Índice de Capítulo

    O silêncio da arena é sufocante. Não há mais murmúrios, nem gritos. Só o som abafado da respiração coletiva de milhares de espectadores.

    Ryuji Arata ergue a mão, a postura firme, o olhar cravado em San Ryoshi. O corpo dele vibra, mas não de medo — de decisão.
    — Um contra um. Eu e você. Sem desculpas.

    Por um instante, o tempo parece parar. San Ryoshi não responde de imediato. A cabeça dele inclina levemente para o lado, e então, como se a escuridão tivesse voz, uma risada baixa e gutural se espalha pelo campo.

    A aura que o envolve se expande de repente. Negra e verde musgo, pulsa como um coração doente batendo fora do peito. Cada pulsar distorce o ar ao redor, criando rachaduras invisíveis no espaço.

    — Então seja assim. — A voz dele é pesada, cortante. — Mas saiba… que vou parar de brincar.

    O Round 8 começa.

    Ryuji não hesita. Avança. O corpo inteiro arde em Sen, cada passo rachando o chão. Ele gira o quadril, concentra tudo no punho direito. O Direct Shot é disparado com uma explosão de velocidade.

    Impacto.

    O rosto de San Ryoshi recebe o soco em cheio. A arena estremece como se um trovão tivesse caído. Mas… San não se move nem um milímetro.

    — O quê!? — Ryuji recua, olhos arregalados. — Ele… absorveu o meu soco!?

    San some. O corpo dele desaparece da visão humana como fumaça no vento.
    — Merda! — Ryuji reage por instinto, moldando uma esfera de defesa com seu Sen, grossa e rígida como aço líquido.

    Não adianta. O punho de San atravessa a barreira como faca em papel.

    O golpe acerta.
    Ryuji é lançado pelo campo como um boneco, o corpo se contorcendo no ar antes de bater contra o solo, que se abre em crateras.

    San Ryoshi cospe as palavras com desprezo:
    — Você é fraco, Arata. E a sua fraqueza… me dá nojo.

    A aura dele cresce, tornando-se palpável, quase sólida. Os olhos racham como vidro prestes a estilhaçar. A respiração é pesada, animalesca, como se cada fôlego fosse o rugido de uma besta faminta. Onde pisa, o chão não só racha — ele desmorona em pedaços.

    Ryuji avança de novo, tentando outro Direct Shot, mirando o tórax. O golpe conecta em cheio, mas… San permanece imóvel, frio, intacto.

    — Eu já disse. — O olhar dele é de pura insanidade. — Você é muito fraco.

    O peito de Ryuji aperta. As pernas tremem, mas não de medo — de frustração. Ele cerra os dentes.
    “Se o Direct Shot não basta… então eu tenho que quebrar até o espaço, se for preciso.”

    Ele fecha os olhos por um segundo. Respira fundo.
    E quando abre — a Meta-Visão desperta.

    O mundo muda. Linhas de probabilidade cruzam o corpo de San Ryoshi, como um quebra-cabeça vivo de futuros possíveis. Ele enxerga o impossível: uma abertura microscópica, um instante que só existe se ele acreditar.

    — É agora! — rosna, mergulhando pra frente.

    O chão explode sob seus pés. O ar se dobra. O Sen do corpo inteiro converge no braço direito, mais denso do que nunca.

    O punho avança — e no instante em que conecta, o tempo dobra. O espaço racha. Fragmentos azuis e negros se espalham pela arena como vidro estilhaçado no ar.

    DIRECT BLACK SHOT! 

    O impacto é brutal. A defesa absoluta de San Ryoshi não aguenta. O corpo dele é lançado para trás com uma onda de choque tão violenta que o público sente no peito, como se tivessem levado o golpe junto.

    Uma cratera colossal se abre na parede da arena, fumaça e destroços subindo como vulcão.

    Pela primeira vez, San Ryoshi cambaleia.
    Um filete de sangue escorre pelo canto da boca. Ele passa o dorso da mão, olha para o sangue, e sorri — um sorriso torto, enlouquecido.

    — Tsc… então você também consegue brincar com o impossível, Arata?

    Ryuji ofega. O braço lateja, quase sem força, mas nos olhos dele brilha uma chama insana.
    — Esse é só o começo.

    San Ryoshi ri, baixo, mas a risada cresce, carregada de loucura.
    — Incrível… pela primeira vez nesse round, você doeu. Um pouco.

    A tensão na arena é insuportável. Ninguém respira. O público inteiro sabe: aquilo não é mais só uma luta. É um duelo de monstros.

    O chão da arena ainda tremia, ecoando o estrondo do Direct Black Shot como se um terremoto tivesse rasgado o campo. Pedaços de tatame flutuavam em suspensão, poeira girando no ar como uma tempestade de cinzas.

    Renji foi o primeiro a reagir. Saltou de pé, o Sen escapando pelo corpo dele em labaredas incandescentes, refletindo luz em seus olhos arregalados.

