Capítulo 211: Agora você entendeu? (2)

Combo 41/50

Os dois pararam no centro do corredor.

Todas as pessoas nos assentos circulares estavam olhando para eles.

O príncipe herdeiro Alberu usava uma roupa elegante dourada e branca, enquanto Cale Henituse usava um uniforme preto que destacava seu cabelo ruivo.

Os dois eram tão diferentes que era tão visível.

Os sussurros diminuíram lentamente e o silêncio encheu o salão.

Alberu Crossman começou a sorrir depois de olhar ao redor do salão.

“Bastardo louco. Ele diz que não precisa de poder? Ele vai abrir mão de tudo depois da guerra? E ele até estava disposto a jurar por isso.”

Ele apertou levemente e depois abriu a mão formigante.

“Ele sempre faz coisas além das minhas expectativas.”

Cale emanava uma aura que fazia suas palmas formigarem. Ele não conseguia ver, mas sentia a aura opressiva que emanava de Cale.

Estava afetando todo mundo no corredor.

“Este é o verdadeiro Cale Henituse.”

A pessoa que nunca quis chamar a atenção para si mesma e só queria dinheiro estava finalmente mostrando seu verdadeiro eu. O príncipe herdeiro não pôde deixar de sorrir.

“Se ele está falando sério, eu preciso estar sério também.”

O príncipe herdeiro abriu mão de parte de seu papel naquele dia. Ele decidiu colaborar com o que Cale decidisse fazer.

Não seria difícil fazer isso.

Por outro lado, havia alguém que estava enfrentando uma situação difícil.

— Mm.

Marquês Sand Ailan. Ele soltou um gemido.

O homem que era conhecido por ter uma expressão estoica não parecia estar bem.

Ele não esperava que sua expressão mudasse não por causa do sorridente príncipe herdeiro Alberu Crossman, mas por causa de Cale Henituse.

“…Eu pensei que ele ainda seria uma criança mesmo se recebesse aquele cargo.”

Ele não era uma criança.

Então o que ele era?

O Marquês Sand Ailan era mais sensível à aura de uma pessoa por ser um artista marcial. Ele acreditava que a aura de uma pessoa revelava sua história de vida.

No entanto, Cale Henituse emanava uma aura de rei ou governante mais forte do que Alberu Crossman, que havia crescido preparado para se tornar rei.

Ele emitia uma aura que fazia o Marquês acreditar que Cale não se acovardaria nem mesmo diante do Medo Dracônico de um Dragão, que era conhecido por ser a presença mais forte do mundo.

“Sinto que estou sendo dominado por sua presença.”

Como um especialista de alto nível, sua intuição extremamente sensível estava disparando.

Claro, Cale teria aplaudido se soubesse o que o Marquês estava pensando. Isso porque Cale estava usando a Aura Dominadora ao máximo depois de um banquete no palácio.

O Marquês, que não sabia disso, focou seu olhar em Cale.

Alberu começou a falar naquele momento.

— Faz tempo que tantas pessoas não se reúnem.

Ele não estava mais usando o tom formal para falar com eles, pois estava confirmado que ele seria o próximo rei. O Marquês Ailan viu o príncipe herdeiro sorrindo brilhantemente e empurrou sua têmpora com o dedo.

Ele tinha um pressentimento sinistro sobre isso.

O príncipe herdeiro só sorria assim quando tinha vantagem.

Alberu começou a andar.

— Eu também deveria ir para o meu lugar. No entanto.

Ele parou de andar e se virou.

— Parece que não há um assento para o nosso Comandante?

Não havia assento para Cale aqui.

Isso foi feito pela facção central do Duque Orsena.

Foi uma atitude mesquinha.

Os nobres sentavam-se enquanto a pessoa interrogada ficava de pé. Pode-se até chamar isso de início da luta pelo poder.

— Ahem.

O Duque Granike Orsena não conseguiu esconder seu desconforto. Observou o príncipe herdeiro, que sabia que ele havia feito aquilo, mas não disse nada até então.

Ele então fez contato visual.

Cale Henituse. Estava olhando diretamente para o Duque.

— Não tenho o hábito de conversar em pé.

O olhar de Cale percorreu lentamente o salão. Os nobres compreenderam sua intenção ao observá-lo.

Ele estava olhando de cima para eles.

— Mas isso não é ruim.

Cale começou a sorrir pela primeira vez, como se gostasse de olhar para eles daquele jeito.

Um dos nobres da região sudeste fez contato visual com Cale. Ele começou a gritar assim que Cale desviou o olhar.

