesse cair aos prantos, os sons de passos logo me alertaram. Pensei ser algum assassino, mas não faria sentido.
Gaia veio lá de dentro, afinal!
Será que ela tava me traindo?
Isso é mil vezes pior do que um assassino!
Com minhas forças restantes, dei um soco na barriga de Gaia.
— Isso doeu! Por que fez isso? — perguntou Gaia. — Não lembrava que tinha tanta força assim!
Pôs a mão na barriga, como se fosse amenizar a dor que sentia.
— Sua safada! Eu que te pergunto o que você tava fazendo aqui dentro! — respondi, com a raiva estampada em meu rosto.
— Que!? Como assim? Eu tava aqui com a Kao–
Dei mais um soco em sua barriga.
— Não preciso de suas desculpas! Estou muito chateada com você agora.
Virei meu rosto, emburrada com toda a situação.
Os passos ficaram cada vez mais próximos.
Até que vi a mão se apoiando na porta, antes mesmo de a figura aparecer por completo. Iria descobrir quem era essa salafrária que estava aqui.
— Seven! — gritou… Kaori. — Você… Interrompi alguma coisa?
Que?
Era ela, então?
Fiz todo esse alvoroço por… nada?
Meu rosto ficou vermelho.
Que droga!
Isso é muito vergonhoso! Muito mesmo!
Gaia apenas olhava para mim, rindo baixinho.
— Não dirija esses olhos pra mim! — gritei.
Ambas me levaram para dentro, deitando-me no sofá que lá tinha. O sangue que havia em minhas roupas logo manchou o sofá.
Quero dizer, nem ao menos sabia se esse sangue era meu. Nessa chuva, não havia como saber se estava sangrando ou não.
As duas compartilhavam o mesmo estado que o meu. Podia perceber o quão acabadas estavam.
Não era a única, pelo menos! Isso aliviava um pouco as coisas… eu acho.
— Foi tudo muito rápido — começou Kaori, sentada no sofá. — Alguns soldados que serviam à cidade só começaram a matar uns aos outros do nada… Era impossível distinguir quem era aliado ou não.
Gaia parecia confusa, como se quisesse juntar todas as peças desses acontecimentos.
— No final de tudo, sequer sabemos seu objetivo — comentou. — Argh! Quem dera tudo fosse tão fácil.
Naquele instante, uma pequena luz se acendeu em minha cabeça.
— Eu lembro deles falando algo sobre dominar a cidade para invocar alguém — disse. — Pelo menos foi algo assim que escutei.
Mostraram uma expressão de choque.
— Espera… Como você sabe disso? — perguntou Kaori, mas parecia sentir medo da resposta.
Ah…
Eu não havia contado como tinha chegado nesse local.
— Tava lá, né… Daí fiquei enjaulada, né… E, então, uma pessoa com uns olhos de estrela me salvou e tals… — falei, assobiando nos intervalos. Queria evitar ao máximo esse assunto. — Inclusive… Ela parecia muito com você, Gaia.
Minha última fala foi quase como uma indireta.
— Comigo? — Gaia apontou para si mesma. — Quero dizer! Como assim você estava nos campos inimigos?
Assobiei mais forte!
Esqueça isso logo!

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