Capítulo 92: Agenda cheia! Mente cheia!
15 de março de 2024, sexta-feira.
A noite fria era iluminada pela luz artificial dos postes das ruas japonesas, além da quantidade exagerada de iluminação de prédios e outdoors. Havia se passado duas semanas desde a reunião entre Aki e Ethan, e a proposta já havia sido discutida e decidida entre as entidades e seus representantes.
Quando a garota apresentou a proposta ao chefe, ele ficou, por um instante, surpreso com a ideia da TechGenix. Era uma jogada ousada e, caso tudo desse certo, seria um salto no mundo dos negócios. E isso seria beneficiente para a Elegance Affairs, claro.
Mas deveriam considerar os riscos e os seus próprios compromissos. Já estavam muito atarefados com a quantidade de eventos, o suficiente para que, os dois supervisores oficiais não conseguissem estar participando tão ativamente das festas, comemorações ou reuniões. Até rolava um nome específico dentro da empresa para a situação: Agenda cheia!
Quando o e-mail de Ethan com todas as explicações necessárias foi apresentada, houve um longo debate entre alguns funcionários, os quais, o chefe Akashi havia convidado para participarem.
Os riscos operacionais foram levados em consideração e colocados na ponta da caneta, porém, eram muitos benefícios e as probabilidades eram favoráveis. Ainda assim, ressaltaram alguns pontos antes de aceitar.
A Elegance Affairs aceitaria, desde que fosse permitida uma liberdade criativa por parte dela. Além disso, também foi colocado uma cláusula no contrato especificando as responsabilidades da TechGenix em manter o projeto funcionando e lidando com toda a parte financeira.
Depois de alguns dias de negociações entre os representantes e os mediadores jurídicos e contábeis, foi firmado o acordo. Isso ocorreu há apenas um dia e, aproveitando a sexta-feira, alguns funcionários decidiram se reunir num bar para falarem um pouco sobre isso, após a tensão que foi os últimos dez dias.
Victor e Aki estavam de mãos dadas, quando pararam de frente a uma fachada de madeira, com leds cintilantes de cor amarelo e vermelho, formando detalhes florais. Era o bar “Flor da Noite”.
Quando passaram pela porta, Victor logo percebeu que o senhor Hiroshi estava no balcão de drinks, enquanto movimentava a coqueteleira de forma ágil, fazendo malabarismos para impressionar os clientes.
Mas, logo, seus olhos encontraram uma mão levantada que balançava os chamando. Sayuri e Yumi já estavam no bar, sentadas numa mesa reservada com outras cadeiras num canto confortável.
O casal seguiu até lá e se acomodaram. Foram recebidos por grandes sorrisos. Após se cumprimentarem, Sayuri murmurou algo sobre os rapazes sempre se atrasarem. Victor conferiu as horas e percebeu que ainda faltava sete minutos para o horário marcado. Ou seja, eles quem estavam adiantados. Mas, tanto ele quanto Aki apenas riram da situação.
Faltando um minuto para às vinte horas, Koda chegou. Quando se aproximou do grupo, Sayuri logo falou:
— Em cima da hora em, Koda. Sempre pontual, mas nunca atrasado. — Ela riu e os outros também, sabendo todos que era uma característica dele sempre chegar exatamente no horário combinado.
Passado mais uns quatro minutos, Kazuya e Helsing chegaram juntos.
— Sempre atrasados! — Sayuri reclamou, quase protestando. Estava muito animada para beber e aguardava a chegada deles. Todos os sete amigos estavam reunidos e pediram uma rodada de cerveja e uma porção de petiscos.
— Está muito frio. Eu preferia beber algo quente… — Yumi comentou.
— Não seja fresca, amiga! — Sayuri respondeu, dando um tapinha em suas costas. — Hoje é uma reunião de amigos. A breja não pode faltar!
Embora alguns concordassem com o ponto que a garota levantou, sobre o clima, Sayuri também tinha a sua razão. Não podia fazer uma reunião de amigos sem uma boa cerveja, era o que se dizia no senso comum.