— Ouvi dizer que você é um lixo! Vejo que sua personalidade não mudou.

— Cale-se.

— Com licença?

O nobre olhou para o líder de sua facção.

O Marquês Sand Ailan tinha uma carranca rara no rosto enquanto olhava para o nobre.

— Eu disse para você calar a boca.

— Marquês-nim?

O Marquês desviou o olhar.

— Você não consegue ver o olhar nos olhos dos nobres da região nordeste?

— Com licença?

O nobre nunca tinha visto o Marquês falar tanto. Por isso, também olhou para a facção da região nordeste. Podia ouvir a voz do Marquês.

— Todos os olhos estão focados em Cale Henituse.

— …Você acha que eles estão com medo?

“Como eu?”

Ele não disse essa parte em voz alta.

Ele viu o Marquês começar a suspirar. Parecia que o Marquês estava dizendo que aquele nobre ainda tinha um longo caminho a percorrer. O Marquês começou a falar quando o nobre se encolheu ao ver o olhar do Marquês mais uma vez.

— Não é medo, mas respeito.

— Com licença?

O Marquês Sand Ailan percebeu que a região nordeste não se reunia em torno do Conde Deruth, mas sim em torno de seu filho, Cale Henituse. Pareciam estar unidos por algo mais forte do que poder ou ganância.

“…Parece que precisamos desistir da região nordeste.”

Ele se acalmou lentamente e começou a falar.

— Estou feliz que tenha terminado apenas com a região nordeste.

Foi muita sorte que apenas a região nordeste se reunisse em torno de Cale Henituse. Se ele não tivesse percebido isso por meio desse incidente, o reino inteiro poderia ter sido devorado por ele.

Alguém com esse tipo de atmosfera ao redor certamente atrairá pessoas. Mesmo que não seja essa a intenção, atrairá cada vez mais pessoas.

“Ele vai engolir outra facção ou aumentar sua influência. Tenho certeza disso.”

O Marquês Sand ficou grato por agora estar ciente disso, o que lhe daria uma chance de impedir o ocorrido antes que a situação piorasse.

Entretanto, havia um problema com sua linha de pensamento.

— Então vamos começar a reunião.

O príncipe herdeiro Alberu iniciou a reunião com uma expressão feliz. Em seguida, olhou para um nobre.

Um dos nobres ao lado do Duque Granike Orsena levantou-se rapidamente ao ver o olhar de Alberu. Ele era o Conde responsável pelo andamento desta Grande Reunião de Nobres.

Ele se levantou e abriu a pauta com os assuntos a serem discutidos. Tossiu algumas vezes antes de começar a falar.

— Ahem, não podemos iniciar a reunião porque nem todos estão presentes.

O conde desviou o olhar do sorridente príncipe herdeiro e continuou a falar.

— Comandante Cale, por que o senhor veio sozinho? O aviso solicitava a presença de mais duas pessoas também.

O Conde olhou para o Duque Orsena, o líder de sua facção, que acenou com a cabeça para que ele continuasse. O Conde abriu os ombros e olhou para Cale depois de ver o Duque teimoso lhe dando sinal verde.

Ele então se encolheu.

“Como uma pessoa pode-!”

Ele se sentia como um herbívoro diante de um carnívoro. O Conde começou a suar ao ver o olhar de Cale direcionado a ele.

Não havia muito que um humano pudesse fazer depois de ser atingido por essa aura que até mesmo a baleia assassina Archie achou difícil de aguentar.

*Tap* *Tap*

Cale começou a caminhar a partir do centro.

Ele parou de andar quando chegou perto do Conde.

O Conde evitava o olhar de Cale e abaixava levemente a cabeça. Era um gesto subconsciente. Ele sentia como se fosse sufocar se não fizesse isso.

Ele podia ouvir a voz de Cale.

— Não sei a quem devo responder, já que você abaixou a cabeça.

O Conde mordeu os lábios e levantou a cabeça. No entanto, seu olhar rapidamente voltou para baixo.

Foi naquele momento.

O príncipe herdeiro que estava sentado de frente para a entrada do salão ergueu uma sobrancelha.

*Scrun*

Um barulho muito baixo pôde ser ouvido quando a entrada se abriu um pouco.

Os cavaleiros deveriam estar guardando a porta. A porta que se abriu apenas um pouquinho não abriu nem fechou e permaneceu exatamente como estava.

Alberu sabia que o grupo de Cale, o mestre espadachim e a necromante eram os responsáveis ​​por isso. Seria por isso que os cavaleiros os deixariam tocar a porta.

