Índice de Capítulo

    A tensão na arena já não era só esportiva — era quase sufocante. O ar parecia vibrar, carregado pela pressão espiritual dos lutadores. Karaku, com seu olhar frio de ave de rapina, virou-se para San Ryoshi.
    — O que faremos agora que estamos perdendo? — sua voz era calma, mas escondia uma ponta de ansiedade.

    San não respondeu de imediato. O silêncio dele pesou mais do que qualquer grito. Seus olhos, até então relaxados, perderam o brilho irreverente e ganharam um peso obscuro, denso como ferro derretido. Ele deu um passo à frente, inclinando o corpo para frente como um predador prestes a saltar. A voz saiu baixa, arrastada, mas carregada de uma certeza gelada que fez até os narradores da partida se calarem por um instante:
    — Vou parar de brincar com eles.

    O gongo soou, vibrando como trovão dentro dos corações da plateia.
    Round Seis.

    San Ryoshi explodiu para frente. Sua velocidade não era só física; era como se o espaço ao redor fosse puxado junto. Ryuji, Naki e Renji instintivamente o cercaram, tentando cortar todas as rotas de fuga. Mas San não fugia. Ele abaixou o tronco, ergueu a mão direita e encostou as pontas dos dedos no chão.

    O impacto do toque ressoou como uma batida de tambor oco. E então o chão se abriu em linhas negras, rachaduras que ferviam energia. Desses cortes, surgiram espinhos verde-musgo com manchas negras, retorcidos, pulsantes, como se fossem ossos de uma fera enterrada há séculos. Eles emergiram com violência, rasgando o solo e o ar.

    — Tch…! — Naki sentiu primeiro. A farpa perfurou a carne da coxa, fria como gelo.
    Renji e Ryuji também foram atravessados, e cada espinho parecia latejar, transmitindo um choque venenoso pelo corpo. Mas a dor não era nada comparada ao efeito: os músculos travaram, a respiração prendeu, o corpo inteiro recusou-se a se mover.

    — Não… não consigo… — Renji pensou, enquanto a visão embaçava.

    Quatro segundos. Para qualquer outro, um piscar de olhos. Para San, uma eternidade.

    Ele girou o quadril com perfeição técnica, o braço cobrindo o arco completo. Um soco simples, mas carregado com Sen bruto.
    O impacto atingiu Renji no peito. O som foi seco, como uma árvore centenária partindo ao meio. Renji foi lançado como uma bala de canhão, atravessando o campo e caindo exatamente na linha de eliminação.

    — RENJIII! — O grito de Ryuji cortou o ar. Sua aura explodiu em resposta.

    Ele não hesitou. Suas mãos se moveram rápidas, como se moldassem a própria realidade. Um clone perfeito surgiu ao seu lado, espelhando cada detalhe. O clone partiu na direção de San, punho fechado.

    San, impassível, girou o braço e o destroçou como se fosse papel. Mas o que deveria ser apenas destruição virou armadilha: do corpo desfeito do clone explodiu uma nuvem de fumaça densa, grossa como neblina noturna, cobrindo toda a arena.

    A plateia prendeu o fôlego. Nada podia ser visto lá dentro.

    San, por instinto, não arriscou. Ele puxou Sen do chão e ergueu ao redor do corpo uma couraça viva de espinhos, cada um pulsando como se tivesse um coração próprio.
    — Se tentarem me tocar, serão rasgados em pedaços… — murmurou, olhos atentos na escuridão.

    Um vulto surgiu. Outro clone. San nem pensou: girou o braço e o partiu em dois.
    Só que, dessa vez, o clone explodiu, liberando uma onda de energia que abriu uma brecha mortal na defesa.

    — AGORA! — A voz de Ryuji ecoou de dentro da fumaça.

    Ele avançou como um raio, punho envolto por uma aura incandescente. A distância entre eles foi engolida num instante.
    — Single Shot!

    O golpe atravessou o ar e explodiu em cheio no peito de San Ryoshi. O impacto abriu uma cratera no solo e o lançou oito metros para trás, o corpo girando no ar antes de despencar.

    O silêncio caiu sobre a arena. Poeira levantada, fumaça no ar, todos esperando o próximo movimento.

    Ryuji se endireitou, peito estufado, punho ainda cerrado. Seus olhos ardiam com convicção.
    — San… eu vou te derrotar. Eu vou me tornar o Número 1 do Fighters World!

