Capítulo 1: Novo Amanhecer
“Beep! Beep!”
O alarme soava naquela manhã.
— Scarlett! — gritou a voz, um tom de raiva. — Vai acabar se atrasando!
Uma voz que só escutava em minha mente. Quase como um fantasma que estava me assombrando.
Naquela casa, só existia uma única alma viva. E essa alma era eu.
Apenas eu.
Como sempre foi… desde a partida dela.
Era difícil cuidar de mim mesma. Meus cabelos não ficavam mais prontos sozinhos e nem mesmo minha comida aparecia de forma mágica na mesa.
Desliguei o alarme.
“6:30 AM.”
Cedo demais para quem só teria de fazer algo produtivo no horário da tarde. Queria morrer só de lembrar o tanto de coisa que teria de fazer hoje!
Ah…
Teria de concluir aquele trabalho da faculdade, não é…? Odeio física com todas as minhas forças!
Meu celular estava na ponta da mesa, quase caindo no chão. Uma capa fofa de coelho cobria o aparelho antigo.
— Será que… — peguei o smartphone, olhando as notificações. E, sem surpresas, não havia nada. — Ah… Isso é justo.
Olhei de um lado para o outro, procurando algum fantasma em minha casa. Talvez, se tivesse um, não estaria tão sozinha.
— Devia parar de pensar assim.
Me movimentei para a cozinha do pequeno apartamento. Mobília leve e barata, mas o suficiente para uma solteirona viver.
Amava aquele espaço! Era confortável… muito confortável. Perto da sala e perto da varanda, não podia existir coisa melhor!
Cheguei mais perto do pequeno freezer que usava como geladeira, abrindo-o logo após. O ar gelado tocou o meu rosto, deixando-me ainda mais relaxada.
— Uhh! Isso é bom! — disse. — Mas agora… o que deveria pegar?
Não havia tantas comidas naquele minúsculo espaço, mas era o suficiente para uma semana. Alimentos em conserva, congelados e até mesmo umas cervejas que adorava beber!
Mas bem… essas são para ocasiões especiais.
— Ahn? Um copo?
O objetivo de vidro estava na pia, enchido de água até a metade.
— Eu não lembro de ter bebido nada antes de dormir.
Alguém havia entrado?
Fechei a geladeira o mais rápido que pude, correndo até a porta de meu apartamento. Cheguei em segundos.
— Por favor… não me diga que eu esqueci de fechar a porta — murmurava, os olhos fechados.
Era difícil respirar nesse momento. Parecia que iria morrer de tanto medo dessa alternativa ser verdade!
Girei a maçaneta.
…
Nada. Não estava aberta.
Um alívio correu por meu corpo! Suspirei, as forças das pernas se esvaindo, levando-me ao chão.
— Graças… pensei que fosse ser roubada de novo! Ainda bem que lembrei de fechar a porta — sussurrei, apoiando meu corpo numa estante próxima para levantar.
Peguei o impulso e agora estava pronta para viver mais um dia chato da minha vida.
Voltei ao freezer, pegando uma pequena comida congelada de dentro. Um sushi que havia comprado no mercado entrou dentro do micro-ondas, e logo apertei o botão para esquentar.
— Uh… Talvez devesse ter comprado um bolo de chocolate naquela doceria. Que droga! — Coloquei a mão no bolso, procurando minha carteira.
Que?
Ela não estava no bolso!
Sempre durmo com ela. Onde foi que eu coloquei? No quarto, será…? É, é isso! Está no quarto!
“5:00”
5 minutos. É tempo o suficiente.
Andei até o quarto, minhas pernas ainda tremendo pelo recente despertar. Chegando mais uma vez no quarto, pude enxergar o que tanto estava evitando…
— Cacete, isso tá bagunçado que só a peste — resmunguei, as pernas ganhando força pelo estresse. — Que droga… como deixei tudo isso se desarrumar?
