Índice de Capítulo

    08 de abril de 2024, segunda-feira.

    Aki despertou em meio a penumbra do quarto. Pela fresta das cortinas, percebia que ainda era noite. Piscou algumas vezes, sentindo-se surpreendentemente melhor. Sentou-se devagar na cama e olhou em volta — Victor não estava ali, e a luz do banheiro também permanecia apagada.

    Ao lado da cama, havia uma garrafa d’água. Ela pegou e bebeu tudo, sentindo a garganta refrescar. Com passos calmos, foi até o banheiro. Após lavar o rosto, foi até a poltrona, sentando-se nela. Bebeu a água que estava na garrafinha e pegou o celular, já pensando em ligar para Victor e percebeu o horário, eram quase dez horas da noite no horário local.

    Antes que pudesse digitar qualquer número, a porta se abriu. Victor entrou, guardando o celular no bolso e fechando a porta atrás de si. Ela já havia acendido a luz e ele percebeu o par de olhos âmbar o olhando assim que entrou.

    — Estava numa ligação com o Mateus. — explicou, já entendendo o que ela perguntaria e depois se aproximou. — Como você está?

    — Bem melhor. — respondeu com um sorriso. — Na verdade, estou com fome. Parece que estou há dias sem comer. — Brincou. 

    Ele avaliou-a rapidamente, reparando que o semblante já não era mais abatido.

    Victor pegou as sacolas do jantar que havia pedido mais cedo e serviu os pratos. Os dois se acomodaram para comer um do lado do outro.

    — Você está se hidratando, certo? — perguntou, antes de terminar os últimos ajustes.

    — Sim, senhor. — Respondeu, brincando, erguendo a garrafa já vazia.

    — Boa garota. — disse, apalpando a cabeça dela, num tom brincalhão.

    Os dois riram e depois comeram juntos, conversando sobre o dia e sobre as diferenças curiosas entre o Rio e Tóquio que ela tinha percebido. A comida estava simples, sendo o que eles consideravam algo leve para ela, pelo momento.

    Quando terminaram, Aki olhou para ele com um brilho nos olhos:

    — Será que a gente podia… dar uma volta na praia? Parece estar tão gostoso lá fora… 

    Ela estava sentindo a leve brisa que passava pela janela e trazia um frescor. O calor estava exaustivo.

    — Não tem problema ficarmos no quarto hoje… assim você se recupera 100%… E o fuso horário, realmente, deixa a gente meio mal…

    Ela negou com a cabeça. 

    — Eu realmente estou bem, e esse ventinho está tão gostoso… — Sua voz saiu manhosa.

    — Tudo bem, você venceu. Vamos. — Ele sorriu e assentiu. — Mas se sentir algo, a gente volta, ok?

    Desceram juntos, caminhando lado a lado até a calçada próxima à areia. O vento noturno vinha suave, mas constante, envolvendo-os com uma brisa fresca e agradável que carregava o cheiro salgado e inconfundível do mar. Aki respirou fundo, tentando aproveitar ao máximo aquele ar.

    A luz dos postes se espalhava pelo calçadão, misturando-se ao brilho mais vivo das barracas que ainda estavam abertas. Lá adiante, o mar parecia ganhar contornos dourados e prateados conforme as ondas se moviam, refletindo as luzes como se quisessem brincar com elas. Aki ficou alguns segundos parada, observando, fascinada por aquela dança de reflexos.

    — Bonito, né? — Victor disse, com um tom de voz baixo, ao lado dela, também apreciando a paisagem.

    Ela apenas assentiu, mantendo os olhos no mar, como se as palavras não fossem necessárias. Ficaram alguns momentos ali, até finalmente voltarem a andar.

    O som ritmado das ondas quebrando na praia formava uma melodia hipnótica, que se misturava às conversas distantes, aos risos ocasionais e ao som abafado de música vindo de algum quiosque mais adiante. 

    Enquanto caminhavam, Victor tirou o celular do bolso e começou a provocar Aki para fazer poses engraçadas. Ela, rindo, tentou recusar, mas acabou cedendo. Tiraram várias fotos — algumas sorrindo de verdade, outras exagerando caretas, e algumas tão espontâneas que seriam impossíveis de reproduzir depois.

    Após alguns minutos de caminhada e conversa, o passo deles foi desacelerando, como se quisessem prolongar o momento. A brisa parecia mais suave agora, e quando Victor conferiu o horário, se assustou. 

    — Vamos voltar, já está tarde. — Comentou e ela concordou.

    Quando chegaram no hotel, não sentiram que a noite havia acabado, apesar da hora. Victor largou o casaco sobre a poltrona e se sentou ali, com o celular em mãos. Trocava mensagens com Mateus, atualizando-o sobre alguns detalhes da viagem e rindo sozinho de alguns comentários que recebia.

    Aki, por sua vez, já havia se deitado, aninhando-se sob o lençol. O cansaço ainda latejava levemente em seu corpo, mas não era algo que incomodasse.

    Após alguns minutos, Victor encerrou a conversa no telefone e colocou-o sobre a mesa de cabeceira. Então, levantou-se da poltrona e foi até a cama, deitando-se de frente para ela. Seus olhos se encontraram em silêncio por alguns instantes.

