Capítulo 11: Coisas não acontecem... uma terceira vez

No último segundo, quando a morte chegou, Yu Sheng sentiu uma “escuridão” sem limites, incrivelmente pesada, quase como um fluido viscoso com substância.

Ele sentiu sua consciência se dissipar rapidamente, sabendo que o corpo que a sustentava perdia a vitalidade em meio aos ferimentos terríveis. Com as funções fisiológicas parando, o pensamento, carregado pelo corpo, também afundava e se dispersava. Era a ordem natural das coisas.

No entanto, à beira da dissipação da consciência, uma força, ou melhor, um “pensamento” intenso, uma estranha obstinação, parecia prender firmemente a mente de Yu Sheng. Ele se lembrou vagamente do sapo que devorou seu coração, lembrou-se de sua “ressurreição” anterior.

O que realmente aconteceu naquela hora? O que aconteceu com ele? Por que ele estava vivo?

Essas perguntas se transformaram em obstinação, fazendo sua consciência se agarrar à beira daquela escuridão infinita. Mesmo vacilante, ele nunca afundou completamente. Ele realmente queria saber… o que diabos tinha acontecido, como ele “voltou” depois de morrer?

A escuridão o esmagou. A textura viscosa gradualmente se tornou fria e áspera. Ele sentiu como se estivesse sendo coberto por uma espessa camada de terra, e sua alma sufocava sob esse peso… mas, de repente, essa pressão avassaladora desapareceu.

Em uma epifania momentânea, um pensamento surgiu em sua consciência vacilante.

‘Em minha morte, a própria Morte morreu antes de mim.’

A morte de Yu Sheng morreu, e assim, o Yu Sheng morto retornou mais uma vez daquela escuridão sem fim para o reino dos vivos. Ele sentiu seu “corpo” de repente ficar leve e começar a se libertar daquela escuridão infinita.

Nesse processo, ele viu vagamente algo na superfície da escuridão, como se estivesse passando rapidamente por alguma “camada superficial”, mas não teve tempo de ver claramente a cena antes de abrir os olhos abruptamente.

O vento frio da noite soprava pelo grande buraco na parede. Fora do telhado semi-desabado, o céu era uma cortina caótica e turva. Nas profundezas da noite, o vento oco do vale uivava.

Yu Sheng estava sentado no canto do templo em ruínas, sentindo a cabeça confusa. Uma sensação familiar — ele tinha acabado de passar por isso não muito tempo atrás.

Mas desta vez, ele se recuperou mais rápido. Em apenas algumas respirações, ele se lembrou de tudo, incluindo a sensação de ser enterrado pela escuridão.

Depois de regular sua respiração, Yu Sheng se levantou lentamente.

Ele sentiu todas as articulações de seu corpo despertando da rigidez, como se um corpo recém-nascido estivesse aprendendo rapidamente a “viver”. A força física o preencheu rapidamente, sua mente clareou, e só então ele olhou para fora do templo, para o lugar onde seu sangue tinha sido derramado.

Agora não havia nada lá. A besta gigante parecia ter partido… ou talvez estivesse apenas escondida, como antes.

Após um momento de silêncio, Yu Sheng tentou falar em sua mente: “…Aileen.”

Quase no instante em que sua voz mental soou, a voz acelerada de Aileen explodiu em sua mente: “Yu Sheng! Caramba, você está bem?!”

Em seguida, ela começou a falar rapidamente: “Você parou de responder de repente. Eu te chamei e não tive resposta, não conseguia nem sentir onde sua consciência estava. Pensei que você tinha morrido! Quase morri de susto, se você morresse, não teria ninguém para consertar a TV! Você está bem mesmo?”

Os músculos do rosto de Yu Sheng tremeram: “Então você só estava preocupada com quem ia consertar a TV, é isso?”

Aileen pensou por um momento: “…Bem, não só isso. De quebra, também estava com medo que você tivesse morrido de verdade…”

Yu Sheng: “…”

Ela realmente hesitou!

Esforçando-se para se acalmar, Yu Sheng finalmente rangeu os dentes e fez sua voz soar tranquila: “E se eu te dissesse que eu realmente morri agora há pouco?”

Aileen não acreditou nem um pouco: “Para com isso, você parece estar vivinho da silva…”

“…É, eu estava só brincando”, ouvindo a reação de Aileen, Yu Sheng mudou de assunto discretamente. Ele ficou em silêncio por um momento e então perguntou de repente: “Quanto tempo se passou?”

“Hã? Quanto tempo se passou o quê?”

“Desde que eu disse que ia desligar até agora, quanto tempo passou?”

“Err… daqui eu não consigo ver o relógio da sala… Estimo que cerca de meia hora? Não tenho certeza, estou selada nesta pintura há anos, minha percepção do tempo é um pouco lenta. Mas o céu lá fora não mudou muito, pelo menos não passou a noite inteira, ainda não amanheceu…”

Yu Sheng: “…Isso não é um pouco impreciso demais? Você sabe a diferença entre meia hora e uma noite inteira?!”

Aileen não respondeu por um momento, mas logo em seguida, uma risada zombeteira, estridente e baixa, veio do lado dela.

Aileen explicou instantaneamente: “Não sou eu! É o urso!”

Yu Sheng, exausto de corpo e mente, acenou com a mão: “Eu sei.”