    — QUE PORRA FOI ESSA!? — gritou, a voz ecoando em meio à arena. — Ele acabou de evoluir o Direct Shot na minha frente! Esse moleque é um monstro!

    Ele socou o ar, músculos tensos, veias saltando, sentindo o poder de Ryuji explodindo à distância. O sorriso dele era quase insano, cheio de adrenalina, misturando medo e fascínio.

    Ao lado, Naki permanecia imóvel, como se cada músculo estivesse analisando, absorvendo cada onda de energia emanada pelo golpe. Os olhos dele brilhavam com frieza clínica, calculando, processando.

    — Ele… dobrou a técnica… distorceu o impacto usando a Meta-Visão. — A voz de Naki saiu pesada, quase trêmula. — Isso não é sorte. Isso é genialidade.

    San Ryoshi ergueu o olhar. Um sorriso sádico se espalhou pelo rosto, rasgando a seriedade da tensão que pairava na arena. Cada músculo dele pulsava com energia destrutiva, cada respiração carregada de ameaça.

    — Ei, Ryuji Arata… cê tá pronto pra morrer?

    Ryuji apenas cerrou os punhos, a respiração firme e profunda.
    — Não. Quem vai morrer aqui é você.

    Ele avançou em velocidade absurda, corpo carregado de Sen concentrado. O punho direito disparou mais uma vez, Direct Black Shot mirando o peito de San. O impacto foi devastador, lançando o líder do time vermelho para trás como uma marionete rasgada por fios invisíveis. A cratera que se formou atrás dele espalhou destroços e energia por metros, fazendo a arena inteira tremer novamente.

    Ryuji não perdeu tempo. Levantou a mão, e de sua criação convergente surgiram dois cães colossais de sombra, um negro como a noite sem estrelas, outro branco como neve pura, cada passo deles fazendo o chão vibrar.

    — Manipulação de Sombras: Cães Divinos! — bradou Ryuji.
    — Garotos… ataquem!

    Os cães saltaram sobre San Ryoshi com velocidade sobrenatural, corpos enormes e ágeis, dentes e garras reluzindo com Sen concentrado. Cada movimento deles era uma onda de destruição em miniatura.

    San Ryoshi observou, a expressão mesclando fascínio e desprezo absoluto. Com um simples estalar de dedos, dezenas de Espinhos Divergentes brotaram de sua aura, girando pelo ar como lâminas invisíveis. Os cães colidiram contra eles e foram dilacerados, transformando-se em fumaça negra e branca que se dissipou lentamente.

    — Interessante… mas inútil. Você continua fraco. — San Ryoshi falou, a voz ecoando como um trovão sombrio.

    — Escamas de Dragão.

    De repente, a aura dele se contraiu e expandiu como um rugido materializado. Ele ergueu a mão, e um corte invisível, afiado como lâmina dimensional atravessou o corpo de Ryuji de lado a lado.

    O sangue nem teve tempo de escorrer. O corpo de Ryuji se desfez em partículas de Sen, espalhando uma nuvem luminosa que flutuou segundos antes de se dissipar. A devastação era quase artística — fria, cirúrgica e definitiva.

    O narrador anunciou, com a voz grave e épica:
    — Como decidido: com a queda de Ryuji Arata, o round é do Time Vermelho!

    No ar, luzes flutuaram formando o placar final:
    5 a 3 — Time Vermelho.

    A arena silenciou por um instante antes do público explodir em um clamor misto de choque e excitação. A vitória não era apenas sobre um round, mas sobre o impossível que Ryuji tentou realizar.

    O corpo de Ryuji Arata se recompôs lentamente. Cada fibra, cada músculo reconstruído pelo Sistema Senzoku, como se a dor tivesse sido apagada, mas ainda deixasse um eco fantasma — um lembrete silencioso de sua derrota. Ele respirava fundo, peito subindo e descendo com dificuldade, os punhos cerrados de frustração e determinação.

    A arena estava silenciosa. Só o vento imaginário da destruição recente ainda parecia sussurrar nas arquibancadas vazias.

    A voz grave do narrador ecoou, preenchendo cada canto do espaço:
    — O Time Vencedor é o Time Vermelho, composto por San Ryoshi, Karaku Sabito e Sander Shimo.
    — O Time Perdedor é o Time Branco, formado por Ryuji Arata, Naki Senrou e Renji Asakura.

    O público manteve um silêncio respeitoso, entendendo que o que acabara de acontecer não era apenas um round, mas um capítulo decisivo na história desses lutadores.

    O sistema da segunda fase entrou em ação. Uma regra clara, quase cruel:
    — O time vencedor pode escolher um membro do time derrotado para roubar.

    San Ryoshi cruzou os braços com desdém, a postura relaxada mas carregada de poder. Seu olhar, frio e afiado, perfurava Ryuji e Naki, avaliando cada respiração, cada gesto.
    — Não ligo quem seja. Só não escolham Ryuji Arata. — disse com voz calma, mas carregada de desprezo. — Ele ainda precisa evoluir muito antes de lutar ao meu lado.