Fui pegando roupa por roupa no chão, acumulando-as em uma bacia no canto do quarto.
Demorou alguns minutos para que pudesse organizar todas elas, mas me senti realizada quando tudo acabou.
— Ufa! Agora espero nunca mais precisar organizar isso de novo.
No final de tudo, não encontrei minha carteira. De alguma forma, ela havia se perdido em algum buraco desse imóvel.
Ah, que droga!
Não estava nem mesmo no cesto de lixo! Só tinha alguns papéis e cápsulas. Muitas delas, mas decidi só ignorar por enquanto.
Aquilo deve ter se acumulado com o tempo. Nada demais! Bola pra frente e vamos nessa.
Só que…
“Bip! Bip! Bip!”
— Que? Ah! O micro-ondas!
Havia apagado a existência dele da minha mente. Como diabos poderia ter cometido esse erro? Se ferrar!
Corri mais uma vez até a cozinha! Aquela era uma manhã em tanta!
Só pude ver a fumaça saindo de dentro do aparato, e foi ali que percebi minha grande derrota…
Me aproximei com calma dessa vez, tirando o sushi queimado de dentro.
— Argh… Quanto azar! — Cerrei o punho, olhando para os céus. — Os deuses não estejam tão alegres comigo! O que eu fiz? Quebrei algum santo?
Taquei o sushi queimado no lixo, pegando uma cerveja na geladeira. Aquilo poderia ser a única forma de me deixar feliz nessa manhã horrenda…
— Isso tudo é carma?
Com certeza não estava lacrimejando naquele momento, mas não dei importância.
Sentei-me ao sofá, abrindo a latinha que segurava. O ar gelado e o cheiro eram incomparáveis! Era o ideal pra tirar esse peso das costas.
Peguei o controle do meu lado, ligando a TV.
— Livro famoso irá ganhar adaptação para animação! — falou o apresentador. — A grande obra “12 Heroes and the Beast” estará receb–
Troquei de canal.
Era desinteressante. O que as pessoas viam em livros? Ah, sai fora! Já basta os da faculdade…
Aquele livro idiota era a principal notícia em quase todas as redes. Demorou um certo tempo para achar um canal que não estivesse passando isso.
— Morre jovem esfaqueado no distrito de–
Passei o canal mais uma vez.
— Ugh… Notícias ruins não são o meu forte. Imagina morrer esfaqueado? Nossa… não gosto nem de pensar nisso.
— Você não é minha filha! — gritou a atriz, fazendo papel de mãe malvada. — É por isso que merece estar fora de nossa casa!
Uh…
Que novela mais estranha.
Juro de mindinho que a havia assistido já faz um tempo. Mas por que não consigo me lembrar? Esses atores não me são estranhos.
— Mas serve pra entreter.
Levei a bebida para a boca, apenas para descobrir que minha cerveja havia esfriado nesse pouco tempo.
— Ew! — resmunguei, tirando ela de perto no mesmo instante.
Mas só havia isso para tomar…
Ah… que droga. Eu odeio minha vida.
Continuei a beber aquilo. Era quente, um sabor muito mais forte do que o normal.
— Uf! — suspirei. — Podia ser melhor, mas assim tá bom demais!
Coloquei a lata na mesa à minha frente, inclinando minha cabeça para trás logo após. Tinha várias coisas pra fazer, várias mesmo!
Eu deveria arranjar um emprego melhor. O supermercado não é pra mim. Tinha uma cafeteria perto daqui, não…? Acho que eles estão precisando de atendente.
Vejo isso outra hora. Agora é momento de aproveitar essa manhã!
Podia dizer para mim mesma que estava tudo bem, sorrir e se divertir com o pouco. Mas tudo aquilo só me trazia uma sensação horrível de jogar a poeira para debaixo do tapete.
Aquilo afundava meu coração todas as manhãs. Era insuportável.
— Eu tô esquecendo de algo? Sinto que tem alguma coisa errada…

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