Os dias passam, o clima muda repentinamente dependendo do lugar. Bilhetes estranhos, pessoas me perseguindo… tem muita coisa estranha acontecendo nesse lugar — principalmente comigo.

    Okawara me disse que foi só eu chegar que certas coisas começaram a acontecer. Me pergunto o porquê disso. Eu não fiz nada, e sou de uma família pobre também… não fizemos nada de mais.

    Eu trouxe comigo apenas meu anel, que não largo por nada, já que foi algo dado pela minha mãe.

    O envelope que o Okawara quer que eu entregue deixei guardado no meu quarto. Segundo ele, o horário para a entrega seria às nove da noite — um horário em que os alunos do turno noturno ainda estariam na escola.

    Com isso, descarto a ideia de ser um aluno a pessoa que vou encontrar.

    Por agora, preciso conversar com a Itsuki e depois procurar o Arushi, para ir comigo até a entrega.

    — O que você está fazendo aqui, moleque? — indagou Okawara.

    Estou em frente à porta dele há uns cinco minutos, pensando na melhor forma de resolver essa questão. Ele deve ter percebido que eu estava parado e veio me perguntar.

    — Ah… me desculpa por vir aqui agora, professor. É que eu preciso de uma ajuda sua, sabe…

    — Ajuda? E eu tenho cara de caridade, moleque? — disse Okawara, fechando a porta na minha cara.

    Acho que ele está ocupado agora. Pelo que vi, sua respiração está ofegante, fora o suor que escorria pelo rosto. O engraçado era a roupa que usava — apertada o suficiente pra mostrar cada detalhe dos músculos.

    — Nossa… — murmurei.

    Bati na porta com toques leves. Não falei nada, apenas bati.

    Toc… Toc… Toc…

    Esperei alguns segundos, e nada dele abrir.

    Bati novamente, dessa vez com mais batidas.

    Toc… Toc… Toc… Toc… Toc…

    Aguardei, mas nada.

    Toc… Toc… Toc…

    Dessa vez, bati mais forte.

    — Senhor Okawara, por favor, me ajuda… preciso muito da sua ajuda! — falei baixo, pra não ecoar pelo corredor.

    Mas não adiantou. Ele permaneceu em silêncio.

    Por que será que ele me trata assim? Desde que entrei, ele age dessa forma comigo.

    Sentei em frente à porta e me escorei de costas, olhando pro teto.

    Ele era minha única esperança pro plano funcionar. E agora?

    Vou ter que pensar em algo enquanto fico sentado aqui.

    Mas o que pensar…?

    Senti uma vibração percorrendo todo meu corpo, como se várias coisas dentro de mim corressem pra um só lugar: meu cérebro.

    Como sempre, quando quero pensar em algo profundo, meus olhos ardem, como se estivessem pegando fogo.

    Isso dói, mas eu preciso pensar profundamente agora. Usar toda minha concentração, mesmo que doa.

    O que não entendo é que, às vezes, quando me concentro totalmente pra resolver algo, meus olhos não ardem. Consigo pensar e enxergar melhor, usar mais a cabeça — algo que não consigo sem foco total.

    Mas agora, que quero me concentrar de verdade, meus olhos estão começando a arder. Por que às vezes sim e às vezes não?

    E por que meus sentimentos mudam quando uso a concentração total? Eu sinto que sou outra pessoa — outra personalidade. Quando meus olhos ardem, isso não acontece.

    São esse tipo de coisas que preciso de respostas. Espero descobrir no livro que peguei no sótão.

    Um som de passos começou a surgir atrás da porta do Okawara. Ele estava vindo na minha direção?

    Escorado na porta, consegui sentir o tremor vindo de dentro do quarto.

    Os passos cessaram. Pelo som ascendente, ele parou em frente à porta. E, do nada, ela se abriu.

    Eu olhava pro alto e, quando a luz da lâmpada surgiu refletida na careca do Okawara, levantei rápido. Ele finalmente ia me ajudar — eu esperava.

    — Senhor Okawara… — gritei, enquanto me levantava.

    — Não grita, idiota. Entra logo.

    Entrei no quarto, feliz pelo chamado e ansioso pra ver o que ele faria.

    — O que você quer afinal? Por que não me deixa em paz, hein? — indagou Okawara, limpando o suor do rosto com uma toalha branca pendurada no ombro.

    — Desculpa atrapalhar, professor, mas é que eu preciso da sua ajuda. É importante, sabe? Pode me ajudar?

    Enquanto secava seu rosto, ele me encarava com seu olhar intenso, porém olhou para minha mão, a qual estava meu anel, e seu olhar intenso cessou repentinamente.

    — Tá, moleque. Fala logo, desembucha essa matraca.

    Sentei no sofá e pedi pra que ele fizesse o mesmo — sem sucesso. Comecei a explicar a situação com ele em pé mesmo. Ao menos estava ouvindo.

    Assim que terminei, ele foi até a cozinha e voltou com um copo escuro, soltando fumaça por cima. Café, obviamente.

    — Enfim, o que você quer eu jamais faria. Fora que é contra as leis da escola: um aluno não pode entrar no quarto de um professor e — disse, tomando um gole de café — também não pode simplesmente convocar um aluno sem autorização do responsável.

    — Mas professor, ninguém vai ver nem saber disso. Por favor, me ajuda!

    — Você está esquecendo de mim, né? Acha que eu vou permitir que você quebre as regras? Eu sou o responsável por você, quem se ferra depois sou eu! — disse, exaltado.