    Ela sorriu suavemente, sentindo suas bochechas corando.

    — Queria ficar assim para sempre… — sussurrou ela, desviando o olhar muito brevemente, mas logo o encarou novamente. 

    “Tenho que parar de agir como uma garota boba…” — Repetiu internamente, sentindo que aquela atitude era imatura, já que estavam tão próximos agora. 

    Victor manteve o olhar calmo e acolhedor, e respondeu, com a voz serena:

    — No que depender de mim… vai ser essa a visão que a gente vai ter todo dia ao acordar.

    O sorriso dela se ampliou. Aki aproximou o rosto, até que seus lábios se encontraram num beijo suave, cheio de afeto e carinho.

    — Eu não sei se vou conseguir dormir… — confessou baixinho, quase rindo. — Estou tão feliz… — Ela se largou na cama, olhando-o de baixo para cima, de costas no colchão. 

    Ele deslizou a mão pelos cabelos dela, afagando-a com carinho.

    — Mas seria bom se conseguisse… para descansar e se recuperar do estresse de hoje. 

    Aki soltou um suspiro e, sem dizer nada, se enroscou nele, que também já havia deitado, apoiando a cabeça no seu ombro e parte no peito. Victor envolveu-a com o braço, puxando-a mais para perto, sentindo o calor e a suavidade do corpo dela.

    O perfume doce e discreto que vinha dos fios de cabelo dela parecia acalmar qualquer inquietude. O toque da pele dela na sua, o peso leve de seu corpo sobre o dele, e a respiração suave que começava a se tornar mais ritmada… tudo isso deixava aquele momento perfeito. Ele desejou, instintivamente, que aquilo se repetisse eternamente.

    Ela, em seus próprios pensamentos, também desejava viver aquilo para sempre. O calor e o conforto que ele trazia para ela era algo indescritível. De olhos fechados, apertou seu rosto contra o corpo dele. Agora, o ar-condicionado estava ligado e o calor já não incomodava. 

    Enquanto acariciava lentamente suas costas por cima da roupa, Victor pensava no quanto Aki dizia se sentir segura com ele — mas, na verdade, era ele quem se sentia protegido assim. Como se tê-la em seus braços fosse um escudo contra qualquer coisa ruim no mundo.

    Ela já havia dormido e ele, perdido nesses pensamentos, acabou adormecendo em certo momento. 

    09 de abril de 2024, terça-feira.

    Victor despertou lentamente, sentindo o peso confortável de um braço sobre seu peito. Virou o rosto e encontrou Aki, ainda mergulhada em um sono profundo, com o corpo ligeiramente inclinado na direção dele. O braço dela, relaxado, o abraçava como se não quisesse deixá-lo escapar.

    Por alguns segundos, ele apenas ficou ali, olhando para ela, admirando a tranquilidade que o sono trazia ao seu rosto. Um sorriso discreto surgiu em seus lábios. “Eu sou o cara mais sortudo do mundo” — Pensou.

    Com cuidado para não acordá-la, ele segurou de leve o braço dela e o moveu para o lado, libertando-se devagar. Em seguida, se sentou na cama, pegou o celular no criado-mudo e conferiu as horas: 06:12.

    Aproveitando o silêncio da manhã, enviou uma mensagem para Matheus, falando sobre a visita na associação, e logo depois, digitou no grupo da Brilho Feliz, avisando que chegaria por volta das dez.

    Enquanto digitava, seus olhos voltaram para Aki. Ela parecia tão frágil e, ao mesmo tempo, tão segura ali ao lado dele. Por um instante, sentiu uma vontade quase irresistível de pegar o celular e tirar uma foto dela dormindo. “Seria a foto mais fofa do mundo…” — Pensou, mas logo balançou a cabeça. Não queria invadir aquele momento, nem arriscar acordá-la.

    Foi então que um som suave, quase imperceptível, chamou sua atenção. O celular de Aki, pousado ao lado dela, acendeu a tela, vibrando discretamente. Era uma chamada pelo aplicativo HAY. Na tela, o nome que apareceu o fez arquear as sobrancelhas: “Mãe”.

    Observou Aki dormir, sem reação alguma ao toque. Uma ideia começou a se formar em sua cabeça: “Será que ela contou para a família sobre a viagem?” Ele tinha quase certeza de que não.

    “Eles não ligariam para ela às seis e meia da manhã. Devem achar que ela está no Japão…”

    Por alguns segundos, ficou imaginando qual seria a reação deles se soubessem que ela estava no Brasil com ele de novo. Será que ficariam preocupados? Felizes? Ou iriam repreendê-la? E agora tinha outra questão que o deixava intrigado: O que falariam deles por estarem morando juntos? Essas perguntas ficaram martelando na sua mente, mas ele decidiu que não era hora de especular demais.

    O celular parou de vibrar, e o quarto voltou ao silêncio. Victor, então, se espreguiçou, alongando os braços e o pescoço, tentando dissipar aquela mistura de curiosidade e preocupação que havia surgido de repente. Se levantou e foi fazer suas atividades matinais, se preparando para mais um dia cheio.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota