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    14 de fevereiro de 2024, quarta-feira.

    O salão era amplo, bem iluminado, e decorado com luzes quentes e pétalas espalhadas pelas bordas das mesas, tudo com requinte e sofisticação, sem excessos. O evento da Wallmart era um costume anual entre grandes parceiros da marca, mas naquela noite, algo era diferente — Victor e Aki estavam lá como um casal.

    Vestida com um vestido vermelho carmesim com detalhes sutis, Aki irradiava elegância e nervosismo em igual medida. Victor, por sua vez, usava um terno escuro com um lenço vermelho no bolso — um pequeno toque que a própria Aki havia sugerido.

    — É estranho pensar que quase recusamos esse convite… — ela murmurou, olhando ao redor.

    — E pensar que, quando ele chegou, a gente ainda nem estava junto… — Victor respondeu com um sorriso discreto.

    Antes que pudessem aprofundar a conversa, uma figura imponente, com um sorriso jovial e olhos cintilantes, se aproximou.

    — Ora, ora… finalmente chegaram! — exclamou Aramatsu Wallerstein, abrindo os braços com entusiasmo contido. — Estávamos aguardando ansiosamente por vocês dois.

    Logo atrás dele, Ino Wallerstein, com seu vestido verde-esmeralda, se aproximou com uma taça na mão e um olhar sagaz.

    — Há quanto tempo Victor e Aki. — ela disse, com aquele típico tom leve, mas sempre carregado de percepção. — Nós sabíamos que vocês viriam… são um casal lindo… — sussurrou para Victor, como quem diz: “estava escrito”.

    Aki ficou visivelmente corada, e Victor coçou a nuca, sem jeito. Ino continuou:

    — Espero que estejam se divertindo. E por favor, não pensem em fugir antes de experimentar o Mojito de Morango! — ela disse, com um brilho nos olhos. — Lembram? Vocês recusaram da última vez… mas essa é a receita especial do nosso chef pessoal. Uma receita especial da família Wallerstein. Depois daquele incidente no evento ano passado, tentamos recompensar vocês com ele, porém, sabiamente, por causa do trabalho, vocês não aceitaram. Eu e o Aramatsu ficamos sentidos com a recusa. 

    Ino falou com tom dramático e Aramatsu cruzou os braços teatralmente:

    — Se recusarem novamente, ficaremos muito chateados. Bom, nesse evento de hoje há somente convidados pessoais pela nossa família, apenas casais com o qual compartilhamos alguma relação além de apenas profissional ou simplória. 

    Victor arqueou as sobrancelhas e Aki também. Ambos estavam surpresos pelas palavras dele, que continuou:

    — Ficamos realmente preocupados com você depois do incidente e admiramos bastante a sua postura naquele dia. Nossa relação com o senhor Akashi já era boa antes, mas, quando vimos vocês da última vez, nossa admiração aumentou. O Akashi tem realmente muita sorte em ter pessoas tão competentes trabalhando para ele. 

    O brasileiro tentou interromper, alegando que apenas faziam o trabalho que era dado.

    — Exatamente por isso. Lembra que, pessoalmente, fizemos o convite para o Mojito da próxima vez? Hoje é o dia do “acerto de contas”. — Ele gesticulou “entre aspas” e riu. — O que eu quero dizer é que vimos vocês como pessoas incríveis. Queríamos que vocês fizessem uma palestra num seminário de funcionários da nossa rede Wallmart numa próxima oportunidade. Vocês aceitam? 

    Ambos engoliram em seco, trocando olhares rápidos, carregados de surpresa. 

    — Bem… creio que não teria problema. Mas também estamos bastante atarefados com a Elegance Affairs. Precisamos que seja decidido com antecedência. Tudo bem?

    — Mas é claro. Será tudo bem organizado. Então, vamos comemorar com o nosso Mojito secreto. 

    — Está bem… hoje não temos mais desculpas. Vamos, finalmente, experimentar o Mojito de Morango dos Wallmart. — Victor falou num leve tom de brincadeira. 

    Ino fez um gesto e logo um garçom apareceu com duas taças belamente decoradas com folhas de hortelã e morangos cortados em coração nas bordas. O recipiente estava preenchido com uma bebida translúcida, levemente avermelhada, com vários pedaços da fruta dentro. 

    Aki pegou a taça, um pouco hesitante, cheirou a bebida e olhou para Victor, que já observava a bebida como se fosse algo incrível.