…
— Foram longos dias de negociações, não é? — Kazuya comentou, quando, finalmente, entraram no assunto principal.
— Sim. Eu estava ficando maluca com tanta informação circulando e nada concreto era firmado. — Sayuri respondeu, apoiando a cabeça sobre a mesa.
— Foi um acordo e tanto! Só o fato da TechGenix ter feito questão dos nossos serviços, é uma demonstração genuína do nosso potencial. — Helsing falou.
— Vocês tem noção do tanto de trabalho que isso vai gerar, não é? — Koda não queria estragar o clima, mas queria ser realista. — Provavelmente vai faltar noite no calendário…
— Poxa, eu vou ter que dormir no escritório, então. — Yumi tapou o rosto com as mãos.
Eles riram.
— Não podemos perder essa oportunidade! — Victor também deixou a sua opinião. — Estamos trabalhando duro para a empresa crescer. Não podemos desperdiçar.
Sayuri e Yumi acenaram exageradamente com a cabeça: — Se o “chefinho” está dizendo…
— Quem você está chamando de chefinho? — Victor direcionou a pergunta para Sayuri, com falso tom ameaçador.
Eles caíram na gargalhada, novamente.
Aki, em especial, estava muito feliz de ver a interação de Victor com os outros colegas de trabalho. Jamais teria imaginado o Victor de seis meses atrás fazendo algo assim.
— O nosso setor está tirando leite de pedra para divulgar o projeto e o evento. — Helsing falou, em certo ponto da conversa.
— Um dos pontos mais importantes e estratégicos dessa parceria é o marketing. Com certeza, vocês vão trabalhar muito! — Kazuya respondeu. — O setor de organização está uma loucura.
— E ainda tem a questão do Event Link! — Sayuri ergueu o aparelho, com o aplicativo aberto. — Isso aqui está incrível!
— E ainda é só a fase beta… — Victor não pôde evitar o comentário. — Quando ele lançar oficialmente, vai ser algo grandioso.
— Por isso estamos trabalhando bastante nisso. — Aki pegou o seu celular e abriu o aplicativo também. — Precisamos relatar bugs e erros para ficar perfeito na estréia oficial.
— Eu diria que não é mais só “Agenda cheia!”… Acho que podemos incluir “Mente cheia!”. É muita coisa para processar! — Kazuya dramatizou, colocando as duas mãos na cabeça, num falso movimento de puxar os cabelos. Todos riram.
Enquanto a conversa se desenrolava, com vários comentários sobre a proposta e o lançamento do aplicativo, que já estava em fase de testes, todos voltaram o olhar para a entrada quando perceberam um homem de meia idade, usando blazer escuro e óculos entrar no estabelecimento.
— Chefe Akashi?! — Sayuri exclamou, erguendo a mão e chamando.
— Ora, se eu soubesse que todos vocês estariam aqui, teria vindo direto para cá. — O chefe comenta, quando já estava se acomodando em uma cadeira. — Qual a pauta da reunião?
— Falávamos justamente da novidade da empresa… — Koda respondeu.
— Ah, o contrato com a TechGenix? Devo admitir que até eu fiquei impressionado quando recebemos a proposta. É uma jogada bastante ousada, não acham? — O chefe falava de maneira informal, e parecia já ter ingerido bebida alcoólica naquela noite.
Todos eles perceberam e estavam até assustados com a forma despreocupada e nada formal do chefe conversar e tratá-los. Não que houvesse falta de respeito, pelo contrário, parecia mais um ar de intimidade e irmandade.
“Então é assim que o chefe fica quando bebe? Esse cara é um anjo!” — Todos pensaram em algo desse tipo, admirando aquele homem.
A conversa evoluiu, entre risos e fofocas, para o crescimento da empresa, com todos reconhecendo como a Elegance Affairs mudou nos últimos tempos. Principalmente nos últimos seis meses. Houve um grande salto.
Sayuri comenta que, mesmo cansados, é gratificante fazer parte de algo tão grande. E todos os presentes concordam.