    Logo depois, tomou outro gole, levantando o mindinho como se estivesse num chá real.

    — Mas o que eu preciso fazer nem vai te envolver, então não vai sobrar pra você no final. Por favor, professor!

    — Eu não sou seu pai pra ficar te ajudando com essas coisas infantis! E odeio crianças, por conta desses comportamentos chatos que nem o seu!

    — Aff… tá bom então… vou embora. Obrigado pela atenção.

    Agora estou perdido. Essa era minha única chance — e foi por água abaixo.

    Levantei do sofá e caminhei até a saída.

    — Eu simplesmente não sei o motivo de você querer falar com a Itsuki, e nem quero saber também. Coisas infantis, imagino. Porém, se você está tão determinado assim, eu vou te ajudar. — disse Okawara, colocando a xícara na mesa.

    Eu, cabisbaixo, me virei rápido, com um sorriso enorme.

    — Sério??? Mas por que mudou de ideia, professor??

    — Sério. Mas esse é o último favor que faço. E se der ruim pra você, eu te arrebento, moleque, entendeu??

    Ele apontou aquele dedo grosso e enorme na minha direção, com o olhar afiado.

    — Tá bom… entendi hehe.

    — Bom! E o motivo de eu ter mudado de ideia não importa. Agora, pode esperar do lado de fora — e escondido — do prédio. Daqui uns quarenta minutos você bate aqui na porta.

    — Mas por quê? — indaguei.

    — Porque, se eu não abrir, é sinal de que já resolvi sua parada. Aí você faz o que tem que fazer.

    — Ahhh, entendi, professor. Muito obrigado! Você é muito legal. — comentei, sorrindo.

    — Não enche, moleque. E não vem com falsidade. E outra: não esquece de levar o envelope hoje, certo?

    — Certo! Pode deixar, professor!

    Após a breve conversa, saí do quarto e do prédio, aguardando do lado de fora — escondido — os quarenta minutos.

    Ainda bem que tenho o relógio, então ver as horas não seria problema. O problema é ficar aqui, plantado igual estátua.

    Mas eu sou paciente.

    O clima desse lado da escola é o mesmo: nublado, com nuvens pesadas mas sem chuva, e ventos fracos. Estranho.

    Mais estranho ainda é o clima da escola inteira mudar em cada canto. Às vezes, está ensolarado em um lado e nublado em outro, mesmo o espaço sendo pequeno.

    No livro Planeta Terra e Seu Clímax, não há uma linha sobre habitats com vários climas em curta distância. Isso que acontece aqui é algo que o mundo não conhece?

    Provavelmente deve estar nos livros de geografia da própria escola.

    Mas o Okawara ainda não me ensinou sobre isso.

    Espere… estou vendo o professor saindo com alguém. Quem é?

    Olhando com mais foco… me parece ser…a professora Ayumi??

    Então era assim que ele ia me ajudar? Mas pra onde estão indo? Ambos vestiam roupas sociais.

    Enfim, não vou perder tempo. O professor conseguiu esse tempo pra mim, então vou aproveitar.

    Saí de onde estava escondido e fui até o quarto da Ayumi.

    — Obrigado professor, hehe! — comentei, enquanto corria.

    Mas, com cautela, comecei a andar devagar pra ninguém me achar suspeito.

    A cada passo, os funcionários e professores olhavam de canto, mas logo desviavam.

    Um calafrio percorreu meu corpo. Parecia que eu estava sendo vigiado.

    Finalmente cheguei ao quarto da Ayumi, no último andar do prédio. Evitei o elevador por causa da câmera, mas subir a escada me deixou bastante exausto.

    Descansei um pouco antes de bater na porta. Respirei fundo e bati três vezes.

    Aguardei alguns segundos, encarando a porta.

    — Por favor, abra… — murmurei baixinho.

    Mas nada acontecia, bati novamente, com a mesma força leve.

    Porém, nada.

    — Não pode ser…

    Bati mais algumas vezes.

    Esperei para ter convicção de que ela estava aqui, talvez estivesse demorando por estar no banheiro. Mas nada acontecia, e a porta permanecia fechada.

    Virei de costas pra porta e deslizei até o chão de forma dramática, igual fiz na porta do Okawara — mas sem esperança dessa vez.

    — Só queria ver se estava bem… — murmurei, cobrindo o rosto com a mão.

    Girei o anel no dedo.
    O que fazer agora, mãe? Estou sem ideias, mas não posso desistir, você me criou para nunca desistir e sempre acreditar até o final, o contexto era sobre não desistir de fazer cálculos matemáticos mas entra no contexto da vida também.

    — Droga…

    Dei um soco leve no chão e me levantei. Se ficasse aqui escorado na porta, alguém poderia ver e reportar pro diretor. Melhor sair logo.

    De forma melancólica, mãos nos bolsos, fui pras escadas.

    Mas então, um leve som de tranca ecoou atrás de mim.

    — Hã?

    Uma porta abrindo… seria…?

    Senti calafrios, virei lentamente com os olhos arregalados, mas não vi ninguém.

    — Ué, o que foi isso…?

    De repente, uma mão apareceu na porta da Ayumi. Pequena, macia, com as unhas pintadas. Ela me chamava.

    — Que bizarro… — murmurei.

    Mas, mesmo sendo bizarro, um sorriso surgiu no meu rosto.
    Uma alegria acendeu em meu peito, e meu corpo vibrou de esperança.

    Será que é a Itsuki …?

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