    A figura de San Ryoshi se ergueu da cratera, lenta, como uma sombra antiga se levantando do inferno. Um fio de sangue escorreu pelo canto da boca.
    E, pela primeira vez, o rosto sério se curvou num sorriso. Não era alegria. Era o sorriso de um predador que finalmente encontrou uma presa à altura.

    — Tenta a sorte, moleque. — Sua voz era grave, carregada de ameaça.

    E a arena inteira tremeu com a promessa daquele duelo.

    O ar da arena vibra como se fosse um organismo vivo, respirando junto com cada coração ali dentro. As arquibancadas silenciaram, mas o silêncio não é paz — é tensão, é a corda esticada antes do estalo.

    Ryuji Arata fecha os olhos, inspira fundo e dobra os joelhos. A poeira levanta sob seus pés, como se até o chão pressentisse o peso do que viria. Ele cerra o punho, toca o solo levemente — tok — e deixa o som se espalhar pela arena.

    Sua voz surge firme, arranhando o ar:
    — Contemple… minha primeira forma.

    Uma névoa branca escapa do corpo dele, densa, quase líquida. Não é apenas vapor: é Sen transbordando, queimando por dentro, tentando se libertar. A névoa se espalha como um mar em ebulição, engolindo Ryuji inteiro.

    Quando finalmente se dissipa, o público prende a respiração.

    Não era mais o mesmo garoto.
    O corpo de Ryuji se reconstruiu diante de todos: músculos densos, traços simétricos como uma estátua grega, aura fervendo como fogo líquido. Os olhos ardiam em determinação, e o chão sob seus pés rachava com a pressão liberada.

    Ele ergue a voz, quase como um professor no meio da arena:
    — Deixa eu explicar… Graças à Criação Convergente, eu não crio apenas armas ou objetos. Eu posso criar transformações. Esta forma… dura onze minutos. Nesse tempo, meu corpo é moldado além do limite humano. Todos os meus atributos dobram. Força, velocidade, percepção, resistência. Tudo.

    A plateia explode em gritos. O rugido é ensurdecedor.

    San Ryoshi, porém, não se impressiona. Ele inclina a cabeça para o lado, um sorriso debochado tomando seus lábios.
    — Multiplica por dez se quiser, Arata. No fim, você ainda vai perder.

    Ryuji simplesmente desaparece. Um borrão, um sopro, um rasgo no espaço. Olhos humanos não conseguem acompanhar. Num instante, ele já está atrás de San.

    — Direct Shot Perfect!

    O punho de Ryuji encontra as costas do adversário com o estrondo de um trovão. O impacto reverbera pelo chão, rachando o tatame, lançando San como se fosse um míssil humano. Pedaços de pedra se soltam, voando como estilhaços.

    A plateia grita.
    Mas San se levanta. Lento. Olhos semicerrados, expressão deformada por puro desprezo.

    — Essa sua forma… — ele cospe as palavras, cada sílaba carregada de veneno. — Só vai servir para uma coisa… me matar de tédio. Você me dá nojo, Arata.

    Então, sua aura muda. Não é mais energia. É um manto vivo, sufocante, denso como fumaça tóxica. O ar fica pesado, e até os lutadores da lateral sentem os pulmões arderem.

    Num piscar, San Ryoshi some.
    Quando reaparece, está atrás de Ryuji.

    BOOOM!

    Um soco devastador atinge suas costas. O som é seco, brutal. Ryuji é lançado sem controle, seu corpo cruzando a arena até quase atravessar a linha de eliminação. A poeira sobe em uma nuvem grossa.

    — RYUJI! — Naki grita, a voz cortando a confusão.

    San ofega, os olhos acesos em fúria. Cada respiração dele é como um rugido, sugando o ar da arena, distorcendo a atmosfera. Sua presença é sufocante.

    Ele some de novo.
    E surge atrás de Naki.

    Um único golpe. Um direto cruel.
    O corpo de Naki voa como uma flecha, sem defesa, atravessando o tatame até ser cuspido pela linha de eliminação.

    A sirene toca.
    O juiz ergue a bandeira.

    Fim do Round Seis.

    O placar se iguala:
    3 a 3 – Time Vermelho.

    As arquibancadas explodem em choque, mas a tensão não diminui.
    O inferno só estava começando.

    O gong ecoa.
    Round Sete.

