Capítulo 43 – O Juízo Final
O silêncio da arena é sufocante. Não há mais murmúrios, nem gritos. Só o som abafado da respiração coletiva de milhares de espectadores.
Ryuji Arata ergue a mão, a postura firme, o olhar cravado em San Ryoshi. O corpo dele vibra, mas não de medo — de decisão.
— Um contra um. Eu e você. Sem desculpas.
Por um instante, o tempo parece parar. San Ryoshi não responde de imediato. A cabeça dele inclina levemente para o lado, e então, como se a escuridão tivesse voz, uma risada baixa e gutural se espalha pelo campo.
A aura que o envolve se expande de repente. Negra e verde musgo, pulsa como um coração doente batendo fora do peito. Cada pulsar distorce o ar ao redor, criando rachaduras invisíveis no espaço.
— Então seja assim. — A voz dele é pesada, cortante. — Mas saiba… que vou parar de brincar.
O Round 8 começa.
Ryuji não hesita. Avança. O corpo inteiro arde em Sen, cada passo rachando o chão. Ele gira o quadril, concentra tudo no punho direito. O Direct Shot é disparado com uma explosão de velocidade.
Impacto.
O rosto de San Ryoshi recebe o soco em cheio. A arena estremece como se um trovão tivesse caído. Mas… San não se move nem um milímetro.
— O quê!? — Ryuji recua, olhos arregalados. — Ele… absorveu o meu soco!?
San some. O corpo dele desaparece da visão humana como fumaça no vento.
— Merda! — Ryuji reage por instinto, moldando uma esfera de defesa com seu Sen, grossa e rígida como aço líquido.
Não adianta. O punho de San atravessa a barreira como faca em papel.
O golpe acerta.
Ryuji é lançado pelo campo como um boneco, o corpo se contorcendo no ar antes de bater contra o solo, que se abre em crateras.
San Ryoshi cospe as palavras com desprezo:
— Você é fraco, Arata. E a sua fraqueza… me dá nojo.
A aura dele cresce, tornando-se palpável, quase sólida. Os olhos racham como vidro prestes a estilhaçar. A respiração é pesada, animalesca, como se cada fôlego fosse o rugido de uma besta faminta. Onde pisa, o chão não só racha — ele desmorona em pedaços.
Ryuji avança de novo, tentando outro Direct Shot, mirando o tórax. O golpe conecta em cheio, mas… San permanece imóvel, frio, intacto.
— Eu já disse. — O olhar dele é de pura insanidade. — Você é muito fraco.
O peito de Ryuji aperta. As pernas tremem, mas não de medo — de frustração. Ele cerra os dentes.
“Se o Direct Shot não basta… então eu tenho que quebrar até o espaço, se for preciso.”
Ele fecha os olhos por um segundo. Respira fundo.
E quando abre — a Meta-Visão desperta.
O mundo muda. Linhas de probabilidade cruzam o corpo de San Ryoshi, como um quebra-cabeça vivo de futuros possíveis. Ele enxerga o impossível: uma abertura microscópica, um instante que só existe se ele acreditar.
— É agora! — rosna, mergulhando pra frente.
O chão explode sob seus pés. O ar se dobra. O Sen do corpo inteiro converge no braço direito, mais denso do que nunca.
O punho avança — e no instante em que conecta, o tempo dobra. O espaço racha. Fragmentos azuis e negros se espalham pela arena como vidro estilhaçado no ar.
DIRECT BLACK SHOT!
O impacto é brutal. A defesa absoluta de San Ryoshi não aguenta. O corpo dele é lançado para trás com uma onda de choque tão violenta que o público sente no peito, como se tivessem levado o golpe junto.
Uma cratera colossal se abre na parede da arena, fumaça e destroços subindo como vulcão.
Pela primeira vez, San Ryoshi cambaleia.
Um filete de sangue escorre pelo canto da boca. Ele passa o dorso da mão, olha para o sangue, e sorri — um sorriso torto, enlouquecido.
— Tsc… então você também consegue brincar com o impossível, Arata?
Ryuji ofega. O braço lateja, quase sem força, mas nos olhos dele brilha uma chama insana.
— Esse é só o começo.
San Ryoshi ri, baixo, mas a risada cresce, carregada de loucura.
— Incrível… pela primeira vez nesse round, você doeu. Um pouco.
A tensão na arena é insuportável. Ninguém respira. O público inteiro sabe: aquilo não é mais só uma luta. É um duelo de monstros.
O chão da arena ainda tremia, ecoando o estrondo do Direct Black Shot como se um terremoto tivesse rasgado o campo. Pedaços de tatame flutuavam em suspensão, poeira girando no ar como uma tempestade de cinzas.
Renji foi o primeiro a reagir. Saltou de pé, o Sen escapando pelo corpo dele em labaredas incandescentes, refletindo luz em seus olhos arregalados.
