Capítulo 42: Uma parada antes do fim do pavio
A cidade se estremece rapidamente com a notícia de viajantes que ameaçam o regente local, as notícias se espalham tão rápido quanto a chegada deles apesar de ter sido recente. Enquanto isso dentro da casa do sol nascente, que tem como hospedeiro o Xogum, e apenas outros três que permitem conviver diante a sua presença. Em especial o seu cachorro branco que deita ao seu lado, o esquentando com sua com juba semelhante a de um leão e cheios de pelos, evitando abrir seus olhos amarelos majestosos, de vez enquanto acariciando seu dono com seu longo rabo que possui envolta de si uma dura carapaça e ponta esférica, atendendo quando chamado carinhosamente de Chīsana Otokonoko, que chega ser quase do mesmo tamanho de sua caseira Minashi Kazuyama que é a outra pessoa que pode acompanhar o Xogum em seus aposentos, além de seu observador Anjin Clavel, que era o único que não estava presente no momento.
O xogum fica de repouso no salão principal no terceiro andar, que fica ao lado da sala reuniões, de mesmo tamanho, mas mobiliada, ao centro da sala uma mesa pequena de madeira retangular, com pernas curtas, nem se quer a um metro do chão, junto a duas estantes de madeira nas pontas da sala, cada uma com três prateleiras, com livros nelas, alguns utensílios básicos, e em especial na da ponta esquerda da sala um pote com uma pequena arvore bonsai e a da direita em cima, uma estátua de ouro da figura de um monge. O local está tranquilo, o Xogum descansa em sua almofada, vestido com seu quimono vermelho com detalhes dourados brilhantes, enquanto bebe seu kombucha, para passar o tempo ele conversa com sua caseira, que acaba de ler um capítulo de livro para ele, o que agrada também o seu cachorro, que se acalma quando ouve a voz de Minashi.
Ouvir a leitura da caseira se torna no momento a única forma de entretenimento no local, que não tem sequer um eletrônico, que é iluminado por esferas luminárias a base de querosene. Após deixar o livro de lado, o Xogum demonstra preocupação, Minashi que já o conhece percebe por sua postura, ao ver que deixa seu chá de lado, e se aconchega abraçando a sua espada.
— Acha mesmo que o General foi derrotado, senhor? Aquele gigante, quem seria capaz de o tombar em uma frota de homens armados? — questiona Minashi, preocupada em tom passivo, sem querer incomodar.
— Está olhando para alguém que não precisaria de mais de uma mão para se livrar dele, e ainda questiona está possibilidade? — retruca o Xogum com outra pergunta, mesmo sem intenção soa de forma agressiva.
— Perdão senhor! — Minashi se desculpa por sua pergunta, temendo ter se irritado, não por medo de punição, e sim por subserviência, a qual demonstra se curvando.
— Pare, eu estou te ouvindo, não precisa se repreender ante ao que pensa, é só que este é o meu jeito mesmo, sou um pouco explosivo — explica o Xogum, arrependido pela forma que respondeu a garota.
— Tudo bem, e quem resta para ir até eles? — pergunta Minashi.
— Oponentes formidáveis para virarem comida de meu cachorro, vou poupar meus soldados, Anjin, eu mesmo devo cuidar disso! — responde o Xogum, se orgulhando de sua coragem, ao falar que enfrenta os inimigos de frente. — Eles vieram até aqui, e eu quero que os atendem, como se fossem convidados de honra! — ordena o Xogum.
— Com certeza senhor, como quiser! — responde Minashi, se curvando novamente.
O cachorro que estava deitado encostado na perna do Xogum, se levanta e começa a latir para alguém que se aproxima da porta, era possível ver sua sombra, a porta daquele antigo castelo era feita de madeira em padrão quadriculada e coberta por papel transparente, quando a porta é aberta, o Xogum solta a sua mão do cabo da espada, despreocupado. Era Anjin, que havia saído há um tempo.
— Onde estava? — questiona o Xogum.
— Eu cuidei de algumas coisas para você, um Rishi amedrontando um Kami? Foi o que eu pensei, seria uma vergonha se você mesmo me desse a ordem! — justifica Anjin, antes de explicar o que realmente fazia.
— É melhor você não me enrolar, me obedeça antes que eu te exploda! — ordena o Xogum, irritado elevando o tom de voz.
— Certo, lembre-se que fui mandado te observando cada passo, se você por acaso for derrotado, isso significa que não serve para representar o Iluminado — ressalta Anjin. — Mas não podemos arriscar a perder tesouros sagrados para este país imundo, por isso libertei dois criminosos e os ofereci uma recompensa, entregar os viajantes vivos e extrair a informação das encomendas! Eu sei que você não quer lidar com a parte suja, agradeça!