Alberu estava certo.

Choi Han segurava a bainha com a mão enquanto parava em frente à porta entreaberta. Então, inclinou-se para ouvir.

A voz de Cale logo chegou até Choi Han e Mary.

Cale olhou para a única outra pessoa que estava de pé, o Conde responsável pelo andamento da reunião, que não conseguiu fazer contato visual com ele e começou a falar.

— Eu pedi para eles fazerem o uniforme da Marinha preto.

Era uma história sem relação.

Seu comentário fez com que alguns nobres se perguntassem o que ele estava tentando fazer. No entanto, eles só conseguiram ficar boquiabertos ao ouvir suas palavras.

A voz do homem parado no centro do grande salão podia ser ouvida.

— Dessa forma, você não conseguiria dizer, mesmo que houvesse sangue.

Seu rosto sem emoção olhou para os nobres.

— O sangue nas muralhas dos castelos da região nordeste ainda não secou. O oceano nordeste também está transbordando de sangue.

Eles ouviram as palavras vindas da boca do comandante da região nordeste. Isso os fez relembrar a cena da batalha no território Henituse que haviam presenciado através do dispositivo de comunicação por vídeo.

Eles não conseguiram esconder o espanto e o choque enquanto assistiam. Mas agora…

— De quem você acha que era o sangue?

A imagem da batalha que surgiu na voz baixa do homem que estava na linha de frente era um pouco diferente.

De quem é o sangue?

Cale fez a pergunta e depois a respondeu.

—  Do inimigo.

Esses nobres não tinham experiência de guerra. Perceberam que a pessoa à sua frente não era um nobre. O peso do título de comandante começou lentamente a se infiltrar em suas mentes.

— O inimigo do Reino Roan, o inimigo da região nordeste, meu inimigo.

O olhar de Cale então voltou-se para o Conde.

— Assim como o inimigo do meu povo.

Meu inimigo. Mas, mais importante, o inimigo do meu povo.

Essas palavras cravaram-se nos ouvidos do Conde como pregos. O Conde que segurava a agenda sentiu a mão começar a tremer.

Foi um aviso.

Meu povo.

Era um aviso para não tocar no mestre espadachim ou na necromante.

O Marquês Ailan, que estava assistindo a tudo, começou a falar quase como se estivesse ofegante.

— …Ele é uma árvore.

Uma árvore robusta. Uma que nunca vacila ou se curva, mantendo-se firme no lugar.

Ele deveria ter percebido isso no Incidente Terrorista da Praça, na capital.

O Marquês percebeu que Cale Henituse era realmente um herói honesto.

Foi por isso que ele ficou aliviado.

Ele ficou aliviado por Cale não ser um conspirador.

“Que alívio.”

Foi naquele momento.

— O Reino Roan é forte.

Cale não se importou com a ordem da pauta.

Se eles concordariam ou não com o pedido do Reino Caro.

Ele foi direto ao assunto e disse o que precisava dizer às pessoas que o chamaram aqui hoje.

— Concorde com o pedido do Reino Caro.

— Isso não parece-

Um dos nobres do Duque Orsena começou a falar com urgência. No entanto, Cale não olhou para eles, mas sim para a pessoa no lugar mais alto.

— Sua alteza.

Príncipe herdeiro Alberu.

— O que você acha?

Ele respondeu à pergunta de Cale sem qualquer hesitação.

— Com base no relatório da base naval da região nordeste, o Reino Roan é capaz de manter a defesa atual de sua região nordeste e ainda fornecer suporte ao Reino Caro.

Alguns dos nobres do Marquês Ailan e do Duque Orsena se levantaram de seus assentos. Pareciam prontos para dizer algo assim que o príncipe herdeiro terminasse.

Essas eram pessoas que não abriam mão de seus ganhos mesmo quando estavam com medo.

Entretanto, o príncipe herdeiro não se importou com eles e continuou a falar.

— Também temos muito a ganhar se ajudarmos o Reino Caro. Vale a pena se você considerar o futuro.

— Mas as outras regiões além da região nordeste não têm mão de obra extra-!

Um dos nobres começou a falar com urgência, mas não conseguiu terminar a frase.

O príncipe herdeiro acrescentou casualmente, como se esperasse essa resposta.

— A capital e a região central contam com a Brigada de Magos. Também temos nossos Cavaleiros Reais.

O olhar do príncipe herdeiro então se dirigiu ao Marquês Ailan.

— A região sudeste tem a família de artes marciais mais forte do Reino Roan.