— QUE PORRA FOI ESSA!? — gritou, a voz ecoando em meio à arena. — Ele acabou de evoluir o Direct Shot na minha frente! Esse moleque é um monstro!
Ele socou o ar, músculos tensos, veias saltando, sentindo o poder de Ryuji explodindo à distância. O sorriso dele era quase insano, cheio de adrenalina, misturando medo e fascínio.
Ao lado, Naki permanecia imóvel, como se cada músculo estivesse analisando, absorvendo cada onda de energia emanada pelo golpe. Os olhos dele brilhavam com frieza clínica, calculando, processando.
— Ele… dobrou a técnica… distorceu o impacto usando a Meta-Visão. — A voz de Naki saiu pesada, quase trêmula. — Isso não é sorte. Isso é genialidade.
San Ryoshi ergueu o olhar. Um sorriso sádico se espalhou pelo rosto, rasgando a seriedade da tensão que pairava na arena. Cada músculo dele pulsava com energia destrutiva, cada respiração carregada de ameaça.
— Ei, Ryuji Arata… cê tá pronto pra morrer?
Ryuji apenas cerrou os punhos, a respiração firme e profunda.
— Não. Quem vai morrer aqui é você.
Ele avançou em velocidade absurda, corpo carregado de Sen concentrado. O punho direito disparou mais uma vez, Direct Black Shot mirando o peito de San. O impacto foi devastador, lançando o líder do time vermelho para trás como uma marionete rasgada por fios invisíveis. A cratera que se formou atrás dele espalhou destroços e energia por metros, fazendo a arena inteira tremer novamente.
Ryuji não perdeu tempo. Levantou a mão, e de sua criação convergente surgiram dois cães colossais de sombra, um negro como a noite sem estrelas, outro branco como neve pura, cada passo deles fazendo o chão vibrar.
— Manipulação de Sombras: Cães Divinos! — bradou Ryuji.
— Garotos… ataquem!
Os cães saltaram sobre San Ryoshi com velocidade sobrenatural, corpos enormes e ágeis, dentes e garras reluzindo com Sen concentrado. Cada movimento deles era uma onda de destruição em miniatura.
San Ryoshi observou, a expressão mesclando fascínio e desprezo absoluto. Com um simples estalar de dedos, dezenas de Espinhos Divergentes brotaram de sua aura, girando pelo ar como lâminas invisíveis. Os cães colidiram contra eles e foram dilacerados, transformando-se em fumaça negra e branca que se dissipou lentamente.
— Interessante… mas inútil. Você continua fraco. — San Ryoshi falou, a voz ecoando como um trovão sombrio.
— Escamas de Dragão.
De repente, a aura dele se contraiu e expandiu como um rugido materializado. Ele ergueu a mão, e um corte invisível, afiado como lâmina dimensional atravessou o corpo de Ryuji de lado a lado.
O sangue nem teve tempo de escorrer. O corpo de Ryuji se desfez em partículas de Sen, espalhando uma nuvem luminosa que flutuou segundos antes de se dissipar. A devastação era quase artística — fria, cirúrgica e definitiva.
O narrador anunciou, com a voz grave e épica:
— Como decidido: com a queda de Ryuji Arata, o round é do Time Vermelho!
No ar, luzes flutuaram formando o placar final:
5 a 3 — Time Vermelho.
A arena silenciou por um instante antes do público explodir em um clamor misto de choque e excitação. A vitória não era apenas sobre um round, mas sobre o impossível que Ryuji tentou realizar.
O corpo de Ryuji Arata se recompôs lentamente. Cada fibra, cada músculo reconstruído pelo Sistema Senzoku, como se a dor tivesse sido apagada, mas ainda deixasse um eco fantasma — um lembrete silencioso de sua derrota. Ele respirava fundo, peito subindo e descendo com dificuldade, os punhos cerrados de frustração e determinação.
A arena estava silenciosa. Só o vento imaginário da destruição recente ainda parecia sussurrar nas arquibancadas vazias.
A voz grave do narrador ecoou, preenchendo cada canto do espaço:
— O Time Vencedor é o Time Vermelho, composto por San Ryoshi, Karaku Sabito e Sander Shimo.
— O Time Perdedor é o Time Branco, formado por Ryuji Arata, Naki Senrou e Renji Asakura.
O público manteve um silêncio respeitoso, entendendo que o que acabara de acontecer não era apenas um round, mas um capítulo decisivo na história desses lutadores.
O sistema da segunda fase entrou em ação. Uma regra clara, quase cruel:
— O time vencedor pode escolher um membro do time derrotado para roubar.
San Ryoshi cruzou os braços com desdém, a postura relaxada mas carregada de poder. Seu olhar, frio e afiado, perfurava Ryuji e Naki, avaliando cada respiração, cada gesto.
— Não ligo quem seja. Só não escolham Ryuji Arata. — disse com voz calma, mas carregada de desprezo. — Ele ainda precisa evoluir muito antes de lutar ao meu lado.