    O chão parece vibrar, como se a própria arena sentisse que algo fora da escala humana estava prestes a acontecer.

    Ryuji ainda brilha com a Primeira Forma, a aura fervendo em ondas quentes que distorcem o ar ao redor. Mas diante dele, San Ryoshi já não é um lutador comum. O olhar dele não carrega mais técnica, estratégia ou racionalidade. É o olhar de uma fera, de uma criatura cujo único instinto é destruir.

    San dá o primeiro passo.
    O simples passo.

    E o mundo range.

    A cada avanço, a atmosfera recua, o espaço em volta dele se contrai como se fosse engolido. O público prende a respiração; até o ar parece rejeitar sua presença.

    Renji sente o estômago afundar. Seus punhos tremem, mas não é medo — é choque.
    — Ele… ele não é humano… — a voz sai em um sussurro, quase engolida pelo silêncio.

    Ryuji tenta se preparar, a postura firme, olhos cravados no inimigo. Mas San atravessa as defesas como se fossem papel. A velocidade dele é cruel, não dá tempo de reação.

    Um soco quase atravessa o peito de Ryuji.
    — Você é muito lento, Arata. — A voz de San sai baixa, carregada de desdém.

    O golpe seguinte viria para encerrar tudo. Mas antes que desça, uma sombra invade o campo de visão de San.

    — Bee Style!

    Renji finca o punho contra o ombro dele. Um estalo seco ecoa, e a energia do Sen se mistura com o ferrão invisível. O veneno percorre o corpo de San como uma faísca elétrica, travando músculos, endurecendo articulações.

    San fica parado por um segundo.
    Um único segundo.

    Tempo suficiente para Karaku deslizar pela lateral, joelho armado como uma lança, e Sander cair do alto como um martelo. Duas sombras se juntando ao lado de Ryoshi

    Mas então…

    San abre os olhos.

    E o que brilha lá dentro não é luz. É ódio condensado, uma chama negra que queima sem precisar de combustível.

    — Naki… Renji… Ryuji… — a voz sai rasgada, cada nome cuspido como veneno. — Vocês me dão nojo. Tudo o que eu quero… é destruir vocês.

    A paralisia se despedaça, como vidro quebrado pela força bruta da vontade. A aura explode de novo, mas não é mais Sen. É algo mais sujo, mais bruto. O ódio materializado em energia. O calor da arena aumenta, o chão treme, e até os gritos da plateia parecem ser engolidos pelo rugido invisível dessa força.

    Num instante, San desaparece.
    Num clarão, reaparece entre Naki e Renji.

    Dois socos.
    Dois clarões.
    Duas explosões secas que reverberam como trovões.

    Os corpos dos dois são arremessados como bonecos, voando até quase atravessarem a linha de eliminação. As arquibancadas se levantam num uníssono de choque e horror.

    Ryuji reage no impulso, o coração disparando. Ele concentra tudo no punho direito, Sen vibrando como plasma.
    — Direct Shot Perfect!

    Ele avança num borrão, o punho cortando o ar com a promessa de um fim.

    Mas San não desvia.
    Não recua.
    Não teme.

    Com apenas uma mão, ele segura o soco de Ryuji. O impacto faz o tatame inteiro estremecer, rachaduras se espalhando sob os pés dos dois. Mas San apenas sorri.

    Com um giro brutal, ele torce o braço de Ryuji e o esmaga contra o chão. O impacto é monstruoso, levantando uma cortina de poeira e pedras. O som seco do corpo colidindo ecoa por toda a arena.

    O silêncio toma conta.
    Não existe torcida.
    Não existe juiz.
    Só a respiração ofegante e animalesca de San, cada suspiro mais pesado que o anterior.

    O árbitro engole seco, levanta a bandeira e anuncia com a voz trêmula:
    — Fim do Round Sete!

    O placar se atualiza no painel luminoso:
    4 a 3 – Time Vermelho.

    As arquibancadas explodem em urros, mas não é alegria. É pavor, é excitação selvagem, é a mistura de sentimentos que só uma luta no limite do impossível pode provocar.

    E no centro da arena, de pé, San Ryoshi respira como uma besta que acabou de provar sangue.San Ryoshi abre um sorriso torcido, mais cruel que qualquer golpe.
    — Então, Arata… me mostra até onde vai essa sua obsessão ridícula de ser o número um.

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