O Marquês estremeceu por um momento.

Um de seus nobres leais, que o viu estremecer, começou a falar.

Ele evitou o olhar de Cale enquanto começava a gritar com urgência. 

— Mas o lado oeste precisa de apoio! Precisamos enviar as forças extras da região nordeste para o oeste!

Seria uma maneira de reduzir as forças na região nordeste e, ao mesmo tempo, dar aos outros nobres uma razão para apoiar essa decisão.

Claro que não era isso que o Marquês queria.

Isso só seria benéfico para a região sudoeste e a região noroeste.

O plano original era que a região sudeste engolisse as forças da região nordeste, no entanto, esse nobre queria levar o fluxo da discussão de volta para os nobres.

Alguns nobres concordaram com a cabeça, como se ele estivesse certo.

Isso o deixou certo.

Ele pensou que as regiões sudoeste e noroeste agora ficariam loucas para tomar o apoio para si.

Se eles começarem a causar confusão, eles poderão fazer algumas coisas para que as regiões central e sudeste também sejam beneficiadas.

Pelo menos era isso que ele estava pensando.

Foi naquele momento.

Uma velha voz ecoou no corredor.

Esta foi a primeira vez que essa pessoa falou hoje.

— A região sudoeste é forte o suficiente para defender nosso portão.

Era a velha nobre, Duquesa Sonata. Ela abriu a boca para falar.

— Alteza, a região sudoeste não precisa de reforços.

Sua voz estava cheia de certeza e expectativa.

“Merda.”

As expressões do Marquês Ailan e do Duque Orsena mudaram ao mesmo tempo. Os dois conheciam a Duquesa Sonata há muito tempo. Conseguiam ler seu olhar.

“Aquela velha tem algo na manga.”

Aquela velha nobre nunca dizia nada que não fosse sincero. Na verdade, ela era alguém que cumpria sua palavra.

O Marquês Sand Ailan começou a franzir ainda mais a testa.

“Ouvi dizer que ela precisou trancar os portões por causa de Cale Henituse. Eles não eram inimigos?”

Ele pensou que os dois deveriam ser inimigos.

Mas esse não foi o fim.

Alguém mais começou a falar também.

— A região noroeste também é segura.”

Era o homem de aparência gentil que era conhecido entre os nobres como um homem cruel.

Taylor Stan.

Ele não se envolveu na política central desde que assumiu o poder, fazendo com que os nobres pensassem que ele estava ocupado o suficiente lidando com a região noroeste.

Mas não foi isso.

Ele estava escondido a pedido de Cale e por ordem do príncipe herdeiro.

Eles o mantiveram escondido para que ele fosse uma lâmina bem afiada hoje.

Taylor, que era responsável pela família Stan, que supervisiona a região noroeste, acrescentou algo mais.

— Concordo com a proposta do comandante.

A região noroeste e a região sudoeste.

Esses dois líderes foram os únicos a falar entre os membros da facção ocidental.

Os outros nobres apenas ficaram sentados ali, de boca fechada.

— …isso…

— Marquês-nim-

O Marquês Ailan não conseguia prestar atenção a outro nobre que chamava seu nome.

Duquesa Sonata Gyerre.

Marquês Taylor Stan.

O Marquês olhou para as duas roupas.

Ele então olhou para as roupas dos nobres da região nordeste.

Preto.

Eles estavam todos vestidos de preto.

O mesmo preto que a Marinha da região nordeste supostamente selecionou para que não fosse possível saber quando havia sangue nele.

Eles vieram hoje para tirar o sangue dele.

Eles estavam ali para derrotar o inimigo e o inimigo do seu lado antes de retornar.

O Marquês Ailan virou a cabeça.

Ele podia ver que o príncipe herdeiro ainda sorria. Ele vestia uma camisa social preta por baixo do jaleco branco.

Seu olhar passou do príncipe herdeiro para outro lugar.

O Marquês podia ver Cale Henituse sorrindo para ele.

Ele foi enganado.

Cale não era um herói.

Era alguém que sabia sobre poder e dominação.

O duque Orsena e o marquês Ailan ouviram a voz de Alberu.

— Nós somos fortes.

Nós.

A definição dessa palavra era clara.

Eles puderam ver Cale respondendo com um sorriso.

— Tem razão, Vossa Alteza. Somos fortes. Somos fortes o suficiente para destruir qualquer coisa em nosso caminho.

Era assim que eles eram fortes.

O medo começou a tomar conta dos corpos daqueles que não faziam parte disso, do ‘nós’.