Aileen pareceu feliz: “Ah, você finalmente acredita em mim…”

Yu Sheng já estava com preguiça de dar atenção à boneca selada. Ele não teve coragem de dizer a ela que não era que ele acreditava nela, mas sim que sentia que, se ela realmente quisesse apanhar, não precisava rir. Só o jeito que ela falava já era irritante o suficiente.

Ficou provado que, diante da boca atrevida de Aileen, a risada debochada do urso servia, no máximo, para colocar mais lenha na fogueira…

Com pensamentos inúteis girando em sua mente, Yu Sheng saiu do templo em ruínas mais uma vez.

Não sabia se era impressão, mas ele sentia que sua força física estava ainda melhor do que antes de morrer. Seus passos eram leves, seus movimentos, poderosos, e até sua visão… parecia ter melhorado um pouco.

Ele parecia estar se adaptando àquele lugar, à sua escuridão, às suas ruínas acidentadas e à sua malícia e olhares famintos onipresentes.

Ele caminhou em direção ao terreno aberto em frente ao templo, em direção à floresta do outro lado, em direção às profundezas daquele “Domínio Anômalo”.

Ele sabia que poderia morrer de novo, talvez no próximo passo, no próximo segundo.

“Yu Sheng”, a voz de Aileen soou novamente em sua mente. “Você estava bem mesmo agora há pouco?”

“Sim, só um pequeno ferimento, já estou bem.”

“Sabe, talvez seja melhor você ficar onde está por enquanto, ou encontrar um lugar seguro para se esconder. Vou tentar me lembrar, talvez eu já tenha encontrado esse ‘vale’ que você mencionou…”

“Então vá se lembrando, eu vou continuar dando uma volta por aqui”, disse Yu Sheng casualmente.

“Hã? Isso pode ser um pouco perig…”

“Aileen”, Yu Sheng a interrompeu. Ele já havia chegado ao terreno aberto. Ele respirou fundo o ar frio e com um cheiro bizarro e fétido do vale, olhou para a floresta densa e sombria à distância e de repente sorriu. “Sabe, eu tenho vivido esses dias de forma muito confusa.”

Aileen claramente não conseguia acompanhar o raciocínio de Yu Sheng: “Err… ah, eu deveria saber…?”

Yu Sheng, no entanto, não se importou com a reação de Aileen e continuou falando para si mesmo: “…Agora há pouco, ouvi você mencionar ‘Domínios Anômalos’ e alguns incidentes de pessoas que entraram neles por engano. Sabe qual foi minha reação?”

“Qual?”

“Felicidade.”

“Hã?”

“Felicidade, eu fiquei muito feliz”, Yu Sheng disse, parado na noite, sorrindo incontrolavelmente. “Você disse que algumas pessoas abrem uma porta errada por acidente, ou apenas pisam em um chão errado em um momento de probabilidade extremamente baixa e caem em um lugar horrível chamado ‘Domínio Anômalo’, certo? E você também disse que, se tiverem sorte e encontrarem as regras do domínio, ainda têm a chance de voltar…”

“Eu disse isso…” Aileen falou, hesitante. “Mas depende muito da sorte. Investigadores profissionais se dão bem, mas pessoas comuns sem treinamento geralmente caem em um Domínio Anômalo e ficam esperando a morte…”

Yu Sheng murmurou baixinho: “Tudo bem, morrendo e tentando, uma hora dá certo…”

Aileen: “…O quê?”

“Nada, só encontrei algo para fazer”, Yu Sheng soltou um suspiro, como se para expelir todo o ar estagnado dos últimos dois meses neste mundo. “Vamos começar por aqui. Pode levar um tempo, mas com certeza vou sair deste lugar.”

“Embora eu não saiba o que está acontecendo aí, parece que você… se animou?”, Aileen disse, hesitante. “Bem, pelo menos é uma coisa boa, né? Força aí! Tente não morrer… ainda estou esperando você voltar para consertar a TV… e para me encontrar um corpo e tal…”

“Ok, quando eu voltar, vou tentar resolver o problema do seu corpo”, disse Yu Sheng casualmente. “Eu já tive algum contato com escultura e modelismo, acho que posso tentar.”

Desta vez, Aileen ficou genuinamente surpresa e feliz: “Ah? Você tem experiência como criador de bonecas?! Por que não disse antes?! Como é sua habilidade? Que nível de boneca ou modelo você consegue fazer?”

Yu Sheng hesitou por um momento e respondeu com sinceridade: “É o nível em que meu cérebro assiste a um vídeo de um mestre modelando argila, diz para a minha mão que aprendeu, mas a minha mão não acredita.”

Dois segundos depois, os xingamentos de Aileen foram terríveis.

Mas Yu Sheng se sentiu completamente relaxado. Uma tranquilidade que ele mesmo não sabia se era normal impulsionava sua confiança. Ele caminhou para frente e, na escuridão, ergueu a cabeça para olhar uma das altas montanhas.

Uma besta de carne de vários metros de altura, como uma fusão de incontáveis membros de feras retorcidas, o encarava à beira do caminho.

Yu Sheng parou, pensou um pouco e chamou mentalmente a boneca na pintura que ainda estava xingando: “Aileen.”

“O que foi?”

“…Se não tiver mais nada, vou ter que desligar de novo.”

“Hã?”