Akashi observa em silêncio por um tempo aquele burburinho e comentários, e então diz, dessa vez mais sério:
— Agora que vamos seguir com essa proposta… vamos precisar confiar muito uns nos outros. Não só como colegas, mas como equipe de verdade. Porque vai exigir tudo de todos nós.
Um breve silêncio se instaurou: — Mas, no fim, será gratificante, recompensador. Eu prometo que todos serão devidamente recompensados e honrados. — O sorriso daquele homem era tão carismático que todos ali confiavam plenamente no que ele falava.
E não era somente de hoje. A equipe, como um todo, tinham muito respeito e admiração pelo chefe Akashi, e a confiança era um dos pontos mais importantes dessa relação de patrão e funcionário.
Depois de mais algum tempo conversando e bebendo, todos foram para as suas casas.
…
Nos últimos dias, muita coisa aconteceu. Matheus havia ligado para Victor informando do início dos testes betas do Event Link. Também informou sobre a necessidade dele ir até o Brasil o mais rápido possível.
Embora o irmão mais velho tenha resmungado algo quando foi cobrado, dizendo saber disso, havia uma leve hesitação de voltar lá. Da última vez, Aki ficou doente, graças ao estresse da viagem, seu sistema imunológico acabou ficando mais enfraquecido e ela pegou pneumonia.
Também estavam muito atarefados na Elegance Affairs, e sair assim, seria trabalhoso se não fosse bem planejado. Além de haver a reunião na França e a possível reunião na Europa e nos Estados Unidos. A empresa realmente estava decolando.
Mas tentando não pensar nisso tudo, e na quantidade de afazeres, Victor focava boa parte do seu tempo livre em ficar com a Aki. Apesar de trabalharem juntos quase o dia inteiro, não era como se pudessem ter os seus momentos românticos em qualquer lugar. Precisavam desse tempo só deles.
E, nesses dias que passaram, continuaram da mesma forma que adotaram desde o início do namoro: Costumavam dormir juntos, ou na casa de um ou na casa do outro. Só que, nem sempre isso era possível. Quando ocorria algum imprevisto, isso se tornava inviável.
“Será que deveríamos morar juntos?” — Era uma pergunta que os dois se faziam, mas, que no fim, não falavam um com o outro. Cada um com seus motivos.
Victor tinha receio de causar um estranhamento pelo fato de Aki estar “descobrindo” tudo agora. E a garota tinha um certo medo, pensando estar sendo muito apressada e agindo por impulso.
Mas fato era que os dois queriam muito a mesma coisa. Não parecia uma ideia tão absurda, quando ponderada. Eles já dormiam juntos, quase todo dia, além de ficarem perto durante o período de trabalho. E, quando não estavam dormindo sob o mesmo teto, passavam, pelo menos, um período na casa um do outro, em circunstâncias normais.
O brasileiro, por já ter morado com um cônjuge, sabia como era essa rotina, e ele e sua namorada estavam num ritmo muito parecido com um casal casado, pelo menos na parte de convivência.
A japonesa, porém, apenas podia imaginar como era esse costume. Tudo que sabia sobre era de ler em ficções e ouvir histórias. “Será que é muito cedo?”, “Quando durmo sem ele, me sinto sozinha…”, “Queria dormir ao lado dele todos os dias…”… Vários pensamentos desses tipos martelavam na mente dela.
A cada dia que passava, parecia crescer a necessidade de estarem ainda mais próximos, talvez num novo nível de relacionamento. Aki havia sonhado algumas vezes com algo além de beijos, e acordava completamente envergonhada. E com Victor, não era diferente. Mas, ele queria apenas esperar a sua namorada estar preparada para avançar um passo na relação.
“Estou com a mente cheia!” — Os dois pensavam em certos momentos, quando paravam para analisar as questões: morar juntos, relação sexual, viagens, trabalho… “Estamos com a agenda cheia!” — Eles comentavam entre si quando olhavam a programação para os próximos dias e semanas.
E não era como reclamação. Apenas uma forma de definirem como se sentiam e estavam em determinadas situações. Muitas coisas vinham acontecendo em suas vidas, tanto pessoalmente quanto profissionalmente.
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