— Quem está neste posto? Eu ou você? Quem é que eles lembram quando olham para o leste e veem o sol nascer? A mim, e quando lembram de mim, tem junto a memória de que a única escapatória, é pedir salvação ao único homem que pode os salvar de sua carma terrível, o que reluz e brilha mais intenso que o sol! — discursa o Xogum, irritado, lembrando a Anjin qual é o seu lugar.
— Você nem se quer tem conseguido sair desta casa, eu estou lhe preservando — justifica Anjin.
O Xogum treme de raiva, e seus olhos se avermelham, deixando Anjin com medo o fazendo dar passos para trás, e ficar em alerta, mais nada é feito, e nem neste assunto é tocado mais pelo resto da tarde, a presença de Minashi no local impediu que algo pior ocorresse.
E enquanto isso, os viajantes que causam tanto incômodo atravessam o morro, e decidem percorrer pela mata, evitando serem vistos na região povoada. Os arbustos formam uma barreira natural, e as árvores possuem galhos com espinhos geram uma recepção hostil, mas o grupo atravessa o percurso sem dificuldades, por conta da experiência de todos com situações semelhantes.
Hiro e Saikyo haviam sido treinados por Li Han, em contato constante com a natureza, Balu fugiu de seu país de forma ilegal, passou por muito pior e Dembele é alguém que já se colocou em diversas situações difíceis, a única exceção é o pequeno Yasuke, pórem Dembele o carrega nas costas para não o expor a perigos. O que deixa o garoto muito alegre, porém o marmanjo evita olhar para o rosto de Yasuke, por se sentir envergonhado com qualquer tipo de prestígio direcionado a ele.
— É isso aí, é por isso que você é meu herói! — Yasuke elogia seu amigo, e coloca as mãos em seus cabelos crespos fazendo cafuné o irritando sem querer.
— Você prometeu que não ia atrapalhar, mas tem sido um estorvo, em tal fechar a boca moleque! — reclama Dembele repreendendo o garoto.
— Desculpa, eu prometo que serei mais útil! — promete Yasuke, com os olhos ficando lacrimejantes, arrependido de sua postura.
— Passar essa mata com você nas costas, que droga! — reclama Dembele, mesmo assim segura o garoto com mais força para que não se solte, e continua evitando o olhar.
— Isso é moleza, difícil mesmo é passar por uma fronteira cheia de soldados armados, com mulher e filha — comenta Balu.
— Eu não te dava nada, mas você é mais do que um vendedor de falafel, dá para entender o tipo de pessoa que sua filha está olhando para você — ressalta Saikyo, expondo sua nova visão sobre Balu após a viagem.
— Me sinto lisonjeado, falafel de graça para você! — diz Balu, coçando sua careca ficando com a pele avermelhada.
— Por favor, não falem de comida, eu estou ficando com fome — pede Hiro, justamente quando sua barriga começa a roncar. — Meu corpo só come o que gasta, mas quando gasta ele pede reabastecimento.
— Ótimo, nossa próxima parada é um restaurante — lembra Li Han.
Chegando ao fim da mata, saindo do meio das árvores e arbustos, a um tipo de arvore que se destaca que os guia naturalmente, são os pinheiros negros, conhecidos por seus galhos tortuosos e folhas que são afinadas e apontam para o cima, este tipo de árvore é estranha para todo o grupo, que vê como sinal de estarem perto, e então acabam na estrada da parte detrás do morro, que conecta a cidade, mas já chegam no fim do caminho. No morro, a apenas uma avenida que leva até o topo, com as casas grandes e luxuosas estando afastados no meio do mato, e algumas próximas a casa do sol nascente.
Com pouco tempo eles logo identificam qual é o restaurante, dentre as outras casas, é quase igual a toda arquitetura restante, as portas de correr feitas de madeira e cobertas por papel translúcidos é a mesma em todas as casas. O telhado se diferenciava um pouco por conta das telhas de pedra escura e ser em formato de pirâmide, mas o que entregou mesmo foi a placa com o nome do restaurante, sobretudo ter embaixo a tradução para duas línguas diferentes.
— É o seguinte, vamos sequestrar o cozinheiro e assumir uma vantagem estratégica! — diz Li Han com um sorriso enquanto caminha até o restaurante, deixando todos chocados, exceto por Balu.
— Geralmente eu iria contra fazer isso com inocentes, mas o Ferdinando merece um apavoro! — expressa Balu sua indignação quanto ao rival de negócios.
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