Sander Shimo olhou para Karaku, voz baixa e calculista:
— E Renji? Ele é perigoso… imprevisível, mas valioso.
Karaku, o sorriso sombrio se abrindo lentamente no rosto, apenas inclinou a cabeça:
— Hm… perfeito. Vamos levá-lo.
Renji, ainda ofegante, olhou para seus antigos companheiros, olhos brilhando de frustração e tristeza contida. Cada músculo dele tremia, mas não por medo — pela raiva de ser separado de amigos e pela impotência momentânea.
— Ryuji… Naki… eu acredito em vocês. Ganhem dos outros times e venham me buscar.
O coração de Ryuji bateu acelerado. Ele respirou fundo, ergueu o queixo e cerrou os punhos com força, sentindo o Sen pulsando levemente em suas veias. Um rugido silencioso escapou de sua garganta:
— Tá certo, Renji! Eu vou atrás de você!
Ele encarou San Ryoshi. O olhar era firme, quase cortante. Cada palavra era um punhal de determinação:
— E eu ainda vou te derrotar!
San Ryoshi apenas arqueou uma sobrancelha, o canto da boca se contraindo em uma expressão de nojo absoluto.
— Cala a boca, merda. Você é fraco. Evolua… aí talvez eu perca meu tempo com você.
O vento parecia carregar as palavras, ecoando pelo espaço vazio da arena. Renji deu um último olhar para os amigos antes de seguir com o time inimigo. A tristeza dele não era exagerada — era uma mistura de frustração, saudade e fogo contido, como se estivesse guardando forças para a revanche futura.
Ryuji respirou fundo, os olhos queimando de determinação silenciosa. Ele sabia que aquela derrota não era o fim — apenas o início de uma nova guerra, e a promessa feita a Renji ecoava mais forte que qualquer golpe: ele voltaria mais forte, e San Ryoshi sentiria o peso disso.
O vestiário estava silencioso, diferente de todas as outras vezes. Não havia gritos de vitória, nem a tensão elétrica de antes das lutas. Só o som das gotas de suor pingando do que restava da energia dos dois.
Ryuji estava sentado no banco, a cabeça baixa, a toalha jogada sobre os ombros. Ele fechava e abria o punho direito, ainda sentindo o eco do Direct Black Shot como se o braço queimasse por dentro.
Naki, encostado no armário, respirava fundo, o olhar distante. Diferente de Ryuji, ele não estava frustrado por perder. Ele estava… pensativo.
— …Você tá calado demais. — disse Ryuji, quebrando o silêncio, a voz rouca. — Não vai falar nada?
Naki ergueu os olhos lentamente, encarando o amigo. A expressão era séria, quase fria, mas com uma centelha de fogo escondida.
— Eu tô pensando, Ryuji. Pensando que… a gente ainda não viu nada do que esses monstros são capazes.
Ryuji apertou os dentes, mas um sorriso torto surgiu.
— Hah… eu quase quebrei o San com aquele golpe. Por um instante, eu vi medo nos olhos dele. Eu sei que vi.
— Você viu… mas ainda não foi suficiente. — Naki respondeu, cruzando os braços. — E é isso que mais me irrita. Nós demos tudo, e mesmo assim fomos esmagados.
O silêncio voltou por alguns segundos, até que Naki olhou fixo para Ryuji.
— Mas eu não vou aceitar perder de novo. Nem que eu tenha que vender minha alma.
Ryuji encarou ele de volta, o sorriso ficando mais firme.
— Então é isso. Nós vamos crescer, custe o que custar. E quando reencontrarmos aquele desgraçado, vamos arrancar o sorriso da cara dele.
Foi nesse momento que a porta do vestiário se abriu com um estrondo.
Dois lutadores entraram: Kaede Shizuma e Ayumi Tsukari. Ambos com uniformes impecáveis, a presença deles pesava no ar como uma tempestade prestes a cair.
Kaede, alto, com o cabelo preso para trás, olhou diretamente para Naki.
— Naki Senrou. Ryuji Arata.
Ayumi, mais baixo, mas com olhar cortante, completou:
— Chegou a hora de vocês provarem que não são apenas “os derrotados de San Ryoshi”.
Ryuji se levantou devagar, os olhos ardendo com determinação recém-acendida.
— Hah… então vocês vieram procurar briga no lugar certo.
Naki descruzou os braços, se afastou da parede e caminhou para o centro do vestiário, o Sen começando a fluir em torno do corpo.
— Se é luta que vocês querem… eu vou mostrar o que significa não desistir.
Kaede e Ayumi trocaram um olhar rápido, um leve sorriso surgindo nos rostos.
— Boa resposta. — disse Kaede. — Venham. A próxima batalha de vocês começa agora.
As luzes do vestiário pareciam piscar por um instante, e o peso da promessa de guerra encheu o ar. O juízo final ainda não tinha acabado.
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