    — Juntos? — ela perguntou, levantando a taça.

    — Sim. — Victor respondeu, confirmando com um olhar para os Wallerstein, que também ergueram suas taças.

    E brindaram. Um toque suave de taças, um gole pequeno.

    Ambos, Victor e Aki, pararam por um segundo.

    — Isso é delicioso! — Aki começou, surpresa.

    — Surpreendentemente bom. — Victor completou, erguendo as sobrancelhas. — Doce, refrescante, um toque cítrico… Digno de uma receita secreta de família. 

    — E levemente viciante… — murmurou Aramatsu, bebendo mais um gole, com um sorriso confiante.

    Ino riu, triunfante:

    — Eu disse. É um ritual obrigatório para os casais promissores. Uma pequena tradição da família Wallerstein: todo casal que prova nosso mojito acaba… muito bem juntos. — Ela falou com certo tom de provocação, mas ainda respeitoso. 

    Aramatsu complementou:

    — E pelo que vejo, vocês dois têm um futuro brilhante. Profissionalmente e… — ele olhou de Victor para Aki —  Em outras áreas também.

    Victor sorriu e respondeu com calma:

    — Obrigado, senhor Wallerstein. E obrigado pelo convite… e por não terem desistido da gente, mesmo quando tentamos recusar.

    — Às vezes, é preciso um pouco de insistência para alcançar certos objetivos. — Ino riu discretamente. — Como já falamos antes, queremos uma parceria com vocês. Esse é um momento perfeito para começarmos. 

    Os quatro continuaram conversando juntos, e por um momento, Victor e Aki sentiram-se parte de algo muito maior. Depois, o casal anfitrião se retiraram, precisavam conversar com outros casais também. 

    Depois de um breve aviso, o salão subitamente mergulhou numa penumbra suave, enquanto os holofotes centrais se apagavam e pequenas luzes indiretas, como estrelas baixas, tomavam conta do ambiente. Um som instrumental romântico começou a preencher o ar — o momento da tradicional dança dos casais havia chegado.

    — A-A gente… vai ter que dançar? — Aki perguntou, segurando a taça com as duas mãos, como se ela fosse um escudo.

    Victor deu um sorriso discreto, inclinando levemente a cabeça na direção dela.

    — Podemos apenas observar, se quiser… — disse com calma. — Bom, particularmente, eu não gosto muito de dançar, ainda mais em público. Mas aqui é uma oportunidade de negócios também, certo? 

    Aki olhou em volta e viu vários casais já se formando e deslizando pela pista improvisada no centro do salão. Sua garganta secou um pouco. A ideia de dançar não era o problema em si — era dançar com ele, ali, num ambiente daqueles. Algo íntimo como uma dança entre o casal no meio de um salão cheio de outros casais. Ainda bem que, pelo menos, havia pouca luz e a visão era limitada. Pelo menos, assim, ela teria mais coragem. 

    Mas antes que respondesse, Victor se aproximou, estendeu a mão com elegância e olhou em seus olhos.

    — Posso ter esta dança, senhorita Aki?

    Ela riu, com o rosto já quente de nervosismo, se levantando.

    — Eu… nunca dancei assim. Não sei o que fazer…

    — Então deixa comigo — Victor disse, com um leve brilho nos olhos. — Só confia em mim. Não sou o Ismael Ivo, mas precisamos seguir o protocolo. 

    Ela respirou fundo, enquanto pensava “Cimarel… Invu? Quem é esse? É algum cantor brasileiro? Ou seria um ator? Ah, não importa, deve ter sido uma referência…”, então colocou a mão na dele. Ele a puxou com gentileza, com uma postura quase natural. Aki, por outro lado, estava com as costas tensas, os ombros rígidos e os pés desconfiados.

    — Relaxa… — Victor sussurrou, colocando uma das mãos em sua cintura e segurando sua outra mão. — Fecha os olhos, sente a música. Deixa que eu conduzo. Está escuro, ninguém vai ver se errarmos. — Ele deu uma risada descontraída. 

    Os dois começaram a se mover lentamente. Aki, mesmo desajeitada nos primeiros segundos, foi se soltando aos poucos, sentindo o corpo dele firme e confiável guiando seus passos. O mundo ao redor parecia desaparecer lentamente, enquanto apenas ouvia a música, sentia Victor a guiando. Ela abriu os olhos e teve a sensação que tudo em volta estava em câmera lenta, então, apertou novamente as pálpebras, na tentativa de se concentrar. 