    Sander Shimo olhou para Karaku, voz baixa e calculista:
    — E Renji? Ele é perigoso… imprevisível, mas valioso.

    Karaku, o sorriso sombrio se abrindo lentamente no rosto, apenas inclinou a cabeça:
    — Hm… perfeito. Vamos levá-lo.

    Renji, ainda ofegante, olhou para seus antigos companheiros, olhos brilhando de frustração e tristeza contida. Cada músculo dele tremia, mas não por medo — pela raiva de ser separado de amigos e pela impotência momentânea.
    — Ryuji… Naki… eu acredito em vocês. Ganhem dos outros times e venham me buscar.

    O coração de Ryuji bateu acelerado. Ele respirou fundo, ergueu o queixo e cerrou os punhos com força, sentindo o Sen pulsando levemente em suas veias. Um rugido silencioso escapou de sua garganta:
    — Tá certo, Renji! Eu vou atrás de você!

    Ele encarou San Ryoshi. O olhar era firme, quase cortante. Cada palavra era um punhal de determinação:
    — E eu ainda vou te derrotar!

    San Ryoshi apenas arqueou uma sobrancelha, o canto da boca se contraindo em uma expressão de nojo absoluto.
    — Cala a boca, merda. Você é fraco. Evolua… aí talvez eu perca meu tempo com você.

    O vento parecia carregar as palavras, ecoando pelo espaço vazio da arena. Renji deu um último olhar para os amigos antes de seguir com o time inimigo. A tristeza dele não era exagerada — era uma mistura de frustração, saudade e fogo contido, como se estivesse guardando forças para a revanche futura.

    Ryuji respirou fundo, os olhos queimando de determinação silenciosa. Ele sabia que aquela derrota não era o fim — apenas o início de uma nova guerra, e a promessa feita a Renji ecoava mais forte que qualquer golpe: ele voltaria mais forte, e San Ryoshi sentiria o peso disso.

    O vestiário estava silencioso, diferente de todas as outras vezes. Não havia gritos de vitória, nem a tensão elétrica de antes das lutas. Só o som das gotas de suor pingando do que restava da energia dos dois.

    Ryuji estava sentado no banco, a cabeça baixa, a toalha jogada sobre os ombros. Ele fechava e abria o punho direito, ainda sentindo o eco do Direct Black Shot como se o braço queimasse por dentro.

    Naki, encostado no armário, respirava fundo, o olhar distante. Diferente de Ryuji, ele não estava frustrado por perder. Ele estava… pensativo.

    — …Você tá calado demais. — disse Ryuji, quebrando o silêncio, a voz rouca. — Não vai falar nada?

    Naki ergueu os olhos lentamente, encarando o amigo. A expressão era séria, quase fria, mas com uma centelha de fogo escondida.
    — Eu tô pensando, Ryuji. Pensando que… a gente ainda não viu nada do que esses monstros são capazes.

    Ryuji apertou os dentes, mas um sorriso torto surgiu.
    — Hah… eu quase quebrei o San com aquele golpe. Por um instante, eu vi medo nos olhos dele. Eu sei que vi.

    — Você viu… mas ainda não foi suficiente. — Naki respondeu, cruzando os braços. — E é isso que mais me irrita. Nós demos tudo, e mesmo assim fomos esmagados.

    O silêncio voltou por alguns segundos, até que Naki olhou fixo para Ryuji.
    — Mas eu não vou aceitar perder de novo. Nem que eu tenha que vender minha alma.

    Ryuji encarou ele de volta, o sorriso ficando mais firme.
    — Então é isso. Nós vamos crescer, custe o que custar. E quando reencontrarmos aquele desgraçado, vamos arrancar o sorriso da cara dele.

    Foi nesse momento que a porta do vestiário se abriu com um estrondo.

    Dois lutadores entraram: Kaede Shizuma e Ayumi Tsukari. Ambos com uniformes impecáveis, a presença deles pesava no ar como uma tempestade prestes a cair.

    Kaede, alto, com o cabelo preso para trás, olhou diretamente para Naki.
    — Naki Senrou. Ryuji Arata.

    Ayumi, mais baixo, mas com olhar cortante, completou:
    — Chegou a hora de vocês provarem que não são apenas “os derrotados de San Ryoshi”.

    Ryuji se levantou devagar, os olhos ardendo com determinação recém-acendida.
    — Hah… então vocês vieram procurar briga no lugar certo.

    Naki descruzou os braços, se afastou da parede e caminhou para o centro do vestiário, o Sen começando a fluir em torno do corpo.
    — Se é luta que vocês querem… eu vou mostrar o que significa não desistir.

    Kaede e Ayumi trocaram um olhar rápido, um leve sorriso surgindo nos rostos.
    — Boa resposta. — disse Kaede. — Venham. A próxima batalha de vocês começa agora.

    As luzes do vestiário pareciam piscar por um instante, e o peso da promessa de guerra encheu o ar. O juízo final ainda não tinha acabado.

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