    A dança durou alguns minutos. Quando se afastaram um pouco do centro da pista, ainda de mãos dadas, ambos ofegantes de leve, dois garçons passaram com bandejas elegantes. Desta vez, Aki e Victor aceitaram imediatamente os novos Mojitos de Morango, agora já familiarizados com o sabor adocicado e refrescante, desceria bem após aquela dança.

    — Isso está se tornando perigoso — disse Victor, ao dar um gole. — Estou começando a gostar demais disso. Mal dá para sentir o álcool… 

    — Eu também… — Aki respondeu, com os olhos levemente brilhantes. — Esse vai ser meu último, eu juro.

    Eles se encostaram discretamente numa área mais afastada da pista, onde o som ainda era agradável, mas a movimentação era menor. Victor colocou a taça sobre uma mesinha ali e olhou para ela, animado:

    — Agora que a gente sobreviveu à dança, posso te ensinar os passos básicos? Assim, da próxima vez, você já chega arrasando…

    — Você quer me ensinar… aqui?

    — Só os passos. Prometo não exigir piruetas. — Ele estendeu novamente as mãos com leveza.— Vamos, vai ser divertido. Não tem ninguém vendo a gente aqui. 

    Aki riu, divertida, e colocou a taça ao lado da dele. Então, assumiu a posição, um pouco mais relaxada do que antes. Realmente, ao perceber o redor, vou que estava tudo muito concentrado no centro do salão.

    — Tá bom… mas, se eu cair, a culpa é toda sua!

    — Justo. Mas eu seguro você — respondeu ele com um sorriso sutil.

    Victor começou a explicar:

    — Primeiro, pé esquerdo para frente… isso. Agora o direito, recua um pouco. E gira de leve… isso… ótimo. Agora, se repetir… — Explicava, enquanto a guiava com cuidado e ela acompanhava os comandos. 

    Aki deu o passo com o pé esquerdo, mas a ponta do salto prendeu um pouco no tapete que ladeava a pista. Ela tropeçou para a frente com um gritinho baixo — mas Victor a segurou com firmeza, puxando-a para si com rapidez. O rosto de Aki foi parar bem próximo do dele.

    Os dois ficaram imóveis por um segundo. Seus corações aos pulos e a respiração quente. O olhar de ambos se cruzaram e ficaram presos um no outro. 

    — Ufa… — ela sussurrou, meio sem fôlego. — Eu disse que podia cair.

    — E eu disse que ia te segurar — respondeu ele, com um ar de “heroísmo”. 

    Ela riu e sem pensar duas vezes, os rostos se aproximaram e se beijaram ali mesmo, num canto discreto, afastados da festa. Era um beijo doce, quente, envolvente e refrescante… e sim, com um gosto de morango e ao mesmo tempo, de hortelã. 

    Ao se afastarem, Aki manteve os olhos semicerrados e comentou com um sorriso tímido:

    — Sempre li que beijo tinha gosto de morango, nas novels e livros…

    Ela encostou a testa na dele, e murmurou:

    — E acabei de descobrir que é possível. Mas o meu foi especial… Foi um pouco diferente…

    Victor arqueou a sobrancelha e perguntou, curioso: — Diferente? Como?

    Ela fez uma pausa e completou:

    — Teve gosto de álcool também. Então nosso beijo teve gosto de Mojito de Morango, e foi muito… único… — Completou, com algumas hesitação, agora que estava processando o que estava falando. 

    Por causa do álcool, estava um pouco mais impulsiva e falando sem pensar muito antes. Victor riu baixinho e beijou sua boca, com um selinho. 

    — Deve ser por isso que ficou ainda mais viciante. Eu quero outro “Mojito de Morango”. — Comentou, com seu tom deixando claro que se referia ao beijo. 

    Aki riu junto, com as bochechas coradas, aproximando seus lábios de Victor e o beijando novamente. Um beijo mais demorado agora, cheio de carinho, aproveitando aquele canto escuro, sem visibilidade. 

    E a sensação que a garota tinha era de que, finalmente, estava vivendo o tipo de romance que antes só existia nas páginas que lia. Seu coração estava acelerado e vivendo algo que só pensava existir na ficção. 

    Sua decisão na noite anterior pareceu ainda mais correta agora em sua cabeça, em seus pensamentos, enquanto desfrutava daquele momento tão marcante e diferente para ela. 

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